UCRÂNIA - O apresentador Luciano Huck viajou à Ucrânia para gravar o depoimento do presidente do país, Volodimir Zelenski, cujo conteúdo fará parte de um documentário.
Porém, segundo ele, aquela foi "uma das madrugadas mais tensas" de sua vida após presenciar um bombardeio.
"Nesta segunda (26), a Ucrânia sofreu o mais duro bombardeio desde o início da invasão russa. Eu estava lá, acomodado em um abrigo antiaéreo na capital, Kiev, enquanto tudo acontecia. Foi uma das madrugadas mais tensas da minha vida", contou ele em suas redes sociais.
Conforme relato de Huck, o que o levou ao país, além do projeto que deverá fazer parte em breve do catálogo do Globoplay, foi o desejo de conhecer a terra de seus antepassados, ver de perto as barbaridades da guerra e escutar com atenção as pessoas que vivem esse conflito.
"Poucas horas depois do ataque de mísseis e drones, eu tive o privilégio de conversar com o presidente Volodymyr Zelensky sobre sua vida, liderança, perspectivas de um acordo de paz e a relação com o Brasil", disse.
A Rússia de Vladimir Putin lançou na madrugada e na manhã de segunda o maior ataque aéreo contra a Ucrânia desde que lançou a invasão do país vizinho, em 24 de fevereiro de 2022. Foram empregados, segundo Kiev, 236 mísseis e drones contra alvos em 15 regiões.
A conta é do presidente Zelenski, que gravou uma mensagem de vídeo. Segundo a Força Aérea de Kiev, foram abatidos 102 de 127 mísseis, além de 99 de 109 drones. Não há como confirmar isso de forma independente.
Antes, o recorde de emprego dessas armas pelos russos de uma só vez havia sido em dezembro passado, com 158 mísseis e drones. A ação envolveu 11 bombardeiros estratégicos Tu-95MS, ao menos um caça MiG-31K, além de lançamentos de terra e do mar Negro.
Foi usada quase toda a gama que Moscou tem despejado sobre a Ucrânia, uma média de 26 ataques diários desde o começo da guerra segundo Kiev divulgou na semana passada.
POR FOLHAPRESS
UCRÂNIA - O Parlamento da Ucrânia aprovou na terça (20) uma lei que mira banir a Igreja Ortodoxa Russa, maior denominação deste ramos do cristianismo no mundo, do país.
Com apoio de 265 dos 450 deputados, o texto proíbe que entidades religiosas associadas a países agressores continuem a operar na Ucrânia. É mais um passo de um cisma iniciado em 2019 e agravado pela invasão de Vladimir Putin do vizinho, três anos depois.
Ao longo da guerra, o governo de Volodimir Zelenski já havia denunciado a Igreja Ortodoxa da Ucrânia-Patriarcado de Moscou de ser uma base avançada para espiões russos e de divulgação de propaganda contra Kiev.
A reação de Moscou, tanto na igreja quanto no governo, foi a de chamar Zelenski, um judeu, de satanista e inimigo da fé. Agora, o presidente disse que a nova lei irá "fortalecer a independência espiritual" da Ucrânia.
Segundo pesquisa do Instituto de Economia de Kiev, em 2022 75% dos ucranianos se denominavam cristãos ortodoxos. Um minoria expressiva, de 8%, são católicos do rito grego e os restantes, divididos entre católicos romanos, judeus e outras religiões.
De 1686 a 2019, a Igreja Ortodoxa da Ucrânia era subordinada ao patriarca de Moscou. O atual ocupante da posição, Cirilo, é um importante aliado de Putin, a quem já chamou de "milagre de Deus". As relações entre Kremlin e a denominação são as mais intensas desde que os czares eram coroados pela mão dos líderes religiosos.
Quando era parte da União Soviética, a Ucrânia tinha também uma outra denominação, a Igreja Autocéfala Ortodoxa da Ucrânia, que sofria diversas perseguições. A liberdade do ocaso comunista de 1991 abriu caminho para um período de disputa.
A anexação da Crimeia em 2014, após um aliado de Putin ser expulso do poder em Kiev, e a guerra civil no leste do país levaram o governo em Kiev a patrocinar o ramo como o único legítimo do país.
