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Wuhan tem vida normal um ano após primeiro caso de covid-19

Escrito por  Dez 28, 2020

 

Cidade chinesa, que já foi o epicentro da pandemia, enfrenta a redução de adesão às medidas de prevenção contra a doença 

 

MUNDO - Um ano após o registro dos primeiros casos conhecidos de covid-19 em Wuhan, epicentro de uma epidemia que acabou se espalhando para todo o mundo, as medidas de prevenção contra o novo coronavírus são apenas uma lembrança na cidade chinesa, embora seus moradores não tenham se esquecido do que aconteceu e continuem a questionar a origem da pandemia.

Nenhum caso de contágio local foi reportado desde meados de maio no transporte público da capital da província de Hubei, localizada no centro do país asiático, e, por isso, não é mais necessário apresentar a autoridades códigos de reconhecimento rápido (QR code) de saúde, que garantiam que uma pessoa não estava infectada.


Além disso, o uso de máscaras foi reduzido desde o confinamento massivo ao qual a cidade foi submetida em janeiro de 2020. No entanto, os habitantes de Wuhan se preparam para um 2021 que será marcado por um confinamento total da cidade por 11 semanas, única medida possível para evitar que a covid se espalhe, segundo os próprios cidadãos.

"No início, quando lemos as primeiras notícias, não levamos a sério. Mas quando soubemos que (o coronavírus) era transmitido entre humanos, começamos a entender o que estava acontecendo e como poderia ser terrível", disse Hong, um morador da cidade chinesa que se aposentou recentemente e agora passa boa parte do tempo soltando pipa nas margens do rio Yangtze.

Sua expressão tranquila muda totalmente quando ele se lembra dos momentos mais difíceis causados pela pandemia. O pior, garante, ocorreu quando parentes, amigos ou colegas de trabalho começaram a ficar doentes, sem saber bem o que estava acontecendo. "O vírus se espalhou de repente, de uma pessoa para outra sem distinção, e então vieram as medidas para controlar sua propagação", contou.

Após 11 semanas de "lockdown", a virtual ausência de novos casos levou as autoridades a suspenderem as restrições em abril. Também foi fundamental para reverter a situação a chegada de materiais e profissionais de outras províncias chinesas, fortes medidas preventivas e a construção expressa de hospitais como o de Leishenshan, que começou a receber pacientes em fevereiro.

Origem do vírus é um tabu

Uma jovem que preferiu não se identificar disse à EFE que muitas pessoas da cidade se sentem culpadas pelo fato de Wuhan ter registrado os primeiros casos do então chamado "surto misterioso de pneumonia", embora "quase ninguém queira falar sobre isso".

"Naquela época, no início de 2020, muitos moradores evitavam o assunto, e muitos ocultavam informação para que não se soubesse quem estava infectado", acrescentou.

Segundo a jovem, será "muito, muito difícil" saber o que aconteceu ou como a pandemia nasceu, mas ela comemorou o fato de a China, apesar de alguns surtos esporádicos, ter conseguido manter a covid-19 praticamente sob controle, sem registrar nenhuma morte desde maio.

Ela também lembrou que o caos reinou nos estágios iniciais do surto e que só em fevereiro as autoridades municipais reconheceram que demoraram muito para revelar as informações disponíveis porque, segundo alegaram, precisavam da aprovação de autoridades superiores para torná-las públicas.

Além disso, a jovem ignorou o caso da jornalista Zhang Zhan, que foi condenada nesta segunda-feira (28) a quatro anos de prisão por um tribunal de Xangai por "provocar alvoroço e procurar problemas", relatando as prisões de outros repórteres independentes e o assédio às famílias das vítimas do novo coronavírus durante o surto.

De acordo com a ONG CHRD (Chinese Human Rights Defenders), a mulher foi presa há vários meses por publicar que os cidadãos de Wuhan receberam comida estragada durante o confinamento ou que foram forçados a pagar taxas para serem submetidos a exames para detectar se tinham contraído o vírus.

A imprensa oficial, por sua vez, divulgou a narrativa de que o surto inicial poderia estar relacionado à importação de alimentos congelados ou ter surgido anteriormente em outros países, enquanto as autoridades reiteraram a disposição para cooperar com a OMS (Organização Mundial da Saúde) na criação um grupo de especialistas para viajar ao país asiático em janeiro e investigar a origem do vírus.

Não se sabe se esta viagem terá uma parada no mercado de frutos do mar de Huanan, fechado desde 1º de janeiro deste ano e apontado pela OMS como possível "fonte de contaminação" ou responsável pelo aumento dos contágios pelo novo coronavírus.

Por R7


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