KIEV - Ainda sem um avanço decisivo na contraofensiva contra forças russas em seu território, a Ucrânia escalou a guerra de drones contra Vladimir Putin. Pela segunda vez em três dias, Kiev atacou pontos simbólicos de Moscou com drones de longa distância, e houve um novo ataque contra navios da Rússia no mar Negro.
A ação ocorreu na madrugada de terça (1º) e, como sempre, foi admitida apenas de forma indireta pelos ucranianos. Segundo a Defesa russa, dois drones foram derrubados na periferia moscovita, e um terceiro foi desabilitado por contramedidas eletrônicas, espatifando-se em um prédio no distrito de Moscow-City.
Aqui a narrativa engasga: o prédio atingido na área empresarial já havia sido alvo de outro drone na ofensiva de domingo (30). Trata-se do IQ-Center, que concentra escritórios de três ministérios russos (Desenvolvimento Econômico, Digital e Indústria e Comércio) e de empresas de tecnologia.
Por um lado, faz parte do único núcleo de arranha-céus da capital, cidade de prédios imponentes, mas de perfil usualmente mais baixo. Por outro, é um edifício simbólico. Fica no Centro Internacional de Negócios, conhecido como Moskva-Citi, ou Moscow-City, remetendo à análoga City londrina. O centro foi idealizado em 1992 como símbolo da Rússia pós-soviética e tem a maior concentração de torres envidraçadas da Europa.
Ninguém ficou ferido. "Moscou está rapidamente se acostumando a uma guerra total", exagerou o assessor presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak no X, o ex-Twitter. Já o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que, "de fato, há uma ameaça, isso é óbvio, e medidas estão sendo tomadas".
Por precaução, o aeroporto de Vnukovo, um dos três internacionais que servem a capital, ficou fechado por algumas horas, o que já havia acontecido duas outras vezes. A baixa frequências de voos de e para o exterior no país sob sanções tornam o incômodo menos perceptível, mas ele existe.
"Fomos orientados a trabalhar remotamente nesta semana", disse Aleksander, que atua numa empresa de monitoramento de mercado de trabalho em Moscow-City e pediu para não ter o sobrenome revelado. A Iandex, gigante equivalente ao Google na Rússia, fez o mesmo e pediu cuidado aos seus funcionários.
"Estamos avaliando os danos", postou no Telegram Daria Levtchenko, porta-voz de Desenvolvimento Econômico, pasta cujos funcionários estão trabalhando de casa. Desde maio, Moscou foi alvo de ao menos cinco ataques com drones, um deles contra o Kremlin, que fica a 5 km da área atingida na terça.
Por ora, o impacto é psicológico, e a Ucrânia aposta nisso. Mas há o que Aleksander, um apoiador moderado da guerra iniciada por Putin em 2022, chama de "estoicismo histórico dos russos".
Sob essa visão, vidros quebrados não são nada para quem vem de famílias que sofreram os pavores da invasão nazista na Segunda Guerra. Além disso, é incomparável com o que ocorre em solo ucraniano, como a ação que matou seis pessoas em Kriivi Rih, cidade natal de Volodimir Zelenski, na véspera.
A contraofensiva ucraniana ganhou um novo empuxo no final da semana, com um ataque mais concentrado com blindados e tropas equipadas pela Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos, em Zaporíjia, no sul do país, mas por ora não logrou um grande sucesso.
NAVIOS SÃO ATACADOS NO MAR NEGRO
Assim, como escreveu Podoliak, a Rússia deve esperar "mais drones não identificados, mais colapso, mais conflitos civis, mais guerra". Com efeito, Kiev também tentou atacar, pela segunda vez em duas semanas, navios russos no mar Negro, uma área nova de crise na guerra desde que a Rússia deixou o acordo que permitia o escoamento de grãos ucranianos por lá, na semana retrasada.
Dois navios-patrulha, o Serguei Kotov e o Vassili Bikov, foram alvo de ataques com drones marítimos nesta madrugada, noite de segunda no Brasil. Segundo Moscou, não houve danos. Na semana retrasada, o Serguei Kotov já havia sido atacado. As embarcações estão operando em uma área distante do mar Negro, 340 km a sudoeste de sua base em Sebastopol, na Crimeia, visando as rotas que chegam à Ucrânia.
A Defesa russa também disse que houve ataques com três drones a navios civis de bandeira não revelada que rumavam para o estreito de Bósforo, na Turquia. As embarcações de guerra russas teriam barrado os drones, algo impossível de verificar a essa altura, mas que insinua uma alta na tensão no mar Negro.
Tanto Moscou quanto Kiev anunciaram, após Putin deixar o acordo de julho de 2022 que permitia a passagem de navios com grãos ucranianos, que qualquer embarcação seria vista como hostil e passível de inspeção, para não falar em algo pior. Desde então, operou bombardeios contra a infraestrutura portuária da Ucrânia, incluindo portos no rio Danúbio a 200 metros da Romênia, um membro da Otan.
Em resposta, a aliança anunciou que reforçaria a vigilância no mar Negro, visando a proteger a navegação em áreas internacionais. Na segunda-feira, uma consulta a sites de monitoramento de tráfego aéreo mostrava a presença de um avião-tanque, um aparelho de patrulha e guerra antissubmarina e um drone de ataque americanos na região. Isso implica riscos de esbarrões, acidentais ou não.
