ALEMANHA - O observatório europeu Copernicus divulgou nesta quinta-feira (8) dados alarmantes: Janeiro de 2024 foi o oitavo mês consecutivo com recordes de temperatura, confirmando uma tendência preocupante de aquecimento global.
Desde junho de 2023, cada mês tem sido o mais quente já registrado para o período. Como consequência, 2023 foi oficialmente o ano mais quente da história, e 2024 segue um ritmo igualmente preocupante.
Em janeiro de 2024, a temperatura média do ar de superfície atingiu 13,14°C, 0,70°C acima da média de janeiro entre 1991 e 2020. Esse valor supera em 0,12°C o recorde anterior, estabelecido em janeiro de 2020.
A temperatura média global nos últimos doze meses (fevereiro de 2023 a janeiro de 2024) também é a mais alta já registrada, 0,64°C acima da média de 1991-2020 e 1,52°C acima da média pré-industrial de 1850-1900.
Os oceanos também não escaparam da onda de calor. A temperatura média da superfície do mar global para janeiro de 2024 atingiu 20,97°C, um novo recorde para o mês. Este valor é 0,26°C mais quente do que o janeiro mais quente anterior (2016) e o segundo valor mais alto para qualquer mês no conjunto de dados do Copernicus, empatado com agosto de 2023 (20,98°C).
A sequência de recordes de temperatura e a confirmação de 2023 como o ano mais quente da história servem como um alerta urgente sobre a necessidade de medidas contundentes para combater o aquecimento global. A comunidade científica reforça que a mitigação dos impactos da crise climática é um desafio que exige uma resposta global e imediata.
PARIS - O ano de 2023 foi confirmado como o mais quente há registrado, de acordo com relatório divulgado na terça-feira, 9, pelo observatório europeu Copernicus. A temperatura média no ano passado foi 1,48 ºC mais quente do que na era pré-industrial, de acordo com a agência.
Este valor é um pouco inferior aos 1,5°C que o mundo havia proposto como limite, no âmbito do Acordo Climático de Paris em 2015, a fim de evitar os efeitos mais graves do aquecimento global. E janeiro de 2024 está a caminho de ser tão quente que, pela primeira vez, um período de 12 meses excederá o limite de 1,5°C, disse Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudança Climática do Copernicus.
Os cientistas sustentam que o planeta precisaria de um aquecimento médio de 1,5°C ao longo de duas a três décadas para violar tecnicamente o limite. "A meta de aquecimento de 1,5°C tem de ser mantida porque vidas estão em risco e há decisões que terão de ser tomadas e essas decisões não afetarão você ou a mim, mas afetarão nosso povo. Filhos e netos", disse Samantha.
O calor recorde causou estragos e até mortes na Europa, América do Norte, China e muitos outros lugares no ano passado. Mas os cientistas também alertam que o aquecimento atmosférico está causando fenômenos climáticos extremos, como a seca prolongada no chifre da África, as chuvas torrenciais que destruíram barragens e mataram milhares de pessoas na Líbia e os incêndios florestais no Canadá que poluíram o ar da América do Norte até a Europa.
Pela primeira vez, os países reunidos na conferência anual das Nações Unidas sobre o clima, em dezembro do ano passado, concordaram em abandonar os hidrocarbonetos responsáveis pelas alterações climáticas, mas não estabeleceram requisitos concretos para o fazer.
O Copernicus estima que a temperatura global média em 2023 foi cerca de um sexto de 1°C superior ao recorde anterior estabelecido em 2016.
Embora isto pareça um valor minúsculo no contexto dos registros globais, é uma margem excepcionalmente grande para um recorde, disse a vice-diretora do Copernicus. A temperatura global média em 2023 foi de 14,98°C, calcula o Copernicus.
"Os recordes foram quebrados durante sete meses. Tivemos junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro mais quentes", disse Samantha.
"Não foi apenas uma temporada ou apenas um mês que foi excepcional. Foi excepcional por mais de metade do ano. Existem vários fatores que contribuíram para que 2023 fosse o ano mais quente já registrado, mas de longe o maior foram os gases com efeito de estufa que retêm o calor na atmosfera", disse ela. Esses gases provêm da queima de carvão, petróleo e gás natural.
POR ESTADAO CONTEUDO
ALEMANHA - Começou este ano com junho. Depois vieram julho, agosto, setembro e outubro. Agora é a vez de novembro. O mês passado foi o novembro mais quente já registrado na Terra, segundo o sistema Copernicus Climate Change. O planeta caminha, em meio à crise climática, para ter 2023 como o ano mais quente da história, aponta o observatório europeu.
