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BRASÍLIA/DF - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro aprovou 57 requerimentos na quinta-feira (24) com convocações e quebras de sigilos bancários, fiscais, telemáticos e telefônicos de uma série de pessoas investigadas.

Entre os alvos investigados está a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que teve os sigilos telefônico e telemático quebrados. A comissão também determinou o acesso ao chamado Relatório de Inteligência Financeira (RIF) da parlamentar. O RIF registra a movimentação financeira considerada “atípica”. 

A comissão também pediu o RIF e quebrou os sigilos telefônico e telemático de Bruno Zambelli, irmão de Carla e deputado estadual de São Paulo, e do então assessor parlamentar da deputada, Renan César Silva Goulart. 

Zambelli é alvo de operação da Polícia Federal que investiga a invasão do sistema interno do Judiciário. Na semana passada, o hacker Walter Delgatti Neto informou que recebeu R$ 40 mil de Zambelli para invadir o sistema da Justiça. A parlamentar nega as acusações. 

Também foram alvos de quebras de sigilos uma série de pessoas e empresas apontadas como financiadoras dos atos golpistas pela Advocacia-Geral da União (AGU). 

 

Convocações

A CPMI ainda convocou novamente o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Essa é a segunda convocação de Cid na CPMI. 

Também foi convocado o tenente-coronel Osmar Crivelatti, que trabalhou com Mauro Cid na Ajudância de Ordens do ex-presidente. 

Outra convocação aprovada foi a do coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PM/DF) Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues; ex-comandante responsável pelas escalas de militares do DF no dia 8 de janeiro. 

Também foi convocado o subtenente da PM do DF Beroaldo José de Freitas Júnior, que foi promovido por atos de bravura ao tentar impedir a invasão dos prédios no dia 8 de janeiro.

 

Militares

A CPMI também quebrou os sigilos bancário, fiscal, telefônico ou telemático do sargento do Exército Luis Marcos dos Reis, que depõe na Comissão na quinta-feira (24) e está preso há mais de três meses. Ele também atuava no setor de Ajudância de Ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro e é acusado de movimentações financeiras atípicas acima da renda que recebia como militar. 

Também sofreu a quebra de sigilos o coronel da reserva do Exército Marcelo de Costa Câmara, acusado pelo hacker Walter Delgatti Netto de ter articulado as reuniões dele com servidores do Ministério da Defesa. O hacker também teve os sigilos financeiros e telemáticos quebrados pela Comissão na quinta-feira (24). 

Outros militares investigados por suposta participação no 8 de janeiro que tiveram os sigilos quebrados foram: o general da reserva do Exército Ridauto Lúcio Fernandes; o brigadeiro Antônio Ramirez Lorenzo, ex-secretário-executivo do Ministério da Justiça de Bolsonaro; o coronel do Exército Marcelo Gonçalves de Jesus; o coronel Aginaldo de Oliveira; e também o segundo-tenente Osmar Crivelatti, outro ex-ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro. 

 

PRF

A CPMI também quebrou os sigilos de servidores da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Foi quebrado o sigilo telemático e telefônico de Luís Carlos Reischak Júnior, ex-diretor de inteligência da PRF, e Djairlon Henrique Moura, ex-diretor de operações da corporação. 

Também foi quebrado o sigilo telefônico e telemático de Marília Ferreira de Alencar, ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, apontada como responsável pelo relatório que identificou os locais onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha mais votos. A relatora senadora Eliziane Gama (PSD-MA) suspeita que a PRF atuou para dificultar a votação de eleitores onde o presidente Lula tinha mais votos.

 

Repercussão 

O senador da oposição Marcos Rogério (PL-RO) questionou a lista dos requerimentos aprovados considerando que ela foi “desproporcional” porque apenas seis requerimentos da oposição foram apreciados. “Não podemos permitir que essa CMPI se torne palco para embate político fora do escopo da CPMI”, protestou. 

O deputado federal Rubens Pereira Júnior (PT-MA) rebateu que a base governista só aprovou cinco requerimentos, sendo os demais requerimentos da relatora. “Há uma tentativa de dizer que a CPMI foi sequestrada. Como? Todos os requerimentos apresentados da oposição hoje foram aprovados”, afirmou. 

O presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), ponderou que tem levado em conta os requerimentos da oposição e que, dos 12 pedidos que recebeu, colocou seis em votação. “Ninguém mais do que eu tenho lutado e trabalhado para aprovar os requerimentos da oposição”, comentou.

 

 

Por Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil

BRASÍLIA/DF - A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse acreditar que Jair Bolsonaro (PL) pode ser preso ao retornar ao Brasil. A parlamentar descreveu o ex-presidente como “a cabeça da direita” e afirmou que ele deveria estar no País orientando seus aliados na oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. “Se ele não voltou ainda, é porque ele deve ter informações que nós não temos, e por isso nós temos que ser compreensivos com ele”, afirmou ao Estadão.

“Eu gostaria que ele estivesse aqui no Brasil, porque eu acho que ele é o homem da direita, a cabeça da direita no Brasil, e estar sem ele é ruim para todos nós. Ele deveria estar aqui orientando as pessoas, ajudando a gente a fazer oposição. Eu acho que ele pode ser preso, eu acho que ele tem mais informações do que a gente”, disse.

Zambelli recuou da defesa pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é oportuno, ela argumentou, retirar um magistrado da Corte agora, dado que a cadeira vaga seria substituída por indicação do presidente Lula. A declaração ocorre no momento em que Moraes lidera a investida contra os apoiadores de Bolsonaro que invadiram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro.

“A gente tem que esperar até maio, ver como o Senado vai lidar com a indicação do substituto do (ministro Ricardo) Lewandowski, e à medida que isso for acontecendo, a gente pensa se a gente vai fazer impeachment ou não, mas agora não é o momento. Agora é hora de focar no Lula”, afirmou.

Nas redes sociais, a deputada foi chamada de “traíra” por militantes bolsonaristas após conceder entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, afirmando que “não é hora de bater no STF”. Uma postagem de Zambelli foi inundada de comentários de eleitores se dizendo insatisfeitos. Apoiadores do ex-presidente também passaram a chamá-la de “Joice 2?, em referência à ex-deputada Joice Hasselmann, que foi eleita em 2018 na esteira do bolsonarismo e se afastou do ex-chefe do Executivo durante o mandato.

Sobre os comentários negativos, Zambelli afirmou ao Estadão que “vai passar algum tempo e vai se anuviar”. Ela negou que esteja se afastando de Bolsonaro. “De jeito nenhum, muito pelo contrário. (...) Agora, que eu gostaria que ele estivesse aqui, gostaria, todos nós de direita gostaríamos.”

 

 

por Davi Medeiros / ESTADÃO

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