SUDÃO - A goma-arábica, ingrediente fundamental de refrigerantes e chicletes, costumava ser uma estrela entre os produtos de exportação do Sudão antes da guerra. Mas desde o início dos combates no país, em meados de abril, e com a evacuação dos estrangeiros que a compravam, os preços despencaram.
"É uma verdadeira catástrofe para os produtores", lamenta Adam Issa Mohamed, um comerciante de El-Obeid, um dos principais mercados de goma-arábica ao sul de Cartum.
E não apenas para os produtores: cinco dos 45 milhões de sudaneses obtinham alguma renda direta ou indireta da produção de seiva cristalizada de acácia.
No entanto, até agora a goma-arábica do Sudão, que representa 70% das exportações brutas mundiais, teria resistido a tudo, de conflitos ao aquecimento global.
- Nenhum caminhão -
Este emulsificante natural é tão indispensável que Washington, que impôs sanções ao Sudão por anos, lhe concedeu uma isenção especial. As indústrias agrícola, alimentícia e farmacêutica não podem ficar sem ela: sem goma-arábica não há bebidas gaseificadas, chicletes ou medicamentos.
Porém hoje, após mais de cinco semanas de guerra entre militares e paramilitares, quase mil mortos, mais de um milhão de deslocados e refugiados e a evacuação da maioria dos estrangeiros relacionados com seu comércio, a goma-arábica não está mais a salvo.
A maioria dos combates atingem Cartum, onde se concentra também a maior parte da produção antes da exportação e em Darfur (oeste), onde se produz parte da goma.
Apesar de os enfrentamentos ainda não terem chegado a Gadarif (leste), perto da fronteira com Etiópia e onde também não há campos de acácias, os preços já mudaram.
"Como já não há compradores, a tonelada passou de 320.000 libras sudanesas a 119.000", de cerca de 532 a 198 dólares (equivalente a 2.642 a 983 reais na cotação atual) disse à AFP Ahmed Mohamed Hussein, que não consegue vender seu produto por falta de caminhões.
Em Cartum, os habitantes afirmam que muitos caminhões foram destruídos no fogo cruzado e que alguns motoristas morreram.
Os caminhoneiros que, no entanto, se atrevem a trabalhar têm outro obstáculo: nos postos de gasolinas onde ainda há combustível, o preço do litro se multiplicou por 20.
Ante a preocupação do mercado mundial, a Federação Internacional pelo Fomento da Goma (AIPG), que reúne produtores, importadores e fabricantes, assegura que suas "empresas têm suficientes reservas importadas do Sudão e outros países em seus armazéns para amenizar possíveis interrupções de fornecimento".
Em 2022, o país exportou 60.000 toneladas de goma, segundo Mustafa al Sayyed Khalil, diretor do Conselho de Goma-Arábica do Sudão.
- Produção paralela -
Com a guerra, é difícil saber quanto o país exporta atualmente e calcular a produção real de goma, acrescentou o diretor.
"Grande parte é produzida em regiões que escapam ao controle do Estado", zonas rurais ou desérticas, controladas por grupos armados.
No Sudão, a acácia utilizada para produzir a goma cresce naturalmente em um "cinturão" de cerca de 500.000 km2, superfície similar à da Espanha, e que atravessa o país de Gadarif até Darfur.
No entanto, mesmo antes da guerra, os preços locais de goma-arábica estavam tão baixos que muitos agricultores preferiam transformar suas acácias em carvão ou trabalhar nas minas de ouro da região.
A guerra pode significar um golpe mortal para este mercado. Khalil adverte que "se o cinturão de acácias desaparecer, todo o mundo afundará com ele".
RÚSSIA - As autoridades russas retiraram os civis de nove localidades na fronteira com a Ucrânia após a incursão de um grupo armado procedente do território ucraniano, informou nesta terça-feira (23) o governador regional, que citou vários bombardeios contra vilarejos.
"O trabalho de limpeza continua nas áreas afetadas. Moradores de Grayvoron, Novostroevka, Gorkovski, Bezymeno, Mokraya Orlovka, Glotovo, Gora Podol, Zamostie e Spodariusheno foram deslocados", anunciou Viacheslav Gladkov no Telegram.