Os outros meses de 2023 também se encontram, no mínimo, entre os dez mais quentes -sempre em relação ao mesmo período em outros anos.
Segundo o Copernicus, a temperatura média da superfície em novembro foi de 14,22°C, cerca de 0,85°C acima da média do período de 1991 a 2020. O valor é 0,32°C acima do recorde anterior para o mês, em 2020.
"As temperaturas extraordinárias de novembro em todo o mundo, incluindo dois dias mais quentes do que 2ºC acima [da média de temperatura] do período pré-industrial, significam que 2023 é o ano mais quente da história", diz Samantha Burgess, diretora-adjunta do Copernicus Climate Change Service.
Em relação à temperatura média dos meses de novembro do período pré-industrial (1850-1900), a medição fora do comum em novembro de 2023 é ainda mais pronunciada: o mês foi cerca de 1,75°C mais quente.
De janeiro até novembro, a temperatura média registrada no planeta foi a maior já vista, com 1,46°C acima da temperatura média do período pré-industrial. O valor também já supera o que tivemos na média dos onze primeiros meses de 2016, o ano mais quente já registrado até aqui.
O Acordo de Paris, concretizado em 2015, estipula que a humanidade deve fazer esforços para não ultrapassar os 2°C de aumento de temperatura média da Terra, mas preferencialmente ficar abaixo de 1,5°C.
Apesar dos dados para o ano atual, isso não necessariamente significa que as metas do Acordo de Paris não tenham sido atingidas, considerando que o acordo trata de períodos mais longos de tempo. Mesmo assim, a situação que se apresenta somada aos compromissos climáticos atuais dos países tornam distante a meta de manter o aquecimento planetário abaixo do 1,5°C.
Também levado em conta pelo Copernicus, o El Niño é um evento que impacta as temperaturas da superfície do oceano Pacífico Equatorial -provocando diversos efeitos climáticos em outras regiões-, mas, segundo o observatório europeu, as anomalias vistas, para as mesmas épocas do ano, são menores do que as registradas no forte evento de 2015.
Os dados do Copernicus saem em meio às negociações climáticas na COP28, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em Dubai, na qual se discute os possíveis destinos para os combustíveis fósseis -como "reduzir" ou "eliminar"-, em meio a um recorde de presença de lobistas dos fósseis.
A atual COP também já ficou marcada pelo seu presidente, o Sultan al-Jaber, presidente da Adnoc, petroleira estatal dos Emirados Árabes Unidos, que demonstrou negacionismo em relação à ciência que guia a questão climática. O jornal britânico The Guardian revelou uma videoconferência em que al-Jaber diz não haver ciência por trás da meta de eliminação dos combustíveis fósseis -o que é falso.
Após a revelação, o presidente da COP28 convocou uma entrevista coletiva junto ao presidente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), Jim Skea. Nessa, al-Jaber afirmou respeito à ciência e disse que focaria nas negociações. Skea, por sua vez, destacou os dados sobre o abandono gradual dos combustíveis fósseis.
Não é somente o Copernicus que aponta que 2023 será o ano mais quente da história. Durante a COP28, foi divulgada uma análise da OMM (Organização Meteorológica Mundial), ligada à ONU, que chega à mesma conclusão.
Segundo a análise da OMM, o ano atual deve registrar uma média de temperatura 1,4°C acima dos níveis pré-industriais, o que se soma a "uma cacofonia ensurdecedora" de recordes climáticos quebrados, como citado mais acima.
"Enquanto as concentrações de gases de efeito estufa continuarem aumentando, não podemos esperar resultados diferentes dos observados este ano. A temperatura continuará subindo e os impactos de ondas de calor e secas também aumentarão", diz Carlo Buontempo, diretor do Copernicus Climate Change Service.
Um relatório divulgado esta semana projeta que 2023 terá o recorde de emissões globais por combustíveis fósseis.
De modo geral, o Copernicus tem dados disponíveis a partir de 1940. Porém, Burgess, diretora-adjunta do Copernicus Climate Change Service, apontou, recentemente, que o potencial de análise histórica das temperaturas vai bem além disso.
"Quando combinamos nossos dados com o IPCC, podemos dizer que este é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos", afirmou Burgess.
POR FOLHAPRESS
EUA - Um novo estudo, publicado na revista Nature, aponta que as mudanças climáticas representam um significativo risco de extinção para os anfíbios. Mas mais do que um cenário catastrófico, a publicação aponta um caminho para evitar esse desfecho aos animais.
