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BRASÍLIA/DF - Após dois anos de pandemia, pais e responsáveis dizem que estudantes precisam de reforço escolar para recuperar a aprendizagem. Segundo as famílias, pelo menos dois em cada três estudantes precisarão de apoio em algum conteúdo. Para 28% dos responsáveis, a prioridade das escolas nos próximos dois anos deve ser justamente a promoção de programas de reforço e recuperação. 

Os dados são da pesquisa "Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias", realizada pelo Datafolha a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As perguntas foram feitas por telefone a 1.306 pais e responsáveis de 1.850 estudantes, em todo o país, em dezembro de 2021.

Para eles, os estudantes devem receber apoio em matemática (71%), língua portuguesa (70%), ciências (62%) e história (60%). Consideradas apenas crianças em fase de alfabetização, esse percentual sobe: 76% precisarão de mais atenção das escolas na retomada das aulas presenciais, segundo as famílias.

"Foi difícil o fechamento das escolas para todas as etapas de ensino, mas especialmente difícil para as crianças menores, especialmente na fase da alfabetização", diz a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Mota Guedes. "Isso colocou um peso nas famílias, de uma expertise que não é delas. Alfabetizar é uma das tarefas mais difíceis". 

De acordo com levantamento divulgado recentemente pela organização Todos pela Educação, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 40% das crianças com 6 ou 7 anos de idade não sabiam ler ou escrever em 2021, o que representa mais de 2,4 milhões de crianças no país.

Ensino presencial 

A pesquisa mostra ainda que 88% dos estudantes da rede pública de ensino tiveram as escolas reabertas em 2021. Segundo os pais e responsáveis, 83% dos estudantes que retornaram às atividades presenciais estão evoluindo no aprendizado. 

De acordo com as famílias, os alunos que voltaram às atividades presenciais estão mais animados (86%), mais otimistas com o futuro (80%), mais independentes para realizar as tarefas (84%) e mais interessados nos estudos (77%) do que aqueles que continuaram no ensino remoto, respectivamente 74%, 72%, 72% e 60%.

"Um ponto muito importante é o apoio das famílias à retomada presencial, à vacinação e ao papel dos professores. A gente observa, mais uma vez, o apoio muito grande ao papel do professor e a necessidade de prioridade e valorização desse profissional. Afinal, foram dois anos em que tiveram contato com professores de forma próxima como nunca ocorreu", diz Patrícia. 

O estudo mostra também a percepção das famílias de que a gestão educacional deve priorizar mais oportunidades de capacitação para os professores (23%), garantir o aumento salarial dos docentes (43%), melhorar a infraestrutura das escolas (30%) e ampliar o uso de tecnologia na educação (22%).

Segundo Patrícia, a parceria com as famílias será essencial para que a aprendizagem seja retomada. "Que essa parceria entre escola e família só se fortaleça ainda mais, porque é nessa retomada das aulas presenciais, com o diagnóstico [de aprendizagem dos alunos], que a gente vai ter a real dimensão e a real magnitude do desafio do ensino aprendizagem à nossa frente nos próximos dois, três anos, pelo menos". 

Pesquisa é capa da revista Advanced Electronic Materials

 

SÃO CARLOS/SP - Um estudo realizado por jovens pesquisadores do IFSC/USP abre as portas para a criação de uma nova era na computação com a criação de computadores neuromórficos, equipamentos esses que terão a capacidade de trabalhar com base no designado “aprendizado de máquina / inteligência artificial”, mimetizando o funcionamento do cérebro humano, com seus neurônios e sinapses. O artigo científico resultante dessa pesquisa foi publicado na edição do dia 10 do corrente da revista Advanced Electronic Materials, com direito a capa, o que demonstra a importância, qualidade e impacto do trabalho na área de novos materiais e computação neuromórfica.

A próxima geração de computadores

A essência do estudo feito pela equipe de pesquisadores, constituída pelos doutorandos Henrique Frulani de Paula Barbosa* e Germán Darío Gómez Higuita**, e do Pós-Doutorando Florian Steffen Günther***, liderada pelo Prof. Gregório Couto Faria, consubstanciou-se no trabalho realizado com dispositivos neuromórficos, eletrônicos cujas características permitem “imitar” propriedade de células neuronais e suas sinapses, tendo como plataforma base o dispositivo conhecido como Electrochemical Neuromorphic Organic Device (ENODe) -, o qual se assemelha, em estrutura, à uma mescla de bateria e transistor eletroquímico. Tal dispositivo foi inicialmente proposto em um trabalho de 2017 publicado na conceituada revista “Nature Materials”, com a participação do Prof. Gregório C. Faria, entre os autores. No entanto, desde sua concepção, tal dispositivo de memória apresentou uma intrínseca instabilidade ao longo do tempo, devido especificamente a um dos materiais utilizados como camada ativa, o PEDOT:PSS/PEI. Tal película, durante a operação da memória libera parte do PEI, alterando suas propriedades. Isso limitava a aplicabilidade do dispositivo somente para fins acadêmicos. Em face a essa deficiência, a equipe de pesquisadores do IFSC/USP, orientada pelo Prof. Gregório Faria, sintetizou e aplicou com sucesso uma nova variação de PEDOT:PSS para substituir o componente defeituoso, reativando assim as esperanças para a criação de uma nova geração de computadores baseada no design ENODe.