Com efeito, navios estão concentrados perto do estuário do Danúbio, mas em águas romenas, embora três embarcações vindas de Israel, Turquia e Grécia tenham trafegado na região sob a cobertura da Otan resta saber se irão se abastecer de grãos em Izmail, no lado ucraniano do Danúbio.
Enquanto isso, Kiev acertou um arranjo para tentar escoar sua produção por meio da Croácia, mas é incerto como isso ocorrerá, dada a distância física entre os países.
por IGOR GIELOW / FOLHA de S.PAULO
UCRÂNIA - A Rússia voltou a atacar cidades do sul da Ucrânia na segunda-feira (31/07), provocando a morte de pelo menos dez civis, incluindo uma criança de 10 anos. Entre os alvos estava a cidade natal do presidente ucraniano Volodimir Zelenski.
A maior parte das mortes foi registrado em Kryvyi Rih, no sul da Ucrânia, após um ataque com mísseis. Pelo menos seis pessoas morreram na localidade, incluindo uma menina de 10 anos e sua mãe, de 45 anos. Outro míssil atingiu um centro educacional.
Um vídeo postado por Zelenski mostrou fumaça saindo de um buraco aberto na lateral de um prédio residencial de nove andares, e outro prédio de quatro andares em ruínas após o ataque.
"Notícia trágica. Seis pessoas já morreram em Kryvyi Rih", escreveu o governador regional Serhiy Lysak, no aplicativo de mensagens Telegram. "Não haverá perdão!", disse.
As autoridades também apontaram que 75 pessoas ficaram feridas na cidade, incluindo seis crianças de quatro a 17 anos. Entre os 150 moradores do prédio, 30 tiveram que ser resgatados dos escombros por socorristas. Zelenski, que cresceu nessa cidade, um centro produtor de aço com uma população pré-guerra de mais de 600.000 habitantes, condenou o ataque.
"Esse terror não vai nos assustar ou nos quebrar. Estamos trabalhando e salvando nosso povo", disse ele no aplicativo Telegram.
Kryvyi Rig já havia sido bombardeada pelos russos em meados de junho. Na ocasião, pelo menos 12 pessoas morreram num ataque contra um prédio residencial de quatro andares e um armazém.
Também nesta segunda-feira, outros quatro civis foram mortos em um ataque russo à cidade de Kherson, que foi libertada da ocupação russa em outubro de 2022.
Entre os mortos estava um funcionário da prefeitura, de acordo com a autoridades militares ucranianas. Dois de seus colegas ficaram feridos. Um homem de 65 anos que dirigia seu carro ficou gravemente ferido em um segundo ataque e morreu após ser levado para um hospital, disse o governador regional Oleksandr Prokudin no Telegram. Outras 17 pessoas ficaram feridas na localidade. A maior parte da província de Kherson permanece ocupada pelas tropas invasoras da Rússia.
Ataques russos a instalações de exportação
Ainda na segunda-feira, a Ucrânia afirmou que ataques aéreos russos destruíram cerca de 180.000 toneladas métricas de cereais no espaço de nove dias neste mês. Os ataques russos danificaram partes significativas das instalações de exportação do porto de Odessa e da cidade de Chornomorsk.
Depois de se retirar do acordo de grãos do Mar Negro que permitia à Ucrânia exportar cereais, a Rússia realizou vários ataques aéreos contra a infraestrutura portuária ucraniana.
Em reposta aos ataques, o chefe de Inteligência da Ucrânia, Kirilo Budanov, mencionou nesta segunda-feira a possibilidade de as Forças Armadas do seu país oferecerem aos navios ucranianos exportadores de grãos uma escolta militar que lhes permita transitar pelo Mar Negro.
"A Ucrânia vai ter que fazer isso porque não podemos deixar o mundo morrer de fome", disse Budanov, sem dar mais detalhes sobre o assunto, após ser questionado se a Ucrânia planeja garantir militarmente o trânsito pelo Mar Negro de navios comerciais que se dirigem aos portos ucranianos.
A Rússia anunciou em 17 de julho sua retirada do acordo de grãos, pelo qual Moscou se comprometeu com as Nações Unidas e a Turquia a permitir um corredor através do Mar Negro até três portos ucranianos para navios que exportam grãos da Ucrânia.
A saída da Rússia do acordo um ano depois de sua assinatura bloqueia mais uma vez a navegação no Mar Negro e vem desestabilizando o mercado internacional de produtos agrícolas, do qual a Ucrânia é um dos principais produtores.
Ataques à Rússia
Também na segunda-feira, o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, disse que os ataques de Moscou contra infraestruturas militares ucranianas "aumentaram consideravelmente" em resposta aos ataques contra o território russo dos últimos dias.
A península ucraniana ocupada da Crimeia e alguns territórios russos foram atacados com drones nas últimas semanas. No domingo, um ataque danificou levemente dois prédios em um bairro comercial de Moscou.
Zelenski se mostrou satisfeito com esses ataques no domingo e afirmou que a guerra estava chegando "na Rússia".
"Progressivamente, a guerra chega ao território da Rússia, a um dos centros simbólicos e suas bases militares. É um processo inevitável, natural e absolutamente justo", declarou. "A Ucrânia está ficando mais forte", acrescentou o presidente ucraniano, alertando que seu país deve se preparar para novos ataques às infraestruturas energéticas no próximo inverno europeu.