Em janeiro de 2019, o Patriarcado de Constantinopla, considerado o centro do poder ortodoxo do mundo, reconheceu a nova igreja, gerando o maior cisma do mundo cristão desde a Reforma protestante do século 16.
Na prática, ficaram operando na Ucrânia a igreja ligada a Moscou e a nova denominação. Não há uma estimativa precisa de quantos fiéis cada uma tem, mas houve um processo de migração de comunidades: ao menos 1.100 paróquias mudaram para o novo Patriarcado de Kiev.
A guerra piorou as tensões, com a suspeita de que religiosos ligados a Moscou operavam como uma quinta-coluna dentro do país. "Esta é uma votação histórica. O Parlamento aprovou uma legislação que bane uma sucursal do país agressor na Ucrânia", escreveu no Telegram a deputada Irina Heraschenko, ligada a Zelenski.
O líder da igreja ligada a Moscou, metropolitano Klimenti, criticou a lei, dizendo que ela só visa o confisco de propriedade. Ele nega qualquer influência política do governo Putin na atuação de seus padres.
"A igreja vai continuar a viver como a igreja verdadeira, reconhecida pela vasta maioria dos fiéis", disse à TV Hromadske. A Igreja Ortodoxa Russa comanda cerca de 40% dos 300 milhões de aderentes a este ramo cristão no mundo, entre outras 14 denominações.
A guerra impactou a comunidade fora da Ucrânia. Cirilo rompeu com Bartolomeu, o patriarca de Constantinopla (nome antigo de Istambul, Turquia), que criticou a invasão russa. Apenas as igrejas da Sérvia, Bulgária e Síria mantiveram o apoio a Moscou.
Agora, os deputados ucranianos irão listar as paróquias que serão atingidas. Cada uma terá nove meses para decidir se quer fechar as portas ou migrar para a fé oficial de Kiev, uma medida que será denunciada como repressão religiosa na Rússia.
É mais uma dimensão da guerra. Putin já criticou Zelenski por perseguir religiosos ligados ao patriarcado moscovita, além de ter banido o ensino de língua russa em favor do ucraniano. Pouco menos de 20% da população do país é russa étnica, mas a proporção é majoritária na Crimeia e nas áreas ocupadas no leste e sul.
ZELENSKI DIZ QUE SITUAÇÃO É DIFÍCIL NO LESTE
No campo de batalha, a invasão ucraniana da região meridional russa de Kursk seguiu em banho-maria nesta terça, sem avanços significativos por parte das forças de Zelenski. Ao longo do fim de semana, elas destruíram três pontes para reter o apoio logístico dos militares russos na região, mas é incerto o fôlego que a surpreendente ofensiva ainda tem.
Ele é desafiado pelo avanço russo rumo a Pokrovsk, importante centro ferroviário em Donetsk (leste ucraniano). Nesta terça, Zelenski chamou a situação militar na cidade, que está sendo evacuada, de "difícil".
Do lado de Moscou, o ministro Andrei Belousov (Defesa) disse que está "cuidando pessoalmente" da invasão a Kursk, e que determinou a criação imediata de três grupos de Exército na região e em suas duas vizinhas, Belgorodo e Briansk.
As Forças Armadas de Kiev também divulgaram um balanço dos ataques aéreos russos desde a invasão de 24 de fevereiro de 2022. Foram, segundo os militares, 14 mil drones e 9.600 mísseis disparados contra o território ucraniano, ou uma média de 26 armamentos caindo sobre o país por dia.
POR FOLHAPRESS
KIEV - O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse nesta quarta-feira que o país está “pronto” para negociar com a Rússia.
A declaração foi dada durante uma visita do chanceler a Guangzhou, na China, e representa o segundo sinal de abertura de Kiev a Moscou em menos de 10 dias, em 15 de julho, o presidente Volodymyr Zelensky havia dito que a Rússia deveria participar de uma segunda conferência de paz.
– Estamos prontos para conversar com a Rússia em uma determinada fase, se Moscou estiver pronta a negociar em boa fé – afirmou Kuleba em um encontro com o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi.
