EUA - A Terra está perdendo seu brilho. Essa não é uma metáfora, mas sim uma conclusão objetiva, um diagnóstico alcançado por uma nova pesquisa, que concluiu que o planeta está refletindo menos luz para o espaço ao longo dos últimos 20 anos. Publicado na revista científica Geophysical Research Letters, o estudo foi realizado por cientistas dos EUA e da Espanha a partir de dados coletados por satélites e pelo Observatório Solar Big Bear, da Califórnia, e calculou que a Terra reflete cerca de meio watt a menos de luz por metro quadrado do que refletia duas décadas atrás, em uma redução equivalente a cerca de 0,5% do total de sua refletância. A conclusão é semelhante a de outro estudo, de 2020, que concluiu que a Lua também está perdendo seu brilho.
“Albedo” é o termo para a quantidade de luz solar refletida pelo nosso planeta, que costuma corresponder a 30% de toda a luz recebida pela Terra. As explicações para o fenômeno de sua redução ainda estão sendo apontados como hipóteses, mas apontam para conclusões evidentes: como em todos os casos, superfícies claras refletem a luz, enquanto escuras absorvem e, assim, a redução, por exemplo, das superfícies de gelo dos polos, bem como das nuvens, interferem diretamente no albedo.
Apesar da pesquisa trabalhar com dados dos últimos 20 anos, boa parte da redução se concentra nos últimos 3 anos, após 17 anos de um quadro relativamente estável: a resposta, portanto, não está no Sol nem no espaço, mas sim na Terra, e especialmente na redução de nuvens em certas áreas do Oceano Pacífico. De acordo com Enric Pallé, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto de Astrofísica de Canárias e do Departamento de Astrofísica da Universidade La Laguna, na Espanha, os dados captados pela NASA confirmam que, além do derretimento do gelo, o aumento da temperatura do mar reduziu a quantidade de nuvens no oceano.
Segundo Pallé, é provável que a explicação esteja conectada com as mudanças climáticas, mas ainda não é possível concluir de forma inequívoca que não se trata de uma variação natural, até pelo recorte de 20 anos ser curto para isolar o fenômeno. De todo modo, a redução no albedo pode interferir diretamente na temperatura do planeta, pois provoca maior ou menor entrada da energia solar no planeta. Outra conclusão importante do estudo é de que a quantidade de luz refletida pelo planeta não é estável e constante, e pode alterar nossos cálculos sobre a emergência, bem como a capacidade de prever fenômenos meteorológicos e os próprios efeitos das mudanças climáticas no futuro.
Vitor Paiva / HYPENESS