As autoridades russas começaram a instalar barreiras flutuantes para proteger a ponte da Crimeia de ataques ucranianos. A barreira contra veículos flutuantes não tripulados será colocada no Mar de Azov, ao longo de toda a extensão da ponte, a maior da Europa com 18 quilômetros, e que já foi danificada em duas ocasiões desde o início da guerra.
jps/le (EFE, AFP, Reuters, DPA, Lusa)
por dw.com
UCRÂNIA - Ao menos duas pessoas morreram e 20 ficaram feridas em um ataque russo nesta segunda-feira (31) contra um prédio residencial na cidade de Kryvyi Rig, na região central da Ucrânia, anunciou o ministro do Interior.
"Os russos atacaram a cidade com dois mísseis: um deles destruiu um edifício residencial, do quarto ao nono andar", escreveu o ministro Ihor Klymenko no Telegram.
Duas pessoas faleceram e 20 ficaram feridas, confirmou o ministro, que citou "entre cinco e sete pessoas presas sob os escombros".
O outro míssil atingiu um edifício de um centro de ensino, de acordo com Klymenko.
"Bombardear edifícios residenciais, um edifício universitário, um cruzamento. Infelizmente há mortos e feridos. Pessoas podem estar sob os escombros", escreveu no Facebook o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, que denunciou mais uma vez o "terrorismo russo".
As imagens divulgadas pela presidência mostram um edifício de apartamentos destruído em vários andares. O edifício do centro de ensino atingido tinha um buraco no centro da construção.
Kryvyi Rig, a cidade natal de Zelensky, foi bombardeada em meados de junho. Ao menos 12 pessoas morreram no ataque contra um edifício residencial de quatro andares e um depósito.
Também nesta segunda-feira, um ataque de drones ucranianos atingiu uma delegacia na região russa de Briansk, fronteiriça com a Ucrânia, sem provocar vítimas, informou o governador regional, Alexandre Bogomaz.
"As forças ucranianas atacaram o distrito de Trubchevsk durante a noite", escreveu Bogomaz no Telegram.
"Um drone atingiu a delegacia de polícia do distrito. Não houve vítimas", acrescentou.
Os ataques com drones contra o território russo e a península da Crimeia anexada em 2014 aumentaram nas últimas semanas, como parte da contraofensiva de Kiev iniciada em junho.
UCRÂNIA - Ao nascer do dia, pontos minúsculos aparecem no céu da Romênia, acompanhados pelo barulho crescente de motores: são drones que se aproximam. Os barqueiros do rio Danúbio primeiro reagem incrédulos, depois em pânico, filmam com seus celulares: "Eles vão explodir aqui", exclama um dos homens, "vai cair direto no porto!"
Em seguida, a algumas centenas de metros, primeiro se vê o clarão de uma bola de fogo, em seguida uma violenta detonação se faz ouvir. "Vamos fugir, gente, a guerra agora começou bem na frente da Romênia!", grita um dos barqueiros.
Na manhã de 24 de julho de 2023, a Rússia enviou 15 drones iranianos Shahed-136 para o porto fluvial de Reni, na Ucrânia. Alguns são derrubados pela defesa aérea ucraniana, outros explodem, destruindo armazéns e celeiros cheios de cereal, e deixando sete feridos.
Um navio de carga romeno também é danificado. O porto de Izmail, rio acima, é igualmente alvo de ataques, mas sem êxito. Até então a guerra da Rússia na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, nunca avançara até tão perto da fronteira externa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Reni se situa no triângulo Ucrânia-Romênia-Moldova, cerca de 120 quilômetros a oeste da foz do Danúbio no Mar Negro. A partir do porto destruído, são uns 200 metros até a metade do rio, onde se situa a fronteira estatal da Romênia e, portanto, de um Estado-membro da Otan. Mais 200 metros e chega-se à margem romena.
Por sua vez, o porto moldovo de Giurgiulești fica apenas cinco quilômetros rio acima; enquanto até a metrópole romena de Galați, com 220 mil habitantes, são dez quilômetros em linha reta. Foi mera questão de sorte, portanto, os pouco precisos drones Shared não terem atingido o território da aliança atlântica.
Putin quer paralisar exportação de grãos ucranianos
A ofensiva contra Reni é o degrau mais recente na escalada do terrorismo das bombas de Moscou, inaugurada há pouco mais de uma semana nas cidades portuárias de Odessa e Mykolaiv, no Mar Negro, e dirigido sobretudo contra a infraestrutura ucraniana de exportação de grãos.
Antes, mísseis russos já haviam atravessado um trecho do espaço aéreo romeno; destroços caíram sobre a República de Moldova; um projétil foi parar num bosque polonês. Até então, porém, o país agressor nunca empreendera uma ofensiva intencional tão perto da fronteira externa da Otan, ainda mais contra um alvo civil, numa área sem infraestrutura militar importante.
"Vladimir Putin quer paralisar por todos os meios a exportação de grãos da Ucrânia, e ao mesmo tempo se vingar por não terem sido suspensas certas sanções à Rússia, por exemplo contra o setor bancário", analisa o politólogo Armand Gosu, que leciona história e diplomacia russa e soviética na Universidade de Bucareste e é um dos principais especialistas romenos em Rússia e o espaço pós-soviético.