No entanto, o chanceler ponderou que ainda não enxerga “tal preparação” por parte do regime de Vladimir Putin. “A parte ucraniana está pronta a conduzir o diálogo com a Rússia, mas as negociações precisam ser racionais e substanciais para alcançar uma paz justa e duradoura”, salientou.
Questionado sobre o assunto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, respondeu que a abertura de Kuleba ao diálogo está “em sintonia” com a posição russa, porém cobrou “mais esclarecimentos” por parte de Kiev.
Guerra
A guerra entre Rússia e Ucrânia já dura quase dois anos e meio e vive um momento de impasse, sem avanços significativos em nenhum dos lados. Zelensky disse em diversas ocasiões que só aceitaria negociar mediante a retirada total das tropas invasoras das áreas ocupadas, enquanto Putin exige que Kiev abra mão das regiões tomadas por Moscou.
Por Redação, com ANSA
AUSTRÁLIA - O governo australiano anunciou hoje um pacote de assistência militar para a Ucrânia no valor de aproximadamente 250 milhões de dólares australianos (925 milhões de reais para ajudar na resistência à invasão russa.
Esta ajuda, a maior contribuição individual da Austrália desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, inclui mísseis de defesa ar-terra e ar-ar, conforme declarado pelo ministro da Defesa australiano, Richard Marles, que está atualmente em Washington para a cúpula da NATO.
Além dos mísseis, a assistência australiana também envolve armamento antitanque, munições de artilharia, morteiros, canhões, armas leves e um carregamento de botas para as forças armadas ucranianas.
"O fornecimento de capacidades de defesa aérea avançada e munições de precisão ar-terra representa o maior pacote de apoio já oferecido pela Austrália à Ucrânia e contribuirá significativamente para os esforços para resolver o conflito em seus próprios termos", afirmou Marles.
Ele também condenou a invasão russa como "ilegal e imoral", um ataque ao direito internacional e à ordem baseada em regras, reafirmando o apoio da Austrália à NATO na defesa contra a agressão russa à Ucrânia.
Durante sua estadia em Washington, Marles se encontrou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e com os membros do grupo IP4, composto por Austrália, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Japão, todos parceiros importantes da NATO na região estratégica do Indo-Pacífico.
Além disso, Marles assinou um memorando de entendimento para facilitar a entrega de um milhão de drones a Kiev, destacando que a Austrália já havia prometido 30 milhões de dólares australianos (111 milhões de reais) para esta causa.
A Austrália, juntamente com o Japão, é um dos maiores contribuintes não membros da NATO para a Ucrânia, tendo atribuído um total de 1,3 bilhão de dólares australianos (3,85 bilhões de reais), principalmente em assistência militar.
ALEMANHA - A maioria dos deputados do partido alemão de extrema direita AfD e uma formação de esquerda radical boicotaram, nesta terça-feira (11), o discurso no Parlamento do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que alertou sobre a retórica pró-russa na Europa.
O mandatário fez um discurso para os legisladores do Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão. A bancada dos 77 deputados da AfD estava praticamente vazia e apenas quatro deles estiveram presentes.
"Nos negamos a escutar um orador com roupa de camuflagem", explicou em um comunicado a direção da legenda, afirmando que a "Ucrânia não necessita de um presidente de guerra, mas sim um presidente de paz".
Também abandonaram o hemiciclo os 10 deputados do partido de esquerda radical BSW, criado recentemente e de linha soberanista, com um discurso crítico à migração e à entrega de armas a Kiev.
Esse grupo disse querer enviar "um sinal de solidariedade a todos os ucranianos que querem um cessar-fogo imediato e uma solução negociada".
Para esses dois partidos, as eleições europeias de domingo foram um sucesso.
A AfD ficou em segundo lugar com cerca de 16% dos votos, atrás dos conservadores. O BSW superou os 6% e eclipsou o movimento histórico de extrema esquerda Die Linke (2,7%).
- "Perigoso para seus países" -
Em visita a Berlim para uma conferência internacional sobre a reconstrução da Ucrânia, Zelensky expressou sua preocupação com os bons resultados eleitorais das formações "com slogans radicais pró-russos".
