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EUA - O IMD World Competitiveness Center, que estuda a competição entre países e empresas, acaba de divulgar uma pesquisa sobre a diferença na transformação digital nas duas principais potências mundiais. Os Estados Unidos aparecem no topo do ranking de competitividade digital do IMD pelo quarto ano consecutivo. Segundo o estudo, o sucesso do país é baseado “na prevalência doméstica da tecnologia e confiança das empresas no capital de risco acessível”. Por outro lado, a China, que subiu 15 posições nos últimos quatro anos, se beneficia de grandes níveis de desenvolvimento científico e educacional, P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e uma participação global líder nas exportações de alta tecnologia.

A pesquisa mostra que os Estados Unidos superam a China em educação, que tem uma participação de 6% no PIB (Produto Interno Bruto) norte-americano, ante 3,5% no país asiático, embora a China esteja no topo do ranking global de alfabetização matemática entre os jovens (os EUA ocupam o 36º lugar). Além disso, os Estados Unidos têm um terço a mais de usuários de internet (per capita) do que a China e têm os níveis mais altos de propriedade de tablets do mundo. Já o gigante asiático lidera o mundo em sua proporção de funcionários técnicos e científicos, que representam 11% do emprego total do país, quase o dobro dos EUA (6%). A China é o país com mais robôs em educação e P&D e tem quase um terço (30%) de todos os robôs do mundo, quase o dobro de seu rival mais próximo, o Japão (14%). Suas exportações de alta tecnologia representam 31% de todas as exportações de manufaturados, contra 19% dos EUA.

Estudo na área da Psicologia convida voluntárias para participar de intervenção remota

 

SÃO CARLOS/SP - Uma pesquisa da área da Psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está investigando a viabilidade de uma intervenção remota com mães sobre educação positiva de filhos, a fim de fortalecer o vínculo mãe e filho, além de ampliar o conhecimento e as estratégias para lidar com os comportamentos dos filhos. A intervenção proposta pelo estudo busca promover um espaço para que mães falem sobre suas experiências de educação de suas crianças e proporcionar a possibilidade de desenvolvimento de práticas parentais e educação positiva.

"A educação positiva é uma forma de educar que busca equilíbrio, estabelecendo limites firmes e, ao mesmo tempo, incentivando a liberdade e a autonomia da criança. Seu objetivo é educar com foco no afeto, na compreensão, no respeito e no aprendizado mútuo", explica a responsável pela pesquisa Jessica Giovanna Espinoza Tarazona, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPsi) da UFSCar.

Estudo analisou motivos e identificou que a própria cultura, a legislação brasileira e a falta de comunicação contribuem para que milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras sejam jogadas fora todos os anos

 

SÃO CARLOS/SP - O Brasil, quarto maior produtor mundial de alimentos e apontado como principal exportador do planeta na próxima década, ainda enfrenta sérios desafios relacionados ao desperdício. De acordo com a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), das 140 milhões toneladas produzidas por ano, 26,3 milhões vão para o lixo. No mundo, o desperdício atinge 931 milhões de toneladas de alimentos por ano, seja na produção rural, seja na indústria, no supermercado, em feira livre, restaurantes ou mesmo na casa do consumidor. De acordo com os pesquisadores, caso esse problema não seja resolvido a tempo, o bem-estar das gerações futuras pode estar ameaçado, pois enquanto a população mundial aumenta, o desperdício não diminui. Logo, a segurança alimentar se torna uma questão cada vez mais urgente.

Para apontar ações que possam reduzir o prejuízo, uma pesquisa de doutorado realizada na UFSCar pela professora e pesquisadora Camila Moraes, sob a orientação de Andrea Lago da Silva, docente do Departamento de Engenharia de Produção (DEP), estudou as causas do desperdício de alimentos que ocorre entre fornecedores e supermercados e apontou que a própria cultura e a legislação brasileira, além da falta de comunicação entre diferentes setores da cadeia produtiva, contribuem para que milhões de toneladas de frutas, legumes e verduras sejam jogadas fora todos os anos. Camila Moraes, que desenvolveu sua tese - "Mitigação do desperdício de alimentos: práticas e causas na díade fornecedor-supermercado" - junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade, analisou, em sua pesquisa, quatro redes de supermercados de diferentes estados do Brasil e dois fornecedores de cada uma delas, sendo três redes no estado de São Paulo e uma em Santa Catarina. Com base nessa análise, ela mapeou 27 causas do desperdício.

Principais causas do desperdício

O estudo avaliou atividades de distribuição, armazenagem, exibição, manuseio e descarte de frutas, legumes e verduras em lojas e centros de distribuição. "Os supermercados não dizem para os fornecedores quanto eles esperam vender ou mesmo quanto eles costumam vender daquele produto. Essa falta de informação e medição gera problemas gigantescos. Há muita dificuldade em prever a demanda e planejar a produção. Os fornecedores, em geral, acabam se baseando apenas no que venderam de cada alimento, sem saber, de fato, quanto está sendo comprado pelo cliente final", destaca Moraes. Já dentro dos supermercados, uma das situações identificadas é a divergência de dados. Além disso, muitas pessoas que trabalham com o manuseio dos alimentos não o fazem corretamente quando vão limpar ou organizar as gôndolas. "Esses profissionais precisam de treinamento. Muitos não sabem, mas determinadas frutas e legumes quando ficam próximos demais têm seu processo de maturação acelerado. Faltam embalagens e transporte adequados, e muitas vezes refrigeração", ressalta.

Os padrões rígidos de aparência e forma de frutas, legumes e verduras impostos pelos supermercados também influenciam diretamente no desperdício dos fornecedores. De acordo com a pesquisa, a própria cultura do consumidor brasileiro, como apertar os alimentos na hora da compra e exigir uma estética perfeita, também contribui para a alta quantidade de alimentos que vão para o lixo. "Embora os alimentos sejam desperdiçados em todos os estágios da cadeia, suas causas não ocorrem necessariamente no mesmo estágio que o próprio desperdício. De acordo com a pesquisa, quando o desperdício aparece nos elos finais, isso indica que, provavelmente, todos os processos anteriores também tiveram perdas", explica a pesquisadora.