O estudo tomou como base dados que foram divulgados na Avaliação Global de Anfíbios (GAA2), realizada em 2004, e que aponta que dentre os vertebrados, os anfíbios figuram entre os animais que mais estão ameaçados de extinção.
Ao incluir outras 2286 espécies no novo levantamento, realizado em junho de 2022, o número de anfíbios ameaçados de extinção saltou para mais de 8 mil. Esse valor ainda representa um aumento de 39,9% em relação ao estimado em 2004.
O que explica a gradual extinção dos anfíbios
Ao considerar quais teriam sido as principais causas por trás da extinção gradual entre os anos de 1980 e 2004, o estudo destaca a difusão de doenças e a perda do habitat natural: 91% da degradação dos animais teria ocorrido apenas por estes dois motivos.
Já as alterações climáticas, potencializadas nos anos atuais, respondem por 39% da deterioração desde 2004. Já a perda de habitat representa um perigo expressivo a partir desse mesmo período, aparecendo com 37%. Ou seja, apesar de ser necessário investir em medidas de conservação, ainda é importante buscar meios de controlar, ou mesmo reverter, as mudanças climáticas.
No mapa abaixo, é possível observar a distribuição das espécies que estão ameaçadas, e a América aparece em destaque. Enquanto a maior parte dos anfíbios está localizada nas Ilhas do Caribe e na região dos andes; no Brasil, essas espécies estão mais concentradas na interior da Mata Atlântica.
Mapa destaca que no continente americano há muitas espécies de anfíbios ameaçadas de extinção. (Fonte: Nature/Reprodução)Atuais fatores de risco para os anfíbios
Ao considerar os riscos presentes diante das espécies ameaçadas em meio à perda de habitat, a agricultura representa o maior perigo, que impacta 77% das espécies; a extração de madeira e plantas, aparece com 53%. A modificação da paisagem para o desenvolvimento de infraestrutura urbana, por sua vez, está com 40%.
Por serem animais que utilizam a pele para respirar, os anfíbios apresentam uma maior tendência de perder água e calor. Ou seja, diante do aumento das temperaturas, eles se encontram numa situação muito mais delicada que muitos mamíferos e aves, e como concluiu o estudo, pelo conjunto dos motivos abordados, são os animais que sofrem com o maior risco de extinção no decorrer do tempo.
Com diversas dinâmicas percebidas em meio às mudanças climáticas, muitas vezes relacionadas entre si, é importante ter em mente que além da elevação das temperaturas globais e mesmo e das secas prolongadas, a perda do habitat desses animais deve ser igualmente encarada como um potencial risco.
RAFAEL FARINACCIO / MEGA CURIOSO
BERLIM - A mudança climática está tendo um impacto mensurável sobre a qualidade do ar e, portanto, sobre a saúde humana, o que significa que os dois temas devem ser enfrentados em conjunto e não isoladamente, segundo um relatório divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) na quarta-feira.
"As ondas de calor pioram a qualidade do ar, com efeitos indiretos sobre a saúde humana, os ecossistemas, a agricultura e, de fato, nossa vida cotidiana", disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, em comunicado.
"As mudanças climáticas e a qualidade do ar não podem ser tratadas separadamente. Elas andam de mãos dadas e devem ser abordadas em conjunto para quebrar esse ciclo vicioso", acrescentou.
De acordo com o relatório, os efeitos da poluição resultantes das altas temperaturas são frequentemente ignorados, mas igualmente perniciosos.
Os exemplos citados no relatório incluem o noroeste dos Estados Unidos, onde as ondas de calor provocaram incêndios florestais, e as ondas de calor acompanhadas de intrusões de poeira do deserto em toda a Europa.
Estudos de caso brasileiros citados no relatório mostraram como os parques e as áreas cobertas por árvores nas cidades podem melhorar a qualidade do ar, absorver o dióxido de carbono e reduzir as temperaturas, beneficiando assim os moradores.
por Reuters
EUA - Meteorologistas preveem um El Niño forte este ano, o que, combinado com a aceleração do aquecimento global, deve levar a um recorde de temperaturas máximas já registradas no planeta Terra. O fenômeno, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, impacta o clima mundial, podendo causar furacões no Atlântico e ciclones no Pacífico. Ele teve início no último dia 8 e deve ir até agosto.
