Nanofármaco é estratégia antiviral com grande potencial para tratamento de COVID-19
SÃO CARLOS/SP - Em um artigo científico publicado neste mês de junho na revista internacional “ACS Applied Bio Materials”, pesquisadores do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Instituto de Física de São Carlos (GNano-IFSC/USP) e do Instituto de Ciências Biomédicas II, ICB-II/USP, São Paulo, divulgaram uma possível estratégia de combate à COVID-19, com o reposicionamento de um medicamento já comercializado, dedicado aos pacientes com esclerose múltipla - o Fingolimode.
De fato, o que os pesquisadores fizeram foi desenvolver uma nanopartícula polimérica e encapsular a substância, tranformando-a em uma nanocápsula. No contexto geral, os pesquisadores identificaram que a introdução da nanotecnologia, aliada ao conceito de “reaproveitamento” ou reposicionamento de fármacos, representa uma combinação valiosa e que a utilização do Fingolimode pode representar uma estratégia antiviral para tratamento de COVID-19.
Desenvolvimento das pesquisas com o apoio da CAPES
É óbvio que o desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 foi - e é - uma importantíssima medida para travar a transmissão do vírus, mas o certo é que ele continua a se disseminar, agora de forma mais branda, apresentando-se distribuído em diferentes linhagens, provocando novos casos que necessitam de cuidados médicos e por isso de novas terapias, muitas delas ainda em estudo, ou em testes experimentais, sendo que poucos foram já aprovados pelo FDA, como são os casos do Remdesivir, o Baricitinib, e o coquetel de anticorpos monoclonais, RegenCov.
Verificando a literatura científica, os pesquisadores do IFSC/USP constataram que pacientes portadores de esclerose múltipla e tratados com Fingolimode manifestaram apenas leves sintomas de COVID-19, o que pressupõe que esse medicamento pode, efetivamente, ser considerado como um potencial terapêutico candidato contra o SARS-CoV-2.
Segundo as pesquisadoras Renata Miranda e Natália Ferreira, co-autoras do Trabalho, “A nanotecnologia é capaz de potencializar o efeito biológico do fingolimode sem trazer efeitos adversos nas células saudáveis”.
Na sua versão em nanocápsula, o Fingolimode demonstrou uma alta atividade contra o vírus da COVID-19, sendo sua atividade quase setenta vezes maior do que o tratamento medicamentoso convencional.
Para o prof. Valtencir Zucolotto, coordenador do GNano/USP e supervisor da pesquisa, “O trabalho ilustra o poder da nanotecnologia ao demonstrar que princípios ativos encapsulados em nanopartículas são adequadamente direcionados, aumentando assim o seu poder terapêutico”.
Adicionalmente, a tecnologia proposta garante um custo acessível uma vez que a dose necessária para o efeito biológico é bastante reduzida. Esta nanocápsula de Fingolimode proporciona ainda um tempo prolongado de ação, evitando a necessidade de administrações repetidas aos pacientes.
A pesquisadora Edmarcia Elisa do ICB-II/USP, ressalta a importância de instalações, como é o caso do Laboratório “BSL3 Cell Culture Facility for Vector and Animal Research” de Nível de Biossegurança 3 (NB3), coordenado pelo pesquisador Carsten Wrenger, do ICBII/USP, onde foram desenvolvidos os testes de carga viral que compõem o trabalho. "Apenas em ambientes de alta biosseguranca, é possível manusear organismos com alto grau de patogenicidade, como é o caso do SARS-CoV-2", salienta.
Com base nessas descobertas através da pesquisa apoiada pela CAPES, a combinação do reaproveitamento de fármacos e da nanotecnologia representa uma nova linha de frente na luta contra o COVID-19.
Zucolotto ressalta, ainda, que efeitos semelhantes têm sido observados em vários sistemas nanoestruturados para liberação de outros princípios ativos, tanto em medicina, quanto em agricultura e veterinária, garantindo maior eficácia, segurança, e menor custo.
Para acessar o artigo científico relativo a esta pesquisa, clique neste link - https://www2.ifsc.usp.br/portal-ifsc/wp-content/uploads/2022/07/Fingolimode-proof.pdf
Rui Sintra - jornalista do IFSC/USP