(Dom Luiz Carlos Dias)
O tema “fé e ciência” foi abordado no auditório da Cúria Diocesana de São Carlos, repleto de seleta plateia que acorreu ao local para prestigiar e ouvir com atenção o professor Vanderlei Bagnato, filho desta terra, o qual articula de modo harmônico essas duas realidades em seu labor científico, testemunhando que não há incompatibilidade entre elas.
Corrobora essa afirmação o fato de o professor Vanderlei integrar a Pontifícia Academia das Ciências do Vaticano. Ele foi escolhido para o cargo em 27 de setembro de 2012, quando recebeu uma comunicação que o surpreendeu e alegrou. Como relata, por ter confundido o envelope vindo do Vaticano com alguma propaganda, acabou sabendo de sua nomeação assistindo ao noticiário na televisão, em rede nacional. Até hoje se pergunta sobre o motivo dessa escolha e pelos meios que seu nome chegou à direção da Igreja Católica. Entretanto, as escolhas de Deus têm algo de insondável, mas sempre nos mergulham em seu amor infinito.
Com seu aceite, passou a integrar a academia mais antiga do gênero no mundo, criada em 1603, que já foi presidida por Carlos Chagas entre 1972 e 1988. A Pontifícia Academia das Ciências é composta por alguns dos mais renomados cientistas do mundo, pertencentes a diferentes credos, que nela encontram um ambiente de diálogo aberto, respeito e seriedade. Seus membros são exortados pela Igreja a desenvolver as ciências com a orientação fundamental de beneficiar a humanidade.
Segundo relato do professor Bagnato, atualmente a Academia é composta por cerca de 80 membros, dos quais apenas dois são católicos, e mais de 30 foram contemplados com o Prêmio Nobel, o que atesta sua relevância para o meio científico. Ele ressalta a importância da instituição para a reflexão e o debate de temas que se situam na fronteira entre fé e ciência. Foi a partir de contribuições dessa entidade que o Papa Francisco afirmou que as teorias do Big Bang e da evolução das espécies não são contrárias à fé cristã nem à Sagrada Escritura, encerrando oficialmente, no âmbito da Igreja, duas antigas polêmicas.
Assim, a Academia coopera para coibir obscurantismos e negacionismos que tendem a inquietar o espírito humano. A Igreja reconhece a ciência, quando direcionada ao bem comum, como uma grande fonte de esperança, e sua missão nesse âmbito de promover a harmonia entre o conhecimento científico e a vivência da espiritualidade cristã — como ensinam documentos pontifícios, entre eles a Fides et Ratio de São João Paulo II (1998), que afirma: “A fé e a razão são como duas asas com as quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade..
A integração entre fé e razão, entretanto, tem raízes profundas na tradição cristã. Santo Agostinho já afirmava: “Compreende para crer, crê para compreender”, enquanto Santo Tomás de Aquino defendia que “A graça não destrói a natureza, mas a aperfeiçoa”
Esses pensadores expressam bem a síntese entre razão e fé que inspirou o florescimento intelectual cristão e a preservação do saber nos mosteiros medievais, responsáveis por guardar e transmitir o conhecimento das eras antigas, evitando sua perda e garantindo o progresso do conhecimento no Ocidente.
A Igreja é chamada a integrar fé e razão porque é “especialista em humanidade”. Ela participa “das alegrias e esperanças, das tristezas e angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem”. Os Evangelhos testemunham Jesus Cristo encontrando pessoas e libertando-as de situações que atentam contra o projeto de vida em abundância desejado pelo Pai para todos (Cf. Jo 10,10). O caminho da evangelização é, portanto, o caminho da humanidade.
Encerro agradecendo ao professor Vanderlei Bagnato pelas inúmeras contribuições decorrentes de seu empenho sério e ético em suas pesquisas. Desejo-lhe ainda mais êxitos em seus projetos, todos com grande potencial para beneficiar o ser humano, e louvo seu testemunho de fé em uma área onde muitos descartam a presença de Deus e o cultivo da espiritualidade. Por sua trajetória, angariou o respeito da comunidade científica, o reconhecimento e a admiração da sociedade por suas posturas éticas, além de um imenso carinho de sua cidade e da Diocese de São Carlos.
Que Deus o abençoe em seus trabalhos e caminhos, sob a proteção de Nossa Senhora de Fátima.