A Ucrânia depende urgentemente do faturamento com cereais e sementes oleaginosas, e até agora dispunha para tal de três vias de exportação. O maior volume saía dos portos de Odessa e Mykolaiv, pela rota do Mar Negro, mesmo depois da invasão russa, em fevereiro de 2022, graças a um acordo com Moscou sob mediação internacional. Após sua expiração, em 17 de julho, contudo, Putin recusou-se a prorrogá-lo.
Desde o início da invasão, outra parte chegava aos mercados mundiais por via terrestre, através da Romênia, Hungria, Eslováquia e Polônia. A terceira rota é pelo delta do Danúbio, passando tanto pelos portos ucranianos de Reni e Izmail, quanto por um trecho do Mar Negro pertencente às águas territoriais romenas. Kiev tenciona ampliar sobretudo essa terceira rota.
Bombardeios no Danúbio também visam efeito psicológico
Apesar de afastado e de acesso complicado por terra, o porto fluvial da localidade de Reni, no extremo sudoeste do país, oferece melhor acesso ao caminho náutico. A partir de lá, grandes navios de carga chegam ao Mar Negro passando pelo canal romeno de Sulina, o braço do delta do Danúbio mais bem ampliado para navegação.
Izmail – localidade com população de 70 mil, no braço de Kiliya do delta – por sua vez, é mais acessível por terra, porém só poucos grandes navios são capazes de aportar lá. Um projeto para aumentar a profundidade de certos trechos do Danúbio nessa região, por exemplo o canal Novostambulske-Bystroye, só avança lentamente, sendo tema controverso entre Bucareste e Kiev há muitos anos.
Comparado com a rota do Mar Negro, partindo de Odessa e Mykolaiv, até agora só uma fração dos grãos ucranianos pôde ser exportada a partir dos portos danubianos. Desse ponto de vista, o risco para a Rússia de bombardear Reni parece muito maior do que eventuais benefícios, devido à localização diretamente na fronteira da Otan.
Segundo o cientista político Gosu, entretanto, há muito mais em jogo na ofensiva do que apenas paralisar a exportação de grãos: "Putin quer mostrar que não se importa com a proximidade dos seus ataques com o território da Otan. Mais ainda: o objetivo dele é expor a indecisão da Otan."
Com reticência, Otan colabora para jogo cínico
A opinião pública romena reagiu com horror e apreensão profunda ao bombardeio dos portos de Reni e Izmail. Não só por a guerra ter avançado até tão perto de seu território: o delta do Danúbio é uma região cujos habitantes de ambos os lados têm laços recíprocos fortes, do ponto de vista histórico, linguístico e cultural. Mais da metade dos 18 mil habitantes de Reni, por exemplo, é de etnia romena.
Ao contrário da população, as reações oficiais de Bucareste foram estranhamente reticentes. O presidente Klaus Iohannis só tuitou brevemente que condenava com severidade as investidas russas próximo à Romênia. O Ministério da Defesa meramente comunicou que "não há ameaças militares diretas do território nacional".
Da parte da Otan, por sua vez, até agora não houve uma tomada de posição. É fato que o Conselho Otan-Ucrânia está reunido há mais de uma semana, desde a onda de bombardeios russos contra Odessa e Mykolaiv. Porém não houve qualquer condenação ou advertência a Moscou pelos ataques nas vizinhanças da fronteira da aliança militar ocidental.
Armand Gosu acredita que a Otan "quer evitar uma escalada a qualquer preço": "As elites do Ocidente agora estão cansadas da guerra, e temem mais um colapso da Rússia do que uma derrota da Ucrânia." Por isso o apoio a Kiev é aquém do necessário.
"Não é por causa da Rússia que vai haver um conflito longo, congelado na Ucrânia, mas porque o Ocidente não fornece armas suficientes", prognostica o politólogo romeno. "É um jogo cínico."
Autor: Keno Verseck / DW Brasil
UCRÂNIA - O general encarregado da contraofensiva da Ucrânia no sul do país, Oleksandr Tarnavskyi, diz que a Rússia criou campos minados de várias camadas e linhas defensivas fortificadas que dificultam o avanço de equipamentos militares, incluindo tanques e veículos blindados fornecidos pelo Ocidente.
"É por isso que a maioria das tarefas precisam ser executada por tropas", disse.
Ele afirmou que os militares da Rússia demonstraram "qualidades profissionais" ao impedir que as forças ucranianas "avançassem rapidamente".
"Não subestimo o inimigo", acrescenta.
Os últimos relatórios dos EUA sugerem que o principal impulso da contraofensiva já começou. O grupo de pesquisa Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra) diz que as forças ucranianas parecem ter rompido "certas posições defensivas russas pré-preparadas".
Até agora, há poucas evidências de que tanques e veículos blindados fornecidos pelo Ocidente tenham conseguido fazer pender a balança a favor da Ucrânia.
Vários tanques Leopard e veículos de combate US Bradley foram danificados ou destruídos nos primeiros dias da ofensiva, perto da cidade de Orikhiv.
A 47ª Brigada da Ucrânia, que havia sido amplamente treinada e equipada pelo Ocidente para tentar romper as linhas russas, logo foi parada por minas e depois alvejada pela artilharia.
