MUNDO - Os sérvios foram convocados a irem às urnas, neste domingo (21), para eleições legislativas marcadas pelo boicote de parte da oposição, o que anuncia uma nova vitória do partido da situação, assim como pelo coronavírus.
Os comícios ocorrem à sombra do homem forte de Belgrado, o presidente Aleksandar Vucic que, embora não se apresente, tem o nome nas cédulas de votação como presidente do Partido Sérvio do Progresso (SNS, de centro-direita), há oito anos no poder.
Os partidos da oposição que boicotam as legislativas consideram impossível a realização de eleições livres em um cenário midiático controlado e a uma erosão democrática, pela qual responsabilizam o chefe de Estado.
Unida pela antipatia comum a Aleksandar Vucic, a oposição se vê, no entanto, prejudicada pelas dissidências. Alguns dos principais partidos boicotam a votação, mas cerca de 20 pequenas legendas irão às urnas.
Segundo uma pesquisa da agência Faktor Plus, o SNS pode obter 60% dos votos, à frente do Partido Socialista (SPS), seu parceiro na coalizão no poder, com 12%.
Com a pandemia do coronavírus e com o boicote, a maior incógnita está na participação dos 6,5 milhões de eleitores inscritos, incluindo os da diáspora.
- Ameaça -
Duas vezes primeiro-ministro antes de chegar à Presidência, o chefe de Estado denuncia o boicote como uma ameaça à democracia e acusa a oposição de usá-lo para esconder sua impopularidade.
Aos 50 anos, o presidente está mais popular do que nunca, de acordo com pesquisas que indicam que ele sai mais forte da crise de saúde.
Embora a epidemia cresça lentamente após o desconfinamento, a Sérvia evitou, com cerca de 260 mortos, a catástrofe vivida em outros países.
Inicialmente previstas para abril, as eleições legislativas foram adiadas.
- O premier desconhecido -
Os comícios públicos foram anulados, mas os virtuais permanecem. E, neles, o presidente aparece onipresente, cercado por seus apoiadores.
O papel que a Constituição atribui ao presidente da Sérvia é honorário, mas Aleksandar Vucic é, sem dúvida, quem toma as decisões. Ele tem tanto controle que o nome do primeiro-ministro, em caso de vitória, ainda não foi anunciado.
A propaganda eleitoral não leva as siglas do SNS, mas proclama: "Aleksandar Vucic para nossos filhos".
Os analistas afirmam que o jogo político está distorcido.
"O entorno midiático não é livre, as instituições não são independentes, e é muito difícil desafiar o poder durante as eleições", disse à AFP Florian Bieber, especialista em Bálcãs.
A ONG Freedom House considera que a Sérvia não é uma democracia, mas sim um "regime híbrido", após anos de "captura do Estado, abuso do poder e táticas de força".
*Por: AFP