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SANTIAGO, CHILE - Os chilenos rejeitaram pela segunda vez a proposta de uma nova Constituição e frearam o avanço da ultradireita no país: com 99% das urnas apuradas, 56% da população havia votado contra e 44%, a favor do texto consolidado por essa força política nos últimos meses, em referendo realizado no domingo (17).

Depois de quatro anos de discussão, a população finalmente enterrou a possibilidade de revisar a Carta Magna liberal herdada do regime do ditador Augusto Pinochet, escrita em 1980. Simbolicamente, o resultado também é uma espécie de vitória às avessas do presidente de esquerda, Gabriel Boric.

Ele foi eleito em 2021 após ter pressionado seu antecessor de direita, Sebastián Piñera, a dar início ao processo constitucional. Depois, porém, viu uma primeira versão considerada bastante progressista do texto ser rejeitada em 2022. Agora, ganhou um respiro com a recusa da população à segunda versão mais conservadora.

Boric celebrou a rejeição ao texto e afirmou que seus opositores "fizeram uma campanha de medo" e tentaram colar as eleições ao seu governo. Ele mencionou união e trabalho a partir de agora, defendendo que "o fim do processo deve gerar um clima para melhor entendimento".

"O resultado significa uma derrota dos republicanos [grupo do ex-presidenciável José Antonio Kast], coloca a direita tradicional em primeiro plano e fortalece a candidatura presidencial de Evelyn Mathei para 2025", diz o cientista político Gabriel Gaspar, ex-embaixador e ex-subsecretário de Defesa de Boric.

Ele se refere à popular subprefeita de Providência, região de classe média alta na capital Santiago. O governo, avalia, "conseguiu um alívio parcial, mas ainda não está claro se poderá recuperar a agenda nacional". "Se a proposta da direita tivesse triunfado, Boric teria ficado enfraquecido pelo resto de seu mandato", afirma.

Nos colégios eleitorais, durante o dia, o clima era de que a Constituição atual é "a menos pior". "Prefiro ficar com a Constituição ruim de Pinochet do que com a pior de Kast", dizia a designer Antonieta Fuentes, 34, do lado de fora do Estádio Nacional de Santiago, lugar simbólico por ter sido usado como centro de detenção e tortura durante a ditadura.

O aborto foi um dos temas que dividiu a população. "Nos custou muito conseguir avançar em liberar o aborto [em casos de estupro, má-formação do bebê e risco para a mãe]", argumentava ela. "Seria um grande retrocesso para os direitos das mulheres", corroborava a cineasta Carolina Ronda, 46.

O novo texto abria brecha para dificultar o procedimento ao adicionar um conceito chamado "objeção de consciência" —o direito de uma pessoa a negar práticas profissionais que sejam contrárias às suas convicções.

Ao votar neste domingo, o presidente Gabriel Boric disse que, "independentemente do resultado, o governo vai seguir trabalhando com as prioridades das pessoas", citando as áreas da segurança, saúde e habitação.

"Hoje, como já foi reiterado nos últimos anos, estamos levando adiante uma votação que mostra que os problemas que temos, resolvemos institucionalmente e por vias pacíficas, confiando no nosso povo. Isso é algo que não devemos minimizar, porque nem todos os lugares são assim", discursou.

A população sai do longo processo constitucional em clima de cansaço, pelo qual a oposição culpou a esquerda.

"Os chilenos estão cansados do tema constitucional, aberto há quatro anos pela esquerda [...] Que a política agora se ocupe dos assuntos realmente importantes", declarou Javier Macaya, presidente do partido UDI (União Democrata Independente), representante da direita tradicional.

Depois de uma década de estabilidade, o país vive uma retração econômica, com alta da inflação, da pobreza, da informalidade e dos crimes. Também passa por uma crise migratória, com a chegada de venezuelanos e peruanos, o que tem impulsionado os discursos linha-dura.

Esses temas também foram usados pelos defensores de uma mudança no texto, embora ele não tratasse diretamente do assunto.

Após os resultados, Kast admitiu que os republicanos não foram capazes de convencer a população, mas discursou que, se "não podemos celebrar, tampouco a esquerda pode". Disse que a votação demonstra que os "chilenos não querem mais discursos, querem mudanças" e que agora se encerra uma "etapa crítica da história".

Ele se refere ao final de 2019, quando surgiu a demanda por uma nova Carta Magna após o que ficou conhecido como "estallido social": protestos em massa que tiveram como gatilho o aumento do valor da passagem de metrô. Algo parecido com os atos de junho de 2013 no Brasil, só que mais extenso e violento.