A Rússia divulgou vários vídeos do incidente, alegando que a ofensiva da Ucrânia já havia falhado. Na realidade, foi mais um revés do que um golpe decisivo.
Visitamos a oficina externa da mesma brigada, escondida em uma floresta atrás da linha de frente, onde agora eles estão tentando consertar mais de uma dúzia de veículos blindados — a maioria deles US Bradleys.
Eles chegaram à Ucrânia ilesos, mas agora carregam as cicatrizes da batalha: trilhos quebrados e rodas empenadas, os sinais reveladores de que vários deles passaram por minas russas.
"Quanto mais rápido pudermos consertá-los, mais rápido poderemos levá-los de volta à linha de frente para salvar a vida de alguém", diz Serhii, um dos engenheiros.
Mas ele também admite que alguns precisarão de mais que um reparo, e terão que ter partes trocadas ou até devem ser "devolvidos aos nossos parceiros" para serem reconstruídos.
Embora a blindagem ocidental tenha fornecido melhor proteção às tropas ucranianas, ela não foi capaz de penetrar nas fileiras de minas russas — um dos maiores desafios para o avanço da Ucrânia.
Viajando pela frente sul, também vimos veículos blindados Mastiff, fornecidos pelo Reino Unido, danificados e destruídos.
A 47ª Brigada agora está usando alguns de seus tanques mais antigos da era soviética para limpar os campos minados. Mas eles também não conseguem escapar dos explosivos escondidos no solo, mesmo quando equipados com acessórios especializados na remoção de minas.
Mais perto da linha de frente, o comandante do tanque Maksym nos mostrou seu tanque T-64 recentemente destruído. Foi equipado com dois rolos na frente para detonar deliberadamente as minas, mas perdeu um deles na noite anterior, enquanto tentava abrir caminho para as tropas.
"Normalmente nossos rolos suportam até quatro explosões", diz. Mas os russos, acrescenta ele, têm colocado minas umas sobre as outras para destruir os equipamentos.
"É muito difícil porque há muitas minas", diz Maksym, acrescentando que muitas vezes havia mais de quatro fileiras de campos minados na frente das linhas defensivas russas.
Também tem sido doloroso assistir ao desenrolar da batalha para o piloto Doc e sua equipe de drones de reconhecimento do Exército Voluntário da Ucrânia.
Doc participou da ofensiva bem-sucedida do ano passado em Kherson. Mas ele diz que desta vez tudo está provando ser muito mais difícil.
Pela primeira vez na guerra, diz ele, os soldados estão sendo mais feridos por minas do que por artilharia: "Quando avançamos, encontramos campos minados por toda parte."
Ele me mostra um vídeo que filmou recentemente de um de seus drones enquanto as tropas ucranianas avançavam em direção a uma trincheira russa.
Há uma grande explosão assim que os soldados entram. A trincheira estava vazia, mas repleta de minas.
Doc diz ainda que as forças russas agora estão usando minas controladas remotamente.
"Quando nossos soldados chegam às trincheiras, eles apertam um botão e ela explode, matando nossos amigos."
Ele diz que viu a tática sendo usada nas últimas duas semanas e a chama de "uma nova arma".
Há uma lógica militar na ofensiva da Ucrânia no sul. A operação é vista como a chave para dividir as forças russas e alcançar as cidades ocupadas de Melitopol e Mariupol — até a Crimeia.
Mas o foco neste eixo significa que a Ucrânia agora também está atacando as linhas defensivas russas onde elas são mais fortes.
Como Rússia está segurando contraofensiva da Ucrânia© BBC
O general Tarnavskiy disse que suas forças estavam fazendo "um trabalho árduo e meticuloso". Ele disse que "qualquer defesa pode ser quebrada, mas é preciso paciência, tempo e ações hábeis".
A Ucrânia estava lentamente desgastando seu inimigo e a Rússia não se importava em perder homens, diz ele. Mas mudanças recentes na liderança militar "significam que nem tudo está bem", acrescentou.
Mas ele insistiu que a Ucrânia ainda não comprometeu sua principal força de ataque. "Devagar ou não, a ofensiva está acontecendo e com certeza vai atingir seu objetivo", diz.
Pergunto ao general como podemos julgar se é um sucesso ou um fracasso. Ele sorri e responde: "Se a ofensiva não tivesse dado certo, eu não estaria falando com você agora."
por Jonathan Beale - Correspondente de defesa da BBC NEWS
KIEV - Uma semana após a Rússia ter deixado o acordo que permitia o trânsito de navios ucranianos com grãos para exportação, a guerra se espalha pelo mar Negro, chegando o mais perto de fronteiras da Otan (aliança militar do Ocidente) desde que Vladimir Putin invadiu o vizinho há 18 meses.
Na terça (25), o Ministério da Defesa russo disse que um de seus navios-patrulha, o Serguei Kotov, foi atacado por dois drones marítimos operados por Kiev. Segundo o relato, eles foram destruídos a cerca de 1 km do barco russo, que disparou contra eles quando patrulhava uma área no sudoeste do mar, a 370 km da base da Frota do Mar Negro, em Sebastopol (Crimeia).
