RÚSSIA - O governo da Venezuela afirmou que o Brasil vetou o ingresso do país caribenho no bloco do Brics e disse que o ato foi uma agressão. O Itamaraty, no entanto, sustenta que o grupo apenas definiu os critérios e princípios para novas adesões. Durante esta semana, foi definido em Kazan, na Rússia, os países que poderiam fazer parte do grupo como membro associado, mas a Venezuela ficou de fora.
“O povo venezuelano sente indignação e vergonha por esta agressão inexplicável e imoral da diplomacia brasileira (Itamaraty), mantendo o pior das políticas de Jair Bolsonaro contra a Revolução Bolivariana fundada pelo comandante Hugo Chávez”, afirmou, em nota, o ministério das Relações Exteriores venezuelano.
Após consenso entre os dez países membros do Brics, a Rússia ficou de convidar 13 países para participarem da organização na modalidade de membros associados. Na América Latina, Cuba e Bolívia foram as nações selecionadas. Nigéria, Turquia, Malásia e Indonésia também foram citadas como atendendo aos critérios definidos.
O Brasil tem se afastado diplomaticamente da Venezuela depois da eleição de 28 de julho deste ano que resultou na reeleição do presidente Nicolás Maduro. A eleição foi contestada pela oposição, por organismos internacionais e países, entre eles, o Brasil, pelo fato de os dados eleitorais por mesa de votação não terem sido apresentados.
Maduro tem interesse em ingressar no Brics e participou da 16ª cúpula realizada nesta semana na Rússia, tendo se reunido com o presidente Vladmir Putin. Ao ser questionado em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (24), Putin disse que respeita a posição do Brasil em relação à eleição venezuelana, apesar de não concordar.
“Espero sinceramente que o Brasil e a Venezuela resolvam as suas relações bilaterais durante a discussão bilateral. Conheço o presidente Lula como uma pessoa muito decente e honesta e tenho certeza de que ele abordará esta situação de uma posição objetiva. E pediu-me que transmitisse algumas palavras ao presidente da Venezuela durante a nossa conversa telefônica. Espero que a situação melhore”, disse Putin, acrescentando que a inclusão de novos países só ocorre por consenso dos membros plenos do grupo.
O Itamaraty explicou que não defende a inclusão de um ou de outro país, mas que defendeu a criação de critérios e princípios que norteiam a escolha dos novos membros do Brics. Segundo o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores (MRE), embaixador Eduardo Paes Saboia, entre os critérios estão a defesa da reforma da ONU, a não aceitação de sanções econômicas unilaterais, além de se ter relações amigáveis com todos os países membros.
A coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC do Rio de Janeiro, professora Maria Elena Rodríguez, avaliou que a posição do Brasil foi coerente uma vez que as relações entre os dois países não estão amigáveis neste momento.
“Não temos relação amigável com a Venezuela neste momento. Não temos uma relação amigável com a Nicarágua, que é outro país que havia manifestado interesse em entrar no Brics. Esse é um ponto fundamental. Você não pode ter no bloco dois países com os quais você não tem uma boa relação”, avaliou.
Em agosto deste ano, Brasil e Nicarágua expulsaram os respectivos embaixadores após desentendimentos relacionados a atritos entre os governos. A pedido do Papa Francisco, o Brasil vinha tentando intermediar junto à Nicarágua a libertação de um bispo preso no país, o que não teria agradado o governo de Daniel Ortega.
AGÊNCIA BRASIL
CHINA - A entrada do Egito no BRICS na recente expansão do grupo e a negociação junto aos governos do Catar e de Israel para a retirada de palestinos da Faixa de Gaza, através da passagem de Rafah, colocaram o país em evidência nos últimos meses.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da agência russa de notícias Sputnik Brasil, especialistas analisam quais os principais ativos da economia do Egito, como o país pode contribuir para o BRICS e como pode ser beneficiado pelo grupo.
Cooperações
Para Muna Omran, doutora em teoria e história literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora convidada na especialização de história do Oriente na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), com a adesão ao BRICS, o Egito busca novos parceiros que possibilitem reduzir a dependência do Ocidente, não apenas em acordos firmados dentro do grupo, mas também com cooperações bilaterais com seus integrantes. Nesse contexto, ela afirma que a China desponta como uma das favoritas.