O Kremlin expressou "profunda preocupação" com a incursão do grupo na região de Belgorod e pediu mais esforços para impedir este tipo de incidente.
"O que aconteceu ontem (segunda-feira) provoca uma profunda preocupação e demonstra, mais uma vez, que os combatentes ucranianos continuam com suas atividades contra nosso país", declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.
"Isto exige mais esforços da nossa parte, esforços que continuam. E a operação militar especial (na Ucrânia) prossegue para que isto não volte a acontecer", acrescentou.
A incursão, que aconteceu na segunda-feira no distrito de Grayvoron, deixou pelo menos oito feridos e levou a Rússia a decretar um regime "antiterrorista".
Nesta terça-feira, o Comitê de Inquérito da Rússia anunciou que abriu uma investigação por "ato terrorista".
UCRÂNIA - O governo da Ucrânia afirmou nesta segunda-feira (22) que impediu um bombardeio russo sem precedentes, com mísseis e drones, durante a noite contra a cidade de Dnipro, no centro-leste do país.
As autoridades locais afirmaram que sete pessoas ficaram feridas.
"Durante o ataque noturno, a Rússia lançou 16 mísseis de diferentes tipos e 20 drones Shahed", informou o exército ucraniano em um comunicado publicado no Facebook.
A nota afirma que "quatro mísseis de cruzeiro Kh-101/Kh-555 e todos os 20 drones foram destruídos pela defesa antiaérea".
As forças de Kiev não informaram as consequências dos 12 mísseis que conseguiram superar os sistemas de defesa do país.
O prefeito de Dnipro, Boris Filatov, afirmou no Telegram que, "desde o início da guerra, nunca havia acontecido um bombardeio de tal intensidade" contra a cidade.
Dnipro, uma cidade que tinha quase um milhão de habitantes antes do início da invasão russa, fica a 125 quilômetros da linha de batalha.
O governador da região, Sergiy Lisak, informou que "sete pessoas ficaram feridas e duas mulheres, 52 e 70 anos, foram hospitalizadas".
A Rússia intensificou os bombardeios noturnos desde o início de maio e a Ucrânia afirma que suas defesas antiaéreas, reforçadas pela ajuda militar do Ocidente, conseguiu derrubar a maioria dos drones e mísseis.
UCRÂNIA - Os militares ucranianos e o grupo mercenário Wagner relataram novas retiradas russas em torno da cidade de Bakhmut na quinta-feira, enquanto Kiev registra seu maior avanço em seis meses antes de uma contra-ofensiva planejada.
As tropas da Ucrânia perto da linha de frente disseram que a Rússia estava bombardeando as estradas de acesso para retardar o ataque ucraniano, que mudou de ritmo após meses de lentos ganhos russos no combate terrestre mais mortífero da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
"Agora, na maior parte, conforme começamos a avançar, eles estão bombardeando todas as rotas para as posições de frente, então nossos veículos blindados não podem transportar mais infantaria, munição e outras coisas", disse Petro Podaru, comandante de uma unidade de artilharia ucraniana.
Os militares da Ucrânia disseram que as tropas avançaram em alguns lugares por mais de um quilômetro. Suas forças estiveram na defensiva por meio ano, resistindo a uma enorme ofensiva de Moscou que obteve apenas ganhos lentos.
"Apesar do fato de nossas unidades não terem vantagem em equipamentos... e pessoal, elas continuaram avançando pelos flancos e cobriram uma distância de 150 a 1.700 metros", disse o porta-voz militar Serhiy Cherevatyi em comentários televisionados.
O chefe do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, disse que suas forças dentro da própria Bakhmut ainda estão avançando, prestes a expulsar as tropas ucranianas de seu último ponto de apoio na área construída na periferia oeste da cidade.
Mas ele acusa os comandantes das forças regulares da Rússia de abandonar o terreno ao norte e ao sul da cidade, aumentando o risco de as tropas no interior serem cercadas.