Um ano depois, 78% da população apontou em plebiscito voluntário que queria um novo texto. Boric assumiu a Presidência prometendo a mudança, mas viu o projeto fracassar. A primeira redação, com quase 400 artigos e conduzida por uma Assembleia Constituinte composta por 154 pessoas, em sua maioria cidadãos comuns, também foi rejeitada por 62% da população.

 

 

FOLHAPRESS

SANTIAGO - O Brasil ultrapassou a marca de 200 medalhas na atual edição dos Jogos Parapan-Americanos, que estão sendo disputados em Santiago (Chile). Com as 46 conquistas (25 de ouro, 10 de prata e 11 de bronze) alcançadas na quarta-feira (22) a equipe brasileira chegou ao total de 201 (92 de ouro, 55 de prata e 54 de bronze).

Com isso, o Brasil segue na ponta do quadro de medalhas do megaevento esportivo, sendo seguido por Estados Unidos, que têm 88 medalhas (29 ouros, 30 pratas e 29 bronzes), e Colômbia, com 92 pódios (26 ouros, 38 pratas e 28 bronzes).

 

Conquistas no atletismo

Uma das modalidades que mais colaborou para a jornada incrível da equipe brasileira foi o atletismo, com o total de 13 medalhas (quatro ouros, cinco pratas e quatro bronzes).

Uma das medalhas douradas veio com o bicampeão paralímpico e tricampeão mundial Alessandro da Silva, na prova do lançamento de disco masculino F11 (atletas cegos) com a marca de 44,95 metros. O paulista de 39 anos fez a sua estreia na atual edição do Parapan-Americano, pois ainda disputa a prova do arremesso de peso: “Vim para fazer o meu melhor e foi com a medalha. Agora é ir em busca do tricampeonato no arremesso de peso nos Jogos Parapan-Americanos e, no ano que vem, em busca do tetra [mundial] no lançamento de disco”.

No salto em distância das classes T11 e T12 (cegos e baixa visão), o Brasil garantiu uma dobradinha com a paranaense Lorena Spoladore (ouro) e a carioca Alice de Oliveira (prata). Outra dobradinha foi alcançada com o carioca Wallace Santos (ouro) e o pernambucano Sandro Varelo (bronze) no arremesso de peso da classe F55 (atletas que competem sentados). O terceiro pódio duplo foi conquistado no lançamento de dardo da classe F54 (cadeirantes), com a mineira Poliana de Sousa (prata) e a paulista Beth Gomes (bronze).

Já o paulista Caio Vinicius Pereira conquistou a medalha de ouro no arremesso de peso da classe F12 (baixa visão). Com a marca de 14,50 metros ele também quebrou o recorde parapan-americano da prova.

O Brasil também garantiu medalhas de prata com a paraense Fernanda Yara, nos 400 metros da classe T47 (deficiência em membros superiores), com o capixaba Marcos Vinícius de Oliveira, nos 400 metros da classe T12 (baixa visão), e com a baiana Samira Brito, nos 200 metros da classe T36 (paralisia cerebral).

Por fim, o rondoniense Cristian Ribera ficou com o bronze nos 800 metros da classe T53/54 (cadeirantes), enquanto a carioca Julyana Silva ficou na terceira posição no lançamento de disco da classe F57 (atletas que competem sentados).

 

Ouros na bocha

No primeiro dia de disputas de medalhas na bocha, o Brasil conquistou cinco: quatro de ouro e uma de bronze. A pernambucana Andreza Vitória venceu na categoria BC1 (que tem opção de auxiliar), enquanto o cearense Maciel Santos foi o melhor na BC2 (que não têm auxílio). Na categoria BC3 (atletas que contam com auxílio de calheiro), Mateus Carvalho venceu no masculino e Evelyn de Oliveira foi ouro no feminino. Já o paulista José Carlos Chagas levou a medalha de bronze na classe BC1 ao vencer, de virada, Omar Hayward, de Bermudas, por 4 a 3.

 

 

Por Agência Brasil

CHILE - A delegação paralímpica brasileira ultrapassou a marca das 100 medalhas - 55 delas de ouro - na segunda-feira (20), terceiro dia do Parapan de Santiago (Chile).  Até o fim da tarde foram cinco ouros na nataçâo, o primeiro deles com o bicampeão mundial Gabriel Araújo, também conhecido como Gabrielzinho, nos 100 metros costas da classe S2 (comprometimento físico-motor). Além do topo do pódio com o tempo de 2min00s02, o brasileiro de 21 anos superou o recorde parapan-americano, obtido na última edição do Parapan, em Lima (2019), pelo chileno Alberto Abarza (2min05s12). Na prova de hoje, Abarza também competiu e chegou em segundo lugar (2min06s98), seguido do peruano peruano Rodrigo Santillan em terceiro (2min18s48).

