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Yvonne Ribeiro Garcia: a trajetória de uma benemérita de São Carlos

Escrito por  Ago 28, 2020

SÃO CARLOS/SP - Há quatro anos São Carlos se despedia de Yvonne Ribeiro Garcia, falecida no dia 25 de agosto de 2016, uma educadora de saúde pública com atuação também na área social, cujo trabalho marcou época no município ao longo da segunda metade do século passado.

Benemérita no sentido mais literal da palavra, tendo vivido num período em que havia muito por ser feito pela saúde pública e a assistência social, ela soube responder a essas demandas e aliar conhecimento ao espírito prático que possuía. Dedicada às funções exercidas e guiada pelo espírito de justiça, dona Yvonne enxergava à frente, pois sabia que lidava com setores sensíveis, permanentemente necessitados da ação governamental ao mesmo tempo de um trabalho técnico e humano.

Quando a conheci, no início dos anos 1980, eu era um jovem repórter do jornal “Correio de São Carlos” a quem Yvonne recebia com entusiasmo para falar das atividades do Distrito Sanitário de São Carlos, das edições iniciais da campanha de vacinação contra a poliomielite no município e das atividades de ação social das quais participava. Era um período que a redemocratização do país se pronunciava e ali, num órgão público, ela disponibilizava informações com uma transparência incomum até nos dias de hoje. Para mim, essa atitude se traduzia numa característica: bom senso. A marca de dona Yvonne, altruísta na vida pessoal, no trabalho e na comunidade. Na rotina do serviço público, aplicou ao pé da letra o sentido da atividade: servir.

Filha de Cícero Soares Ribeiro e de Umbelina (Bela) Torres Ribeiro, Yvonne nasceu em Santa Edóxia em 5 de dezembro de 1930. Casou-se com Antonio Sasso Garcia, sendo mãe de cinco filhos: Marisa casada com Paulo Gullo, Marilia casada com Gyorgy Henyei Jr, Maristela casada com José Carlos de Paiva Lopes, Antonio Filho casado com Patrícia Petromilli Nordi Sasso Garcia, e Cícero casado com Luciana do Amaral Ribeiro Garcia. Avó de 12 netos: Marina casada com Caio Solci, Paulo Filho casado com Monica Demonte Quaranta, Débora, Gyorgy Neto, Isabela, Ana Helena, João Pedro, Carolina, Gustavo, Pedro, Maria Luiza e Ana Bárbara. E bisavó de 3 bisnetos, Cauã, Filipe e Enrico.

Yvonne realizou o curso primário no Grupo Escolar em Santa Eudóxia, o ginasial no Colégio São Carlos e o curso Normal no Instituto de Educação Dr. Álvaro Guião, formando-se professora normalista. A vocação para o trabalho na saúde conduziu-a para São Paulo, onde obteve formação como Educadora de Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Este seria seu caminho, como se comprovou ao especializar-se na disciplina pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A mulher notável, que aliou a vida familiar aos estudos e à atuação profissional revelou-se desde cedo. Já em 1954 integrava a diretoria do Clube das Mães, instituição mantenedora da Creche Anita Costa, da qual foi fundadora ao lado de dona Ruth Bloem Souto. Yvonne participou da diretoria em dois períodos, até 1972 e entre 1979 e 1985, ao lado do Dr. Ernani Fonseca, Delegado Regional de Saúde de São Carlos. A Creche Anita Costa se tornou modelo em toda a região.

Ainda na década de 1950, foi organizadora e coordenadora do Serviço Pré-Natal à Gestante Carente, na Maternidade Dona Francisca Cintra, em parceria com a Delegacia Regional de Saúde de São Carlos e o Clube das Mães.

Em 1964 estava ao lado de dona Jurandyra Fehr, de quem foi o braço direito, na criação da União Cívica Feminina de São Carlos, tendo sido sua vice-presidente. A trajetória da instituição contaria por décadas com sua ativa participação. E não seria diferente no Círculo de Amigos do Menino Patrulheiro, onde integrou a diretoria ao lado do grande amigo Walter Marmorato no período de 1965 a 1978.

Uma legião de alunos tem lembranças afetuosas da professora de Biologia Educacional no Colégio São Carlos e da educadora de Saúde Pública do Centro de Aprendizado Doméstico do SESI. Yvonne tinha prazer em ensinar.