É "perigoso para seus países", disse em uma coletiva de imprensa ao lado do chefe de Governo alemão, Olaf Scholz.
O presidente ucraniano pediu mais uma vez aos seus aliados que aumentem a ajuda em matéria de defesa aérea.
"É o terror inspirado pelos mísseis e as bombas o que ajuda as tropas russas a avançar no terreno", assegurou ante um grupo de altos responsáveis europeus.
"Enquanto não privarmos a Rússia da possibilidade de aterrorizar a Ucrânia, [o presidente russo Vladimir] Putin não terá nenhum interesse real em buscar uma paz justa", disse.
"A defesa aérea é a resposta", acrescentou.
Depois de Berlim, Zelensky participará da cúpula dos dirigentes do G7 na Itália e depois irá à Suíça para discursar na Conferência sobre a paz na Ucrânia, que ocorrerá no sábado e no domingo e contará com mais de 90 países e organizações. Rússia e China não estão entre elas.
Por sua vez, Scholz também instou os aliados ocidentais a fazerem mais para permitir que Kiev proteja suas infraestruturas vitais e civis.
"O que o Exército ucraniano mais necessita agora são munições e armas, sobretudo para a defesa antiaérea", insistiu o dirigente alemão, recordando que Berlim decidiu entregar recentemente um terceiro sistema de defesa antiaérea Patriot.
Scholz reafimou que não haverá "vitória militar nem uma paz ditada" por Putin.
"Promover essa conscientização é o que está em jogo na cúpula de paz que será realizada neste fim de semana na Suíça", comentou.
A segurança energética e a renovação da rede elétrica ucraniana também serão algumas das questões abordadas no encontro no país helvético.
Zelensky indicou na terça-feira que os bombardeios russos contra as infraestruturas energéticas do país reduziram à metade sua produção elétrica desde o inverno.
RÚSSIA - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta terça (28) que o Parlamento da Ucrânia deveria retirar do poder seu rival Volodimir Zelenski, cujo mandato de cinco anos expirou há uma semana sem a perspectiva da realização de nova eleição devido à guerra iniciada por Moscou em 2022.
Segundo Putin, após "uma análise cuidadosa", o Kremlin chegou à conclusão de que Zelenski não tem mais legitimidade para ficar no cargo, devendo passar o bastão para o presidente do Legislativo local, Ruslan Stefantchuk, o número dois na linha sucessória.
Na sequência, disse o Putin após encontro com o colega Chavkat Mirzioiev no Uzbequistão, deveria ser realizada uma eleição presidencial.
O russo busca estimular as rivalidades já existentes na política ucraniana, que de todo modo não incluem mais grupos pró-Moscou muito influentes. Stefantchuk, até aqui, é visto como um aliado próximo de Zelenski.
Na semana passada Putin gerou suspeitas ao encontrar-se durante uma visita a Belarus o aliado Viktor Ianukovitch, que foi defenestrado da Presidência ucraniana em 2014. Aquele evento, revolução para os pró-Ocidente e golpe para a Rússia, disparou a anexação da Crimeia e a guerra civil no leste ucraniano, estágios anteriores da invasão de fevereiro de 2022.
Ianukovitch, um russo étnico do leste da Ucrânia, vive exilado na Rússia. Seu partido foi desmantelado, assim como quase todas as forças de oposição associadas a Moscou na política institucional de Kiev, aliás, uma das queixas usuais do Kremlin.
Ainda assim, Zelenski está sob uma crescente pressão interna e de aliados ocidentais. Uma lei ordinária ucraniana afirma que não é possível realizar pleitos se o país estiver sob lei marcial, o que ocorre desde o primeiro dia da guerra.
Mas aqui e ali surgem comentários acerca do que seria a falta de empenho de Zelenski de ao menos prover um plano de voo, dado que realizar uma consulta popular com 20% do país ocupado e bombardeios diários é uma impossibilidade.
Como disse seu biógrafo Simon Shuster à Folha de S.Paulo, será difícil para o presidente largar o poder amplo que detém. A revista liberal britânica The Economist, insuspeita de simpatias russófilas, já fez cobrança semelhante recentemente.