Para que se entenda melhor o foco desta pesquisa, é importante salientar que a atual computação se baseia em uma arquitetura conhecida como arquitetura de von Neumann. Nesta, processador, memórias voláteis (memória RAM) e memórias não voláteis (HD ou SSD) são componentes separados que se comunicam. Tal organização acarreta o famoso gargalo de von Neumann, um impedimento dos componentes de atuarem em sua máxima performance devido a restrições na velocidade de comunicação entre os componentes. Tal fato, aliado ao crescente consumo energético, a dificuldades na miniaturização de componentes para além da escala nanométrica e na dissipação de calor, têm feito com que o aumento de performance anual dos dispositivos eletrônicos venha diminuindo ao longo dos últimos 20 anos. “A busca por dispositivos neuromórficos vai ao encontro da necessidade de criar componentes computacionais básicos que evitem os problemas anteriormente mencionados. Nesse ponto, o cérebro humano se apresenta como uma grande fonte de inspiração, dada a sua eficiência computacional (baixo consumo energético para a grande quantidade de operações que realiza – evitando aquecimento excessivo) e a sua ausência de “gargalo” (os neurônios atuam como memórias voláteis e não-voláteis ao mesmo tempo) – além, claro, de sua plasticidade. O objetivo é que a nova geração de computadores consiga ter também  um aprendizado de máquina mais eficiente, baseado em experiências prévias, mas, dessa vez, na parte do hardware e não do software como estamos acostumados. Com isso, a máquina poderá aprender com seus próprios erros e tomará caminhos diferentes de forma automática para encontrar a solução ideal”, explica Henrique Barbosa. Ou seja, para que o computador atual tenha essa complexidade e eficácia, muitas vezes você tem que dar a ele um grande banco de dados inicial e se precaver por meio código contra eventuais falhas que possam ocorrer, caso contrário a máquina encontra não se aperfeiçoa. “Existem diferentes tipos de dispositivos neuromórficos, sendo que o escolhido para a nossa pesquisa se encaixa na categoria dos eletroquímicos orgânicos, pois é feito com base em polímeros. Tais materiais são constituídos de cadeias carbônicas assim como a matéria orgânica que compõe nossos corpos, permitindo, ainda, a operacionalização através de baixas voltagens, que são, em determinadas situações, igualmente similares ao funcionamento do cérebro, que trabalha através de pulsos bastante pequenos”, complementa Henrique. Assim, com nossos avanços neste trabalho, o ENODe permite que se armazene a informação dentro dele por mais tempo e com menor degradação. Sumariamente em futuro relativamente próximo, o ENODe poderá dar forma a uma nova geração de computadores que congreguem, em um único componente, o HD, o processador e a memória RAM, fazendo com que a máquina processe tudo simultaneamente.

O desafio de encontrar uma solução para o futuro

Para Germán Higuita, a pesquisa foi um desafio para encontrar e testar uma solução para um material que se degradava com o uso e o passar do tempo. “Foi um alívio quando observamos o resultado das sínteses realizadas no novo material, onde se conseguiu determinar que ele tem potencial para resolver o problema da degradação do ENODe. Foi muito interessante acompanhar todo o processo, até porque a partir daí conseguimos obter resultados positivos em três outros materiais que estamos estudando, algo que abre novas fronteiras para futuras pesquisas”, comemora o jovem pesquisador. Germán foi o responsável pelo desenvolvimento e síntese dessas novas tintas, as quais deverão ser motivo de proteção intelectual e, quem sabe, motivo de uma futura aventura em indústria de tecnologia. “Tintas condutivas são muito importantes no momento, sendo aplicadas em sistemas de desembaçar vidros automotivos, eletrônica impressa e, agora, em elementos básicos de computação. Estamos avaliando a opção de enviarmos um projeto PIPE ou até mesmo concorrer a projetos Centelhas da FAPESP”, conta o pesquisador.

O Pós-Doutorando Florian Günther teve a oportunidade de participar do trabalho e agregar sua perspectiva e experiência em química para auxiliar na compreensão e desenvolvimento da rota química que gerou tais materiais. “Minha contribuição nesta pesquisa foi ajudar os alunos, já que, como Pós-Doutorando, além da experiência acadêmica, tive disponibilidade para executar um trabalho de integração da equipe, analisar resultados, etc.. Foi uma colaboração muito proveitosa e intensiva, onde todos nós aprendemos muito através das discussões e atuações relativas a processos, novas ideias, dificuldades encontradas e como superá-las, mas sempre com uma alegria e um entusiasmo imenso, algo que é essencial quando você faz pesquisa”, comemora Florian. Contudo, o pesquisador é cauteloso quando sublinha que embora os atuais computadores tenham uma história longa, com mais de 50 anos, o certo é que o destino final destes novos caminhos que estão sendo desbravados agora, e que apontam para uma grande revolução computacional, ainda está um pouco longe. “Ainda existem diversas inseguranças e dúvidas, já que, por exemplo, ainda não sabemos todos os detalhes relativos aos materiais que estamos utilizando. O importante é entender as características e propriedades desses materiais com um olhar atento do ponto de vista da Física, no sentido de melhorá-los e aplicá-los”, enfatiza o pesquisador.

