SÃO CARLOS/SP - Há vários anos, o mês de outubro tem sido marcado por ações visando a prevenção do câncer de mama, algo cada vez mais necessário diante da grande incidência da doença.
Dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer) revelam que no Brasil, o câncer de mama é o tipo de câncer mais incidente em mulheres de todas as regiões, após somente do câncer de pele não melanoma. As taxas são maiores nas regiões mais desenvolvidas, ou seja, no Sul e Sudeste. Até o final de 2022 estima-se que ocorrerão 66.280 novos casos da doença.
Diante desse cenário tão preocupante devemos sempre alertar sobre as formas de prevenção e tratamento, assim como todo o processo de recuperação, que é bastante abrangente.
O cirurgião plástico e membro titular da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), Dr. Daniel Sundfeld Spiga Real, explica detalhes sobre a reconstrução mamária, parte fundamental da recuperação dessas mulheres, que acabam tendo a autoestima bastante abalada com a doença. “Muitos trabalhos publicados em revistas especializadas demonstram uma relevante melhora na qualidade de vida das pacientes, com menor sofrimento na recuperação e retorno mais rápido para suas atividades de vida diária e laboral, bem como uma grande melhora em suas atividades sociais e de relacionamentos”.
Dr. Daniel Sundfeld destaca que esse procedimento é garantido pelo SUS (Sistema Único de Saúde), através da Lei nº 9.797/1999. Ela determina que o SUS ofereça o tratamento de reparação a pacientes submetidas a mutilações mamárias para o tratamento de neoplasia. Além disso, a Lei nº 12.802/2013 complementa a anterior, prevendo a possibilidade da reconstrução imediata ou em mais breve tempo possível. “Em São Carlos tivemos um aumento significativo no número de cirurgias de reconstrução mamária realizadas pelo SUS: No ano passado foram 13 procedimentos, enquanto que entre janeiro e setembro desse ano houve 19 cirurgias”, contabiliza.
O cirurgião plástico ainda ressalta os dois momentos em que o procedimento pode ser realizado: reconstrução imediata (no mesmo momento da cirurgia para ressecção da neoplasia e em conjunto com a equipe de mastologia), e reconstrução tardia (após o término dos demais tratamentos, ocorrendo na maioria dos casos, no período de 6 a 18 meses após o procedimento para ressecção da neoplasia).
“O processo de recuperação depende do procedimento realizado, podendo ser bem simples e sem muitas restrições ou mais doloroso e com maiores restrições. Isso ocorre porque a reconstrução mamária abrange um grande número de técnicas e possibilidades, que serão avaliadas em consulta pré-operatória”, conclui Dr. Daniel Sundfeld Spiga Real.
De acordo com a diretora da ONG ONCOVITA, Rosemoreno Alka, a reconstrução mamária é essencial para as mulheres que vencerem a doença, pois faz com que as mesmas recuperem a autoestima e falem do assunto com muito mais leveza. “É um processo muito lindo, pois as mulheres que passam pela cirurgia de reconstrução trazem orgulho no peito por sua história de superação. É uma comprovação da vitória sobre a doença”, finaliza.
A administradora Letícia Reimer descobriu que estava com câncer de mama em 2014, ano em que fez o tratamento e a primeira cirurgia de reconstrução. “Optei pela reconstrução imediata e passei por seis cirurgias até chegar ao resultado final. Esse processo foi de suma importância para minha recuperação, pois me fez sentir mulher de novo, mais feminina, completa novamente. É gigantesca a mudança externa de uma reconstrução mamária, mais ainda a mudança interna”.
Por fim, a administradora afirma que vê a reconstrução mamária como o recomeço após uma fase difícil e de muita luta, ou seja, a reafirmação de que essa trajetória foi vencedora e enriquecedora, que incluiu muita aprendizagem, resiliência, valores fortalecidos e autoconhecimento. “Através dessa experiência, eu pude me tornar uma mulher melhor e mais forte. Quanto à parte física, hoje me sinto mais bonita, já que trago no peito a marca de vitória. Sou uma mulher de peito, literalmente. Nada mais forte que uma mulher que se reconstruiu. Sou feita de cicatrizes e gratidão”, completa Letícia Reimer.