Do total de alimentos desperdiçados todos os dias no país, 40%, ocorre na distribuição após o processamento, sendo que o varejo é responsável por 12% desse total. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados, os principais motivos do desperdício para produtos perecíveis são validade vencida (36,9%), impropriedade para venda (30%), avaria dos produtos (18,2%) e danos em equipamentos (4,8%), seguidos de furto externo (19,8%) e erros de inventário (13,5%). Entretanto, Moraes ressalta que a taxa de 12% não reflete a realidade, pois o varejo centra suas ações na redução do seu próprio desperdício, transferindo custos para outros elos da cadeia.

"A pesquisa identificou um comportamento individualista dos supermercados. Devido ao seu grande poder de mercado, o setor empurra o desperdício. Ou o supermercado faz uma promoção para o consumidor ou ele pede para devolver o produto", explica.

Além de identificar as causas do desperdício, a pesquisa realizada na UFSCar ainda analisou quais são as barreiras que impedem que o cenário seja alterado. E um dos principais obstáculos é a própria legislação brasileira sobre doação de alimentos. "É um fator que gera receio em algumas redes de supermercados, dificultando o trabalho de doação que poderia evitar que o alimento fosse para o lixo. Órgãos como Procon e Anvisa têm critérios rígidos e, muitas vezes, divergentes entre si. Faltam incentivos fiscais e governamentais para a realização de doações e compostagem, por exemplo. Se o que não fosse vendido no supermercado, que não é pouco, fosse para doação, a gente começaria a ter uma mudança no panorama da fome no Brasil", lembra a pesquisadora.

Os aspectos culturais também foram caracterizados como barreiras. Pesquisadora da área de Cadeia de Suprimentos há 30 anos, a docente da UFSCar Andrea Lago da Silva ressalta que o próprio comportamento do consumidor brasileiro gera um alto volume de desperdício. "É uma questão cultural. Crescemos acreditando que precisamos ter a mesa farta e abundante, que muitas vezes gera sobra e desperdícios, e preferimos, de modo geral, comprar alimentos perfeitos, sem defeitos. Essa tendência aumenta o desperdício. Até 15% das frutas, legumes e verduras produzidas são desperdiçadas no varejo", comenta Silva.

Desafios e perspectivas

O desperdício de alimentos no Brasil gera impactos sociais, econômicos e ambientais, por exemplo, com a emissão de gases do efeito estufa durante a produção de um alimento que não é consumido e vai para o lixo. A professora do DEP lembra que, quando o alimento é jogado fora, os recursos naturais e da sociedade não são recuperados. Explica ainda que a troca de informações com fornecedores, previsão de demanda mais precisa, treinamentos e o acesso à tecnologia podem ajudar a criar ações que diminuam o desperdício. Incentivos à redução do desperdício nos restaurantes e lares também são uma ação relevante.

De acordo com a pesquisa da UFSCar, o baixo estímulo à cooperação entre os elos da cadeia e empresas é uma das principais barreiras para adoção das práticas de redução do desperdício, principalmente quando dependem da ação em conjunto. Para Silva, o início da solução desse problema está nos supermercados, que são o centro do sistema alimentar moderno e têm o poder de ensinar as pessoas a pensarem diferente, atingindo tanto o público consumidor quanto os fornecedores. "O desperdício é um problema complexo, do qual as práticas para mitigação devem seguir uma visão sistêmica e integrada. Devido ao seu grande poder de mercado e à possibilidade de influenciar as decisões na cadeia de suprimentos, os supermercados podem disseminar inovações e informações, exercendo também um papel de coordenador desse processo e importante elo de comunicação", afirma.

O combate também deve passar pelo treinamento de funcionários do varejo para a redução do desperdício nas atividades ligadas a frutas, legumes e verduras. Ainda de acordo com a docente, supermercados que contam com nutricionistas e outros profissionais que usam alimentos que já estão machucados, porém continuam saudáveis, para criar produtos, como sucos e compotas na própria loja, desperdiçam bem menos. "Uma cenoura machucada, por exemplo, continua com todos os seus nutrientes, apesar de estar feia", lembra Silva. De acordo com a tese de doutorado da UFSCar, o varejo brasileiro (em especial, as redes de grande e médio portes) dispõe de acesso a pesquisas, metodologias, tecnologias e bons exemplos de trabalhos desenvolvidos no que diz respeito à redução do desperdício. Porém, as práticas que necessitam de maiores investimentos dependem diretamente do interesse desses agentes, que preconizam o retorno financeiro imediato, mais do que a redução.

Para Camila Moraes, a atenção do público sobre a dimensão ética do desperdício de alimentos pressiona cada vez mais as empresas a mostrarem seus esforços de redução, sob uma perspectiva de responsabilidade social. "As descobertas do estudo podem ajudar os gerentes a identificarem e mapearem as causas do desperdício de alimentos em suas operações, bem como analisar quais as melhores práticas de redução de acordo com as particularidades de cada organização", defende. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), ressaltam a urgência de padrões de produção e consumo sustentáveis e a necessidade de reduzir pela metade o desperdício de alimentos no nível de varejo e consumidor, além de reduzir as perdas ao longo da cadeia de produção e fornecimento.

Em 2050, a população mundial deve ultrapassar os 9,5 bilhões de habitantes. Esse aumento criará um desafio para atender à demanda estimada de alimentos. O Brasil tem capacidade para expandir sua produção em 41%, enquanto os Estados Unidos em apenas 10%, União Europeia em 12% e China em 15%, de acordo com levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Isso pode ser visto como uma oportunidade do ponto de vista político-econômico.

No Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar, outras pesquisas são desenvolvidas para analisar o desperdício de alimentos. Para o futuro, a professora Andrea Lago da Silva acredita que inovações tecnológicas direcionadas ao rastreio de produtos, compartilhamento de dados, embalagens, além de uma discussão sobre o conceito de prazo de validade também podem ajudar a enfrentar o desperdício. "Desde já, precisamos ter a consciência e mudar o comportamento dentro de casa. Quando for jogar um alimento fora, se questione se não daria para fazer outra receita com ele. Temos que buscar alternativas", ressalta.

 

* O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo nº 2017/00763-5, do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil (305819/2016-0) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), código de financiamento 001

Pesquisa envolveu revisão sistemática e metanálise de 134 estudos, envolvendo 46.978 crianças

 

SÃO CARLOS/SP - Uma pesquisa liderada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) acaba de gerar um dado inédito e preocupante: a prevalência de 33% de anemia ferropriva (por falta de ferro) em crianças brasileiras de zero a sete anos (ou seja, 1/3 das crianças do País). Este é o maior levantamento já publicado sobre anemia ferropriva em idade pediátrica no Brasil.