Satisfeito, o líder da pesquisa, o Prof. Gregório Faria mencionou que este trabalho reflete bem o espírito científico que ele sempre quis trazer ao seu grupo de pesquisa: “Uma das grandes vantagens da grande área da eletrônica orgânica é que as propriedades dos materiais ativos podem ser modificadas e controladas para melhorar performances de dispositivos eletrônicos. E foi exatamente isso que realizamos nesse belíssimo trabalho”, conta o orientador. Para finalizar, o Prof. Gregório fez uma cobrança aos seus alunos: "Quando fomos convidados pela revista para submetermos uma capa, ainda não era certo que seríamos escolhidos. Foi quando fizemos uma pequena "aposta" entre nós. Eu acabei ganhando, e agora meus alunos me devem um churrasco (que, claro, será realizado após o fim das restrições sanitárias)", brincou o orientador.

Para acessar o artigo científico relativo a este trabalho, acesse https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/aelm.202100864

*Henrique Frulani de Paula Barbosa - Graduação em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) / Mestrado em Ciência e Engenharia de Materiais pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) / Doutorando em Ciência e Engenharia de Materiais (EESC/USP),

**Germán Darío Gómez Higuita - Graduado em Engenharia de Materiais pela Universidade de Antioquia (Colômbia) / Mestre em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) / Doutorando em Ciências e Engenharia de Materiais (EESC/USP);

***Florian Steffen Günther - Graduação e Mestrado em Física pela Technische Universität Chemnitz / Doutorado em 2018   pela Technische Universität Dresden / Pesquisador Pós-Doutorando no IFSC/USP, com experiência nas áreas de Química e de Física, com ênfase em Semicondutores Orgânicos, atuando principalmente nos seguintes temas: Síntese e processamento de polímeros semicondutores, caracterização elétrica e ótica de dispositivos orgânicos, modelagem e simulação de química quântica.

 

 

Rui Sintra - Jornalista do IFSC/USP

SÃO PAULO/SP - Pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp) apontam caminhos que podem levar ao desenvolvimento de um anticoncepcional masculino. O estudo, publicado na revista Molecular Human Reproduction, mostra que a partir da proteína Eppin, que regula a capacidade de movimentação do espermatozoide é possível desenvolver medicamentos que controlem a fertilidade dos homens.

Segundo o professor do departamento de Biofísica e Farmacologia da Unesp, Erick José Ramo da Silva, a partir de experimentos feitos em camundongos foi possível identificar dois pontos da proteína que regulam a movimentação dos espermatozoides. “Ela tem um papel muito importante no controle da motilidade temática por interagir com outras proteínas que agora estão no sêmen. E essas proteínas, ao interagirem com a Eppin, promovem o ajuste fino da motilidade, o controle da motilidade”, explica o pesquisador que faz estudos na área há 20 anos.

Segundo Silva, foram usados anticorpos para descobrir quais são os pontos da Eppin, que tem função semelhante nos camundongos e nos seres humanos, responsáveis por regular a movimentação célula reprodutiva masculina. Após a ejaculação, o espermatozoide precisa nadar para chegar ao óvulo e fazer a fecundação.

Porém, antes da ejaculação, os espermatozoides não se movimentam. O estudo trabalhou em identificar justamente qual é a interação que faz com que as células fiquem paradas antes do momento certo. “Quem impulsiona o espermatozoide para dentro é o próprio processo de ejaculação. Somente depois de alguns minutos da ejaculação é que o espermatozoide vai adquirir a motilidade progressiva para seguir a jornada dele”, detalha o professor.

Trabalho, coordenado por docente do Campus Lagoa do Sino da UFSCar, aponta importância de estudo e preservação ambiental

 

BURI/SP - Pesquisadores de seis instituições brasileiras redescobriram uma espécie de perereca considerada extinta: a Phrynomedusa appendiculata, descrita em 1925, por Adolpho Lutz, encontrada inicialmente em Santa Catarina e vista apenas três vezes na natureza - a última delas há 52 anos (em 1970), em Santo André (SP).
Medindo sete centímetros, o animal possui coloração verde vivo, com superfície lateral laranja brilhante, e foi encontrado pelos pesquisadores depois de percorrerem diversas trilhas de difícil acesso na região de Capão Bonito (SP), em 2011, em área de Mata Atlântica. Para chegar até o local, o grupo percorreu uma longa estrada de terra, seguida de cerca de 20 quilômetros de trilha.
A redescoberta ocorreu no escopo da criação do Parque Estadual Nascentes do Paranapanema (Penap), que constitui uma nova unidade de conservação no estado de São Paulo. A ação foi coordenada por Alexandre Camargo Martensen, docente no Centro de Ciências da Natureza (CCN), do Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e hoje a área preservada é gerida pela Fundação Florestal do Estado.
"Esta foi uma das áreas que eu amostrei durante o meu mestrado e, desde então, busquei financiamento para detalhar os estudos com o objetivo de protegê-la", lembra Martensen.