— O Egito comprava muita coisa da Rússia, principalmente na parte da agricultura, embora a agricultura no Egito seja também bem desenvolvida, faz parte da economia do país, mas não supre toda a população. São mais de 100 milhões de habitantes. Com a guerra na Ucrânia, a crise econômica no país aumentou — resumiu Omran.
Por Redação, com Sputnik
por CdB
JOANESBURGO - A 15ª Cúpula do Brics, grupo de países emergentes, decidiu nesta quinta-feira (24) aumentar o número de integrantes do bloco. Seis novos parceiros ingressam como membros plenos: Argentina, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Etiópia.
A decisão, que fortalece o bloco de países em desenvolvimento em detrimento a outros fóruns dominados pelos ocidentais, foi tomada ao final de três dias de reuniões em Joanesburgo. O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou a ampliação para os novos membros. “Vamos continuar trabalhando por um mundo mais justo, inclusivo e prospero”, afirmou, ao explicar que o processo para outras associações no futuro vai continuar. Até o momento, 22 países estão interessados no ingresso.
Em seu breve discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu boas-vindas aos seis integrantes, que entrarão oficialmente no Brics em 1º de janeiro de 2024. “Nossa diversidade fortalece a luta por uma nova ordem, que acomoda a pluralidade econômica, geográfica e política do século 21”, avaliou. “Agora, o PIB dos Brics eleva-se para 36% do PIB global, em paridade de poder de compra, e para 46% da população mundial”, ressaltou.
Moedas nacionais
Os líderes também concordaram com a criação de um comitê de trabalho para fazer evoluir a proposta da adoção das moedas nacionais dos cinco países fundadores nas transações comerciais entre eles, com vistas a dispensar o dólar. O assunto deve voltar a ser tratado na próxima cúpula do grupo, em 2024, na Rússia.
Lúcia Müzell, enviada especial da RFI
JOANESBURGO - O grupo BRICS de países emergentes - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — reúne-se para a sua cimeira anual a partir de 22 de agosto em Joanesburgo.
A cimeira deste ano ganhou proeminência devido às expectativas de que o grupo possa vir a acrescentar novos membros, uma vez que a China e a Rússia procuram aumentar a sua influência política, face às tensões com os EUA e os seus aliados.
Como surgiu o BRICS?
O acrónimo BRIC foi criado em 2001 pelo economista Jim O'Neill, do banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, para agrupar quatro das maiores economias e de crescimento mais rápido na altura. O'Neill sublinhou que as quatro economias - Brasil, Rússia, Índia e China - poderiam tornar-se coletivamente uma força económica global na próxima década.
Os investidores seguiram a deixa e os decisores políticos desses países também. Independentemente das suas diferenças políticas e sociais, os países em desenvolvimento sentiram-se unidos por uma vontade comum de reestruturar os sistemas político, económico e financeiro mundiais liderados pelos EUA, de modo a torná-los "justos, equilibrados e representativos".
Os líderes dos BRIC realizaram a sua primeira reunião anual em 2009, em Ekaterinburgo, na Rússia. Um ano mais tarde, convidaram a África do Sul a juntar-se ao clube político e foi acrescentado um "S" ao acrónimo BRIC.
Qual a sua importância?
Os membros dos BRICS representam mais de 42% da população mundial e são responsáveis por quase um quarto do produto interno bruto global e 18% do comércio.
O grupo é saudado por alguns como um contrapeso aos fóruns e instituições económicas e políticas ocidentais, como o G7 e o Banco Mundial. Acreditam que o bloco poderia utilizar a sua influência política e o seu peso económico para promover as tão necessárias reformas em instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, de forma a representar as realidades de um mundo mais multipolar.
O que é que os BRICS conseguiram até agora?
Os BRICS têm-se esforçado por estar à altura do seu potencial para oferecer uma alternativa aos sistemas financeiros e políticos tradicionais.
Entre as suas realizações notáveis conta-se a criação do Novo Banco de Desenvolvimento ou Banco BRICS, um banco multilateral de desenvolvimento com 50 mil milhões de dólares (45,6 mil milhões de euros) de capital subscrito para financiar infra-estruturas e projectos relacionados com o clima nos países em desenvolvimento. O banco, que inclui membros dos BRICS, bem como o Bangladesh, o Egipto e os Emirados Árabes Unidos entre os seus accionistas, aprovou até agora mais de 30 mil milhões de dólares em empréstimos desde a sua criação em 2015. Em comparação, o Banco Mundial autorizou mais de 100 mil milhões de dólares só em 2022.