É essa tecla que Putin está acionando agora, embora o impacto de qualquer fala do russo sobre processos eleitorais será confrontada em Kiev com o fato de que ele invadiu o vizinho e de que o quinto pleito que venceu neste ano é contestado como ilegítimo.
Putin voltou a acusar os países da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, de arriscarem um conflito ampliado com o envio de armas que possam ser empregadas contra solo russo. Disse que a nova frente que abriu em Kharkiv (norte da Ucrânia) porque Kiev passou a atacar Belgorodo (sul russo).
Seu objetivo, disse, é criar uma zona tampão para evitar o alcance de armas ucranianas. Ele sugeriu que elas eram ocidentais, mas até aqui só há registro de ataques com drones e munição de origem doméstica de Kiev contra a cidade russa.
IGOR GIELOW / FOLHAPRESS
EUA - Em meio ao agravamento da situação militar da Ucrânia ante as forças invasoras de Vladimir Putin, os Estados Unidos disseram pela primeira vez, na quarta (15), que o emprego de suas armas contra o território russo por Kiev é uma decisão do governo de Volodimir Zelenski.
Em uma entrevista coletiva na capital ucraniana, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que não "encoraja ataques fora da Ucrânia", mas que, em última instância, Kiev "tem de tomar decisões por conta própria sobre como vai conduzir esta guerra".
A frase poderá gerar uma escalada por parte de Putin, que sempre colocou a situação como uma linha vermelha na guerra que iniciou em 2022. Ela foi bastante ambígua a ponto de permitir uma negativa de intenção, mas isso não será lido assim em Moscou.
Há três semanas, o chanceler britânico, David Cameron, afirmou que Kiev estava livre para usar seus mísseis de longa distância contra a Rússia. Em resposta, Putin anunciou que atacaria alvos militares britânicos em todo o mundo como retaliação legítima à hipótese.
Além disso, o presidente retomou a ameaça de um conflito nuclear com as forças da Otan (aliança militar liderada pelos EUA) quando o presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu enviar tropas para ajudar Kiev.
Até aqui, o presidente Joe Biden proibia expressamente tal emprego, temendo que ele pudesse disparar uma Terceira Guerra Mundial. Os crescentes ataques ucranianos contra o sul russo, por ora, são feitos com armamento doméstico. O tom de Blinken sugere que ele esteja testando a reação do Kremlin.
O secretário foi a Kiev devido à piora da posição militar da Ucrânia e anunciou que os EUA estão apressando o envio de munição e armamentos para seus aliados em Kiev. Disse também que um novo pacote de ajuda de R$ 10,2 bilhões para a indústria bélica de Kiev será liberado em breve.
Ele não especificou se o valor faz parte do auxílio de R$ 300 bilhões aprovado pelo Congresso americano em abril, após meses de protelação que são vistos hoje como centrais para a situação dramática de Kiev ante os novos avanços russos.
"Nós estamos apressando o envio de munição, veículos blindados, mísseis e defesas aéreas para as linhas de frente", afirmou Blinken. A seu lado, o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, manteve o tom usual de cobrança. "Cada atraso de fornecimento resulta em revés no campo de batalha", disse.
Na noite de terça (14), Blinken, que no passado já foi guitarrista de algumas bandas, tocou em um bar de Kiev com um grupo local. Disse que as tropas estão lutando "não só por uma Ucrânia livre, mas por um mundo livre". Em seguida, acompanhou a banda em "Rockin' in the Free World", de Neil Young.
Desde o fracasso da contraofensiva ucraniana de 2023, Moscou retomou a iniciativa e teve diversos ganhos em Donetsk, província do leste do país anexada ilegalmente por Putin e da qual Kiev tinha mais controle territorial.
Na sexta passada (10), contudo, a Rússia lançou grande ofensiva em uma frente, invadindo o norte da região de Kharkiv, expondo a um cerco a capital homônima do local, segunda maior cidade ucraniana.
Nesta quarta, o Ministério da Defesa russo afirmou ter tomado mais duas cidadezinhas na região, consolidando um avanço não tão rápido quanto nos primeiros dias, mas notável em uma guerra que cristalizou uma frente de combate de 1.000 km após Putin ter recuado da tentativa frustrada de tomar Kiev em seu começo.