“Foi uma prova muito boa, fiz uma passagem boa, a volta pesei um pouquinho, mas deu para sustentar. Fiz o tempo que eu queria, estou muito feliz. Eu gosto muito de sentir essa pressão, desse caldeirão aqui, porque ele [o chileno] tá em casa, então eu estou totalmente desfavorável, mas minha torcida está ali representando com certeza. Estou muito feliz e, agora, sim começou a bagunça, começou a brincadeira. Gabrielzinho está no Parapan”, disse Gabriel Araújo, 21, que tem focomelia (doença congênita que impede a formação normal de braços e pernas).

O Brasil também sobrou na piscina com Gabriel Bandeira, ouro nos 100m peito da classe B14 (deficiência intelectual) e Gabriel Cristiano, bicampeão nos 100m borboleta da classe S8 (limitações físico-motoras).

Na competição feminina, Esthephany também faturou a medalha dourada na prova dos 50m borboleta da classe S5 (comprometimento físico-motor). No final da tarde, teve dobradinha brasileira na prova dos 100m borboleta classe S9 (comprometimento físico-motor) com ouro de Vitória Silva (1min17s56), seguida por Cecília Jerônimo (1min20s44) que ficou com a prata.

 

Judô

O Brasil fez dobradinha de ouro e prata na final 100% nacional na categoria 90kg. Marcelo Casanova ganhou a luta com um waza-ari no compatriota Arthur Cavalcante. Na disputa feminina, Brenda Freitas também faturou ouro na categoria até 70 kg.

Coube à judoca Rebeca de Souza fatura a 100ª medalha do Brasil no Parapan de Santiago. Ela foi bronze na categoria acima dos 70kg.  Quem também subiu ao pódio hoje foi Meg Emmerich que ficou com a prata, após ser superada na final dos 70 kg pela cubana Sheila Hernández.

 

Halterofilismo

Após uma prova emocionante, com três tentativa, Evânio da Silva conquistou o ouro na categoria acima dos 88Kg ao conseguir levantar 197kg. Na prova feminina, teve dobradinha brasileira na categoria acima dos 68kg, com Tayana Medeiros (104.40kg) e Edilandia Araújo (100.70kg).

 

Tiro Esportivo

A modalidade conquistou um ouro com Marcelo Marton na prova de 10m classe R1/R2 carabina de ar, e um bronze com Geraldo Von Rosentahl na prova de 50m da P4 pistola SH1.

 

 

Por Agência Brasil

 

ARGENTINA - A Argentina anunciou que irá garantir a exportação de gás natural para o Chile até 2024, em um marco da consolidação de seu programa de integração energética com o país vizinho,

Além de garantir as exportações, as vendas de gás natural serão de até 5 milhões de metros cúbicos diários durante o inverno do próximo ano e de nove milhões de metros cúbicos entre outubro e dezembro, indicou comunicado.

O governo da Argentina indicou que “anualiza o seu fornecimento de gás exportável com antecedência suficiente para que os compradores chilenos possam otimizar a tomada de decisões”. Segundo dados oficiais, entre janeiro e julho a Argentina exportou gás natural para o Chile por pouco mais de US$ 556 milhões, com um crescimento de 86,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A Argentina busca fortalecer seu papel como fornecedor de energia por meio da produção de hidrocarbonetos não convencionais no campo de Vaca Muerta, localizado no sul do país sul-americano e um dos mais importantes do mundo.

 

Fonte: Associated Press.

 

ISTOÉ DINHEIRO

CHILE - A economia chilena cresceu 1,8% em julho em comparação com o mesmo mês de 2022 e registrou seu primeiro aumento em cinco meses, impulsionado pelo setor de serviços, informou o Banco Central.

O Índice Mensal de Atividade Econômica (Imacec) de julho, indicador que antecipa o cálculo posterior do Produto Interno Bruto (PIB), registrou expansão dessazonalizada de 0,3% em relação ao mês de junho.

“A variação anual do Imacec foi explicada pelos serviços, especialmente educação e, em menor proporção, pela produção de bens. Enquanto isso, o crescimento do Imacec dessazonalizado foi determinado pelo desempenho da maioria dos seus componentes”, explicou o BC em comunicado.

Em julho, a produção de bens cresceu 3% em termos homólogos. A atividade comercial apresentou uma redução de 2,5%, enquanto os serviços aumentaram 3,9%.

A variação do Imacec para julho ficou acima das projeções de mercado.

