EQUADOR - Já não é novidade para ninguém que, nos últimos séculos, a quantidade de lixo desenfreada que estamos produzindo é absurda. Alguns rios e lagos, inclusive, são conhecidos como depósitos de lixos à céu aberto. Já nos oceanos ao redor do mundo, além do despejo de esgoto, petróleo, óleos combustíveis e outros dejetos provenientes dos navios e da economia marítima, as pessoas descartam qualquer tipo de sujeira nas areias.
Seria ruim o suficiente se esse lixo só ficasse por ali, não é mesmo? Mas ele também se desloca para os mares, afetando os animais marinhos e obrigando-os a viver num “mar de lixo”. Além de, claro, afetar diretamente o equilíbrio da natureza e do meio ambiente. Infelizmente, evitar que a poluição se alastre mundo à fora está em última lugar na vida de milhões de pessoas.
Assim como o descaso da população com a multiplicação sem precedentes da poluição, existem algumas localizações que acabam sendo deixadas de lado pelo resto do mundo, e são raramente lembradas pela imprensa ou pelos líderes mundiais, por exemplo. Entretanto, essa realidade é modificada quando um desses lugares se torna rota do lixo mundial que flutua pelas correntes oceânicas. Esse, infelizmente, é o caso da Ilha da Ascensão, que depois de anos esquecida, virou notícia recentemente por ser habitada pelo lixo gerado pelas mais de 8 bilhões de pessoas ao redor do mundo.
História da ilha
Localizada no Oceano Atlântico, no meio do caminho entre o Brasil e a Angola, a Ilha da Ascensão recebeu esse nome quando foi redescoberta justamente no Dia da Ascensão, pelo Grande, o César do Oriente, o Leão dos Mares, o Terribil e o Marte Português – Afonso de Albuquerque. Antes, havia sido encontrada – sem querer – por João da Nova, em 1501. Entretanto, naquela época, os portugueses não estavam tão interessados em invadir o lugar, visto que o comércio com o Oriente era mais importante naquele momento.
Ascensão foi ocupada, durante muito tempo, por aves marinhas e tartarugas que viajavam milhões de quilômetros, a partir do Brasil, para procriar. Os primeiros humanos só foram habitar a Ilha em 1815, quando a Marinha Real Britânica montou ali um acampamento para vigiar Napoleão Bonaparte, que estava exilado a quase 1,3 mil quilômetros a sudeste da Ilha da Ascensão. Depois disso, o local ganhou importância geopolítica e abriga até uma base área da Força Real Britânica.
Atualmente, o local possui pouco mais de mil habitantes – a maior parte da população são os funcionários da base e suas famílias –, com uma área total de 88 km², fazendo parte do território britânico Agora, como uma Ilha tão importante geopoliticamente, e sendo habitada por várias famílias, pode ter virado um depósito gigante de lixo? A gente te explica!
A poluição do mundo todo que vem pelo mar
De acordo com reportagem produzida pela BBC, o lixo encontrado no litoral da Ilha veio de países como África do Sul, China e Japão. Uma equipe ambientalistas e pesquisadores da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), passou cinco semanas avaliando o tamanho da poluição no local, e qual a gravidade da situação. Eles chegaram a conclusão de que mais de 900 espécies da vida marítima estão ameaçadas pela poluição encontrada no local. É o caso da ave fragata, do caranguejo terrestre e de milhares de espécies de aves, peixes, tartarugas e até tubarões.
Foram mais de 7 mil pedaços de plásticos encontrados na costa sudoeste da Ilha durante a expedição de pesquisadores da ZSL. Segundo a bióloga marinha Fiona Llewellyn, os animais estão ingerindo e ficando enroscados em grandes pedaços de plástico, causando dano à saúde dos mesmos. "Os tipos de plásticos mais comuns encontrados no local são garrafas, pedaços de plástico rígido que se romperam, equipamentos de pesca e pontas de cigarro", completa.
Um agravante da situação, é que a maior parte do lixo se encontra encalhado em penhascos que são perigosos e difíceis de alcançar, o que acaba dificultando o processo de limpeza.
A equipe de conservação ambientalista da Sociedade Zoológica de Londres juntou esforços para uma campanha de combate a poluição plástica do local, em conjunto com o governo da Ilha de Ascensão, o governo da Ilha de Santa Helena, a Universidade de Exeter e a Universidade Nelson Mandela. O projeto terá duração de três anos, e consistirá em identificar as garrafas plásticas, avaliar as suas datas de validade e entender quando, como e onde elas podem ter entrado no mar.
por Maria Fernanda Coutinho / MEGA CURIOSO