"Infelizmente, as unidades do Ministério da Defesa da Rússia recuaram até 570 metros ao norte de Bakhmut, expondo nossos flancos", disse Prigozhin em sua última mensagem de voz na quinta-feira.
"Estou apelando para a liderança do Ministério da Defesa -- publicamente -- porque minhas cartas não estão sendo lidas", disse Prigozhin, dirigindo-se ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e ao chefe do Estado-Maior, Valery Gerasimov.
O Ministério da Defesa russo reconheceu algumas retiradas de posições perto de Bakhmut na semana passada, mas nega as afirmações de Prigozhin de que os flancos estão desmoronando ou que reteve munição do Wagner.
"RATOS EM UMA RATOEIRA"
A Ucrânia diz que sua tática em torno de Bakhmut é atrair as forças russas para a cidade, de modo a enfraquecer as defesas da linha de frente da Rússia em outros lugares antes do contra-ataque planejado por Kiev.
"As tropas do Wagner entraram em Bakhmut como ratos em uma ratoeira", disse Oleksander Syrskyi, comandante das forças terrestres da Ucrânia, às tropas na frente de Bakhmut em um vídeo que divulgou esta semana nas redes sociais.
Na quinta-feira, sirenes de ataque aéreo soaram durante a noite, fumaça negra encheu o céu sobre Kiev e uma pessoa foi morta na cidade de Odessa, no sul. A Ucrânia disse que derrubou 29 dos 30 mísseis lançados enquanto Moscou afirmou ter atingido alvos militares.
A Rússia também tem sofrido ataques e explosões tanto no território ucraniano que controla quanto no território russo próximo à fronteira. Autoridades na Crimeia ocupada pela Rússia relataram que um trem de carga descarrilou durante a noite por "interferência".
por Por Ivan Lyubysh-Kirdey / REUTERS
UCRÂNIA - Da noite desta quarta-feira (17/05) até a manhã desta quinta-feira, as tropas russas dispararam 30 mísseis de cruzeiro contra o território da Ucrânia, dos quais 29 foram abatidos pelas forças de defesa aérea da Ucrânia, disse o comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Valerii Zaluzhnyi, na manhã desta quinta-feira.
Segundo ele, entre 21h de quarta-feira e 5h30 de quinta-feira (horário local), as tropas russas realizaram séries de ataques com mísseis a partir de diversas posições, tanto de terra como de mar e de ar.
Vinte e dois mísseis de cruzeiro Kh-101/Kh-555 foram disparados de dez aeronaves Tu-160 e Tu-95, e outros seis mísseis de cruzeiro Kalibr foram disparados de navios no Mar Negro. As tropas russas também dispararam dois mísseis de cruzeiro Iskander-K a partir de sistemas de mísseis táticos-operacionais baseados em terra, afirmou Zaluzhnyi no Telegram.
Além disso, a defesa aérea ucraniana afirmou ter abatido dois drones de ataque Shahed-136/131 e dois drones de reconhecimento tático-operacional durante a noite.
Um morto em Odessa
Uma série de explosões atingiu a infraestrutura do distrito de Khmelnytsky na manhã desta quinta-feira, segundo a administração militar regional. "Ninguém ficou ferido. Informações sobre a destruição estão sendo obtidas", relatou.
Na região de Quirovogrado, as forças de defesa aérea ucranianas destruíram um míssil de cruzeiro no céu sobre o distrito de Olexandria e um drone no distrito de Kropyvnytskyi, comunicou a administração regional de Quirovogrado. "Em ambos os casos, não foi sem destruição. A ogiva do foguete explodiu na área de uma casa particular. A explosão danificou três casas. Não houve vítimas", afirmou.
Durante a madrugada, a administração militar da cidade de Kiev afirmara que, durante um forte ataque com mísseis, horas antes, todos os projéteis foram detectados e destruídos no espaço aéreo da capital. Várias explosões foram ouvidas na cidade. Este foi o nono ataque com mísseis contra Kiev apenas este mês.