 

 

AFP

CHILE - O banco central do Chile vê a trajetória de política monetária praticamente inalterada, mesmo diante da depreciação do peso e do possível impacto inflacionário de enchentes devastadoras, disse em entrevista o vice-presidente da instituição.

A flexibilização monetária no Chile, combinada com dúvidas sobre a China — importante compradora das commodities do país — e a postura rígida do Federal Reserve pesaram sobre a moeda, disse Paulo Garcia em Jackson Hole, onde autoridades de BCs mundiais se reuniram para um simpósio do Fed.

Mesmo assim, nenhum desenvolvimento foi suficientemente grande para alterar o plano de reduzir os juros para 7,75% a 8% até o final do ano, dos atuais 10,25%, disse ele.

“Até agora, as notícias que tivemos, tanto no cenário internacional quanto dados domésticos, inflação, oscilações da taxa de câmbio, não parecem pintar um quadro dramaticamente diferente do que tínhamos em mente quando iniciamos os cortes em julho”, disse Garcia, de 53 anos. A próxima decisão de juros do país será em 5 de setembro.

O Chile liderou o início da flexibilização monetária na América Latina em um momento em que outros BCs como o Fed e Banco Central Europeu ainda avaliam mais aperto.

O BC chileno reduziu a taxa básica em 1 ponto percentual em julho, e o mercado precifica pelo menos mais 5 pontos percentuais de cortes adicionais em um ano. Mas alguns analistas alertam que ventos contrários como um peso fraco podem dificultar o abrandamento da inflação para a meta de 3%.

O peso se desvalorizou mais de 8% entre o início de julho e a semana passada, antes de reduzir as perdas quando o ministério das Finanças do país disse que iria aumentar as vendas de dólares.

Uma moeda mais fraca alimenta a pressão inflacionária ao tornar as importações mais caras, e o Chile é bastante vulnerável a isso, já que compra bens cruciais, como todo o seu combustível, no mercado externo.

Semana passada, fortes chuvas causaram enchentes em áreas do Chile conhecidas pela produção de frutas e verduras. O governo do presidente Gabriel Boric declarou estado de catástrofe depois que as chuvas inundaram lavouras e destruíram infraestrutura.

Garcia disse que qualquer pressão inflacionária relacionada às enchentes provavelmente será transitória.

As chuvas “podem ter um impacto sobre a inflação no curto prazo, mas é improvável que tenham um impacto mais persistente no processo de desinflação que possa implicar uma mudança na estratégia de política monetária”, disse.

A inflação anual do Chile diminuiu drasticamente desde um pico superior a 14% em 2022, atingindo 6,5% em julho. O núcleo da inflação desacelerou de forma mais gradual, para 8,5%.

 

 

©2023 Bloomberg L.P.

CHILE - O caso chileno é singular: o país pôs fim a uma ditadura de 17 anos por meio de um plebiscito. Augusto Pinochet deixou o poder em 1990, mas manteve um lugar-chave na vida política. Não apenas como comandante em chefe do exército e senador, mas como figura e símbolo para setores da direita.

Cinquenta anos após o golpe, e apesar das violações de direitos humanos que deixaram mais de 3 mil mortos e desaparecidos, Pinochet ainda goza de razoável aprovação no Chile: 36% consideram seu golpe militar legítimo, de acordo com uma pesquisa feita pelo CERC-Mori. Apenas em julho deste ano, em uma sessão tensa e com placar de votação apertado, a Câmara dos Deputados aprovou uma moção para que Pinochet não figure mais nos registros da Biblioteca do Congresso como "presidente".

Guardadas as devidas diferenças, esse cenário contrasta com a situação na Alemanha pós-nazista ou a de algumas ditaduras latino-americanas onde houve maior consenso na rejeição de ditadores, como na Argentina. Mas a história chilena tem paralelos com a brasileira, onde o fim da ditadura também foi parcialmente conduzido pelos militares e sem a responsabilização dos ditadores.

Especialistas consultados pela DW identificam vários fatores que constituíram esse panorama no Chile.

"Na Alemanha ou em outras ditaduras que foram derrotadas militarmente, como na Itália e no Japão, é mais difícil que ressurja um setor da população que a reivindique", diz o historiador Manuel Gárate. "Na Alemanha, embora ainda houvesse partidários do nazismo, com o passar do tempo houve uma desnazificação e a sociedade fez uma mudança em direção à democracia e à valorização dos direitos humanos", diz o acadêmico do Instituto de História da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Chile.

