SÃO CARLOS/SP - A ausência não justificada de pacientes em atendimentos previamente agendados tem sido um dos principais obstáculos à efetividade dos serviços públicos de saúde municipal em São Carlos. Esse fenômeno é conhecido como absenteísmo, termo que designa o hábito de se ausentar com frequência de compromissos obrigatórios, como consultas, exames e procedimentos médicos, sem aviso prévio ou justificativa. No contexto da saúde pública, o absenteísmo representa uma quebra na continuidade do cuidado, além de gerar desperdício de recursos e desorganização na gestão dos serviços.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, no primeiro quadrimestre de 2025, os números revelam perdas significativas em todas as frentes da Rede Municipal, desde os centros especializados até as unidades básicas. No Centro Municipal de Especialidades (CEME), foram registradas 4.728 faltas em consultas (22,1%) e 736 em exames (16,5%). Já nas Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), o número absoluto de faltas foi o mais alto de toda a rede: 18.761 pessoas deixaram de comparecer aos atendimentos, o que representa 19,7% de ausências. O índice também é elevado nas Unidades de Saúde da Família (USF’s), com 10.105 faltas (12,6%).
Centros Especializados - O problema não se restringe à atenção primária. Nos centros especializados, como o Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), 505 pacientes faltaram às consultas (16%). O Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS-II) teve uma taxa de absenteísmo de 19,2%, com 1.007 faltas — e o CAPS-AD, focado no cuidado de dependentes químicos, registrou 836 ausências (14%). Já o Ambulatório de Oncologia, apesar de atender pacientes em situação crítica, teve 307 faltas (9,9%). O CAPS Infantojuvenil (CAPS-IJ), voltado para crianças e adolescentes, contabilizou 221 faltas (6,8%), enquanto o Ambulatório de Feridas Complexas e Ostomias, que lida com tratamentos continuados e delicados, apresentou menor índice de absenteísmo (2,5%), com 63 não comparecimentos.
“As consequências vão além das estatísticas. A ausência compromete diretamente o diagnóstico precoce e a continuidade de tratamentos essenciais, além de provocar o desperdício de recursos públicos, como insumos já adquiridos, infraestrutura mobilizada e tempo de profissionais que ficam ociosos. O atraso na assistência também agrava o estado clínico dos pacientes, impacta o sistema de regulação e dificulta o planejamento da oferta de serviços”, alerta Leandro Pilha, secretário de Saúde, que reforça: o cenário exige ações concretas. “Cada ausência não comunicada representa uma oportunidade de cuidado perdida e um investimento que não retorna ao sistema”.
Já a diretora de Gestão do Cuidado Ambulatorial, Viviane Cavalcante, destaca o comprometimento da gestão com soluções equilibradas. “Estamos lidando com um comportamento recorrente que precisa ser enfrentado com conscientização, educação e melhor comunicação com o cidadão. Penalizar o paciente não é uma opção, mas racionalizar o uso dos serviços é uma necessidade”.
A Secretaria já realiza o envio de lembretes via SMS e WhatsApp e estuda a implantação de campanhas educativas e medidas regulatórias que atuem sobre reincidências injustificadas, sempre respeitando o direito constitucional ao acesso à saúde, conforme o artigo 196 da Constituição Federal.
Confira os números do absenteísmo na Rede Municipal de Saúde — 1º Quadrimestre de 2025:
CEME – Consultas: 4.728 faltas de 21.411 agendamentos (22,1%)
CEME – Exames: 736 faltas de 4.453 agendamentos (16,5%)
UBS – 11 unidades: 18.761 faltas de 95.248 atendimentos (19,7%)
CAPS-II: 1.007 faltas de 5.251 consultas (19,2%)
CAPS-AD: 836 faltas de 5.921 atendimentos (14%)
CAPS-IJ: 221 faltas de 3.262 consultas (6,8%)
CEO – Odontologia: 505 faltas de 3.150 atendimentos (16%)
USF – 23 unidades: 10.105 faltas de 80.157 atendimentos (12,6%)
Ambulatório de Oncologia: 307 faltas de 3.090 consultas (9,9%)
Ambulatório de Feridas Complexas e Ostomias: 63 faltas de 2.493 atendimentos (2,5%).