Coordenadora entre 1969 e 1972 do Plano de Amparo Social, órgão subordinado ao gabinete da 1ª. Dama do Estado de São Paulo, ela foi f funcionária Secretaria de Saúde Pública do Estado de São Paulo, atuando na Delegacia de Saúde de São Carlos, posteriormente Distrito de Saúde de São Carlos.

Assumiu, como presidente, a Comissão Municipal da LBA (Legião Brasileira de Assistência), a convite do Dr. Marino da Costa Terra, então Juiz de Direito de São Carlos, e posteriormente foi responsável pela fundação do Centro Regional da LBA em São Carlos.

Prestou orientação técnica ao CRUTAC (Centro Rural de Desenvolvimento de Treinamento de Ação Comunitária) na supervisão e avaliação de estagiários e no desempenho de funções na área de Educação em Saúde Pública de 1976 a 1981.

Aposentou-se como Educadora Regional de Saúde em 1982, mas aposentar-se, na concepção de dona Yvonne seria apenas uma situação eventual. Em 1987 ela chegou a apresentar um programa de rádio “Educando para a Saúde” com outros grandes profissionais da área da saúde de São Carlos e região.

Em 1992 continuava na ativa, integrando a Comissão Municipal de Prevenção e Combate à AIDS. Uma trajetória profícua, digna de reconhecimento, materializado nas homenagens que recebeu: em 1975, “Mulher Símbolo de Dedicação e Desprendimento”, título outorgado pela União Cívica Feminina de São Carlos e ratificado pela Câmara Municipal, em 1977 “Cidadã Benemérita de São Carlos”, título outorgado pela Câmara Municipal pelo Decreto no. 127/76, em 1983 “Mulher do Ano”, título outorgado pela União Cívica Feminina de São Carlos e ratificado pela Câmara Municipal, e em 2014 – Homenagem do Legislativo são-carlense no Dia Internacional da Mulher.

A experiência acumulada em tantos anos de atuação profissional e levaram a publicar diversos trabalhos, entre eles o “Programa de Erradicação da Raiva Humana e Controle da Raiva Animal para o município de São Carlos”, em 1972, e o “Programa Educacional para a Área Materna dos Centros de Saúde do Distrito de Sanitário de São Carlos” em 1977.

O rigor técnico no exercício de suas funções era aprimorado em cursos, seminários e conferências ligados à área da saúde. Foi convidada para palestrar em diversas oportunidades. Participou de maneira ativa em campanhas de vacinação contra a meningite meningocócica, de trabalhos do Fundo de Assistência Social do Palácio do Governo e coordenou, orientou e participou em São Carlos de todas as campanhas de vacinação ao longo de sua carreira junto à Delegacia de Saúde e Distrito Sanitário de São Carlos.

Se os são-carlenses se recordam da pessoa que soube arregaçar as mangas e se colocar em campo para serviços em benefício de causas sociais importantes, seus familiares se recordam da mulher inspiradora do fortalecimento dos laços de família. Era muito próxima de sua única irmã Ludovina Ribeiro Lisboa, Cecy, professora no Colégio São Carlos e mãe de Beatriz e Elizabeth.

Yvonne elaborou um grande levantamento fundamentado em seus conhecimentos, criando a Árvore Genealógica da Saúde, com as características de saúde e causa da morte de todos os familiares, trabalho que retrocedeu a duas gerações e foi atualizado até os dados da autora e do marido.

Mãe e avó que gostava de boas leituras e cultivou a generosidade – empenhada em liderar campanhas de ajuda aos necessitados - manteve os olhos voltados a projetos para a comunidade. E uma atenção especial aos filhos, a quem educou pelo exemplo, e aos netos, alvos de seu carinho absoluto e motivo de justificado orgulho. Religiosa, fazia novenas para Nossa Senhora e às pessoas próximas tinha frequentemente uma palavra afetuosa. Os netos guardam a lembrança do mimo de inventar um bolo para cada um, dando a eles os respectivos nomes. Aquela que colocava a rede no jardim e, paciente, relevava as traquinagens dos pequenos, tinha sempre um doce para festejar o encontro e se mantinha ligada aos acontecimentos – logo cedo gostava de comentar as notícias lidas no jornal.

Assim foi Yvonne Ribeiro Garcia, uma são-carlense que vivenciou com alma e coração – sobretudo com grande dignidade – as vertentes da caminhada de vida de uma cidadã que cultivou o acolhimento e soube iluminar e expandir os caminhos dos que se miram nos seus exemplos.

 (*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).

Fonte: São Carlos Agora / Cirilo Braga

Última modificação em Sexta, 28 Agosto 2020 16:21


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