Um alerta da Organização Meteorológica Mundial, ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), chama atenção para uma pesquisa publicada na revista Science que mostra danos econômicos de US$ 84 trilhões neste século, o equivalente a R$ 413 trilhões, mesmo que as promessas de corte de emissões de gases do efeito estufa sejam cumpridas.
Esses prejuízos seriam oriundos da perda de safras motivada por secas extraordinárias e pela escalada de doenças tropicais, logo, a perspectiva ainda é pior pra países tropicais, como o Brasil.
Em entrevista à Rádio Eldorado nesta segunda-feira, 12, o professor do Instituto de Economia da UFRJ Cadu Yang comentou os impactos esperados para o El Niño de 2023. Confira:
Como você avalia o estudo publicado na Science sobre os impactos econômicos do El Niño? Eles podem chegar a essa proporção, de fato?
Infelizmente, nós já estamos prevendo situações extremas para os próximos anos, em função da perspectiva de que, depois de anos de La Niña, que no caso brasileiro representaram chuva em abundância, nós vamos viver o fenômeno do El Niño, que esse caracteriza por um aquecimento de águas extraordinário no Pacífico. Isso traz consequências sobre o clima em toda América do Sul – aliás, em todo o planeta -, o que significa, no nosso caso, uma probabilidade maior de eventos extremos de seca nas partes mais continentais.
Nós teremos um agravamento dos períodos de estiagem, mas também uma maior instabilidade, ou seja, uma maior possibilidade de eventos como inundações e alagamentos e, associado a isso, deslizamentos de terra, entre outros problemas dessa natureza. Além disso, teremos uma alteração na propagação de vetores de doenças tropicais, o que também está associado essa alteração no que podemos chamar de “normalidade climática”.
O que esse valor, de mais de R$ 400 trilhões, representa para um País ou continente?
Eu trabalho bastante produzindo estatísticas como essa e quando a gente fala em um número dessa magnitude, estamos falando de uma ordem de grandeza. A leitura que se deve fazer é: preparem-se para grandes desastres, grandes eventos extremos que terão grandes consequências econômicas.
Nós temos hoje uma ocupação agrícola, em grande parte do território nacional, que depende muito de um regime adequado de chuvas. Por isso, uma alteração desse regime de chuvas trará consequências sobre essa produção. Mas é claro que, quando o evento ocorrer, a capacidade de adaptação ao evento é diferenciada e por isso eu acho que, mais importante do que o tamanho dessa magnitude, é a distribuição desse efeito, que tende a ser bastante assimétrica e concentrada nos indivíduos de maior fragilidade social.
Nós fizemos, há um tempo atrás, um estudo sobre o semiárido do nordestino em que pegamos os grandes eventos de seca na região e verificamos qual foi o impacto disso na produção agrícola, medindo pela perda de área que foi plantada e não foi colhida. O que identificamos é que, além dessa perda ser grande nos anos de escassez hídrica, ela se concentrou muito em culturas como milho e feijão, que são típicas do agricultor familiar de subsistência, enquanto a produção comercial irrigada sofreu muito menos. Ou seja, além do problema do tamanho, que vai ser grande, temos o problema da distribuição desigual.
Olhando para outra área, como a área dos desastres, os nossos estudos – apenas com eventos de chuva, sem considerar seca – feitos há dez anos atrás estimavam que as perdas no Brasil já estavam chegando a 2% do PIB. Só que essas perdas estão muito mais concentradas em comunidades que moram próximas a rios ou em áreas de encosta, que sofrem o risco de deslizamento. São pessoas que sabem do risco, mas não têm capacidade financeira de se deslocar e isso vai criando um efeito “bola de neve”, trazendo consequências, por exemplo, para a prefeitura, já que ela vai ter que dar uma solução para esse desabrigado, vai ter que arcar com a reconstrução e com o próprio trabalho de resgate das vítimas.
Tudo isso tem um custo fiscal. Então, quando você imagina sistemicamente esses eventos extremos acontecendo com uma frequência maior e com mais intensidade, há impacto em diversas frentes. A princípio, o El Niño e as mudanças climáticas são tratados como elementos separados, mas um reforça o outro. Num contexto de aquecimento global, os efeitos de um El Niño serão amplificados e é por isso que a gente espera impactos sobre toda a sociedade brasileira.
Ainda que diretamente os afetados estejam numa determinada condição, a necessidade de lidar com o desastre vai trazer consequências, para a questão fiscal, para os preços – porque uma quebra de safra vai resultar na elevação do nível de preço – e por aí vai.
O que podemos fazer para nos prevenir, do ponto de vista econômico e social?
