BRASÍLIA/DF - Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticaram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas divergiram sobre o movimento pelo impeachment. Ambos ratificaram, em eventos separados, as posições já declaradas sobre um processo de impedimento na Câmara.
Em entrevista ao canal de TV argentino C5N, na noite de terça-feira, 12, Lula disse que, sob Bolsonaro, o Brasil é uma “nau sem rumo” em meio à pandemia do novo coronavírus e cobrou do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que coloque em votação os pedidos de impeachment. Segundo o petista, o presidente cria conflitos com diversos setores da sociedade com a intenção de levar o governo para o caminho do autoritarismo.
Já FHC disse que Bolsonaro não está à “altura do cargo” e que falta liderança no governo para enfrentar a pandemia do coronavírus, mas ponderou que é “melhor evitar” o impeachment. O movimento pelo impeachment conta com mais de 30 pedidos protocolados na Câmara assinados por partidos e lideranças de esquerda e direita, FHC disse, porém, que esse processo deixa marcas.
“É melhor evitar. Mas quem tem que evitar mesmo é quem está no poder. Bolsonaro está cavando a própria fossa. Pare de cavar, meu Deus. Não quero isso. Sei o custo histórico. Eu me opus ao impeachment do presidente Lula. Ele foi o primeiro líder sindical que chegou á presidência. Vamos tirar? Isso fica na história. Eu não me movo na direção de derrubar alguém, mas se esse alguém não melhora, ele cai”, disse o tucano em uma live promovida pela ONG Casa do Saber na tarde dessa quarta-feira.
FHC elevou o tom com o presidente. “Tenho a sensação que (Bolsonaro) é um homem que age por impulso. Dá uma sensação de uma certa arrogância: ‘vai passar, eu sou atleta’. Não adianta ser atleta. É preciso humildade na tragédia”, disse o tucano. No momento que o Brasil registra um aumento sistemático de casos de contaminação do covid-19, o ex-presidente afirmou que os ministros da área econômica “estão perdidos” na função e que demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), foi “insensato”. “Ele falava, explicava”, disse FHC. O tucano também voltou a dizer que Bolsonaro foi eleito por um a agenda negativa de rejeição ao PT.
FHC também defendeu a “consolidação do centro” e disse que o momento não é “para alguém que simbolize PSDB nem PT”. “Tem que ter um centro que simbolize um setor mais dinâmico da economia, mais palatável para o grosso da população. Não é hora de levantar bandeira de partido”, afirmou.
Na live, FHC também tocou em um tema sensível ao bolsonarismo. “Na medida que o executivo não é competente em certas áreas, outros poderes ganham espaço”, declarou. Sobre as eleições presidenciais de 2022, o ex-presidente repetiu dois nomes tucanos como opção para o Palácio do Planalto, os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP), mas não descartou apoiar um nome de outra legenda. “Vou apoiar quem vai fazer uma ponte, independente do partido”.
Ele comentou ainda o aumento de militares em cargos chave do governo. “Não creio que as Forças Armadas estão fazendo um movimento para ocupar o poder. É a fraqueza do presidente que leva a nomear muitos militares. Nomeação de militares é sinal de fraqueza”.
Desgoverno
Na entrevista ao canal de TV argentino, o ex-presidente petista afirmou o governo deveria concentrar esforços primeiro no combate à doença e na preservação da vida dos Brasileiros. A economia, de acordo com Lula, fica em segundo plano. “É simples: se você salvar o povo, você pode, com a ajuda dessas pessoas, reconstruir a economia. Hoje estamos assistindo passivamente as pessoas morrerem”, disse Lula. “Não é possível que a gente ainda siga vendo, dia a dia, as pessoas morrerem pela pandemia. O único que ressuscitou foi Jesus Cristo! As pessoas não ressuscitam, mas a economia, sim”, completou.
Lula adotou o discurso do “Fora Bolsonaro” nas últimas duas semanas, mas nos bastidores tem desestimulado o PT a pedir o impeachment do presidente. Para o petista, o pedido tem que partir de setores organizados da sociedade para evitar que os defensores de Bolsonaro digam que se trata de uma ação de seus adversários políticos.
*Por: Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo e Pedro Caramuru / ESTADÃO