Também na noite de 17 de maio, um míssil russo atingiu uma instalação industrial nos arredores de Odessa, na costa do Mar Negro, disse Natalia Humeniuk, comunicou a Coordenação Conjunta das Forças de Defesa do Sul da Ucrânia. Uma pessoa morreu, outras duas ficaram feridas.
Os mísseis também atingiram a província de Mykolaiv, no sul da Ucrânia, provocando um incêndio.
as (DW, Lusa, Efe)
UCRÂNIA - Um grupo de soldados russos desenterrou algo inesperado, enquanto cavava novas linhas defensivas em Melitopol, cidade do oblast (província) de Zaporíjia, no sudeste da Ucrânia.
O local, que era uma espécie de cemitério de bovinos, continha antraz, já que dois soldados foram, supostamente, infectados pela substância e, rapidamente, hospitalizados.
“Não, este não é um episódio de um filme de terror”, escreveu o prefeito exilado de Melitopol, Ivan Federov, em seu canal público do Telegram.
Os dois homens eram de Rosvoisk. Após a confirmação do diagnóstico, receberam alta do hospital e foram levados para um local desconhecido.
Federov explicou que a unidade inteira foi mantida em quarentena. Ele acrescentou que até mesmo as terras da Ucrânia estavam a fazer sua parte para expulsar os russos do país.
“Eles definitivamente não terão um final feliz”, acrescentou Federov, destacando a realidade de uma guerra que colocou os homens de ambas as nações no fogo cruzado.
Segundo Joe Barnes, em um artigo para o The Telegraph, a unidade que cavava novas trincheiras defensivas em Zaporíjia, provavelmente, preparava-se para a tão esperada contra-ofensiva ucraniana.
O antraz é uma infecção bacteriana grave, que, geralmente, só é transmitida aos humanos por meio de animais infectados.
Joe Barnes observou que o antraz não era desconhecido na Rússia, já que foi endêmico na maior parte da União Soviética, no século XX, devido às práticas agrícolas.
De acordo com a Mayo Clinic, o antraz pode causar feridas na pele, vômitos e, em casos graves, ser fatal.
Em março de 2022, o The Daily Beast relatou que soldados russos cavaram uma série de trincheiras defensivas na zona de exclusão de Chernobyl e sofreram uma doença aguda causada pela radiação.
As tropas cavaram suas trincheiras na extremamente contaminada Floresta Vermelha, da Ucrânia e, mais tarde, foram tratadas em Gomel, na Belarus.
A área é considerada tão tóxica que nem sequer trabalhadores altamente especializados de Chernobyl podem entrar lá.
A empresa estatal de energia da Ucrânia, Energoatom, que administrou a área do desastre nuclear antes da invasão, explicou a situação.
“Não surpreendentemente, os ocupantes receberam doses significativas de radiação e entraram em pânico ao primeiro sinal de doença”, comunicou.
A agência confirmou que as tropas russas haviam escavado “a área mais poluída de toda a zona de exclusão”, o que explicaria por que tantos soldados adoeceram tão rapidamente.
por Zeleb.es / thedailydigest.com
UCRÂNIA - O governo da Ucrânia afirmou nesta terça-feira (16) que derrubou seis mísseis hipersônicos russos Kinzhal durante um ataque noturno contra Kiev.
"Outro sucesso incrível da Força Aérea ucraniana! Durante a noite, nossos defensores do céu derrubaram SEIS mísseis hipersônicos russos Kinzhal e outros 12 mísseis", escreveu no Twitter o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov.
A Ucrânia anunciou há uma semana que derrubou pela primeira vez um míssil hipersônico Kinzhal utilizando sistemas fornecidos pelos Estados Unidos.
Os mísseis Kinzhal ("punhal" em russo) são mais difíceis de interceptar do que outros tipos de projéteis.
O presidente russo, Vladimir Putin, apresentou este míssil em 2018 e o chamou de "arma ideal" por sua dificuldade de interceptação.
Kiev recebeu em meados de abril os primeiros Patriot, um dos sistemas de defesa antiaérea mais avançados dos Estados Unidos, utilizado para derrubar o primeiro míssil Kinzhal.