A análise, coordenada por Carlos Alberto Nogueira-de-Almeida, docente do Departamento de Medicina (DMed) da Instituição, levou em consideração 134 estudos anteriores (publicações), envolvendo 46.978 crianças, divulgados de 2007 a 2020.

No Brasil, estima-se que 90% dos casos de anemia são por falta de ferro, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a doença como um indicador de pobreza de nutrição e de saúde, que compromete a qualidade de vida e contribui para a mortalidade infantil.

"No nível populacional, uma prevalência de anemia maior que 4,9% é considerada uma importante questão de saúde pública; quando há prevalência superior a 40%, é classificada como grave problema de saúde pública", informa Nogueira-de-Almeida.

Os dados por regiões brasileiras também não mostram diferenças significativas entre elas. "A diferença entre as regiões foi menor do que esperávamos; mesmo nas regiões mais ricas do País - Sul e Sudeste -, a prevalência é alta. Estamos diante de um quadro preocupante, tendo em vista que o Brasil é um país em desenvolvimento, mas não de extrema miséria", analisa Nogueira-de-Almeida.

Além disso, os resultados não sugerem uma tendência temporal da doença (maior ou menor prevalência com o passar dos anos). O pesquisador da UFSCar explica que o dado é importante ao considerarmos que o Brasil vem adotando ações para prevenir e controlar a anemia, como a criação, em 2015, da Estratégia de Fortificação da Alimentação Infantil com Micronutrientes (vitaminas e minerais) - NutriSUS.

"As curvas dos gráficos obtidos na pesquisa comprovam que a prevalência da anemia se mantém estável de 2007 para cá, sem aumentar ou diminuir. Isso significa que as iniciativas para controle da doença parecem não ter tido impacto, o que também nos causa preocupação", registra.

Causas, desafios e ações

A partir dos resultados obtidos, Nogueira-de-Almeida lista diversas hipóteses que podem explicar o fato de a prevalência de anemia ferropriva no Brasil ser tão alta: elevado índice de mães com anemia, o que acarreta passagem de quantidade insuficiente de ferro para a placenta e, depois, ao amamentar, que o leite seja mais pobre; baixo índice de aleitamento materno, algo que faria a criança já ter reserva de ferro; e recebimento de fórmula infantil e, posteriormente, alimentação inadequadas.

"Muitas vezes, as crianças que não recebem leite materno acabam consumindo leite de vaca antes de um ano, idade imprópria para isso. Além de não ter ferro, este leite ajuda a perdê-lo do organismo, já que provoca pequenas hemorragias na mucosa intestinal e o seu cálcio também acaba levando o ferro para as fezes", esclarece o docente.

A alimentação complementar, introduzida a partir dos seis meses, pode também ocasionar anemia. "Não temos hábito de usar cereais fortificados, por exemplo. Muitas famílias utilizam uma alimentação com base na farinha de fubá e outros ingredientes caseiros, que não contêm ferro."

Além disso, quando a criança cresce, o ideal é consumir ferro de origem animal, proveniente das carnes, algo que também não ocorre com frequência. "As carnes no Brasil possuem altos custos e o seu consumo é baixo. O ferro na alimentação da criança brasileira acaba vindo muito dos vegetais, do feijão. É importante, mas é um ferro que o corpo humano não aproveita tão bem quanto o da carne", analisa.

Segundo o pesquisador, uma criança com baixos índices de ferro e considerada anêmica pode ter muitos prejuízos, como falta de disposição para brincar e isolamento; déficit de aprendizado e prejuízos para o desenvolvimento intelectual; além de prejuízo imunológico. "Crianças com anemia têm maior probabilidade de desenvolver outras doenças na forma mais grave; uma pneumonia em criança não anêmica, por exemplo, costuma ser muito mais branda do que em uma anêmica."

Por isso, os dados alarmantes são essenciais para se pensar em políticas públicas nacionais, que consigam diminuir esses índices de prevalência. "A anemia não se resolve com estratégias individuais. Algumas ações urgentes consistem na criação e no fortalecimento de políticas públicas - de distribuição de renda, para se obter recursos para compra de alimentos fortificados em ferro; e de educação nutricional, para fomentar uma conscientização sobre a importância dos alimentos, seus nutrientes e vitaminas, que muitas famílias não têm", sintetiza o pesquisador.

Além disso, são imprescindíveis ações de saúde, como, por exemplo, disponibilizar pré-natal gratuito e de boa qualidade às mães sem condições financeiras e estimular o aleitamento materno sempre que possível, por meio de campanhas de conscientização e disseminação de conhecimento.

"As crianças brasileiras passam por riscos de danos à saúde física e psicossocial. Há uma urgente necessidade de o governo brasileiro entender essa urgência e implementar estratégias que sejam realmente adequadas de saúde pública", finaliza o docente da UFSCar.

Metodologias

O pesquisador explica que o diferencial do estudo para a obtenção dos resultados inéditos foi a combinação de duas metodologias: a revisão sistemática e a metanálise, essenciais para a confiabilidade do dado final.

Na revisão sistemática, foi feita a análise de publicações científicas de qualidade. "Nesta etapa, revisamos mais de mil publicações científicas, que tentaram medir a prevalência de anemia ferropriva em crianças em âmbito local. A metodologia permitiu que selecionássemos apenas trabalhos considerados de excelente qualidade, de acordo com parâmetros científicos pré-existentes - como serem de instituições consideradas confiáveis, com estatísticas validadas, dentre outros fatores", exemplifica o docente.

Ao chegar na seleção de 134 estudos, a pesquisa partiu para o segundo passo, a metanálise, metodologia estatística de extrema complexidade, que realiza ponderações de acordo com os dados obtidos.

"Cada estudo traz a sua especificidade: alguns analisaram 100 crianças; outros, 2.000. Em alguns casos, foram crianças de São Paulo; em outros, de Sergipe, que tem uma população infinitamente menor. Além disso, cada trabalho analisou uma determinada faixa etária específica de crianças. Ou seja, foi preciso levar em consideração cada umas dessas variáveis, e não simplesmente fazer uma média dos números. Com a metanálise, trabalhamos os dados em uma ferramenta complexa e informatizada de estatística, conseguindo dados extremamente confiáveis de prevalência da doença em âmbito nacional", detalha o pesquisador.