Já as Forças Armadas da Ucrânia afirmam que a linha na região foi estabilizada, mas é impossível ter uma visão clara neste momento da realidade.
Mais importante ainda, se confirmada, é a conquista anunciada de Robotine, na região de Zaporíjia, outra área anexada em que Moscou não tem controle total, com uma porção do norte da província ainda sob administração de Kiev.
A frente de batalha ali viu alguns dos combates mais ferozes da guerra. Em 2023, Kiev reconquistou Robotine, vilarejo transformado numa ruína, mas parou ali em sua contraofensiva. Os militares ucranianos negam ter perdido controle do lugar.
O agravamento da situação em campo fez Zelenski cancelar uma viagem que faria a Espanha e Portugal a partir desta quarta. Ele havia ordenado o recuo de suas forças em vários pontos de Kharkiv, para facilitar a defesa das linhas que levam à capital regional, a menos de 20 km da área dos combates.
Ainda há dúvidas sobre o objetivo tático russo com a nova ofensiva, se a intenção é tentar tomar a capital de Kharkiv e a região ou criar uma zona tampão para afastar os lançadores de mísseis e drones ucranianos contra o sul do país, principalmente Belgorodo, a cidade que mais vive a guerra na Rússia.
Estrategicamente, contudo, Putin está sendo bem-sucedido em erodir as capacidades de Kiev, que enfrenta um sério problema de mão de obra para sua guerra. Moscou alterou as leis de mobilização para poder chamar pessoas mais jovens e recorrido à oferta de liberdade em troca de serviço militar para prisioneiros -a Ucrânia criticou essa medida, mas depois o Parlamento local aprovou lei que também permitirá a alguns detentos servir ao Exército com perdão de suas penas.
Zelenski colocou, nos últimos dias, a questão da falta de munição e armas como central também. O atraso devido à disputa política entre republicanos e democratas para a aprovação do pacote tomou mais de quatro meses -dinheiro novo para a Ucrânia deixou de ser entregue neste ano.
Mesmo o pacote plurianual de R$ 270 bilhões da União Europeia não se materializou em armas, sendo que ele foi desenhado como uma ajuda para manter a economia de pé. E os R$ 300 bilhões americanos não estarão disponíveis imediatamente, sendo que boa parte deles é para repor os estoques de munição doada pelos EUA.
Enquanto isso, a Rússia colocou sua economia em ritmo de guerra. A troca no Ministério da Defesa reflete isso. Ainda não se sabe se o ex-titular Serguei Choigu reterá poder executivo ocupando a cadeira do linha dura Nikolai Patruchev no Conselho de Segurança do país, mas a indicação do economista Andrei Belousov para a Defesa mostra a aposta numa organização de longo prazo para conflitos.
RÚSSIA - O governo de Vladimir Putin determinou um exercício de ataque com armas nucleares táticas em resposta à sugestão de governos ocidentais, principalmente o da França, de enviar soldados para a ajudar a Ucrânia a resistir à invasão da Rússia.
Segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a simulação anunciada nesta segunda (6) pelo Ministério da Defesa russo é uma resposta direta ao presidente francês, Emmanuel Macron, e a políticos britânicos e americanos que têm defendido a medida. A agência de espionagem militar de Kiev chamou os exercícios de "chantagem nuclear".
Ele também afirmou que os serviços de inteligência de Moscou estão apurando relatos de que a França já enviou soldados de sua Legião Estrangeira à Ucrânia. Combatem pelo país vizinho mercenários de diversas nações, inclusive o Brasil, mas não há até aqui nenhum envio oficial de tropas em apoio a Kiev.
A Defesa russa havia citado especificamente o emprego de sistemas de armas nucleares não estratégicas, evocando um dos maiores temores do Ocidente: de que Putin use esse tipo de bomba contra forças da Ucrânia ou, agora, de países aliados que eventualmente enviem militares para a guerra iniciada em 2022.
Armas táticas são aquelas que disparadas contra alvos militares específicos, como bases, usualmente com menor potência do que as chamadas estratégicas -as ogivas que têm como finalidade obliterar cidades inteiras na tentativa de encerrar conflitos.