As autoridades ucranianas não divulgaram que sistema foi utilizado para derrubar os mísseis Kinzhal nos ataques da noite passada.
Alguns destroços caíram em vários bairros de Kiev, incluindo no zoológico da capital ucraniana, e três pessoas ficaram feridas, segundo o prefeito da cidade, Vitali Klitschko.
KIEV - O Exército da Ucrânia celebrou nesta segunda-feira os recentes avanços em torno de Bakhmut com sua primeira contraofensiva bem-sucedida na batalha contra as forças russas pelo controle da cidade no leste do país.
Mas Kiev também disse que a situação em Bakhmut é difícil. O lado ucraniano afirmou que Moscou não alterou seu objetivo de capturar a cidade e estava enviando tropas para os arredores de Bakhmut.
Os militares ucranianos disseram na semana passada que começaram a empurrar as forças russas para dentro e ao redor de Bakhmut após meses de combates pesados, e Moscou reconheceu que suas forças recuaram no norte da cidade.
“O avanço de nossas tropas na direção de Bakhmut é o primeiro sucesso de ações ofensivas na defesa de Bakhmut”, disse o coronel general Oleksandr Syrskyi, comandante das forças terrestres, em comunicado publicado no aplicativo de mensagens Telegram.
"Os últimos dias mostraram que podemos avançar e destruir o inimigo mesmo em condições extremamente difíceis", afirmou ele. "Estamos lutando com menos recursos que o inimigo. Ao mesmo tempo, podemos arruinar seus planos."
Espera-se que Kiev lance uma grande contraofensiva em breve para tentar retomar territórios ocupados pela Rússia, mas as autoridades ucranianas indicaram que os ganhos em torno de Bakhmut não sinalizam que o contra-ataque mais amplo tenha começado.
A vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, disse que combates intensos continuavam em Bakhmut e arredores, e que "tudo" é difícil no local.
"Os russos não mudaram seus objetivos. Eles estão enviando tropas de assalto para os arredores de Bakhmut", escreveu ela no Telegram.
A Reuters não pôde verificar de forma independente os relatos do campo de batalha.
Por Dan Peleschuk
Reportagem adicional de Lidia Kelly / REUTERS
UCRÂNIA - As tropas ucranianas conseguiram avanços significativos ao redor da cidade cercada de Bakhmut (leste), epicentro dos combates contra a Rússia há vários meses, anunciou nesta sexta-feira (12) a vice-ministra da Defesa, Ganna Maliar.
"O inimigo sofreu baixas importantes. Nossas forças de defesa avançaram dois quilômetros nas proximidades de Bakhmut. Não perdemos nenhuma posição na cidade esta semana", afirmou Maliar em um comunicado divulgado nas redes sociais.
As declarações de Maliar foram divulgadas depois que uma fonte da cúpula militar ucraniana anunciou esta semana que as tropas russas recuaram em algumas áreas de Bakhmut, depois dos contra-ataques das forças de Kiev.
A Rússia, no entanto, negou na quinta-feira que a Ucrânia tenha registrado avanços em Bakhmut e afirmou que os relatos de perdas territoriais ao redor da cidade "não correspondem à realidade".
O grupo paramilitar russo Wagner, que comanda o ataque terrestre de Moscou contra Bakhmut, reclamou recentemente da falta de munições e ameaçou abandonar a localidade se não recebesse mais apoio do Kremlin.
O Instituto para o Estudo da Guerra, com sede nos Estados Unidos, destaca em uma análise divulgada nesta sexta-feira que Kiev "provavelmente perfurou algumas linhas russas durante contra-ataques perto de Bakhmut".
"Um lançamento foi detectado. Manobre!"
UCRÂNIA - A ordem da equipe ucraniana em terra é clara — um avião de combate russo Su-35 disparou um míssil contra a aeronave de Silk. Ele sabe que tem que abortar a missão para sobreviver.
Silk, codinome do piloto, rapidamente mergulha seu caça bimotor MiG-29 tão baixo que consegue ver as copas das árvores. A antiga aeronave da era soviética começa a trepidar ao ser levada ao limite. Silk passa por torres e colinas que estudou meticulosamente no mapa enquanto se preparava para esta missão.