Os resultados do estudo - intitulado "Prevalence of childhood anemia in Brazil: still a serious health problem. A systematic review and meta-analysis" - foram publicados em julho de 2021, na revista Public Health Nutrition, da Cambridge University Press, e pode ser acessado em https://bit.ly/3jkQjfG.

Assinam o artigo, além de Nogueira-de-Almeida, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) e profissionais da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) - Fábio da Veiga Ued, Luiz Antonio Del Ciampo, Edson Zangiacomi Martinez, Ivan Savioli Ferraz, Andrea Aparecida Contini, Franciele Carolina Soares da Cruz, Raquel Farias Barreto Silva, Maria Eduarda Nogueira-de-Almeida e Joel Alves Lamounier.

Estudo da UFSCar também vai avaliar sintomas do autismo em outra faixa etária infantil

 

SÃO CARLOS/SP - Um estudo do Departamento de Medicina (DMed) da Universidade Federal de Carlos (UFSCar) está buscando voluntários para participarem de pesquisa que pretende avaliar os marcos do desenvolvimento neuropsicomotor, conforme a Caderneta da Saúde da Criança do Ministério da Saúde, em crianças entre 1 e 6 anos de idade.

Além disso, o estudo vai avaliar também sintomas específicos relacionados ao Autismo em crianças entre 16 e 30 meses. Os responsáveis pelas crianças responderão questionário online e devem residir em São Carlos (SP). 

A pesquisa integra o projeto de Iniciação Científica de Tainá Souza e Silva, graduanda em Medicina da UFSCar, e tem orientação do professor Guillermo Traslaviña, docente do DMed. 

O desenvolvimento neuropsicomotor envolve habilidades motoras, de linguagem e sociais, e o período da infância é crucial para o seu progresso. Portanto, a importância do estudo com o público infantil consiste em identificar precocemente essas alterações (comportamentais, motoras ou de linguagem) para que possam ser encaminhadas para diagnóstico e tratamento, conforme cada caso.

De acordo com Guillermo Traslaviña, a pandemia e todas as restrições impostas nesse período podem ter afetado o desenvolvimento das crianças. "Uma das nossas hipóteses é que a habilidade para falar, por depender da convivência social, principalmente na escola, possa estar atrasada. No caso específico de crianças com autismo, a literatura descreveu durante a pandemia atraso em marcos de desenvolvimento e piora comportamental", relata o orientador do estudo.

A pesquisa é voltada para crianças que não tenham diagnóstico prévio de alguma doença neurológica e a expectativa é obter uma amostra suficientemente grande das crianças de São Carlos para se ter um panorama geral da porcentagem de crianças com desenvolvimento normal e com desenvolvimento atrasado. "O estudo pretende verificar se as falhas nos marcos do desenvolvimento são decorrentes das limitações impostas pela pandemia. O resultado poderá nortear as políticas de saúde municipais para diagnóstico e tratamento de distúrbios do desenvolvimento", complementa o professor. Além disso, os pais ou responsáveis pelas crianças que participarem do estudo poderão entrar em contato com os pesquisadores para verificar individualmente os resultados dos filhos e, conforme a necessidade, serão feitos encaminhamentos para avaliação multidisciplinar. 

Voluntários

Para participar o estudo, estão sendo convidados responsáveis por crianças entre 1 e 6 anos, residentes no município de São Carlos, e que não tenham diagnóstico de distúrbios neurológicos. Os interessados podem responder o questionário (https://bit.ly/3t0enY5) até fevereiro de 2022. Mais informações pelo e-mail neurologia.infantil.ufscar@gmail.com ou WhatsApp (16) 9 99607-8292. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 50168121.4.0000.5504).

Estudo da UFSCar é aberto para voluntários de todo o país e já possui uma análise inicial dos dados coletados

 

SÃO CARLOS/SP - A pesquisa "Atitudes e percepções sobre a vacinação para Covid-19" está sendo realizada no Departamento de Medicina (DMed) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com o objetivo de compreender as concepções que a população brasileira possui sobre a adoção da vacinação para a Covid-19. O estudo é realizado por Henrique Pott Junior, docente do DMed da UFSCar, e convida pessoas de todas as regiões do Brasil para participarem do trabalho por meio de um formulário eletrônico.

De acordo com o docente, as vacinas são uma das contribuições mais importantes para a saúde pública no século XX, sendo responsáveis pelo declínio das doenças evitáveis por vacinas em todo o mundo. No entanto, Henrique Pott aponta que nos últimos anos tem-se observado um aumento constante na recusa de vacinas, resultando em vários surtos de doenças evitáveis por esses imunizantes. "Este problema tem sido atribuído a uma série de fatores, incluindo a relativa raridade de muitas doenças evitáveis por vacinas aliada à percepção pública de que a gravidade e suscetibilidade da doença é muito baixa, além de preocupações relacionadas à eficácia e segurança da vacina", reflete o docente. O professor acrescenta ainda que o medo das vacinas tem sido fomentado também por informações incorretas ou tendenciosas, não amparadas por evidências científicas, veiculadas pela Internet, televisão, jornais e revistas.

Nesse cenário, Pott citou um estudo - Wellcome Global Monitor 2018 - que mostrou que 97% dos brasileiros concordam ou concordam totalmente que é importante vacinar crianças. No entanto, há uma queda para 80% dos brasileiros que se expressaram positivamente quando questionados se as vacinas são eficazes e seguras. "Nesse sentido, apesar de reconhecer a importância das vacinas, a desinformação persiste como fator chave para a falta de confiança nas vacinas e hesitação vacinal", avalia o pesquisador. Resultados semelhantes na aceitação da vacina de Covid-19 foram relatados em todo o mundo, incluindo Inglaterra, Austrália, Polônia, Malásia, Jordânia, Hong Kong, Nepal, entre outros, mas Pott aponta que, atualmente, não há conhecimento da atitude da população brasileira em relação à vacinação contra o novo coronavírus. 

