MUNDO - A Corte Arbitral do Esporte (CAS) finalizou a investigação envolvendo denúncias de desrespeito às normas de fair play financeiro e decidiu anular nesta segunda-feira, 13, o banimento ao Manchester City de competições europeias por duas temporadas. O clube inglês ainda conseguiu reduzir a multa imposta pela Uefa no início de fevereiro, de 30 milhões de euros para 10 milhões de euros (equivalente a cerca de 60 milhões de reais pela cotação atual). O valor deve ser quitado em até 30 dias.
Em curto comunicado, o City, que já se garantiu matematicamente como vice-campeão inglês desta temporada, demostrou satisfação por poder participar da próxima Liga dos Campeões – o time do técnico Pep Guardiola segue vivo na atual temporada, e enfrenta o Real Madrid nas oitavas de final.
“O Manchester City deseja expressar a sua satisfação com a resolução que valida a posição do clube e as evidências apresentadas. O clube deseja agradecer ao CAS e aos membros do painel de árbitros por sua diligência neste procedimento”, diz trecho da nota oficial.
Após audiências entre as partes e análise de documentos, um colegiado do CAS, formado pelos juizes Rui Botica Santos, de Portugal, Ulrich Haas, da Alemanha, e Andrew McDougall, da França, considerou que a maioria das supostas violações relatadas estavam prescritas ou não tinham comprovação suficientes.
Em uma decisão controversa, o CAS, o supremo tribunal internacional do esporte, sediado na Suíça, considerou que o fato de o Manchester City não ter cooperado com as investigações da Câmara de Decisões do Organismo de Controle Financeiro (CFCB) da Uefa não merecia pena tão rigorosa.
O que é fair play financeiro e do que o City foi acusado
Algumas equipes, sobretudo aquelas que possuem donos bilionários, são acusadas de realizarem “pedaladas” em seus balanços de modo a ludibriar a Uefa – além do City, o Paris Saint-Germain, gerido pelo governo do Catar e que pagou 222 milhões de euros por Neymar em 2017, é constantemente investigado.
De acordo com a Uefa, o fair play financeiro (FFP, na sigla em inglês) “visa melhorar a saúde financeira global do futebol europeu de clubes”. Foi aprovado em 2010 e entrou em funcionamento no ano seguinte. Desde então, os clubes que se qualificam para as competições da Uefa têm de provar que não tem dívidas em atraso em relação a outros clubes, jogadores, segurança social e autoridades fiscais. Em suma: têm de provar que pagam suas contas.
A partir de 2013 os clubes passaram a ter de respeitar uma gestão equilibrada em “break-even”, que por princípio significa que não gastam mais do que ganham, restringindo a acumulação de dívidas. Para avaliar estas questões, o Comitê de Controle Financeiro dos Clubes da UEFA (CFCB) analisa as contas consolidadas dos clubes participantes das competições europeias.
A princípio, a Uefa permitiu que os clubes tivessem, no máximo, 5 milhões de euros de déficit a cada três temporadas. Em 2015, a entidade ampliou o limite para 30 milhões de euros, que poderiam ser pagos com fundos particulares do proprietário do clube. Os dirigentes europeus abriram ainda mais uma brecha: caso comprovem a existência de um plano de negócios plausível para sanar suas dívidas, os clubes podem romper o limite de 30 milhões – uma medida mais voltada a clubes pequenos.
Outra norma, justamente a que complicou o Manchester City, diz respeito à participação de empresas ligadas aos donos de um clube, cujo aporte não pode representar mais de 30% das receitas totais. E-mails e documentos vazados indicaram que foi o próprio dono do clube, o xeique Mansour bin Zayed Al Nahyan, da família que governa os Emirados Árabes Unidos, que financiou a maior parcela do montante recebido pelo clube inglês em troca de um pedaço de seu uniforme.
Um dos e-mails sugere que a empresa aérea Etihad, que estampa sua marca na camisa do City, foi responsável por apenas 8 milhões dos 67,5 milhões de libras a título de patrocínio para o clube. O restante teria sido financiado pela empresa de Mansour, o Abu Dhabi United Group, o que é ilegal de acordo com as normas da Uefa.
Já o PSG, de propriedade do Qatar Sports Investments, grupo com ligação direta com a família real do Catar, é constantemente acusado de manobrar nas contas para não levantar suspeitas. Em 2017, o clube fechou a contratação mais cara da história do futebol (222 milhões de euros para tirar Neymar do Barcelona) de forma criativa. O governo do Catar contratou o astro brasileiro para ser embaixador da Copa do Mundo de 2022. O pagamento foi suficiente para que Neymar pagasse, “do próprio bolso”, a multa rescisória com o clube catalão, livrando o PSG de ter que responder pelos gastos.
No mesmo ano, o PSG voltou a “pedalar” para contar com o atacante francês Kylian Mbappé. Ele chegou por empréstimo junto ao Monaco, mas com uma cláusula que obrigava o time de Paris a comprá-lo na temporada seguinte por 180 milhões de euros. Na última quinta-feira 13, O PSG ultrapassou justamente Manchester City como o clube de maior poder financeiro do mundo, de acordo com um relatório anual da organização Soccerex.
Possíveis punições
O regulamento da Uefa prevê que os clubes que descumprirem as leis do Comitê de Controle Financeiro dos Clubes podem sofrer diversas sanções disciplinares, dependendo da gravidade dos casos. Antes da decisão do CAS, o City havia sido punido com a segunda sanção mais rígida (abaixo apenas da retirada de um título). As punições possíveis são:
a) Advertência
b) Repreensão
c) Multa
d) Dedução de pontos
e) Retenção das receitas de uma competição da Uefa
f) Proibição de inscrição de novos jogadores nas competições da Uefa
g) Restrição ao número de jogadores que um clube pode inscrever para a participação em competições da UEFA, incluindo um limite financeiro sobre o custo total das despesas com salários dos jogadores inscritos na lista principal (A) para a participação nas competições europeias
h) Desqualificação das competições a decorrer e/ou exclusão de futuras competições
i) Retirada de um título ou prêmio
*Por: VEJA.com