É a primeira ação do tipo em meses, em um campo menos explorado da guerra. A Marinha ucraniana foi basicamente dizimada pelos russos, que por sua vez tiveram a mais simbólica perda do conflito quando Kiev afundou a nau-capitânia da frota de Moscou na região, o cruzador pesado Moskva, com um ataque com mísseis antinavio disparados da costa.
O acordo para a exportação de grãos, vigente desde julho do ano passado, reduziu bastante a atividade naval do conflito a destruição do último navio de maior porte ucraniano pelos russos, em maio, foi o último incidente de relevo. Agora, isso tende a mudar, até pela proliferação de drones marítimos de Kiev, como os utilizados contra a ponte que liga a Crimeia anexada à Rússia, trazendo novos riscos de expansão da guerra.
Exemplo disso ocorreu na segunda (24), quando os russos bombardearam terminais de grãos em dois portos no estuário do Danúbio, Izmail e Reni, pela primeira vez. Foi o ataque mais próximo de território da Otan em toda a guerra: essas cidades só têm o rio a lhes separar da Romênia, integrante da aliança militar. Em alguns trechos, menos de 200 m entre as margens.
Até aqui, dois incidentes haviam deixado o Ocidente de cabelo em pé. No primeiro mês da guerra, os russos atingiram uma base de treinamento a meros 25 km da fronteira da belicosa Polônia. Em novembro, passado, um míssil antiaéreo ucraniano acabou caindo no território polonês, matando duas pessoas. Houve também caso inusual de um drone ucraniano que caiu na Croácia, após voar sobre Moldova e Romênia.
Com a eventual proliferação de ataques e incidentes no mar Negro, que tanto Moscou quanto Kiev declararam bloqueado ao dizer que considerariam qualquer navio suspeito de transporte militar após o fim do acordo dos grãos, os riscos de algum erro de cálculo se multiplicam. A região já viu um drone americano ser derrubado por um caça russo neste ano, e diversos incidentes entre forças de Moscou e da Otan nos últimos anos.
Até a segunda, a Rússia havia focado seus ataques à infraestrutura portuária ucraniana mais ao norte, na região de Odessa. O eventual escoamento da produção pelo estuário do Danúbio no mar Negro, junto às águas da Romênia, é mais caro, mas teoricamente seria mais imune a ataques não mais. Putin diz que só voltará ao arranjo se o Ocidente respeitar a contrapartida ao acordo, que é a facilitação da exportação de grãos e fertilizantes russos.
A Turquia, mediadora com a ONU do acerto e também membro da Otan, afirmou que os países ocidentais deveriam ouvir o russo. Nesta terça, após um encontro entre Putin e o ditador belarrusso, Aleksandr Lukachenko, o Kremlin reafirmou que não pretende voltar voluntariamente ao acordo.
Enquanto isso, os combates prosseguem. Kiev afirma que sua contraofensiva fez alguns ganhos incrementais no sul ucraniano e na região de Bakhmut, no leste. Já os russos disseram ter repelido novamente ataques, e que prosseguem com sua própria ofensiva no norte de Donetsk (leste) e em Kharkiv (nordeste), mas com intensidade bem menor do que a propagandeada na semana passada.
Ao que tudo indica, tanto Moscou quanto Kiev podem ter exagerado, com motivações diversas, as ações russas. Os ucranianos falaram na maior concentração de tropas desde a invasão de 2022, com 100 mil militares de Putin, mas o que se viu até aqui não corrobora isso.
Mais ao sul, em Zaporíjia, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) afirmou que detectou minas terrestres antipessoais no perímetro externo da usina nuclear homônima, a maior da Europa. O diretor-geral do órgão, o argentino Rafael Grossi, não disse o que parece óbvio, que elas são russas, mas condenou a ação ainda que afirmando não haver risco para os reatores.
Os operadores russos da usina, ocupada em março de 2022, disseram ter desligado de vez 2 dos 6 reatores do local, que não está produzindo energia.
por IGOR GIELOW / FOLHA de S.PAULO
UCRÂNIA - Ataques russos à cidade de Odessa, na Ucrânia, deixaram dois mortos, 22 feridos e destruíram parte da Catedral Ortodoxa da Transfiguração, construída no século XVIII no centro histórico da cidade, sob proteção da Unesco.
Entre os feridos há quatro menores. A Ucrânia prometeu, no domingo (23), "retaliações" diante do ataque, enquanto Vladimir Putin garantiu que a contraofensiva ucraniana "falhou".
De acordo com as autoridades ucranianas, a Rússia lançou 19 mísseis por terra, mar e ar contra esta cidade do Mar Negro essencial para o trânsito marítimo na região. Nove desses projéteis foram abatidos.
Atiraram "mísseis contra cidades pacíficas, contra casas, contra uma catedral", disse o presidente Volodimir Zelensky. "Haverá retaliações contra os terroristas russos pelo que aconteceu em Odessa", prometeu. O presidente ucraniano postou em suas redes sociais imagens da destruição. O templo foi demolido sob Stalin em 1936 e reconstruído na década de 1990, após a queda da União Soviética.
Os padres conseguiram resgatar ícones dos escombros dentro do prédio danificado.
"Houve um ataque direto à catedral e três altares foram completamente danificados", disse o padre Miroslav, vice-reitor do templo. Segundo ele, o prédio está "muito danificado por dentro", e "apenas a torre sineira permaneceu intacta".