Análise inicial e expectativa dos resultados

O docente expõe que a ideia da sua pesquisa é identificar quais fatores estão associados à hesitação vacinal e à falta de confiança nas vacinas a fim de subsidiar estratégias individuais ou coletivas para as vacinas, acolhimento e orientação. "Espera-se que esse levantamento de dados possa ser relevante para auxiliar os gestores e profissionais de saúde a entender as percepções da população acerca da importância das vacinas e os riscos da recusa vacinal, especialmente no contexto da pandemia de Covid-19", relata. 

A pesquisa incluiu questões sociodemográficas e de qualidade de vida, informações gerais sobre a Covid-19 e um questionário específico relativo à vacina. Até o momento, mais de 1,8 mil pessoas já responderam as questões e a grande maioria expressou opiniões favoráveis sobre a vacinação da Covid-19, mas também houve uma pequena fração dos entrevistados que se mostrou hesitante em relação à vacinação contra a doença. Pott relata que a maioria desses participantes é do sexo masculino, na faixa etária de 30 a 59 anos, e relatou que as razões dadas para a hesitação dizem respeito principalmente à incerteza sobre a segurança e eficácia das vacinas; em seguida, aparece a preocupação com a forma como foram desenvolvidas, o que envolve a questão do tempo e da adoção de uma nova tecnologia de desenvolvimento. "Vamos discutir ao longo do trabalho como esses motivos se articulam com percepções e atitudes que podem influenciar na decisão de aceitar ou não ser vacinado. Além disso, embora o impacto do convívio social sobre aqueles que hesitam em vacinar não tenha sido claro, sua percepção de um baixo risco de contrair a doença foi evidente", relata o docente.

Pott também explica que o delineamento amostral da pesquisa foi pensado para oferecer subsídios direcionados tanto à comunidade acadêmica quanto à população brasileira em geral. "Acredita-se que o levantamento dessas informações poderá ser útil para o cuidado em saúde durante e após essa pandemia, podendo fornecer subsídios para o estabelecimento de um plano de nacional de imunização mais resolutivo", complementa. "A realização do estudo poderá ser um ponto de partida para iniciar uma reflexão sustentada no entendimento de que o controle de doenças transmissíveis por meio da vacinação transpassa a fronteira de áreas de conhecimento e é de fundamental importância, principalmente, quando voltamos o olhar para a relevância social dos dados que estão sendo coletados e das reflexões suscitadas a partir deles", conclui o docente da UFSCar.

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Voluntários

Para o desenvolvimento da pesquisa estão sendo convidadas pessoas de qualquer região do Brasil, a partir de 18 anos de idade, para responderem um questionário online, disponível no link https://bit.ly/3wKrzlh. O tempo de resposta é de, no máximo, 10 minutos, e o questionário ficará disponível até o ano que vem. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 45530521.2.0000.5504).

Pesquisa é do Departamento de Terapia Ocupacional da Universidade e está convidando voluntárias

 

SÃO CARLOS/SP - Uma pesquisa realizada no Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está convidando mulheres no pós-parto para investigar a existência de práticas inadequadas na assistência ao parto (violência obstétrica) e identificar possíveis relações entre a vivência de violência obstétrica e o estabelecimento do vínculo entre mãe e bebê. O projeto integra o trabalho de conclusão de curso de Danielle Ferreira de Sousa, sob orientação de Regina Helena Torkomian, docente do DTO.

De acordo com a pesquisadora, vários estudos avaliam os impactos da violência obstétrica na saúde da mulher, demonstrando suas implicações físicas, psicossociais e o aumento nos riscos de morbimortalidade materna, mas ainda há poucas iniciativas que investigam as possíveis repercussões da assistência ao parto no estabelecimento do vínculo entre mãe e bebê.

"Além do monitoramento das práticas de assistência ao parto e nascimento ser fundamental para os desfechos em saúde materno-infantil, o vínculo materno tem papel essencial no desenvolvimento da criança, atuando como fator protetivo para um desenvolvimento neuropsicomotor saudável. O tema do estudo, portanto, é atual e relevante, tendo em vista também as recomendações nacionais e internacionais de boas práticas obstétricas, visando a uma assistência digna às mulheres e aos bebês", aponta Sousa.

 

Assistência ao parto

A pesquisadora da UFSCar cita que a adoção de práticas humanizadas, centradas na parturiente e baseadas em direitos humanos permitem um cuidado horizontal, de escuta aos desejos da mulher, tornando-a ativa no processo, oportunizando escolhas informadas e favorecendo uma experiência positiva do parto. "Para além dos aspectos fisiológicos na assistência ao parto, devem ser consideradas as dimensões psicológicas e emocionais das mulheres, o cuidado respeitoso, a garantia de ingestão de líquidos e alimentos indicados e da presença de acompanhante da sua escolha, bem como uma comunicação clara e acessível entre equipe de profissionais e parturiente. Essas são algumas práticas que otimizam a saúde e o bem-estar e têm mostrado ter um impacto positivo na experiência do parto das mulheres", descreve Sousa sobre a assistência adequada.

Além disso, o suporte profissional, o acolhimento e a oferta de métodos para alívio da dor das parturientes formam um conjunto de estratégias essenciais para garantir uma boa experiência de parto que favorecerão o estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê. "Nesse sentido, a hipótese da pesquisa é que uma assistência inadequada, permeada por violências e com práticas consideradas obsoletas, podem prejudicar em algum grau o vínculo entre mãe e bebê, levando-se em consideração, também, que as repercussões psicossociais decorrentes da assistência obstétrica recebida, muitas das quais atreladas a sentimentos e transtornos do período pós-parto, podem prejudicar a relação com o bebê", complementa ela.

De acordo com a expectativa da pesquisadora, os resultados do estudo serão compartilhados com a comunidade científica da área, por meio de artigos e eventos acadêmicos, e também poderão ser apresentados em serviços de saúde visando à qualificação profissional das equipes.

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Voluntárias

Para realizar a pesquisa, estão sendo convidadas mulheres de todas as faixas etárias, de qualquer região do Brasil, que estejam no pós-parto, com bebês até três meses de vida. As participantes também devem ter feito parto hospitalar (normal ou cesárea). As voluntárias responderão questionários online que ficarão disponíveis até o próximo dia 23 de agosto. As interessadas devem entrar em contato com a pesquisadora pelo e-mail daniellesousa@estudante.ufscar.br ou pelo WhatsApp (19) 99539-5582 para receberem os questionários. Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 47337321.6.0000.5504).