A gente precisa tratar com muito mais seriedade e urgência as questões ambientais e climáticas. A gente não pode se dar o luxo de o Congresso Nacional decretar que não existe mudança climática e que não existe é El Niño. As áreas protegidas, naturais, são áreas que garantem resiliência ao sistema. Se eu vou ter uma alteração no regime hídrico, eu preciso proteger a calha do rio. Como faço isso? Aumentando a área de floresta. Eu preciso proteger as encostas. Como? Aumentando a vegetação nativa e impedindo que as vegetações nativas existentes sejam removidas.
É preciso aumentar a nossa capacidade de lidar com eventos extremos por meio de soluções baseadas na natureza. É fundamental entender que a política ambiental é uma política de defesa para a nossa sociedade e para a nossa economia. E o que nós estamos vendo de ataque, de desmonte ambiental, que ocorreu com intensidade no governo anterior, mas que persiste em grupos hoje, em particular ligados ao Congresso Nacional, de pressionar ainda mais para remover essa proteção natural, é claramente uma política que vai trazer resultados ruins.
Por exemplo, a questão de água: como você impede novas grandes secas, lembrando, por exemplo, que São Paulo sofreu muito recentemente e teve que captar no volume morto? Você protege a água através do sistema de corpos hídricos que vão até o ponto de captação por meio da proteção da floresta. O imperador Dom Pedro II, por exemplo, sabia que no Rio de Janeiro – à época, capital – faltava água e o que ele fez? Ele mandou reflorestar a floresta da Tijuca para proteger o manancial que abastecia a cidade. Esse é um conhecimento antigo, não precisamos de grande ciência para saber que a proteção ambiental é a melhor maneira para prevenir desse tipo de desastre.
Acho que a principal mensagem é dar maior prioridade às questões ambientais, porque elas se referem essencialmente à defesa do ser humano, das nossas comunidades e das nossas atividades produtivas.
O que o governo tem feito de errado neste sentido?
Além do afrouxamento na Lei que trata do desmatamento da Mata Atlântica, que veio do Congresso e teve apenas um trecho vetado pelo presidente Lula, um outro mau exemplo de política que tá acontecendo é com relação às terras indígenas. As terras indígenas não pertencem aos indígenas, elas pertencem ao governo, são terras públicas, de todos nós e que têm uma característica muito importante: são terras com elevada taxa de conservação.
O porcentual de remanescente florestal em terras indígenas é mais alto até do que das unidades de conservação. Então, esse ataque que está sendo feito às terras indígenas é também um ataque aos serviços ecossistêmico que essas florestas estão protegendo. As populações indígenas, pela relação tradicional que têm com esses espaços, garantem essas áreas protegidas.
Se mantivermos essa visão de crescimento a qualquer custo, de que qualquer área que possamos transformar em pasto, transformar em área de cultivo, fazer uma hidrelétrica, será convertida, não sobrará resiliência para lidar com os eventos pelos quais a natureza já está cobrando a conta. E nós viveremos situações que cada vez mais dramáticas por causa das mudanças climáticas.
Uma elevação do nível da temperatura global acentua ainda mais os fenômenos de natureza cíclica, como El Niño e a La Niña, com consequências para as sociedades humanas que, como mostra o número, são de imensa magnitude. Isso vai afetar a todos nós e principalmente aqueles que são mais frágeis.
Você vê uma ação coordenada globalmente com possível protagonismo do Brasil?
Eu acho que, globalmente, nós temos sim que recuperar esse protagonismo. Teremos uma grande oportunidade com a COP, o principal evento do clima, que vai ocorrer em Belém do Pará. Isso vai trazer uma visibilidade importante, mas é importante lembrar que o nosso meio ambiente não é apenas na Amazônia. É importante a gente perceber que Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa, todos os biomas estão sofrendo. O Pantanal já teve uma redução de cerca de um terço na área alagada, ou seja, secou em um terço e a gente perdeu uma riqueza extraordinária com isso.
As ações precisam vir de todos, inclusive do setor privado. A gente tem uma série de possibilidades através do pagamento do serviço ambiental, com a possibilidade de criação de mercados regulados de crédito de carbono, que criam possibilidades de negócios a partir da conservação. Mas para isso é fundamental que a gente interrompa o ciclo da destruição e pare com essa ideia de que se tem petróleo, ele tem que ser extraído, não importa onde ele está, de que se tem um potencial hidrelétrico, tem que ser alterado a cara do rio, não importa o que eu vou fazer com essa energia. Essa visão de que não há uma finitude da nossa capacidade de ação tem trazido consequências muito ruins e a gente está percebendo isso já no dia a dia.