Descrição e características
No total, foram encontrados em Capão Bonito 16 indivíduos adultos, além de girinos. Uma das pererecas foi acrescentada à coleção do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP).
O registro trouxe dados inéditos e detalhados sobre a espécie, antes incompletos e pouco conhecidos, que envolvem características acústicas (gravação de sons emitidos pelo animal), morfológicas (forma, estrutura, tamanho, cor e tipo) e ecológicas (ambiente no qual o animal foi encontrado).
"Gravamos sua vocalização para conseguir, por meio de inteligência artificial, identificar estes cantos e, assim, buscar a espécie em outros locais, já que, até o momento, ela só foi encontrada em duas pequenas lagoas marginais do Penap", explica Martensen.
Em relação às características ecológicas, a espécie foi encontrada em um local raro para ambientes de planalto, a lagoa marginal, diferente do tradicional riacho, que é mais comum nestas áreas. Segundo o docente, isso justifica o fato de o animal ter sido visto pouquíssimas vezes na natureza.
"Estas lagoas geralmente aparecem quando a água chega em ambientes de planície, planos, sem tanta variação de altitude, pois começa a perder a velocidade e a meandrar. Em planaltos, a água costuma descer bem rápido, por isso se formam riachos, com fundo de pedra e areia, não essas lagoas. No entanto, encontramos um local específico de planalto que tem meandros e rios abandonados, coberto com uma exuberante floresta aluvial, formando estas lagoas marginais. Foi neste ambiente que achamos as pererecas. Agora, no âmbito do meu projeto Jovem Pesquisador, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), tentaremos encontrá-las em outros lugares que tenham estas mesmas características peculiares", registra.
Outro trabalho feito pelos pesquisadores foi o sequenciamento genético da espécie, o que permitiu compará-la com outras espécies próximas. "As análises de DNA permitiram que detalhássemos seu grau de parentesco com as demais espécies já encontradas em museus, além de confirmarmos que se trata mesmo da Phrynomedusa appendiculata, uma espécie bem pouco conhecida", informa o docente da UFSCar.

Importância e conservação
Segundo Martensen, a Phrynomedusa appendiculata é importante no controle de populações de insetos e serve de alimento para outras espécies. Além disso, por ser um anfíbio, ajuda no entendimento do equilíbrio ecológico. "Por nascerem e crescerem em água e, depois, irem para a terra, são animais sensíveis a mudanças ambientais ou de qualidade da água, por exemplo", enumera.
Após a redescoberta da espécie, os próximos passos envolvem ampliar os conhecimentos sobre ela, entendendo melhor a sua biologia e sua reprodução, inclusive para pensar em estratégias de conservação. 
Para preservá-la, o pesquisador alerta que são necessárias ações que envolvem desde o controle de acesso ao local, até pensar em estratégias de manejo para recuperá-la em locais que talvez já tenha habitado e que não existem mais. 
"As áreas de cabeceiras dos rios precisam permanecer protegidas e limpas, o que evita, além de doenças, trazer sedimentos morro abaixo, o que alteraria a qualidade da água e a capacidade do animal de sobreviver. Também é preciso entender o que o bicho precisa para sobreviver e reproduzir em determinado local. Às vezes é muito pouco, como água limpa e cobertura florestal", avalia.
Redescobertas como esta mostram que, mesmo tão devastada pelo ser humano, a Mata Atlântica ainda conserva uma enorme diversidade de espécies; muitas delas, antes consideradas extintas, ainda sobrevivem em trechos da floresta. "Uma hipótese para explicar este fato é que o enorme dinamismo da vegetação nativa - que, apesar dos desmatamentos, tem enormes ganhos de florestas devido à intensa regeneração natural - permite que as espécies consigam se acomodar ao longo do tempo e sobreviver. No entanto, serve como alerta para preservar essa rica biodiversidade e evitar, de fato, a extinção das espécies", pondera Martensen.
O estudo foi publicado em artigo - Rediscovery of the rare Phrynomedusa appendiculata (Lutz, 1925) (Anura: Phyllomedusidae) from the Atlantic Forest of southeastern Brazil - na revista científica Zootaxa e pode ser acessado em https://bit.ly/3uuzWD1. Assinam a publicação, além de Martensen, da UFSCar, pesquisadores da USP, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, Universidade do Porto (em Portugal), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Ecosfera Consultoria e Pesquisa em Meio Ambiente - todas instituições parceiras da pesquisa.
A expedição de campo foi financiada pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), e os estudos que buscam aprofundar as informações biológicas da espécie pela Fapesp.
Projeto de doutorado da UFSCar busca voluntárias que receberão avaliação e tratamento gratuitos

 