Na opinião do cientista político Veit Straßner, "ao contrário da Argentina, onde a ditadura deixou o poder em meio a uma derrota moral, política e econômica, a transição no Chile foi liderada pelos militares com suas próprias regras e eles seguiram nas esferas de poder. Eles deixaram o poder sem perdê-lo."

Straßner também observa que "a ditadura chilena foi bem-sucedida em mudar as regras do jogo, e a Constituição de 1980 ainda está em vigor. Os militares impuseram uma visão neoliberal e mudaram o país política e economicamente. Eles falharam na distribuição de riqueza, mas em termos macroeconômicos foram mais bem-sucedidos do que em ditaduras de outros países".

"Na Argentina, a ditadura perdeu uma guerra com a Inglaterra e ficou desacreditada. No Chile, a única coisa que aconteceu foi que ela perdeu um plebiscito, e por uma margem que não era tão alta. Nos últimos 30 anos, quando a questão dos direitos humanos, as contas do Banco Riggs e o enriquecimento ilícito de Pinochet se tornaram conhecidos, ele perdeu força na arena pública, mas muitas pessoas continuaram a apoiá-lo em silêncio", diz Gárate.

 

Pinochet morreu sem enfrentar a Justiça

Pinochet perdeu o plebiscito de 1988, mas não foi deslegitimado. Quase metade da população (44%) era a favor de que ele permanecesse no poder por mais oito anos. "Não me surpreende que essa polarização continue até hoje. As famílias transmitem certas narrativas do que aconteceu durante o governo de Allende e o regime militar, que são visões opostas, nas quais não há muito espaço para nuances", diz Straßner, que fez doutorado em políticas de verdade, justiça e memória.

A socióloga chilena Oriana Bernasconi aponta para a questão judicial: "Apesar de haver mais de 400 julgamentos de figuras de seu entorno, que somam mais de mil anos de sentenças, Pinochet morreu sem enfrentar a Justiça no Chile."

Na opinião da professora do Departamento de Sociologia e pesquisadora do Centro de Direitos Humanos da Universidade Alberto Hurtado (UAH), "a sociedade também não teve essa instância e o espaço pedagógico para educar as novas gerações, como o Julgamento das Juntas na Argentina. Pinochet não enfrentou os relatos dos crimes nem sua responsabilidade [colocada] por uma sentença. Isso afeta a maneira como processamos sua figura. Se isso tivesse acontecido, seria muito mais difícil que ainda houvesse vozes que o aprovassem".

 

Relativização em tempos de crise

O fenômeno é cíclico e também se insere no atual ressurgimento da extrema direita em todo o mundo. Diante de uma crise, como o aumento da criminalidade ou os protestos de massa de 2019 – que ficaram conhecidos como estallido social –, a figura do ditador, que morreu há quase 17 anos, reaparece.

"Muitos disseram que com Pinochet isso não teria acontecido. Em situações de crise, o que aconteceu durante o regime militar é reinterpretado, e grande parte da sociedade chilena está disposta, pelo menos, a relativizar as violações dos direitos humanos", alerta Straßner. Ganha força o discurso de que essas violações são o custo pago para ter progresso, ou que as vítimas merecem porque "devem ter feito alguma coisa".

"Busca-se uma figura do passado para marcar uma posição política no presente. As vozes que estavam silentes ganham força e hoje sentem que têm uma justificativa para dizer que Pinochet foi uma figura importante no Estado chileno, ou mesmo um estadista", diz Gárate.

Soma-se a isso a memória construída pela ditadura, que persiste até hoje, diz Bernasconi: "Foram 17 longos anos em que Pinochet teve todos os aparatos do Estado cooptados para reproduzir incansavelmente sua propaganda, incluindo montagens, discurso golpista e a ideia da guerra contra o câncer marxista".

 

O mito Pinochet

"Pinochet em si, como pessoa, não é tão importante, mas sim como um símbolo. Sua figura é simplesmente uma imaginação nostálgica, que para um setor representa a ordem ou a luta contra o crime", diz Gárate.

"Tem algo simbólico que vai além da pessoa. Representa diferentes visões da economia e da construção de uma sociedade", concorda Straßner. "Para alguns, ele representa estabilidade econômica e tempos melhores, embora hoje saibamos que os melhores números de crescimento econômico foram nos primeiros anos da transição democrática, quando a Concertación estava no poder", diz Gárate.

A história também desmistificou a lenda de que ele é o único ditador que deixou o poder democraticamente e que, além disso, não enriqueceu. "Esses dois mitos caíram por terra: sabemos que em alguns momentos ele não quis reconhecer a vitória do NÃO [no plebiscito] e que ele e sua família enriqueceram ilicitamente", diz o historiador da PUC.