O estudo diz que o prejuízo calculado virá mesmo com o cumprimento das promessas de cortes de emissão de gases do efeito estufa. Isso significa que o problema pode ser ainda maior se elas não forem cumpridas?
Uma grande tragédia das questões climáticas é que o tempo em que o planeta responde é muito diferente do tempo das nossas ações. É mais ou menos como o processo de degelar uma geladeira: você abre a porta e ela não vai ter degelar imediatamente, ela vai perdendo temperatura aos poucos e isso vai ganhando um elemento gradativo.
Com o aumento da concentração de gás de efeito estufa que nós já colocamos na atmosfera, a temperatura vai aumentar de qualquer jeito. O que a gente está tentando fazer é reduzir o tamanho desse crescimento, que será percebido muito mais pela geração que ainda nem nasceu. A gente não está pensando aqui nem nos nossos filhos, mas sim nos netos que virão.
Tudo isso trará consequências para essas sociedades do futuro, em uma dimensão muito maior. Então, o que a gente tem que ter é o princípio da precaução. O problema é que a gente é muito focado no curto prazo e quando o efeito demora a ser percebido, nós o entendemos como inexistente e continuamos nesse frenesi de mudança climática.
No caso brasileiro, a principal fonte de mudança climática é o desmatamento, mas a segunda é a emissão de metano pela pecuária e a gente continua expandindo o setor como se isso não trouxesse consequências para o planeta. O mesmo vale para o consumo de combustível fóssil, em que a gente ainda acha que a exploração de petróleo vai ser a solução, mesmo na Amazônia.
A gente precisa deixar de ser contraditório e pensar no que será melhor no cenário de 50, 100, 150 anos. Nesse sentido, é fundamental que a gente tenha a participação de uma sociedade mais engajada, mais interessada e mais a par do que tá dizendo a ciência. A gente viveu um período no qual a ciência foi questionada, mas ela respondeu – se a gente não tivesse a ciência, a pandemia de covid-19 teria sido muito pior do que ela foi.
Estamos alertando que essas questões climáticas vão continuar no futuro se a gente não tomar uma presidência. E isso requer uma ação coordenada que envolve todos nós: os governos estaduais, federais, internacionais etc. As prefeituras, por exemplo, vão ser cada vez mais castigadas por esses fenômenos de natureza climática, porque o problema é essencialmente local, onde tem um deslizamento, uma inundação etc. Também como sociedade, tanto como sociedade civil, como sociedade empresarial, a gente tem que pensar que tipo de comprometimento a gente pode ter para que os problemas não sejam tão graves, pensando, principalmente, no futuro.
Voltando à questão das soluções baseadas na natureza, existem soluções que são simultaneamente de redução da concentração de gás de efeito estufa e de adaptação ao que a gente vai ver daqui para frente. A gente precisa introduzir essa palavra, adaptação, às mudanças climáticas. Como já está dito, a temperatura vai subir e os eventos climáticos acontecerão com mais frequência e o que a gente precisa fazer é se adaptar, se preparar para isso com um espaço adequado e soluções baseadas na natureza.
SÃO CARLOS/SP - A Prefeitura de São Carlos realizou na manhã do último domingo (28/05), a 3ª edição da Corrida do Clima e do Trabalhador, evento coordenado pela Secretaria Municipal de Esportes e Cultura que desta vez foi realizado no Parque São José, local que recentemente recebeu pavimentação, drenagem, guias e sarjetas, um investimento de R$ 7 milhões por parte do município via Governo do Estado.
A saída e chegada da corrida foi ao lado do campo municipal da Vila Izabel, localizado na rua Santa Gertrudes. Todas as 1,5 mil inscrições disponibilizadas para a 3ª edição da Corrida do Clima e do Trabalhador foram preenchidas rapidamente.
A largada para a corrida de 6 km para o público regular e para pessoas com deficiência aconteceu 7h15. Um pouco depois, às 7h20, foi dada a largada da caminhada de 3 km para os mesmos públicos.
A novidade desta edição foi a corrida para as crianças e adolescentes, sendo que às 8h foi dada a largada para a corrida de 100 metros (para crianças de 5 e 6 anos), de 150 metros (7 e 8 anos), de 250 metros (9 e 10 anos), de 400 metros (11 e 12 anos) e de 1 km (13 a 15 anos).