SÃO CARLOS/SP - Uma pesquisa de doutorado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPGFt) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), está oferecendo tratamento gratuito para mulheres que sofrem com a incontinência urinária de esforço. O trabalho é realizado no Laboratório de Pesquisa em Saúde da Mulher (LAMU) pela doutoranda Ana Paula Rodrigues Rocha, sob orientação de Patricia Driusso, docente do Departamento de Fisioterapia da UFSCar e coordenadora do LAMU.
O objetivo principal da pesquisa é avaliar os efeitos econômicos de diferentes frequências semanais do treinamento da musculatura do assoalho pélvico para mulheres com incontinência urinária de esforço. "Este estudo é importante, pois ele pode beneficiar as mulheres com um tratamento já comprovado. Com essa pesquisa, estamos verificando os custos de um tratamento e a viabilidade de fazê-lo com eficiência e no menor custo possível para que seja acessível à maior parte da população", destaca Ana Paula Rocha.
De acordo com a pesquisadora, a incontinência urinária de esforço ocorre quando há perda de urina diante de um esforço, como espirro, realização de atividade física ou deslocamento de um objeto mais pesado, por exemplo. O problema é muito comum entre as mulheres e uma das causas é a fraqueza da musculatura do assoalho pélvico. "O que acontece muitas vezes é que as mulheres normalizam a perda de urina como algo que pode acontecer com qualquer um. Para a gente, é importante que as mulheres tenham em mente que a incontinência urinária pode ser tratada e que pode melhorar em diversos aspectos da qualidade de vida delas", reforça a pesquisadora.
Durante a pesquisa, será ofertado para as participantes um treinamento muscular do assoalho pélvico para melhorar a força e a função dessa musculatura. "A expectativa é que os todos os grupos tenham melhora, inclusive o grupo domiciliar que teria o menor custo", aborda Rodrigues. As voluntárias serão avaliadas e divididas em diferentes grupos: com treinamentos presenciais uma ou duas vezes por semana e um grupo que fará o treinamento domiciliar. Todas as participantes também responderão questionários e passarão por reavaliação e acompanhamento após as sessões de treinamento do assoalho pélvico.
As atividades presenciais serão realizadas na UFSCar seguindo todas as medidas sanitárias em relação à Covid-19. A equipe da pesquisa já está vacinada e as participantes também precisam estar com a vacinação completa.
Para desenvolver o estudo, estão sendo convidadas mulheres, a partir de 18 anos, que tenham tido perda urinária no último mês e que residam em São Carlos (SP). As interessadas devem preencher este formulário eletrônico (https://bit.ly/3ocn7ta) até o final do mês de março. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 05999118.3.0000.5504).

Tratamento de lesões causadas pelo vírus HPV (condilomas/verrugas)

 

SÃO CARLOS/SP - Uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) está convocando pacientes mulheres com idades entre os 18 e 60 anos, que sejam portadoras de lesões do tipo condilomas/verrugas causadas pelo vírus HPV na região genital.

Esta pesquisa está sendo desenvolvida no Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e tem como principal objetivo comparar a Terapia Fotodinâmica com o tratamento convencional, tornando este procedimento uma realidade para o tratamento de condilomas.

Nesta pesquisa não poderão participar mulheres grávidas e lactantes, ou que apresentem quadro de imunossupressão (portadora do vírus HIV, indivíduos transplantados ou em quimioterapia).

SÃO CARLOS/SP - Identificar oportunidades de pesquisas transnacionais visando à redução das emissões dos gases de efeito estufa (GEE) e a melhoria da eficiência da produção dos sistemas de terras agrícolas. Essa foi a tônica da reunião anual do “Croplands Research Group (CRG)” - Grupo de Pesquisa de Terras Cultiváveis com Grãos - que reuniu, virtualmente, nesta quarta-feira (19), cerca de 40 cientistas de 19 países de quatro continentes.

 O CRG, que faz parte da Global Research Alliance on Agricultural Greenhouse Gases (GRA), trabalha em conjunto para encontrar maneiras de aumentar a produção de forma sustentável, limitando as perdas de carbono e nitrogênio para a atmosfera. Além disso, atua para transferir esse conhecimento e tecnologias associadas para agricultores, gestores de terras e formuladores de políticas em todo o mundo.

 Um dos cocoordenadores do grupo do CRG, o pesquisador da Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP), Ladislau Martin Neto, disse que as apresentações e discussões se concentraram nas atividades realizadas no escopo do grupo em 2021. Mas no âmbito dos aspectos científicos priorizou-se o que está se chamando de cobenefícios - são benefícios positivos relacionados à redução dos gases de efeito estufa.  Essa é uma meta do Plano Estratégico GRA para o período de 2021 a 2025.

 

Estratégias de mitigação

 “Os cobenefícos de mitigação podem servir para acelerar a adoção de práticas agrícolas inteligentes em relação ao clima”, enfatizou o físico Martin Neto que compartilha a cocoordenação do CGR com o pesquisador do Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS/USDA) dos Estados Unidos, Mark Liebig, e com a professora da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, Maria Rosa Mosquera Lousada.