 

Estudo na área de Psicologia convida crianças e responsáveis voluntários

 

SÃO CARLOS/SP - Com quem crianças preferem aprender novas informações: pessoas com o biotipo magro ou gordo? Essa é a pergunta que norteia uma pesquisa de doutorado na área de Psicologia do desenvolvimento infantil, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Para a realização do estudo, estão sendo convidadas crianças de 3 e 4 anos acompanhadas por um responsável ou cuidador para participação de maneira remota.
A pesquisa, intitulada "Dois pesos, duas medidas: confiança seletiva e discriminação por peso em crianças pré-escolares", é desenvolvida por Ana Carolina Messias, com orientação da professora Débora de Hollanda Souza, do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar, e conta com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Com o trabalho, a pesquisadora busca "uma forma de entender melhor sobre como crianças pré-escolares se relacionam com diferentes biotipos, um tema que está bastante relacionado com as questões de gênero [estudadas por ela no mestrado] e que ainda precisa ser mais bem explorado na psicologia do desenvolvimento infantil".
Além de ajudar a entender melhor os vieses de crianças muito pequenas, a pesquisa também pode "embasar futuros programas de intervenção para minimizar os estigmas em relação às pessoas gordas e possíveis consequências desses estigmas como, por exemplo: baixa autoestima, comportamentos pouco saudáveis para controlar o peso e depressão", explica Messias. 
O estudo, segundo a doutoranda, ganha maior relevância no atual cenário: "Vivemos em um momento em que a ciência e as informações de qualidade vêm perdendo espaço para notícias e informações falsas. Então, estudar os critérios utilizados por crianças pequenas na hora de consumir informações é um ponto de partida interessante no combate às fake news".

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Como participar
Durante o trabalho, Ana Carolina Messias apresentará vídeos, histórias, figuras e fará perguntas às crianças. A participação tem duração aproximada de 30 minutos e será realizada de maneira remota. Mais informações podem ser encontradas neste vídeo (https://youtu.be/sHZ-6pAOzms).
Para manifestar interesse, o responsável deve entrar em contato diretamente com a pesquisadora pelo e-mail anacarolinamessias@rocketmail.com ou pelo telefone (16) 99189-5675 (também WhatsApp). Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 28447120.8.0000.5504).

Estudos mostram descompasso entre normativas vigentes e reais demandas das pessoas surdas ao consumirem a cultura audiovisual

 

SÃO CARLOS/SP - No Brasil, hoje, são obrigatórios três recursos de acessibilidade em produções audiovisuais: legendagem e janela de interpretação em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para pessoas surdas e ensurdecidas e audiodescrição para pessoas com deficiência visual. No entanto, a simples inclusão não é sinônimo de atendimento às necessidades comunicacionais dessa população, como evidenciam pesquisas realizadas no Laboratório de Tradução Audiovisual e Língua de Sinais (Latravilis) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Uma dessas pesquisas avaliou se as janelas de Libras em produções audiovisuais de três gêneros - cinematográfico (comédia), jornalístico televisivo e videoaula - são adequadas no que diz respeito ao formato, ao tamanho e à textura (fundo da tela), a partir de questionários virtuais bilíngues (em Língua Portuguesa e Libras) respondidos por 168 pessoas surdas, jovens e adultas.

O questionário abordou cinco variações de janelas para cada um dos três gêneros. As propostas de janelas mantiveram quatro opções padrões: as três primeiras envolveram critérios propostos pela norma NBR 15.290/05, da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (https://bit.ly/3ecWRK5) -, que determina que a largura da janela deve ocupar, no mínimo, um quarto de tela, independentemente do produto audiovisual. As opções foram: 1) janela com fundo branco; 2) janela translúcida; ou 3) sem janela. 

Já a quarta opção envolveu critérios do Guia de Produções Audiovisuais Acessíveis (https://bit.ly/3edGu02), proposto pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura especificamente para o cinema, que adota a técnica Picture-in-Picture (PIP), separando, em espaços distintos, a produção audiovisual e a tradução, ao posicionar o espaço de Libras no canto inferior direito, em tela menor.

Por fim, para cada gênero, houve uma quinta opção exclusiva, chamada de proposição mercadológica, que já circulou no mercado audiovisual, mas não corresponde ao que pede as normas vigentes. Para a escolha da quinta proposta de janela para cada gênero, foi realizada uma ampla pesquisa em bancos de vídeos da Internet (em plataformas como Facebook e YouTube, por exemplo), a fim de identificar a maior recorrência em cada gênero.

No caso do gênero cinematográfico, esta quinta opção se caracterizou por ter múltiplos tradutores em tela para cada personagem da produção audiovisual, e as janelas aparecem e somem de acordo com os personagens em tela.

Para o gênero videoaula, a proposição mercadológica foi a escolha por uma janela maior, que ocupa metade da tela do vídeo. Enfim, para o gênero jornalístico televisivo, a quinta opção apresentou uma forma redonda da janela com fundo branco chapado, no mesmo tamanho da NBR 15.290/05 - proposta já utilizada em vídeos institucionais de propaganda eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2018.

Os resultados revelaram descompasso entre as normas vigentes e as reais necessidades e preferências da comunidade surda, como detalhado a seguir.
A pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi liderada por Marcus Vinicius Batista Nascimento, docente do Departamento de Psicologia (DPsi) atuante no curso de Bacharelado em Tradução e Interpretação em Libras/Língua Portuguesa (TILSP) da UFSCar e coordenador do Latravilis. 

O questionário, que circulou na comunidade surda por meio das redes sociais, foi desenvolvido por Nascimento, juntamente com Rimar Ramalho Segala, docente surdo do DPsi; Rodrigo Vecchio Fornari, técnico de Audiovisual do Departamento; e Anderson da Silva Marques e Joyce de Souza, intérpretes e tradutores do setor de Tradução e Interpretação da Língua de Sinais da UFSCar.

Resultados

A pesquisa realizada mostrou que a preferência por determinada janela de Libras se altera de acordo com o gênero audiovisual, indicando de saída um problema no que determina a ABNT.