Marcos Amaro, diretor de Fomento ao Lazer da Secretaria de Esportes e Lazer, disse que a adesão foi grande. “Somente 40 pessoas deixaram de retirar os kits. A participação das crianças e adolescentes também foi sensacional”, frisou Amaro.
No feminino, 6 Km, Júlia Graziela dos Santos Coutinho ficou com a primeira colocação (00:26:58.930), Bruna Calazans Luz conquistou o 2º lugar (00:25:57.490) e Joana Motta o 3º lugar (00:26:58.930). No masculino o vencedor dos 6 Km foi Luiz Shianti (00:20:45.320), Lucas Ferraz chegou em segundo (00:20:54.750) e Ronald Daniel Correia Lobato em terceiro (00:21:16.240).
“Foi muito bom correr neste novo percurso, gostei muito, além da organização da prova que foi perfeita. Estou na elite do esporte há mais de 7 anos, fui atleta do triathlon, mas agora estou na equipe da ASA que é a Associação São-carlense de Atletismo. Fico muito feliz de ganhar uma prova aqui na minha cidade”, disse o atleta Luiz Shianti.
A corrida é um dos esportes que mais cresce. “A participação nas provas realizadas pela Prefeitura cresce a cada competição. Nos próximos dias, vamos apoiar a Corrida da Unicep. São oportunidades de entretenimento, esporte e lazer no âmbito do município”, avalia o vice-prefeito, Edson Ferraz.
Também da premiação os vereadores Sérgio Rocha, Lucão Fernandes, Dé Alvim e Professora Neusa. Os secretários de Esportes e Cultura, Thiago de Jesus, de Relações Legislativas e Institucionais, Fernando Carvalho, de Obras Públicas, João Muller e o presidente da FESC, Eduardo Cotrim.
A colocação e o tempo de cada atleta podem ser conferidos no link que está disponível no site da Prefeitura: http://www.saocarlos.sp.gov.br/index.php/esportes/173069-2o-corrida-do-clima-e-do-trabalhador-2023.html
MÉXICO - Um novo estudo concluiu que efeitos de mudanças climáticas foram determinantes para a extinção da civilização Maia, na região mesoamericana. O estudo foi publicado na revista Nature Communications, e afirma que uma seca prolongada impactou diretamente no colapso do reino: segundo o texto, a cidade de Mayapan, capital da civilização, se encontrava deserta no período, em processo que intensificou a fome e as rebeliões que provocaram a queda.
O estudo é apresentado como um trabalho transdisciplinar que combina arqueologia, história e informações paleoclimáticas para explorar “as relações dinâmicas entre mudança climática, conflitos civis e colapso político” em Mayapan, na Península de Iucutã, no sudeste do México, durante os séculos 13 e 14. “Fontes múltiplas de informações indicam que conflitos civis aumentaram significativamente e correlacionando as contendas na cidade com a seca que aconteceram entre 1400 e 1450”, diz.
Segundo o estudo, uma das mais sofisticadas civilizações do passado, que ocupava a região entre o México, a Guatemala, Belize e partes de Honduras e El Salvador, viu o efeito de conflitos internos e guerras civis se intensificar por conta da seca prolongada. O processo agravou quadro de fome e migração sobre o contexto de conflito, precipitando especialmente o colapso de uma das mais incríveis sociedades de então.
BELO HORIZONTE/MG - As mudanças climáticas impulsionadas pelas ações humanas proporcionaram um aumento na intensidade das chuvas que atingiram o Nordeste do Brasil no fim de maio e no início de junho, principalmente no estado de Pernambuco.
Segundo pesquisadores, sem o aquecimento global, os eventos ocorridos seriam um quinto menos intensos.
As informações são de estudo do World Weather Attribution, divulgado na terça (5). A pesquisa foi realizada por cientistas do Brasil, Reino Unido, Holanda, França e Estados Unidos.
As análises foram realizadas a partir de modelos climáticos que simulam o evento meteorológico em um cenário sem a emissão de gases do efeito estufa e no cenário atual, com aquecimento do planeta em cerca de 1,2°C.
A climatologista Friederike Otto, da Universidade Imperial College de Londres, no Reino Unido, explica que o objetivo desse tipo de estudo é analisar a relação de eventos meteorológicos intensos com as mudanças climáticas. Segundo ela, isso é importante para entender as possibilidades de eventos similares acontecerem e como eles seriam sem as mudanças do clima.
O pesquisador Lincoln Alves, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), afirma que o trabalho incluiu a caracterização do evento, para entender o quão raro foram as chuvas em comparação com o histórico.