 Segundo o pesquisador brasileiro, usando a estrutura de rede do Grupo de Pesquisa de Terras de Cultivo de Grãos, os participantes analisaram algumas estratégias de mitigação promissoras e cobenefícios associados às dimensões da biofísica, economia e humana.

 Entre elas, estratégias para não aumentar a quantidade de gases causadores do efeito estufa da atmosfera, como a neutralidade climática, com balanço de carbono neutro, dos sistemas de produção agropecuária em áreas sob manejos conservacionistas. O pesquisador explicou que, assim, é possível gerar situações de sequestro de C no solo, com o aumento do conteúdo da matéria orgânica do solo (MOS).

 

Contribuições brasileiras

 No âmbito brasileiro, alinhadas às decisões da COP 26, que ocorreu em Glasgow, Escócia, no ano passado, Martin Neto destacou na reunião as ações positivas do Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária, chamado de ABC+, para o período de 2020 – 2030.

 Com contínua e forte contribuição da Embrapa o plano, lançado no ano passado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) conta, nesta nova fase, com oito práticas conservacionistas elegíveis.  Fazem parte delas o plantio direto, sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta, bioinsumos, recuperação de pastagens degradadas, florestadas plantadas, terminação intensiva de bovinos, sistemas irrigados e manejo de resíduos animais.

  O pesquisador considera a participação nesses fóruns muito relevantes, porque além de apresentarem oportunidades de cooperação científica, cria condições para divulgar, com clareza e ênfase, internacionalmente a agenda positiva da Embrapa e do agro brasileiro, inclusive, no tema de mudanças climáticas.

 “Em 2021, por exemplo, sob a liderança da pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão, Beata Madari, foi aprovado projeto de cooperação internacional no tema, com financiamento do governo da Nova Zelândia, onde existe um Ministério de Mudanças Climáticas, e que sedia a Secretaria da GRA”, lembrou o cocoordenador.

 O professor da Kansas State University (EU), Charles Rice, ao introduzir o tema cobenefícos, apresentou resultados de pesquisas, incluindo várias realizadas no Brasil. Entre elas, os sistemas de plantio direto e sistemas integrados. Rice, a convite de Martin Neto, visitou as unidades da Embrapa em São Carlos – Instrumentação e Pecuária Sudeste – em 2018, bem como mantém cooperação com algumas universidades brasileiras. 

EUA - O isopor, ou poliestireno expandido (EPS), quando descartado, é transformado em microplásticos que podem resultar na resistência de bactérias aos antibióticos, de acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Hazardous Materials. Isso acontece por causa do processo de degradação ultravioleta desses plásticos no meio ambiente, que faz com que eles virem ambientes propícios à disseminação de bactérias mutantes.

Essa mutação é chamada de resistência antimicrobiana (RAM).

Além de serem hábitats propícios à proliferação de micróbios, os microplásticos do isopor acumulam contaminantes químicos nocivos à saúde humana.

O problema do microplástico

Químicos de despolimerização são liberados na degradação do plástico por meio da ação da luz solar. Quando o isopor se fragmenta, ele libera substâncias químicas que contaminam os micróbios presentes no isopor, o que faz com eles sofram maiores taxas de mutação. Depois que a mutação acontece, os micróbios ficam livres para infectar o ser humano. Os microplásticos são plataformas capazes de agregar diversas bactérias de uma só vez, acelerando esse processo.

Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) capacita psicólogos e fonoaudiólogos

 