Os BRICS também criaram um Acordo de Reserva de Contingência de 100 mil milhões de dólares, uma facilidade de liquidez em moeda estrangeira que os membros podem utilizar durante a turbulência financeira global.
Diz-se que o bloco está a pressionar para a criação de uma moeda comum, numa tentativa de desafiar o domínio do dólar. Não se espera que uma moeda do BRICS se concretize tão cedo. Por conseguinte, o bloco está atualmente a concentrar-se em aprofundar a utilização de moedas locais no comércio entre os membros.
"Para além da criação do Banco dos BRICS... é difícil ver o que o grupo fez para além de se reunir anualmente", opinou Jim O'Neill num artigo de 2021.
O sucesso limitado do agrupamento pode ser explicado pelos interesses muitas vezes divergentes e concorrentes dos seus membros, especialmente os da China e da Índia, que partilham uma fronteira disputada e viram os laços deteriorarem-se nos últimos anos.
Como se têm comportado o comércio e os investimentos entre os membros dos BRICS?
Os BRICS viram a sua influência económica aumentar nas últimas duas décadas, graças, em grande parte, aos anos de crescimento vertiginoso da China, a segunda maior economia do mundo em termos de PIB, e à ascensão da Índia, que emergiu como a quinta maior economia e é atualmente a grande economia com o crescimento mais rápido.
As economias da Rússia e do Brasil não conseguiram manter a sua dinâmica e voltaram ao ponto em que se encontravam em 2001 em termos da sua quota do PIB mundial. A economia sul-africana também tem tido dificuldade em mudar de velocidade desde que aderiu aos BRICS.
Embora os BRICS sejam agora uma força importante no comércio internacional, o comércio entre os seus membros tem-se mantido relativamente baixo na ausência de qualquer acordo de comércio livre a nível do bloco.
No que diz respeito aos investimentos, o bloco viu os fluxos anuais de investimento direto estrangeiro mais do que quadruplicarem de 2001 a 2021. O investimento intra-BRICS, no entanto, permanece moderado, representando uma quota de menos de 5% do seu stock combinado de IDE em 2020.
Porque é que outros países estão interessados em aderir aos BRICS?
A expansão dos BRICS é um dos principais tópicos da cimeira anual na África do Sul. Vinte e três países candidataram-se formalmente a membros a tempo inteiro dos BRICS, incluindo a Arábia Saudita, o Irão, os Emirados Árabes Unidos, a Argentina, a Indonésia, o Egipto e a Etiópia.
A China tem insistido na expansão dos BRICS para aumentar a sua influência política no meio da crescente rivalidade com os EUA. Para a Rússia, trata-se de procurar novos aliados numa altura em que está sujeita a sanções ocidentais devido à sua guerra na Ucrânia. O Brasil e a Índia há muito que se opõem à rápida expansão do bloco, com Nova Deli a desconfiar da crescente influência chinesa no clube.
Embora o BRICS tenha tido dificuldades em atingir o seu potencial económico, está a projetar-se como uma alternativa geopolítica a uma ordem mundial liderada pelos EUA, posicionando-se como representante do Sul Global. Os novos membros estão ansiosos por capitalizar a influência e o peso económico dos BRICS.
DW (Deutsche Welle)
MUNDO - A Rússia informou, nessa última quarta-feira (27), que decidiu adiar a cúpula dos países do Brics (bloco formado pelo Brasil, a Rússia, Índia, China e África do Sul). A reunião estava marcada para julho, em São Petersburgo, mas teve de ser adiada em razão da pandemia do novo coronavírus.
A reunião dos chefes do Conselho de Estado da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) também foi adiada. Os eventos seriam realizados em São Petersburgo, de 21 a 23 de julho.
"As novas datas para as cúpulas serão determinadas dependendo do desenvolvimento da situação epidemiológica nos países do grupo e em todo o mundo", afirmou o comitê organizador em comunicado.
*Por Vladimir Soldatkin- Repórter da Reuters
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