Em relação ao gênero cinematográfico, a proposta mais votada positivamente foi a mercadológica, em que há um tradutor para cada personagem; a janela proposta pelo Guia do Ministério da Cultura não teve avaliação positiva justamente para este gênero, mas, curiosamente, foi a mais bem avaliada para o gênero jornalístico televisivo. Para o caso de conteúdos televisivos, o Guia recomenda utilizar a NBR 15.290/05 da ABNT - o que, portanto, não condiz com a percepção evidenciada na pesquisa. Para o gênero videoaula, a proposta de janela mais bem votada também foi a mercadológica.

"As variações da ABNT, que costumam ser adotadas em diferentes produções audiovisuais, com janelas com fundo branco, translúcidas ou transparentes, não receberam avaliação tão positiva em nenhum dos três gêneros propostos. A janela com fundo branco foi a que recebeu a pior avaliação em todos os gêneros", relata Nascimento. 

Com base nos resultados, o pesquisador destaca a necessidade de considerar as pessoas surdas como consumidoras da cultura audiovisual no Brasil e, assim, como interlocutoras. "Os dados encontrados nos dão algumas pistas. É provável que essas normativas estejam sendo propostas, ainda que com bases em pesquisas e estudos, sem uma quantidade suficiente de testes de usabilidade", registra o pesquisador.

"O que é mais confortável para o surdo? A janela de Libras do lado direito ou esquerdo? Qual o tamanho ideal? Estamos, agora, iniciando essas pesquisas, e esses questionamentos são essenciais para pensarmos na acessibilidade da comunidade surda ao mundo audiovisual, já que existem percepções da Língua, do modo de ser e de estar no mundo, que só o próprio surdo pode dizer e sentir", pondera Nascimento.

Acessibilidade e pertencimento

Nesta direção, ao entender as demandas da comunidade surda, constrói-se um caminho de pesquisa que impacta na produção de novas políticas públicas na área. "Quando a Ciência comprova algo, em um cenário político favorável é possível absorver essas comprovações e colocá-las em prática para determinados grupos", defende o pesquisador da UFSCar.

Nascimento também afirma que as janelas de Libras vão além de um recurso de acessibilidade para a população surda. "Trata-se de um elemento central para o consumo da cultural audiovisual brasileira. Nesse sentido, a inserção da janela de Libras em produções audiovisuais apenas como ‘cumprimento legal’ vai na contramão dos direitos linguísticos conquistados pela comunidade surda ao longo dos últimos 20 anos."

Em outras palavras, as janelas de Libras permitem que as pessoas surdas falantes dessa língua se sintam pertencentes à sociedade por poderem ter acesso, nas mesmas condições de outras pessoas, ao jornalismo, ao entretenimento e à cultura transmitida em plataformas audiovisuais.

"É essencial enxergarmos as pessoas que necessitam e as que não necessitam de acessibilidade como um só público. Por isso, torna-se imprescindível ter os recursos - legenda para pessoas surdas e ensurdecidas, audiodescrição e janela de Libras - junto à produção sem nenhum recurso. O pressuposto é que uma pessoa com deficiência e uma sem deficiência consumam a mesma obra audiovisual, no mesmo espaço", reforça Nascimento.

O pesquisador ressalta outros dois desafios importantes nesse cenário: pensar em políticas públicas efetivas na área, que sejam executadas por órgãos públicos, e formar profissionais para atuarem com qualidade.

"Para pensarmos em políticas públicas, nós precisamos de pesquisas nesta área tão recente, e isso é o que fazemos na UFSCar, assim como a formação de profissionais; desde 2015, com o TILSP, temos a missão de garantir a qualidade na formação de intérpretes e tradutores de Libras, sobretudo para atuarem em diferentes contextos sociais e saberem lidar com as diferentes semioses dos gêneros audiovisuais nos processos de tradução e interpretação. Este é o caminho para a verdadeira inclusão dessa comunidade no cenário audiovisual", conclui o docente.

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Os estudos de Nascimento foram divulgados em artigos científicos. O primeiro, intitulado "Consumo da cultura audiovisual por surdos: perfil sociolinguístico e questões para planejamento de políticas linguísticas e de tradução" (https://bit.ly/3AWJ6sD), está disponível para leitura na Revista Travessias Interativas. Já o segundo, "Tradução e pesquisa: o uso de questionário bilíngue para o mapeamento da usabilidade e preferência de janelas de libras na comunidade surda" (https://bit.ly/3r6XM47), publicado pela Revista Gragoatá, tem como autores, além de Nascimento, Segala e Fornari.

Estudo explora o mito da Medusa e reforça que aspectos arcaicos relacionados à situação da mulher na sociedade estão presentes até hoje

 

SÃO CARLOS/SP - Ao longo da história, a natureza da mulher foi comumente caracterizada como impura, inferior e associada ao mal, sendo até mesmo considerada um ser em condição não humana.

Luiza Helena Hilgert, pesquisadora de pós-doutorado vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), constatou e refletiu sobre esses estereótipos ao analisar o papel dos mitos - e, mais especificamente, das descrições literárias e pictográficas (em imagens) - da Medusa na construção da subjetividade e do lugar da mulher, à luz da filosofia existencialista de Simone de Beauvoir.

A pesquisadora pontua que não foram somente os mitos que contribuíram para a disseminação da ideia de inferioridade feminina, mas também a própria Filosofia.

"A essência feminina foi vista, por diferentes filósofos, como outro tipo de natureza, diferente da dos homens. A própria Filosofia de Platão, por exemplo, explica uma dupla natureza humana, em que os homens são tidos como fortes, superiores, e as mulheres como seres gerados a partir dos homens, sendo consideradas figuras animalescas, de constituições inferiores. Ele considerava a mulher como um ser secundário, que não poderia melhorar, aprender ou mesmo alcançar algum tipo de evolução", recorda.

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O mito da Medusa

Contada por diversos autores com detalhes distintos, a história resumidamente se refere à Medusa como um monstro no corpo de uma mulher que, ao ser violentada por Poseidon, deus dos oceanos, é punida por Atena (deusa da sabedoria) e transformada em Górgona. Seu cabelo se transforma em um emaranhado de cobras e ela passa a ter escamas. Atena também lhe roga a maldição de transformar quem a olha em pedra.

Medusa, grávida de Crisaor e do cavalo alado Pégasus (frutos do estupro de Poseidon), acaba sendo assassinada por Perseu, que leva a sua cabeça como "brinde" ao seu reino. Na história, Medusa é punida por ser considerada atraente e por ter sido estuprada, enquanto as figuras masculinas mantêm imagens heroicas.

