Fabiana Oliveira Koga, pós-doutoranda do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar e responsável pelo estudo, explica que, quando se rastreia um conglomerado de indivíduos, especificamente os diversificados, torna-se possível conhecer os índices e as características de suas aptidões musicais e, por conta disso, há a possibilidade de direcionar recursos, estratégias e metodologias de modo mais significativo para o individuo. "Pautando-se no principio da inclusão, o rastreio permite 'ajustar' ou 'adequar' conteúdos, elementos e habilidades musicais na medida do potencial de cada individuo e gradualmente desafios são oferecidos à medida que se desenvolvem. O rastreio não é importante apenas para os talentosos, mas para qualquer estudante uma vez que se descobre onde o estudante está em desenvolvimento projetando onde ele pode chegar se enriquecido musicalmente. Há indivíduos que gostam da Música e a praticam por entretenimento, mas há aqueles que almejam uma carreira. Portanto, ambos vão requerer estratégias e planejamento educacional distintos. O talento musical requer identificação e atenção educacional especializada, como está previsto na legislação brasileira".
Segundo Koga, "infelizmente, existe uma discrepância entre o que é estabelecido pela legislação (Lei n. 13.278/16) e a prática nas escolas em relação ao ensino de Música. Ainda não há professores de Música em todas as escolas, assim como profissionais de outras áreas artísticas. Quando a disciplina de Música é oferecida, isso ocorre apenas em alguns municípios e em determinados períodos escolares, havendo variações na implementação da Educação Musical nos diferentes estados brasileiros", descreve a pesquisadora. "Por esse motivo, torna-se complexo discutir a importância da identificação e da atenção educacional especial aos talentos musicais", explica.
A pesquisa
O estudo busca a validação, normatização, padronização e fidedignidade do Protocolo para Screening de Habilidades Musicais (PSHM) para ser utilizado como instrumento de sondagem para identificação de estudantes com indicadores de talento musical. O trabalho usou uma amostra diversificada de estudantes da rede básica de ensino do Estado de São Paulo, escolas públicas e privadas, um centro brasileiro especializado na área do talento e uma escola pública mexicana específica para estudantes talentosos. Para isso, participaram do estudo cerca de 800 indivíduos, incluindo crianças 6 a 11 anos de diferentes regiões do estado de São Paulo (escolas públicas, privadas e indígenas); estudantes de um programa para alunos talentosos - Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento (CEDET - São José do Rio Preto) - e uma escola pública específica para estudantes talentosos em Jalisco, no México (Centro Educativo para Altas Capacidades - CEPAC), além de professores, gestores e familiares dessas crianças. A participação foi presencial; foram testadas as versões impressa e online dos instrumentos.
O trabalho, que teve início em 2021, conta com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), está na fase final da análise dos dados, e tem previsão de término para setembro deste ano. "Os dados obtidos apresentam que os instrumentos são eficazes para rastrear aptidões musicais em crianças em grupos de estudantes em ambientes diversificados: indígenas, com deficiência, escola e programas específicos para talentosos e escolas públicas e privadas", esclarece a professora Rosemeire de Araújo Rangni, do DPsi/UFSCar, que supervisiona o estudo.
"O PSHM e seus instrumentos complementares são para rastreio inicial medindo o estado latente do fenômeno, ou seja, a aptidão musical (giftedness). O talento é algo mais complexo e abrangente, dependendo das oportunidades de prática e do contato com a área da Música para se desenvolver. Nesse sentido, constatou-se, que a aptidão musical (giftedness) pode ser observada em diferentes contextos sociais, culturais, faixas etárias, etnias, entre outros e em estágio inicial. Os instrumentos utilizados no PSHM mostraram convergência, inclusive quando comparados a outros procedimentos padronizados e validados. No entanto, é importante ressaltar que existem limitações e, por essa razão, destaca-se a necessidade de buscar a validação em outros contextos sociais e culturais mais ampliados", esclarece Fabiana Koga. Esse instrumento encontra-se nas versões Português, Inglês e Espanhol. "Com as devidas adaptações, nos três idiomas, o PSHM também se mostrou sensível para medir a aptidão musical em pessoas com deficiência", completa.
O PSHM foi desenvolvido pela própria pesquisadora durante o doutorado: "Esse instrumento foi patenteado pela Plataforma Profa. Fabi, que hospeda todos os materiais relacionados ao PSHM e, atualmente, está passando por reformulação e modernização de alguns de seus comandos para maior acessibilidade", afirma Koga.
Mais informações e publicações derivadas do trabalho de pós-doutoramento "Protocolo para Screening de Habilidades Musicais (PSHM): validação, padronização e normatização" estão disponíveis em https://orcid.org/0000-0002-