A imagem de Pinochet é incômoda e "está contaminada pela traição a Allende, pela forma como se deu o golpe de Estado, pelas violações dos direitos humanos, pelo exílio, pelos presos desaparecidos e pelo enriquecimento ilícito. Para um setor da sociedade, Pinochet significa 'ele nos salvou do comunismo' e 'ele restaurou a ordem', mas consideram sua biografia muito difícil de defender", diz Gárate.

A direita, que colaborou com a ditadura e se beneficiou dela, "continua hesitante em relação a Pinochet e não construiu uma narrativa", além de resgatar as supostas "partes boas" daquele período, afirma a socióloga da UAH.

"Há um grupo de civis que, em vez de serem leais a Pinochet, são leais às realizações do regime, e por isso estão interessados em preservar a Constituição e a ideia do modelo econômico", diz Gárate. Nesse contexto, quando ainda existem aqueles que justificam o golpe e as violações dos direitos humanos como um custo aceitável, uma condenação pública unânime de Pinochet ainda parece muito distante.

 

 

Autor: Victoria Dannemann / dw.com

CHILE - A contundente vitória do Partido Republicano na eleição do conselho encarregado de escrever uma nova Constituição pôs em evidência o crescimento das forças conservadoras no Chile, lideradas pelo pragmático José Antonio Kast.

A votação de domingo soou como uma severa advertência para o presidente Gabriel Boric, jovem liderança da renovação progressista na América Latina, mas não alterou de momento a relação de forças no Parlamento chileno, que segue dominado pela direita e esquerda tradicionais.

Entregou, no entanto, ao ultraconservador Partido Republicano a possibilidade de escrever praticamente à sua maneira a nova Carta Magna.

Com 23 dos 51 assentos da Assembleia Constituinte, a legenda pode vetar qualquer normativa, e caso consiga poucos votos da direita tradicional também tem a possibilidade de rejeitar as leis previamente aprovadas pelo Conselho de Especialistas.

Desde 2019, o Chile está empenhado em substituir a Constituição deixada pela ditadura de Augusto Pichonet (1973-1990), um processo de reescritura que inclui uma primeira tentativa falida e ao qual os republicanos sempre se opuseram. 

Contrários ao aborto, com um discurso anti-imigrantes e centrado na segurança pública, os republicanos conseguiram, em apenas quatro anos, se tornar o partido político mais votado desde a redemocratização.

José Antonio Kast foi crescendo desde outubro, quando passou a liderar as pesquisas presidenciais com vista às eleições de 2025. A pesquisa do instituto Cadem lhe deu, na semana passada, quase 20% da preferência dos entrevistados, seguido da prefeita direitista Evelyn Matthei. Boric, de 37 anos, não pode concorrer à reeleição.

Kast fundou o partido em junho de 2019, após deixar a também muito conservadora União Democrata Independente (UDI) e se colocar como alternativa à direita tradicional. "Deixamos de transmitir as ideias que defendíamos', disse em sua carta de saída.

Depois de anos turbulentos pelos protestos sociais que eclodiram em outubro de 2019, pela pandemia, por um declínio econômico e por uma crise de segurança pública e de imigração irregular, as ideias de "ordem e segurança" dos republicanos conseguiram convencer grande parte da sociedade chilena.

"É um partido de extrema direita com um projeto de restauração cultural, que questiona fortemente a direção que a direita tradicional tomou ao se aproximar das posições de centro e inclusive pegar algumas ideias de centro-esquerda", explica o cientista político da Universidade de Santiago, Marcelo Mella.

 

- Aceitar as regras democráticas -

Os republicanos declaram acreditar em Deus sem aderir a nenhuma religião e promovem "a família fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher".

Nostálgicos de Pinochet, qualificam de "pronunciamento" (pronunciamento, em tradução literal) o Golpe de Estado que o militar liderou contra o socialista Salvador Allende e quando falam de sua ditadura, a chamam de "governo militar".

"As direitas radicais frequentemente se caracterizam por aceitar as regras da democracia, mas corroem certos princípios dela". Têm, por sua vez, a capacidade "de moderar o discurso", explica Stéphanie Alenda, diretora de pesquisa da Faculdade de Educação e Ciências Sociais da Universidade Andrés Bello.

Na América Latina, compartilham o ultraconservadorismo em matéria de valores com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o salvadorenho Nayib Bukele. Kast é ainda mais liberal na economia e compartilha com o americano Donald Trump a dimensão patriótica, de defesa dos símbolos e fronteiras sob rígido controle.

