ÍNDIA - Centenas de milhares de toneladas de trigo estão bloqueadas em um porto indiano após a decisão do país de suspender todas as exportações do cereal, o que provocou a disparada dos preços no mercado internacional.
Segundo maior produtor mundial de trigo, a Índia proibiu no sábado que seus exportadores assinem novos acordos de venda sem a aprovação prévia do governo, que justificou a medida pela inflação do produto e a insegurança alimentar.
O anúncio repentino provocou um grande caos no porto de Deendayal, no estado de Gujarat (oeste), onde nesta terça-feira 4.000 caminhões carregados com trigo ficaram bloqueados.
Além disso, quatro navios carregados parcialmente com quase 80.000 toneladas do produto aguardam autorização para zarpar.
As autoridades portuárias afirmaram que a mercadoria que chegou antes de 13 de maio, data em que o governo notificou a suspensão das exportações, poderá ser enviada a destinos como Egito e Coreia do Sul com base em acordos anteriores.
"Porém, os caminhões carregados de trigo que chegaram ao porto depois de 13 de maio terão que retornar com a mercadoria", declarou Om Prakash Dadlani, porta-voz do porto.
A Câmara de Comércio de Gandhidham, cidade do estado de Gujarat, calculou que 400.000 toneladas de trigo procedentes de outras regiões estão bloqueadas.
Entre 500 e 700 depósitos nas proximidades do porto "estão repletos de trigo destinado à exportação", declarou Teja Kangad, presidente da Câmara, que lamentou a falta de um aviso antecipado por parte do governo.
"Isto levou a uma situação caótica, na qual os caminhoneiros e os comerciantes não sabem o que acontecerá com suas mercadorias. Além disso, como o trigo é um produto perecível, não pode ficar muito tempo ao ar livre", disse Kangad à AFP.
Os ministros da Agricultura do G7 criticaram a decisão da Índia, que pode agravar a crise de produtos básicos no mundo.
Até agora, o grande país do sul da Ásia havia demonstrado predisposição a manter o mercado mundial diante dos problemas de abastecimento provocados pela invasão da Ucrânia, que era responsável por 12% das exportações mundiais de trigo.
A Índia defende que sua "proibição" pretende garantir a segurança alimentar de 1,4 bilhão de habitantes do país.
A onda de calor de março, quando a temperatura superou 45 graus em algumas áreas da Índia, afetou regiões produtoras de trigo do norte do país e pode reduzir a produção do cereal em 5% este ano.
O preço do trigo estabeleceu um novo recorde na segunda-feira, na abertura do mercado europeu, a 435 euros a tonelada.