"Esses voos próximos à superfície são os mais difíceis", diz Silk. "Você tem que se concentrar muito. E, por causa da baixa altitude, você não tem tempo ou espaço para ejetar com segurança."
Jatos de combate como o pilotado por Silk acompanham aeronaves ucranianas de ataque ao solo durante suas missões de combate na linha de frente. O trabalho de Silk é fornecer cobertura contra mísseis ar-ar russos. Mas não há muita coisa que os jatos ucranianos possam fazer para detê-los.
"Nosso maior inimigo são os caças russos Su-35", diz outro piloto de MiG-29 cujo codinome é Juice.
"Conhecemos as posições da defesa aérea [russa], sabemos seus alcances. É bastante previsível, então conseguimos calcular quanto tempo podemos ficar [dentro da sua zona]. Mas no caso de caças, eles são móveis. Eles têm uma boa imagem aérea, e eles sabem quando estamos voando para a linha de frente."
As patrulhas aéreas russas são capazes de detectar a decolagem de um jato nas profundezas do território ucraniano. Seus mísseis R-37M podem atingir um alvo aéreo a uma distância de 150-200 km, enquanto os foguetes ucranianos só conseguem percorrer até 50 km.
Assim, os aviões russos podem ver as aeronaves ucranianas e derrubá-las muito antes de representarem qualquer ameaça.
Desde o início da invasão russa, a Força Aérea Ucraniana sofreu fortes baixas — embora não revele os números exatos.
A alegação da Rússia de que eles destruíram mais de 400 aviões ucranianos não parece plausível, dado que estimativas independentes do tamanho da frota ucraniana apontam para pelo menos metade desse número.
O relatório Military Balance 2022, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), afirma que a Força Aérea Ucraniana tinha 124 aeronaves com capacidade de combate antes da invasão russa em grande escala.
Para acabar com a superioridade da Rússia no ar, a Ucrânia quer que seus parceiros ocidentais forneçam jatos mais modernos, como o F-16 fabricado nos Estados Unidos.
"Nossos pilotos voam no fio da navalha", diz o coronel Volodymyr Lohachov, chefe do departamento de desenvolvimento de aviação da Força Aérea Ucraniana.
"Mas os jatos F-16 nos permitiriam operar além dos sistemas de defesa aérea do inimigo."
E seus mísseis podem ser eficazes em uma distância de até 150 km, o que permitiria a eles atacar também jatos russos.
"É claro que ainda seremos alvos", diz Juice.
"Mas será uma luta igualitária. No momento, não temos nenhuma resposta a eles."
Os F-16 possuem radares melhores que podem detectar mísseis disparados contra eles. Atualmente, a equipe que monitora os radares em solo precisa comunicar verbalmente os pilotos sobre as ameaças que eles enfrentam.
"Nossos jatos não têm um sistema para avisar sobre lançamentos [de foguetes russos]", diz um piloto de jato de ataque Su-25 cujo codinome é Pumba.
"É tudo baseado no visual. Se você os vê, simplesmente tenta escapar disparando armadilhas de calor e manobrando."
A superioridade aérea da Rússia significa que a Ucrânia pode se dar ao luxo apenas a uma mobilização limitada da sua aviação militar perto da linha de frente, o que pode ter um grande impacto no sucesso de qualquer futura operação de contra-ataque. De acordo com Juice, eles realizam até 20 vezes menos missões do que a Força Aérea Russa.
E as armas que as aeronaves de ataque ucranianas possuem são do estoque de antigas bombas e foguetes não guiados da era soviética, que estão se esgotando rapidamente devido aos suprimentos limitados.
Mas não se trata apenas de apoio aéreo para tropas terrestres. Os jatos ocidentais também poderiam melhorar os sistemas de defesa aérea da Ucrânia, de acordo com os pilotos.
"Nossas aeronaves têm radares antigos que não detectam mísseis de cruzeiro [russos]. Somos como gatos cegos quando tentamos derrubá-los", explica o coronel Lohachov.