A carta nuclear tornou-se uma trivialidade na retórica russa da guerra. Pouco antes da invasão, em fevereiro de 2022, Putin determinou um complexo exercício com diversos sistemas nucleares, envolvendo mísseis disparados de solo, bombardeiros e submarinos.
Ao atacar, disse que qualquer país que interviesse em favor da Ucrânia sofreria consequências nunca antes vistas na história, uma pouco sutil referência às suas bombas atômicas. A Rússia e os EUA concentram 90% das mais de 12 mil ogivas existentes no planeta.
Ao longo da guerra, a sombra da escalada nuclear modulou a velocidade e a qualidade da ajuda enviada pelo Ocidente para o governo de Volodimir Zelenski. Até a semana passada, todos os países que forneceram armas a Kiev condicionavam seu emprego a não atacar o território russo.
Isso mudou com uma fala do chanceler britânico, David Cameron, sugerindo que os ucranianos tinham direito de fazer o que quisessem com os mísseis que Londres dá a eles. Pressionado no campo de batalha pelos avanços russos no leste neste ano, Zelenski tem feito ataques pontuais a refinarias e cidades na terra de Putin, mas por ora com armas próprias.
Nesta segunda, os russos anunciaram terem conquistado mais duas cidadezinhas no leste ucraniano, ameaçando cada vez Chasiv Iar, trampolim para a tomada final da província de Donetsk. Especula-se que essa vitória é o troféu que Putin quer mostrar no desfile do Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial, na próxima quinta (9).
Analistas ocidentais sempre especularam que, no caso de sofrer uma ameaça de derrota decisiva, Putin pudesse recorrer a armas táticas contra a Ucrânia. Como isso está afastado agora, a hipótese de envio de tropas reiterada por Macron faz ressurgir o fantasma.
O próprio presidente russo disse, em diversas ocasiões, que a ideia do francês levaria a uma guerra nuclear. Agora, o Kremlin resolveu subir um degrau na disputa retórica com os exercícios, que envolverão forças do seu Comando Militar Sul e da Marinha em data não revelada.
Para uso tático, a Rússia tem à disposição mísseis como o balístico Iskander-M ou o hipersônico Tsirkon, lançado de navios e que teoricamente pode carregar uma ogiva nuclear pequena, além de bombas de queda livre. A Otan, aliança militar ocidental, acredita que Moscou tenha cerca de 2.000 dessas armas, ante 100 que os EUA mantêm em bombas lançadas por aviões na Europa.
Na Rússia, comentaristas e políticos radicais têm defendido o emprego de armas táticas para riscar uma linha no chão para o Ocidente, mas qualquer especialista do campo nuclear aponta para o risco evidente de uma escalada que leve a uma troca de fogo com mísseis estratégicos, levando a cenários apocalípticos.
POR FOLHAPRESS
ALEMANHA - A UE (União Europeia) concordou provisoriamente nesta segunda-feira (8) com as restrições às importações de alimentos ucranianos, que, segundo alguns membros da UE, desestabilizaram os mercados agrícolas do bloco.
Os tomadores de decisão da UE têm discutido há semanas sobre os limites de acesso livre de tarifas para os produtos ucranianos, uma vez que os agricultores protestaram contra as importações baratas, com alguns na Polônia bloqueando a fronteira com a Ucrânia e derramando grãos ucranianos nos trilhos.
Os legisladores da UE e a Bélgica, que detém a presidência rotativa da UE por seis meses, disseram ter chegado a um acordo sobre as restrições. Isso ainda exigirá a aprovação de outros membros da UE e do Parlamento Europeu.
Em janeiro, a Comissão Europeia propôs estender o acesso livre de tarifas até junho de 2025, mas com uma restrição de emergência para aves, ovos e açúcar se as importações excedessem a média dos níveis de 2022 e 2023.
Desde então, a aveia, o milho, os cereais e o mel foram acrescentados, com a média também a ser calculada incluindo o segundo semestre de 2021. Naquele ano, que foi antes de a Rússia invadir a Ucrânia, as importações foram muito menores porque as tarifas eram aplicadas.
