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Novo adiamento das eleições na Bolívia pode embolar a disputa e beneficiar a presidente Jeanine Áñez

Escrito por  Jul 25, 2020

MUNDO - Segundo especialistas ouvidos pela RFI, a maior beneficiada pela decisão do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia de adiar para o dia 18 de outubro as eleições gerais devido ao agravamento da pandemia é a presidente interina, Jeanine Áñez, quem, de quebra, ainda reforça a sua polarização contra o partido do ex-presidente Evo Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS). "O governo desejava muito um adiamento das eleições porque está numa situação declinante em termos de votos. Adiar as eleições pode dar um pouco de oxigênio ao Executivo para recuperar popularidade", explica à RFI o analista político boliviano, Raúl Peñaranda.

Até maio, a interina Jeanine Áñez empatava tecnicamente com o ex-presidente Carlos Mesa na disputa sobre qual dos dois lideraria o campo opositor no pleito eleitoral com o candidato de Evo Morales, o ex-ministro da Economia, Luis Arce. O período inicial do combate ao coronavírus tinha beneficiado o capital político da presidente que aparecia como uma líder protetora. No entanto, a ineficaz capacidade de resposta à propagação do vírus somada aos efeitos da quarentena na economia revelaram uma gestão em crise.

"A lua-de-mel de Jeanine Áñez, iniciada em novembro, terminou em maio com o avanço da pandemia. O combate tornou-se crise e, na gestão dessa crise, a presidente não tinha mais possibilidade do que algum retoque superficial até setembro", avalia à RFI o cientista político boliviano Diego Ayo, da Universidade Mayor de San Andrés em La Paz. "Agora, com mais tempo, o governo pode distribuir alguma ajuda financeira ou ensaiar duas ou três manobras políticas e ganhar apoio popular na reta final das eleições", indica.

Curva de contágio influi no voto

Com a data de 6 de setembro, os eleitores iriam às urnas em pleno auge da curva de contágio, prevista para o período entre 20 de agosto e 10 de setembro. Já com a nova data de 18 de outubro, as eleições aconteceriam na descida da curva, o que permitiria ao governo exibir-se como vitorioso na luta contra o vírus.

"Seria uma irresponsabilidade manter a data em setembro. Com a alteração da data, Evo Morales e o MAS não concordam, mas o partido está isolado na Bolívia, no seu discurso de barricada em defesa das eleições, sem se importar com a pandemia", aponta Diego Ayo.

"Há uma sensação de crise sanitária muito grande no país. A mudança de data era inevitável porque havia uma pressão de muitos setores políticos e cidadãos", descreve Raúl Peñaranda.

Esta é a terceira vez que as eleições na Bolívia são adiadas. A data de 3 de maio passou a 2 de agosto e depois a 6 de setembro. Foram decisões controladas pelo Parlamento, onde o partido de Evo Morales detém 2/3 dos votos.

"Ao contrário das duas anteriores, que passaram pelo Legislativo, esta foi uma decisão do TSE que, ao não conseguir acordo político com os partidos, resolveu sozinho. Isso gerou a irritação do MAS e de Evo Morales, porque ficam agora à mercê das decisões dos demais poderes", observa Peñaranda.

Com o adiamento, a Bolívia prolonga a sua incerteza política e os mandatos que originalmente venceram no dia 22 de janeiro sem que o país tivesse eleitos para substituir os atuais.

Uso político da pandemia

O Movimento Ao Socialismo (MAS) discorda do adiamento e o ex-presidente Evo Morales, refugiado na Argentina, acusa o governo de "ganhar tempo". O ex-chefe de Estado vê na manobra uma "perseguição contra o seu candidato".

O TSE estuda uma acusação de alguns partidos contra o MAS por difundir ilegalmente sondagens, algo que pode eliminar o partido da disputa.

"O MAS não está de acordo com o adiamento porque tem a ideia de que um descontrole social e sanitário pode prejudicar o governo e beneficiar os interesses eleitorais de Evo Morales, hoje na oposição", aponta Peñaranda.

Ao anunciar o adiamento, o presidente do Tribunal Supremo eleitoral, Salvador Romero, argumentou que "não se pode ir às eleições sem o resguardo suficiente, nem usar como pretexto o drama, a dor e o luto da pandemia para anular ou para adiar indefinidamente as eleições”.

"O Tribunal Supremo Eleitoral resolveu marcar a data para a jornada de votação geral em 18 de outubro com eventual segundo turno em 29 de novembro e posse das novas autoridades em dezembro", determinou Salvador Romero, quem acrescentou que a nova data permitirá "organizar as eleições com medidas adequadas e sólidas de proteção à saúde".

Assim, a nova data coincide com as frustradas eleições de um ano atrás. Depois de constatada fraude nas eleições de 20 de outubro pela Organização dos Estados Americanos, auditora do processo eleitoral, Evo Morales perdeu o apoio dos sindicatos, da Igreja e das Forças Armadas, e renunciou ao cargo, pondo fim a um quarto mandato, depois de 14 anos de governo.

Morales abandonou o país em 12 de novembro em meio a uma convulsão social, resultante de três semanas de protestos e greves. Passou um mês no México e, com a mudança política na Argentina, refugiou-se em Buenos Aires, de onde lidera a campanha do seu partido.

Dança dos votos ao ritmo de contágios

A pandemia evidenciou a fragilidade do sistema de Saúde boliviano. Os contágios avançam enquanto hospitais e serviços funerários estão em colapso. A exemplo do que ocorreu no Equador em abril, os cadáveres são recolhidos nas ruas. Com 11,5 milhões de habitantes, a Bolívia tem 2.328 mortos, sendo, proporcionalmente, um dos países mais afetados do mundo.

Duas recentes sondagens mostram uma disputa entre o candidato de esquerda de Evo Morales, o ex-ministro da Economia, Luis Arce, e o ex-presidente de centro-esquerda, Carlos Mesa. A atual presidente de direita, Jeanine Áñez, vem em franco declínio.

Na sondagem Ipsos, Luis Arce e Carlos Mesa estão empatados com 26% enquanto Jeanine Áñez aparece em terceiro lugar com 14% das intenções de voto. Porém, o estudo foi realizado apenas nos principais centros urbanos do país enquanto 40% dos bolivianos vivem nas zonas rurais que se inclinam ao MAS de Morales.

Já na pesquisa Mercados e Mostras com centros urbanos e zonas rurais, Luis Arce cai de 27% a 24% enquanto Carlos Mesa sobe de 19% a 20% e Jeanine Áñez perde dois pontos, ficando com 16%. Os indecisos aumentaram de 9% a 20%, deixando a disputa totalmente aberta e mantendo o país numa indefinição que vai completar um ano.

 

 

*Por: Márcio Resende / RFI

Ivan Lucas

 Jornalista/Radialista

Website.: https://www.radiosanca.com.br/equipe/ivan-lucas
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