SÃO CARLOS/SP - Um recente estudo desenvolvido por pesquisadores do Grupo de Nanomedicina e Nanotoxicologia do Instituto de Física de São Carlos (GNano-IFSC/USP) permitiu que uma nova e inovadora abordagem e investigação fossem implementadas através da interação entre potenciais nanofármacos e membranas de células cancerígenas em tumores no fígado humano.
Com efeito, desde há um longo tempo que os pesquisadores do GNano estão desenvolvendo diversos tipos de nanomateriais e principalmente nanopartículas para aplicação médica, principalmente - e neste caso concreto - tendo como foco um entendimento pleno de como um nanofármaco consegue “conversar” com uma célula cancerígena, e possivelmente, eliminá-la.
Depois de cinco anos de estudos, a pesquisadora sênior do GNano, Drª Juliana Cancino Bernardi, e seus parceiros, com supervisão do coordenador do grupo, Prof. Valtencir Zucolotto, conseguiu observar que as membranas de determinadas células tumorais têm mais facilidade de captar nanopartículas, em comparação com células saudáveis. O estudo da interação de nanopartículas com células cancerígenas, desenvolvido por Juliana, tendo como foco o câncer de fígado, conseguiu obter uma visualização perfeita de todo o sistema, associada a outras técnicas já conhecidas.
“De fato, o que fizemos foi isolar a membrana de uma célula tumoral, extraindo todo o material genético dela e só aproveitamos a membrana. Posteriormente, observamos a interação dela com uma nanopartícula. Essa observação nos permitiu verificar que as nanopartículas têm mais interação com a membrana da célula tumoral do que a de células saudáveis. Extrapolando para uma aplicação oncológica, isto é, se essa nanopartícula tivesse sido desenhada como um nanofármaco terapêutico, teríamos como efeito a morte das células tumorais, com danos muito menores para as células saudáveis”, explica Juliana que complementa ter escolhido o fígado para sua pesquisa por ele se enquadrar no metabolismo de primeira passagem, onde o fármaco é degradado “Com o entendimento desta pesquisa abrem-se outras portas para o desenvolvimento de nanofármacos a base de membranas celulares para a terapia de vários tipos de doenças, especialmente o câncer”, complementa a pesquisadora do GNano.
Em um futuro próximo, Juliana acredita que o procedimento poderá ter uma eficiência terapêutica bastante relevante em termos científicos. “Para o futuro, podemos imaginar que o paciente será sujeito a uma biópsia (neste caso, no fígado), retirando-se um pequeno fragmento do tumor, procedendo-se, seguidamente, à coleta de células dessa amostra, retirando-se apenas a membrana e a revestindo com a nanopartícula com o fármaco. Finalmente, essa “falsa” célula é introduzida no paciente (uma das formas poderá ser por injeção), sendo imediatamente absorvida pelas células doentes presentes no tumor, onde exercerão sua ação terapêutica sem afetar as células saudáveis”, conclui a pesquisadora. “Será uma medicina personalizada”.
Para o coordenador do GNano, Prof. Valtencir Zucolotto “Esta pesquisa ilustra perfeitamente a expertise do grupo GNano, que atua em temas na interface entre Nanotecnologia e Medicina, manipulando nanopartículas para diagnóstico e terapia. O estudo aqui reportado, em particular, pode ser muito útil para o Design de Nanofármacos, uma área de pesquisa relativamente recente e de grande relevância".
Este estudo foi publicado na revista “Materials Today Communications” com autoria de Juliana Cancino Bernardi, P.M.P Lins, V.S Marangoni, H.A.M Faria e Valtencir Zucolotto.
*Por: Rui Sintra - Jornalista - IFSC/USP