Foram selecionadas 75 estações pluviométricas na região que possuíam dados ao menos desde a década de 1970 para realizar o estudo. As análises foram feitas a partir da quantidade de chuva que caiu na região em recortes de um período de sete dias e de um período de 15 dias.
Tais eventos meteorológicos raros são mais prováveis de acontecer atualmente que em um cenário sem aquecimento global. No entanto, a partir do estudo não é possível mensurar o quanto as mudanças climáticas fazem com que esses eventos aconteçam no futuro.
Entre os dias 27 e 28 de maio, o estado de Pernambuco recebeu em 24 horas mais de 70% da chuva esperada para todo o mês. Somente em Pernambuco, ao menos 129 pessoas morreram em decorrência das chuvas. Outros estados como Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe também foram afetados.
Desde o último fim de semana, temporais voltaram a preocupar alguns estados do Nordeste. Oito pessoas morreram e dezenas de cidades entraram em situação de emergência em Alagoas, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Outro elemento apontado pelos pesquisadores que agravou as consequências das chuvas na região metropolitana do Recife foram os problemas de vulnerabilidade da população. O aumento da urbanização não planejada em áreas de risco de inundação e encostas íngremes ampliaram a exposição das pessoas aos riscos causados pela chuva.
Segundo Edvânia Pereira dos Santos, da Agência Pernambucana de Águas e Clima (APAC), a cidade do Recife e a região metropolitana são muito vulneráveis, devido a fatores como a alta densidade demográfica e o fato de a cidade ter sido construída ao redor de rios.
De acordo com Alexandre Köberle, pesquisador do Grantham Institute na Universidade Imperial College de Londres, os sistemas de alerta realizados por órgãos municipais, estaduais e federais auxiliam na redução dos danos nesse tipo de tragédia. Segundo ele, esses sistemas podem ser melhorados para que ações antecipadas mais eficazes sejam realizadas.
Santos, que fez parte do estudo, explica que a APAC atua em parceria com a Defesa Civil para emitir tais alertas e orientar a população.
De acordo com ela, a agência vem trabalhando para melhorar a comunicação com a população sobre a importância dos alertas meteorológicos e sobre medidas a serem tomadas. Segundo ela, muitas pessoas não veem importância nos avisos ou não sabem como proceder para evitar consequências mais graves.
Santos diz que desde março a agência monitorava a possibilidade da ocorrência de fortes chuvas neste ano, devido a fenômenos como a La Niña e o aquecimento do Atlântico. Com esses prognósticos a Defesa Civil atua para tomar as medidas possíveis e necessárias.
ISAC GODINHO / FOLHA
BRUXELAS - Os eurodeputados rejeitaram surpreendentemente na quarta-feira (8) em sessão plenária um texto-chave sobre a reforma do mercado europeu do carbono, em um voto que exigirá uma nova renegociação deste pilar da política da União Europeia (UE) sobre a mudança climática.
A UE propôs adotar com força de lei um regulamento para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030, mas na votação do projeto os Verdes e os Social-Democratas consideraram que o plano não era suficientemente ambicioso.
O texto recebeu 265 votos a favor e 340 contra, com 34 abstenções. Foi reenviado para análise da Comissão de Meio Ambiente, na qual os blocos políticos buscarão pontos comuns para definir um novo acordo.
O projeto contemplava uma forte expansão do mercado de troca de cotas de emissão de gases de efeito estufa, mas também a abolição de cotas gratuitas para industriais europeus. Este é o aspecto central de um roteiro proposto pela Comissão Europeia em 2021, apoiado por 14 textos.
"É um dia terrível. É um dia ruim para o Parlamento Europeu. É uma vergonha ver a extrema-direita votar junto aos social-democratas e os verdes", lamentou o eurodeputado conservador Peter Liese, relator do relatório que foi rejeitado no plenário.
Após o anúncio da votação, os blocos políticos travaram uma acirrada discussão de recriminações pelo fracasso. Nesse contexto, conservadores e liberais acusam os social-democratas de terem se aliado a extremistas de direita no colapso do projeto.
Em resposta, o líder da bancada social-democrata, o espanhol Iratxe García, acusou o bloco conservador majoritário de diluir o plano até torná-lo irreconhecível para ganhar o apoio da direita e da extrema direita.
"Você não pode buscar o apoio da extrema direita para baixar o nível de ambição e depois reclamar que votamos com eles. Você tem que ser consistente", disse Garcia, sem esconder sua irritação.
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