Os legisladores da UE e a Bélgica concordaram com essa fórmula na segunda-feira, disse um diplomata da UE.
RÚSSIA - Na véspera do início da eleição presidencial russa, forças de Kiev voltaram a invadir o sul do país de Vladimir Putin, enquanto Moscou lançou uma grande onda de ataques com drones e artilharia, derrubando o sinal de TV e internet no norte da Ucrânia.
A troca de fogo tem escalado durante esta semana devido à proximidade do pleito, que durará três dias até o domingo (17) e irá dar a Putin seu quinto mandato como presidente -restando na prática saber qual será a abstenção, dado que o Kremlin trabalha para garantir ao menos 70% de comparecimento.
Assim, o governo de Volodimir Zelenski optou por ações mais espetaculares, visando lembrar o público russo de que há uma guerra em sua vizinhança.
Os ataques de quinta (14) ocorreram nas regiões de Kursk e Belgorodo, próximos da fronteira ucraniana, e envolveram supostamente unidades da chamada Legião da Rússia, um grupo de opositores ao governo de Putin bancados por Kiev e, segundo relatos, pela CIA (Agência Central de Inteligência, dos EUA).
Vídeos emergiram em redes sociais de tiroteios em ruas nevadas de cidadelas próximas da fronteira. O Ministério da Defesa da Rússia disse que as duas incursões foram debeladas, assim como havia ocorrido na quarta (13). Não há como confirmar isso de forma independente.
Também em Belgorodo, duas pessoas morreram devido a uma salva de oito mísseis balísticos disparados desde o território ucraniano, cerca de 40 km distante.
Ao longo da semana, os ucranianos também miraram a infraestrutura energética russa, atingindo com drones de longo alcance três refinarias. Segundo o governo, elas já voltaram a operar, embora haja relatos de que a produção em Riazan não está normaliza.
Em Zaporíjia, área no sul ucraniano quase toda ocupada pelos russos, a usina nuclear que leva o nome da região foi atingida por uma forte explosão na quinta. Segundo a administração russa da central, forças ucranianas colocaram uma bomba perto de tanques de combustível que abastecem o local.
Ninguém ficou ferido, e Kiev não comentou o incidente. A usina de Zaporíjia é a maior da Europa, e a Agência Internacional de Energia Atômica mantém uma equipe permanente lá para averiguar as condições.
Na semana passada, Putin havia discutido com o diretor do órgão, o argentino Rafael Grossi, como elevar a segurança no local. À Folha de S.Paulo, Grossi havia dito em janeiro que a situação é precária.
Na mão inversa, os russos fizeram um bombardeio coordenado com 36 drones suicidas de origem iraniana Shahed-136 em seis regiões ucranianas. Kiev disse ter derrubado 22 deles, mas os destroços também atingiram casas. Não há relatos de feridos.
Em Sumi, uma central de comunicações foi destruída, e parte da região norte da Ucrânia está sem sinal de internet ou TV. Em Kharkiv, perto de lá, prédios foram alvejados por mísseis balísticos do sistema antiaéreo S-300, adaptados para atacar alvos em terra.
O Exército ucraniano disse que 150 vilarejos foram alvo de bombardeios com artilharia ao longo da noite e na manhã.
NÃO TEMAM PUTIN, DIZ KREMLIN
O Kremlin reagiu nesta quinta às afirmações do presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, de que seu país não temia Putin. O político comentava o ataque a marteladas contra Leonid Volkov, um assessor do ativista Alexei Navalni que está exilado em Vilnius -o líder opositor morreu na cadeia no mês passado.
Segundo o porta-voz Dmitri Peskov, não há motivo para os lituanos temerem o presidente russo, mas que ele deve ser "ouvido e respeitado". Ele também negou que o comentário de Putin em uma entrevista de que a Rússia estava pronta para uma guerra nuclear tenha sido uma ameaça ao Ocidente.
Aliados de Navalin convocaram um protesto para o domingo, dia final da eleição, instando apoiadores do opositor a irem votar todos ao meio-dia, gerando filas em seções eleitorais que teoricamente serão imunes à repressão policial.
POR FOLHAPRESS
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