A Ucrânia descreveu o ataque como um "crime de guerra" e acrescentou que a catedral "foi destruída duas vezes, por Stalin e por Putin".
A Rússia, por sua vez, culpou as defesas aéreas de Kiev pelo que aconteceu na catedral e afirmou ter atingido todos os alvos definidos em Odessa.
No entanto, moradores de Odessa contam que os alvos eram prédios residenciais.
"Aqui o que temos são casas. Nada militar", disse à AFP Tetiana, dona de um salão de beleza.
Em uma carta endereçada ao patriarca russo Kirill e publicada nas redes sociais, o arcebispo Viktor, da diocese de Odessa, da Igreja Ortodoxa ucraniana, pediu no domingo para "cessar o derramamento de sangue".
A contraofensiva ucraniana "fracassou", diz Putin
O bombardeio ocorreu horas antes de uma reunião entre Putin e o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, em São Petersburgo.
A reunião entre os dois líderes ocorre pela primeira vez desde que Belarus atuou como mediadora para o fim da rebelião do grupo paramilitar Wagner na Rússia, há quatro semanas.
No início do encontro, no Palácio Konstantinovsky, o presidente russo afirmou que a contraofensiva ucraniana lançada no início de junho para tentar recuperar os terrenos invadidos por Moscou a sul e a leste "falhou".
Já Lukashenko atribuiu o incidente com o grupo paramilitar como o maior desafio ao poder de Putin, segundo muitos analistas, e reforçou que está controlando "o que está acontecendo", em menção à presença do grupo Wagner na fronteira com a Polônia.
"Eles pedem para ir para o oeste e me pedem permissão (...) para fazer uma viagem a Varsóvia, a Rzeszow", em território polonês, disse o bielorrusso a Putin, que respondeu com um sorriso. "Mas é claro que os mantenho no centro de Belarus, como combinamos", acrescentou.
Desde o acordo para o fim da rebelião em 24 de junho, os militares do grupo Wagner estão centralizados em Belarus.
Unesco condena ataque
A Unesco condenou no domingo (23) "veementemente" os "brutais bombardeios" russos que impactaram vários locais no centro de Odessa (sudoeste), declarado Patrimônio da Humanidade, especialmente a Catedral da Transfiguração, de 200 anos de história.
"Essas terríveis destruições significam uma nova escalada de violência contra o patrimônio cultural da Ucrânia", denunciou Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco, agência da ONU para cultura, educação e ciência.
"Peço à Federação da Rússia que tome medidas tangíveis para cumprir suas obrigações sob o direito internacional", alertou.
Com informações da AFP
UCRÂNIA - Um novo ataque russo na última madrugada à cidade portuária de Odessa, na Ucrânia, deixou dois civis feridos e atingiu um terminal de grãos de uma empresa agrícola, destruindo 120 toneladas de cereais, incluindo 100 quilos de ervilha e 20 de cevada.
Segundo o governador da região, Oleg Kiper, esse foi o quarto ataque ao local em uma semana – na madrugada de quarta para quinta-feira, os bombardeios a Odessa e Mykolaiv mataram três pessoas e feriram 20.
“De madrugada, os russos dispararam mísseis de cruzeiro Kalibr de um porta-aviões no Mar Negro”, relatou, através do Telegram.
As forças de defesa aérea ucranianas também informaram sobre lançamentos de mísseis supersônicos Onix em direção à mesma cidade.
Autoridades pediram que moradores de Odessa fiquem em lugares seguros até o fim do alarme antiaéreo, e solicitaram que não filmem os trabalhos de defesa aérea “para não ajudar o inimigo”.
Já a Rússia declarou que realizou exercícios militares e destruiu “um barco-alvo na área de treinamento de combate no noroeste do Mar Negro”.
Analistas do think tank americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) avaliam que Moscou está tentando criar “um senso de urgência” para que o Ocidente faça concessões que levem a Rússia a retomar o acordo de grãos com a Ucrânia.
O pacto para a exportação marítima de cereais ucranianos, considerado essencial para equilibrar os preços globais e combater a fome no mundo, foi suspenso pela Rússia no último dia 17, com base em acusações de descumprimento da parte do acordo que beneficiaria as exportações russas.
O ISW lembrou que a Ucrânia colhe a maior parte de seus grãos entre julho e agosto e que os ataques ao porto de Odessa e infraestruturas agrícolas podem complicar ainda mais a capacidade de Kiev de administrar os cereais já colhidos.
“As interrupções prolongadas da logística do grão causarão efeitos em cascata cada vez maiores sobre o fornecimento. A Rússia intensifica os ataques e ameaça atingir embarcações civis no Mar Negro”, diz a análise.
Também na sexta-feira (21), a Casa Branca confirmou que a Ucrânia passou a usar munições de fragmentação entregues pelos Estados Unidos, “impactando as formações russas”.
Segundo o coordenador de comunicação estratégica do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, a aplicação dos projéteis cluster vai dar impulso à contraofensiva. (ANSA).
RÚSSIA - A Rússia atacou novamente os portos da Ucrânia no Mar Negro, incluindo o importante terminal de Odessa, informaram nesta quinta-feira as autoridades ucranianas, na terceira noite de bombardeios desde que Moscou se retirou do acordo para a exportação de grãos, um pacto crucial para a alimentação mundial.