O alcance das armas ocidentais do F-16 permitiria que eles interceptassem mísseis de cruzeiro "de longa distância diretamente em nossas fronteiras, em vez de tentar pegá-los em algum lugar em áreas centrais da Ucrânia", observa Juice.
Os caças MiG-29 que a Polônia e a Eslováquia transferiram para a Ucrânia recentemente não resolvem seus principais problemas, dizem os pilotos ucranianos. Esses aviões têm as mesmas armas antigas e capacidade limitada da frota ucraniana.
Mas o governo dos EUA descartou o envio de jatos F-16 para a Ucrânia. Muitos temem que fornecer aeronaves ocidentais à Ucrânia só vai escalar o conflito, atraindo os EUA e a Europa diretamente para a guerra.
Nem sequer o treinamento de pilotos ucranianos para pilotar esses aviões foi aprovado. Na verdade, Colin Kahl, subsecretário de políticas de defesa do Pentágono, disse que "o cronograma mais rápido" para a entrega dos F-16 seria de 18 meses e, portanto, não fazia sentido treinar pilotos com antecedência.
No entanto, as autoridades ucranianas esperam obter esses jatos de países europeus, o que ainda exigiria o consentimento dos EUA, mas seria muito mais rápido de entregar.
Quanto ao treinamento de pilotos, "só conseguimos enviar um certo número de pessoas por um período limitado num dado momento. Precisamos evitar reduzir nossas capacidades militares aqui", diz o coronel Lohachov.
Portanto, a melhor opção, segundo ele, é começar a enviar pequenos grupos agora para ter pilotos treinados suficientes quando os aviões chegarem.
Está claro, no entanto, que esses jatos não serão entregues a tempo para a esperada contra-ofensiva da Ucrânia. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já anunciou que esta operação vai seguir adiante sem esperar pelas aeronaves ocidentais.
Alguns especialistas questionam o impacto que os F-16 poderiam ter nesta guerra.
O professor Justin Bronk, pesquisador do Royal United Service Institute (RUSI), diz que esses jatos forneceriam uma camada extra de defesa, mas "não reverteriam a guerra por conta própria".
Até mesmo com os jatos F-16, "os pilotos ucranianos ainda teriam que voar muito baixo em qualquer lugar perto das linhas de frente por causa da ameaça terrestre da Rússia, e isso limitaria o alcance efetivo dos mísseis", explica Bronk.
"E também significa que empregar o poder aéreo da maneira que o Ocidente fez em guerras como do Iraque, Líbia, Afeganistão, não é possível na Ucrânia."
Os desafios logísticos levantam questões sobre se vale a pena enviar os jatos F-16 para a Ucrânia. Não se trata apenas de treinar pilotos e mecânicos — a infraestrutura precisa ser aprimorada também.
Os F-16 são projetados para pistas muito suaves e longas. A Ucrânia terá que adaptar seus aeródromos atuais para atender a esses requisitos — pavimentá-los, esvaziá-los e ampliá-los.
"Mas fazer isso será visível para os russos do espaço e por meio de fontes de inteligência humana", argumenta Bronk.
"E se você fizer apenas uma ou duas bases e tentar estabelecer apoio terrestre para operar os F-15 ou F-16, os russos vão ver e vão atacá-las."
"Você teria que fazer então várias delas. E esbarra na seguinte questão — vale a pena o número de profissionais qualificados e a quantidade de esforço político e apoio logístico que poderia ser usado para outras coisas, como tanques e artilharia, ou sistemas de defesa aérea terrestres?"
Por enquanto, pilotos ucranianos como Pumba, Silk e Juice vão ter que contar com seus antigos caças e jatos de ataque da era soviética.
Quando um alarme convoca para uma nova missão de combate, eles correm em direção a sua aeronave. Fazem um sinal de joia para os mecânicos para confirmar que todos os sistemas a bordo estão funcionando.
Alguns deles participaram de mais de 100 missões de combate. Mas eles sabem que cada voo pode ser o último.
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