SÃO CARLOS/SP - O mercado de trabalho para profissionais especializados em Neuropsicologia vem crescendo em todo o mundo. O aumento da expectativa de vida e o surgimento de novos tratamentos para Alzheimer, Parkinson, Paralisia Cerebral, Depressão, Autismo ou mesmo para sequelas de acidente vascular cerebral (AVC), dentre outros, criou uma demanda por especialistas capazes de investigar o comportamento e o cérebro, apontar suas potencialidades e a melhor terapia para cada caso em específico.
"Profissionais capacitados para examinar pacientes com testes padronizados - para ter acesso a dados precisos e identificar a origem psicológica ou neurológica que gera algum tipo de comportamento - podem melhorar a qualidade da vida da população. São importantíssimos. Eles devem estar presentes em diferentes setores de instituições de saúde e educação para otimizar os serviços prestados", afirma o professor Sérgio Leme da Silva, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar.
A Neuropsicologia engloba o estudo do cérebro, seu desenvolvimento, a sua funcionalidade, transtornos psicológicos e as neuropatologias da infância, da adolescência e do envelhecimento. Dividida em Avaliação e Reabilitação, os profissionais da área usam de métodos específicos para analisar as condições de cada tipo de indivíduo. Após identificar possíveis prejuízos, funcionalidades perdidas, comportamentos adaptados, cognições compensadas e áreas cerebrais afetadas, ainda são coletadas informações referentes ao histórico familiar, social e clínico para traçar um perfil do paciente.
"Já na Reabilitação Neuropsicológica são realizadas algumas intervenções necessárias para melhorar ou adaptar alguma dificuldade para que aquela pessoa possa ser reinserida na sociedade, se possível. Não há limites para o desenvolvimento do cérebro humano. Ele responde a estímulos externos como treino, aprendizagem e atividade física e, assim, pode se modificar", descreve o professor.
Uma das mais importantes atribuições desse campo é a emissão do laudo neuropsicológico. O documento, que reúne os resultados obtidos durante a avaliação, deve ter todas as análises recebidas durante os testes feitos. Dessa maneira, ainda é possível auxiliar na tomada de decisões de outras áreas, fornecendo dados e ajudando a responder, por exemplo, se dificuldades expressas por uma criança são frutos de alienação parental, de violência doméstica ou por bullying na escola. "Para além da área da saúde, no setor educacional o profissional capacitado em Neuropsicologia pode ajudar a identificar o motivo de um aluno ter dificuldades de aprendizagem, por exemplo, ou se um determinado tipo de comportamento está relacionado a algum estado emocional", conta o docente. 
De acordo com o professor da UFSCar, fonoaudiólogos também podem atuar na área da Neuropsicologia, investigando problemas de linguagem, identificando comprometimentos e propondo estratégias de estimulação que melhorem a comunicação. "Para isso, é preciso aprofundar os conhecimentos sobre as relações entre cérebro e habilidades cognitivas, bem como a percepção, memória, linguagem oral e escrita, dentre outros. Além disso, é necessário saber reconhecer a expressão corporal das emoções, além de ter conhecimentos sobre administração e gestão de equipes interdisciplinares", ressalta Silva. 
Infelizmente, na visão do especialista, o Brasil ainda engatinha nessa área em nível de atendimento. "Quem aproveita muito é a elite, mas escolas e serviços públicos, que também deveriam ter um profissional com esse conhecimento, ainda não têm. Com o objetivo de qualificar graduados nas áreas de Educação e Saúde, a UFSCar oferece uma pós-graduação que trabalha tópicos básicos para o atendimento da criança ao idoso, do diagnóstico ao tratamento", lembra o professor. O "Curso de Especialização em Neuropsicológica Clínica: Avaliação e Reabilitação" aborda diversas formas de levantar dados clínicos e hipóteses por meio de instrumentos padronizados de avaliação das funções neuropsicológicas, que permitam diagnosticar e estabelecer qual o melhor tipo de intervenção necessária e específica.
O curso é voltado para psicólogos e fonoaudiólogos. Com aulas didáticas, práticas, além de atividades de pesquisa e leitura, a pós-graduação segue uma bibliografia atualizada. São abordados o funcionamento do cérebro, doenças da infância e do envelhecimento, além de temas como desenvolvimento, plasticidade cerebral e ética no atendimento clínico. A especialização oferece também aos alunos a oportunidade de vivência da prática clínica em parceria com a Unidade Saúde Escola (USE) e a Clínica Escola do Departamento de Psicologia, ambos da UFSCar. As aulas começam no dia 28 de janeiro. Inscrições em www.box.ufscar.br. Na página há mais informações, como valores de investimento.
Estudo da UFSCar foi reconhecido no XIV Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

 