É em contraponto à maioria das leituras já feitas de Medusa, que trazem visões baseadas justamente em tradições eurocêntricas e masculinas, que a pesquisadora desenvolve o papel do mito na construção do lugar da mulher. Para isso, recorre à ótica feminista de Beauvoir, à ideia de que os homens estabelecem o lugar da mulher na sociedade, já que as histórias são criadas e escritas por eles. "Por meio dos mitos, os homens transformaram a mulher na responsável pela existência do fracasso próprio da condição humana", analisa.

Na mitologia grega, a ascendência das mulheres também é a razão da existência da fome, da miséria, da cólera, pestes e de toda a variedade de infortúnios que assola o mundo. "É como se fôssemos mensageiras do mal e portadoras dos encantos capazes de arruinar a Humanidade", registra Hilgert.

Sua análise da história da Medusa a caracteriza como um ser objetificado de dois tipos, associados ao mito da monstruosidade e ao mito da beleza.

No mito da monstruosidade, presente no período arcaico, Medusa tem feições mais animalescas e menos humanizadas, como se fosse um monstro terrível, com representações artísticas semelhantes às descrições literárias grotescas e assustadoras.

"Minha hipótese é que esse modelo se relaciona à subjugação da mulher pela definição da sua essência, a partir de uma concepção imutável e inferiorizada da sua natureza - a natureza da Medusa é a do monstro, num primeiro momento, em oposição à natureza humana. Ela não é humana e faz parte do reino das criaturas grotescas e repugnantes", detalha.

Já o mito da beleza, idealizado no período clássico, traz Medusa com feições menos bestializadas, com cabelos de serpentes e traços mais afinados, elegantes e próximos da figura humana e feminina. No entanto, este mito também atribui uma essência inferior à mulher: "Sua aparência física tem apelo sexual. Ou seja, a mulher atraente, independentemente de seus pensamentos, é incriminada por inspirar sentimentos nos homens", destaca. Esta versão de Medusa, segundo Hilgert, é utilizada até os dias de hoje pela cultura pop, por marcas e em campanhas publicitárias, trazendo a ideia de femme fatale.

Ou seja, progressivamente, a figura mitológica deixa de ser retratada como horrenda e passa a ser representada como bela, mas isso não significa que a mulher deixa de ser vista como inferior. "O mito da monstruosidade e o da beleza se somam, de forma a se fundirem numa dupla subjugação da mulher. Além disso, as características da personagem que a vinculam ao poder, ao medo, ao terror, e à maldade permanecem até os dias de hoje", reflete a pesquisadora.

Com isso, a autora reforça como um fato (a cultura grega) colaborou para a criação de um mito (o de que a mulher é um "segundo sexo", inferior ao homem), partindo de uma narrativa que reforça a visão dominante do mundo, dos sexos e dos gêneros.

O arcaico do contemporâneo

Até hoje, o mito é utilizado para retratar figuras femininas. É o caso de Hilary Clinton, candidata à presidência dos Estados Unidos em 2016, que na ocasião foi colocada em uma figura como sendo a Medusa, e Donald Trump (presidente eleito) como o herói grego Perseu, que "corta a sua cabeça". Alusão semelhante foi feita a Angela Merkel e a Dilma Rousseff, ao estarem em cargos de liderança.

"Independentemente de seus posicionamentos políticos, o que essas mulheres, estereotipadas como Medusa, têm em comum? A hipótese é a de que são mulheres que ocuparam lugares que, aos olhos de uma sociedade machista, não eram os delas", analisa Hilgert. "Isso demonstra como a sociedade vê mulheres poderosas como perigosas e monstruosas, além de manifestar o desejo masculino de que suas cabeças sejam cortadas de forma metafórica, para que sejam silenciadas", reforça. Em suas análises, a pesquisadora também faz uma comparação entre fragmentos do mito da Medusa e acontecimentos ainda vivenciados pelas mulheres: cultura e gravidez do estupro, rivalidade feminina e isolamento e silenciamento das vítimas de violência.

"A Medusa é penalizada pelo simples fato de ser uma mulher, ou pelo comportamento de terceiros em relação a ela. Quando é violentada, recebe punição de Atena (fomento à rivalidade feminina), se isola e silencia. Esse imaginário cultural se faz presente desde a Antiguidade até hoje, em esferas artísticas, acadêmicas e sociais", descreve Hilgert.

A pesquisadora situa como as mulheres comumente seguem sendo culpadas por estupros, muitas vezes se calando sobre o fato, e são habituadas a competir com outras mulheres. Segundo ela, conceitos como empatia, solidariedade e sororidade não foram histórica e culturalmente construídos, sendo comum o isolamento das vítimas de estupro, juntamente com os sentimentos de culpa e vergonha.

É o que a autora chama, ao final, do arcaico do contemporâneo. "Parece não haver maneira de escapar dos resultados injustos e cruéis da opressão e da objetificação. E de fato não haverá enquanto permanecermos sob o jugo dos sistemas alienantes que excluem metade da população", reflete.

Para Hilgert, vários mitos já foram superados e a condição da mulher hoje é melhor em diversos aspectos, se comparada a décadas passadas. "Alguns caminhos foram abertos, mas há muito mais a fazer do que a comemorar", enfatiza. Uma mudança neste cenário exige um olhar descolonizado e desmasculinizado sobre as mulheres, sobretudo em mitos, na ficção e na Filosofia. "Libertar a mulher dos mitos não é negar as relações que ela estabelece com os outros sujeitos, mas permitir que ela exista também como sujeito e senhora de si", reforça.

O caminho, portanto, passa necessariamente em trazer homem e mulher como seres iguais, no sentido de não haver superioridade de um sobre o outro. É, também, dar a oportunidade de haver histórias narradas pelas próprias mulheres, assim como estudiosas no campo, para que recuperem suas vozes tão caladas por séculos. "Só assim as relações intersubjetivas acontecerão de maneira livre, respeitosa e autêntica", finaliza.

Os estudos de Hilgert deram origem ao artigo intitulado "O arcaico do contemporâneo: Medusa e o mito da mulher", publicado na Lampião - Revista de Filosofia, disponível na íntegra em https://bit.ly/2UJc66H. Os resultados também foram abordados no programa "Mora na Filosofia", projeto de extensão da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que pode ser conferido em https://bit.ly/3k9Nsa4.

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