No Chile, esse movimento surgiu como espelho da radicalização da esquerda, em um contexto de aborrecimento e descontentamento social e visão muito crítica sobre a incapacidade da política tradicional de entregar soluções, segundo Alenda.

 

- "Extremista em que?" -

Em sua vida política, Kast, de 57 anos, raramente perde a compostura e mantém sempre um sorriso, apesar das críticas ou dos ataques que recebe.

"Dizem que sou extremista, mas extremista em que?", se perguntou na última campanha presidencial, que perdeu para o jovem esquerdista Gabriel Boric.

"Não tem a estridência de um (Javier) Milei ou de Bolsonaro. Está muito longe dessa estridência em termos de psicologia pessoal", disse Eugenio Guzmán, decano da Faculdade de Governo da Universidade do Desenvolvimento.

Advogado pela Universidade Católica, é casado há mais de trinta anos com María Pía Adriasola, com quem compartilha a profissão e tem nove filhos.

"É uma liderança da extrema direita que nasce de uma sensibilidade culturalmente restauradora, mas que com o passar do tempo deu mostras de um pragmatismo muito forte", destaca Marcelo Mella.

Desde abril de 2022, preside a Political Network for Values (PNFV), uma rede internacional contra o aborto, onde sucedeu Katalin Novak, presidente da Hungria.

 

 

AFP

CHILE - A ultradireita foi a grande vencedora da eleição do conselho que discutirá a nova Constituição do Chile, impondo mais uma derrota ao presidente Gabriel Boric, de esquerda. O país foi às urnas no domingo (7) depois de ter rejeitado uma primeira versão do texto em setembro.

Com quase 100% das mesas apuradas, o Partido Republicano conseguiu o maior número de representantes (22 dos 50 conselheiros). Em segundo lugar, veio o grupo governista de esquerda Unidad para Chile (17 vagas). Na sequência, apareceu a lista Chile Seguro, da direita tradicional (11 vagas).

Um candidato indígena também levou a 51ª cadeira. Não havia um sistema de "cotas" para indígenas, mas, se os dois postulantes nessa condição conseguissem ultrapassar 1,5% dos votos totais, o mais votado se somaria aos outros 50, como aconteceu.

Já a coalizão de centro-esquerda Todo por Chile e o Partido de la Gente, mais à direita, não conseguiram nenhuma vaga, assim como os três candidatos que concorreram de forma independente.

Somando as listas, a direita terminou com a maioria absoluta de 33 cadeiras, mais do que as 31 necessárias para aprovar mudanças. Por outro lado, a esquerda não conseguiu as 21 que precisaria para vetar eventuais medidas com as quais não concorde.

Na prática, se quiser, a direita poderá conversar sozinha para redigir a nova Constituição do país. O resultado é considerado histórico no Chile, que nunca viu uma vitória desse lado do espectro político em eleições parecidas com essa, como as legislativas.

Formado em sua maioria por políticos, o conselho vai receber em junho um pré-projeto que está sendo escrito por 24 especialistas, principalmente juristas, e vai debatê-lo até outubro. Após alguns trâmites, a proposta de Carta passará por um novo plebiscito em dezembro.

Além de partir de uma base, esses conselheiros terão de respeitar 12 princípios já acordados, como a constatação de que o Chile é uma república democrática, com um Estado unitário, descentralizado e formado pelos Três Poderes.

Também já é consenso que Banco Central, Justiça Eleitoral, Ministério Público e Controladoria são independentes. A nova Carta substituirá a que está em vigor, de 1980, da ditadura de Augusto Pinochet.

Esta eleição, com voto obrigatório, foi considerada uma régua da popularidade de Boric, desgastado pelo fracasso da última tentativa e por outras derrotas políticas recentes. Também era esperado que o pleito medisse o fortalecimento da direita, impulsionada por crises na economia e na segurança.

O resultado deve trazer ainda mais dificuldades para a governabilidade do presidente. Ele já teve que fazer duas reformas ministeriais importantes desde que assumiu o país, em março de 2022, para levar o governo mais ao centro do espectro político, após sofrer a rejeição da reforma constitucional e também da tributária.

"É uma vitória absoluta do Partido Republicano e um desempenho do partido governista muito aquém das expectativas, assim como da centro-direita, o Chile Seguro", diz o advogado e analista político Esteban Montoya, que foi assessor do ex-presidente Sebástian Piñera, de direita.

As três principais pautas do Partido Republicano são a segurança, uma posição anti-imigração e um sistema econômico que pende mais para o privado do que para o público. A sigla também é muito criticada por defender aspectos da ditadura de Pinochet.