SÃO CARLOS/SP - No último mês de outubro, Ana Carolina de Paula Basílio, estudante do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGeo-So), do Campus Sorocaba da UFSCar, foi a vencedora do prêmio de melhor dissertação de 2021, na categoria Ensino de Geografia - "Nidia Nacib Pontuschka" -, concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege), durante o XIV Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. A pesquisa vencedora, intitulada "(De)formados pela pele: a escola-periférica e a escola-excepcional fragmentada como (re)produtoras de desigualdades", foi realizada sob orientação da professora Lourdes de Fátima Carril e coorientação do professor Marcos Roberto Martines, ambos do Departamento de Geografia, Turismo e Humanidades (DGTH-So), do Campus Sorocaba da UFSCar.
A pesquisa visou problematizar a narrativa de "crise da escola pública" e analisar as diferenças qualitativas na formação de estudantes de escolas estaduais periféricas e centrais, considerando marcas corpóreas de classe, raça e gênero. "A experiência empírico-teórica como estudante e docente-pesquisadora em escolas estaduais suscitou questionamentos sobre a narrativa de crise da escola pública - comumente expressa em problemas de evasão e distorção escolar -, e colocou-me diante da questão-problema: seria a crise realidade de todas as escolas públicas?", pergunta Basílio.
Segundo a pesquisadora, estudos demonstram que os problemas educacionais são perpassados por questões socioeconômicas, territoriais e psicoemocionais, de modo a ser fundamental à análise considerar as especificidades de cada rede de ensino, cada escola e mesmo de cada estudante. "Para dar conta de entender tais especificidades, cunhei as noções de escola-periférica - escola localizada na periferia urbana e frequentada, majoritariamente, por estudantes negros; e de escola-excepcional - escola que apresenta bom desempenho, sendo exceção no interior de uma suposta crise educacional. A hipótese era de que a crise educacional não era uma realidade de todas as escolas estaduais, mas um projeto de (de)formação de estudantes negros e periféricos, os quais denominei conceitualmente como corpos negros-periféricos e corpos negros-periféricos deslocados - esse último, morador da periferia, mas estudante da escola central", descreve.
A seleção das escolas-sujeito da pesquisa deu-se a partir do desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) de 2018. Foram selecionadas a Escola Estadual "Professora Wanda Costa Daher", que naquele ano figurava na última posição, e a Escola Estadual "Professor Aggêo Pereira do Amaral", que apresentava o segundo melhor desempenho do município de Sorocaba. "Balizada pelas metodologias da pesquisa-ação e pesquisa participante, acompanhei o cotidiano escolar de estudantes do terceiro ano do Ensino Médio, a fim de identificar como suas corporeidades influenciavam em suas performances escolares", conta Basílio.
No decurso da pesquisa, foi possível identificar que questões de classe, raça e gênero, imbricadas à localização geográfica, são fundamentais à análise das performances escolares, e que a "crise da escola pública" historicamente tem cor e endereço, atingindo mais fortemente a escola-periférica e os corpos negros-periféricos. "Diferenças socioeconômicas entre os estudantes e a ‘carência cultural’ eram comumente evocadas pelo corpo escolar para justificar seu baixo desempenho e determinar condutas pedagógicas específicas como uma aprendizagem ‘nivelada por baixo’. Porém, tanto a pobreza quanto a suposta ‘carência cultural’ seguiam tendências raciais. A distorção escolar, por exemplo, era uma realidade da escola-periférica ‘Professora Wanda Costa Daher’, mas, entre estudantes negros, a taxa de repetência correspondia a 67%", destaca a pesquisadora.
Ainda de acordo com os resultados obtidos, na escola-excepcional "Professor Aggêo Pereira do Amaral", as marcas raciais fragmentavam o interior da própria escola, transmutando-a em escola-fractal. Na questão de distorção, por exemplo, identificou-se que 43,5% dos alunos do noturno repetiam entre um e três anos, e 36,7% dos alunos da manhã repetiam entre um e dois anos. Contudo, à luz da questão racial o quadro tornava-se mais dramático: 45% dos estudantes negros do período noturno repetiam entre um e três anos, e 36,7% da manhã entre um e dois anos; enquanto que 42,4% dos brancos do período noturno e 33,9% da manhã repetiam entre um e dois anos.
"Os dados e os relatos de estudantes e professores revelaram que, na corrida educacional, estudantes negros, sobretudo do período noturno, eram lesados e preteridos. Em suma, cotidianamente identificam-se abismos entre as realidades dessas escolas: de um lado a preparação consistente e constante para o vestibular, doutro a luta contra as fomes de pão e reconhecimento; de um lado a possibilidade de usufruir de espaços de lazer e cultura na cidade, doutro a obrigatoriedade de mentir o bairro para conseguir se inserir precocemente no mercado de trabalho e fugir ao estigma; de um lado o apoio familiar e os meios para sonhar; e doutro a ausência paterna e a privação ao sonho. Violências ora explícitas, ora dissimuladas que refletiam nos boletins, no (não) reconhecimento com a escolarização formal, em sua saúde mental e na projeção sobre o futuro", sintetiza a pesquisadora.
Para ela, "essa pesquisa exprime como escolarizar-se é um processo árduo aos corpos negros- periféricos, e não por uma incapacidade historicamente atrelada à população negra por explicações educacionais, psicológicas e culturais embebidas em racismo científico, mas devido ao próprio racismo estruturante da sociedade brasileira. Ser negro e tentar escolarizar-se é ter que lidar com livros didáticos alvos; com leis que se escrevem, mas não se cumprem; com preterimentos; com a fome; com a distância dos bairros periféricos de espaços de lazer e cultura; é lidar, inclusive, com a institucionalização de um capital cultural embranquecido, que não dialoga com o cotidiano de parcela significativa da população. Não considerar a intersecção entre raça, classe e gênero para entender as desigualdades que não são apenas educacionais, mas sociais, é contribuir com o discurso neoliberal, que põe nas costas da juventude negra e periférica a responsabilidade pelas cicatrizes que a marcam".
E como os resultados podem ajudar a transformar essa realidade educacional? Segundo a orientadora do estudo, as políticas públicas educacionais devem pensar os mais diversos ângulos da configuração escolar brasileira. Assim, "a análise do território e da etnicidade é um importante indicador para pensar e organizar currículos e práticas pedagógicas culturalmente e socialmente relevantes no sentido de que os sujeitos da escola se reconheçam no território escolar. Refletir sobre a escola periférica é levar em consideração a multiculturalidade brasileira, com o fim de enfrentar as desigualdades como parte do esquema racial brasileiro instituído, e sua força dinâmica de apartar um segmento grande da educação de qualidade. Além disso, torna-se urgente implementar a legislação que instituiu a História da África e da Cultura Afrobrasileira e Indígena (Lei 11.745/08), capacitando toda a rede escolar com o objetivo de renovar as práticas educacionais", defende a professora Lourdes de Fátima Carril.

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