Ao menos 20 pessoas ficaram feridas na madrugada de quinta-feira em bombardeios russos contra a cidade portuária de Odessa e Mikolaiv, na costa do Mar Negro, sul da Ucrânia, anunciaram as autoridades locais.
O governador da região de Mikolaiv, Vitaliy Kim, informou no Telegram que os bombardeios deixaram 18 feridos.
"Os russos atacaram o centro da cidade. Um estacionamento e um edifício residencial de três andares estão em chamas", disse Kim.
O prefeito da cidade portuária, Oleksandr Senkevich, afirmou que pelo menos cinco prédios residenciais sofreram danos durante o ataque.
Em Odessa, que fica 100 quilômetros ao sudoeste de Mikolaiv, duas pessoas foram hospitalizadas após um bombardeio russo, anunciou o governador Oleg Kiper.
Esta foi a terceira noite consecutiva de ataques na região costeira desde que Moscou se retirou do acordo que permitia a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro. O pacto expirou na segunda-feira (17).
A Rússia advertiu na quarta-feira que vai considerar como possíveis alvos militares os navios que seguem em direção à Ucrânia após o fim do acordo.
O início da ofensiva russa, em fevereiro de 2022, provocou o bloqueio dos portos ucranianos no Mar Negro até julho do ano passado, quando foi assinado um acordo, com mediação da Turquia e da ONU, que foi prorrogado em duas oportunidades.
O Kremlin, no entanto, anunciou na segunda-feira a saída do pacto após meses de reclamações da violação de um dispositivo do acordo para permitir a exportação dos produtos agrícolas e fertilizantes russos.
As autoridades ucranianas informaram na quarta-feira que os ataques russos destruíram 60.000 toneladas de grãos que seriam exportados.
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou que a Rússia está disposta a retornar ao acordo se a "totalidade" de suas demandas for respeitada.
O bloqueio desde segunda-feira do corredor para as exportações ucranianas levou a cotação do trigo na quarta-feira a 253,75 euros por tonelada nos mercados europeus, uma alta de 8%.
- Ataque na Crimeia -
Na Crimeia, a península no sul da Ucrânia anexada pela Rússia em 2014, um ataque com drone matou uma adolescente e atingiu vários prédios administrativos, informou nesta quinta-feira o governador local designado por Moscou.
"Em consequência do ataque de um aparelho aéreo não tripulado, quatro edifícios administrativos foram danificados", afirmou Serguei Aksionov.
"Infelizmente uma adolescente morreu", lamentou Aksionov.
As autoridades locais ordenaram na quarta-feira a saída de milhares de civis de suas casas após um incêndio em uma área militar da Crimeia. De acordo com a imprensa russa, explosões foram registradas em um depósito de munições.
A Ucrânia intensificou os ataques contra esta península, que é um ponto crucial para o abastecimento das tropas russas no território do país vizinho.
Na segunda-feira, drones navais ucranianos atacaram a ponte de Kerch, uma ligação vital entre a Rússia e o território anexado.
- Ucrânia pede patrulhas no Mar Negro -
Na frente de batalha, os combates se concentram no leste da Ucrânia, onde a contraofensiva iniciada em junho por Kiev enfrenta dificuldades para romper as linhas russas, apesar do envio de armas pelos países ocidentais.
O exército russo afirmou que suas forças avançaram mais de um quilômetro durante várias "operações de ataque" ao norte da cidade de Kupiansk, nordeste da Ucrânia.
O conselheiro da presidência ucraniano, Mikhailo Podolyak, afirmou que o país precisa de 200 a 300 veículos blindados adicionais para romper as linhas russas e de 60 a 80 caças F-16, além de cinco a 10 sistemas de defesa antiaérea Patriot, de fabricação americana, ou seu equivalente francês SAMP/T.
Podolyak também pediu uma análise sobre a instauração de um mandato da ONU para criar patrulhas militares com a participação dos países da região do Mar Negro para garantir a segurança de suas exportações.
UCRÂNIA - A Ucrânia celebrou uma “operação bem-sucedida” após o incêndio registrado nesta quarta-feira (19) em uma área militar na península anexada da Crimeia, que obrigou as autoridades designadas pela Rússia a ordenar a saída de mais de 2.000 civis.
“Uma operação bem-sucedida foi conduzida na Crimeia ocupada. O inimigo está escondendo a extensão dos danos e o número de perdas”, afirmou Kirilo Budanov, chefe da inteligência militar ucraniana, em um comunicado divulgado no Telegram.
Além da mensagem, o militar divulgou um vídeo curto que mostra uma instalação em chamas, mas as imagens não permitem identificar o tipo de infraestrutura atingida.
O governador designado por Moscou para a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, anunciou que as autoridades locais ordenaram a retirada de mais de 2.000 civis devido a um incêndio em uma área militar.
Dois portais de notícias russos, Mash e Baza, próximos aos serviços de segurança de Moscou, informaram que explosões foram ouvidas na região. O Mash indicou que um depósito de munições estava em chamas.
Algumas horas antes, a Força Aérea ucraniana anunciou que destruiu 23 dos 32 drones explosivos e 13 dos 16 mísseis Kalibr lançados pelas tropas russas contra a região de Odessa (sul).
A nova série de ataques russos deixou pelo menos 12 feridos, informou o governador Oleg Kiper.
AFP
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