O pleito deste domingo foi marcado por um clima de apatia entre os chilenos. Eles foram às urnas pela sétima vez em pouco mais de dois anos, considerando a soma de eleições municipal, estadual e presidencial, além de primárias e plebiscitos.

Por isso havia uma expectativa negativa sobre o nível de participação da população neste domingo. A contagem do Serviço Eleitoral do Chile (Servel) aponta que 81% dos eleitores foram votar, menos do que os 86% do plebiscito que acabou rejeitando a primeira redação.

A percepção era a de que as pessoas estavam em outra sintonia. Depois de uma década de estabilidade, o país vive retração econômica, com alta da inflação, da pobreza, da informalidade e dos crimes. Também passa por uma crise migratória, com a chegada de venezuelanos e peruanos.

Esses temas pautaram a campanha morna desse pleito, que durou apenas duas semanas e se concentrou nas redes sociais, sem muitos eventos nas ruas nem debates programáticos. Segundo analistas, a discussão foi mais identitária, entre esquerda e direita.

A demanda por uma nova Carta Magna começou no final de 2019, com o que ficou conhecido como "estallido social": protestos em massa que tiveram como gatilho o aumento do valor da passagem de metrô. Algo parecido com os atos de junho de 2013 no Brasil, só que mais extenso e violento.

Um ano depois, 78% da população apontou em plebiscito voluntário que queria um novo texto. Boric assumiu a Presidência nesse contexto, prometendo concretizar a mudança, mas viu o primeiro projeto rejeitado por 62% da população e se distanciou do debate.

A última redação tinha quase 400 artigos e foi conduzida por uma Assembleia Constituinte composta por 154 pessoas, em sua maioria cidadãos comuns. O processo foi marcado por inexperiência e desordem —por isso a opção agora por um perfil mais político do que independente.

Esta é vista como a última oportunidade para o Chile enterrar a Constituição de Pinochet no curto prazo. Se a nova proposta for novamente rejeitada, a avaliação é de que será muito difícil tentar uma terceira vez.

 

A REFORMA CONSTITUCIONAL DO CHILE

- Out-nov.19 Protestos em massa pedem mudanças profundas no país

- Out.20 Em plebiscito, 78% dos chilenos dizem querer nova Constituição

- Mai.21 População elege Assembleia Constituinte, com 154 cidadãos

- Mar.22 Gabriel Boric assume a Presidência no lugar de Sebastián Piñera

- Set.22 Texto apresentado é rejeitado por 62% dos chilenos em plebiscito

- 7.mai Chilenos elegem novo conselho para discutir a proposta de Constituição, com 50 políticos

 

PRÓXIMOS PASSOS

- 7.jun Conselho começa a discutir pré-projeto elaborado por especialistas

- 7.out Conselho entrega proposta para revisão de uma comissão

- 7.nov Texto é finalizado com todas as revisões discutidas

- 17.dez Novo plebiscito aprova ou rejeita a nova Constituição

 

 

por JÚLIA BARBON / FOLHA de S.PAULO

SANTIAGO - Os chilenos votarão para eleger 50 conselheiros constitucionais no domingo, um grande passo para reescrever a Constituição do país, depois que os eleitores rejeitaram por maioria esmagadora uma primeira tentativa em um plebiscito em setembro passado para substituir a Constituição da era da ditadura.

O chamado Conselho Constitucional que os eleitores devem eleger trabalhará a partir de junho na nova Carta Magna, com base em um rascunho preparado por uma comissão de 24 especialistas que o Congresso nomeou em março.

Mas alguns dos 15 milhões de eleitores manifestam pouco interesse quando questionados sobre a reforma após o esforço fracassado no ano passado para reescrever a Constituição, que remonta a décadas da era do ditador militar de direita Augusto Pinochet.

"Estou um pouco cansado da polarização", disse Paz Villafaña, de 31 anos, que dirige uma pequena editora. "Votei para aprovar (em setembro), queria uma nova Constituição e acabar com a Constituição da ditadura, mas agora não estou muito interessado."

Após a eleição de domingo, os eleitores irão às urnas em dezembro para aprovar ou rejeitar o documento proposto, amplamente esperado para ser mais moderado do que a primeira proposta que teria sido uma das Constituições mais progressistas do mundo.

"Se o primeiro processo era altamente incerto, este é muito mais certo... É um processo mais supervisionado, com órgãos de monitoramento, especialistas, advogados, representantes eleitos", disse o analista político Kenneth Bunker. Ele enfatizou que as forças políticas tradicionais estão agora mais no controle do processo, ao contrário da primeira tentativa fracassada.

 

 

Por Natalia A. Ramos Miranda / REUTERS

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