UCRÂNIA - As autoridades ucranianas aumentaram o tom neste sábado (9) em seus apelos aos aliados ocidentais e lamentaram a lentidão na entrega de armas e o "impasse" nas negociações para criar um tribunal internacional para julgar o presidente russo, Vladimir Putin.
"Infelizmente, estamos em uma espécie de impasse em ambas as questões. Na primeira, estamos divididos e, na segunda, há claramente uma falta de vontade", criticou na sexta-feira, em uma conferência internacional em Kiev, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, em declarações que não foram autorizadas a serem publicadas até sábado.
Os países do "G7 são firmemente a favor de um tribunal (...) híbrido" com base na legislação ucraniana, o que, segundo Kiev, não permitiria suspender a imunidade de Putin e outros altos funcionários russos.
Kuleba também criticou seus aliados ocidentais pela relutância em usar os ativos russos congelados pelo Ocidente para financiar a reconstrução da Ucrânia.
"Se um ano e meio depois, ainda ouço da Europa e dos Estados Unidos: 'Ainda estamos trabalhando nisso', posso entender. (...) Mas sei o que está acontecendo na realidade, há uma falta de vontade de tomar uma decisão final sobre essa questão", lamentou o ministro.
O bloco ocidental congelou mais de US$ 300 bilhões (R$ 1,3 trilhão, na cotação atual) em ativos do Banco Central russo e outras dezenas de bilhões de autoridades e oligarcas russos sancionados por Washington ou Bruxelas.
- "Armas pesadas" -
Essas críticas de Kiev surgem após o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, admitir na sexta-feira que a contraofensiva de suas tropas avança lentamente devido à superioridade aérea do Exército russo.
"Se não estamos no céu e a Rússia está, eles nos param do céu. Eles estão freando nossa contraofensiva", disse Zelensky.
O novo ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, reforçou neste sábado o apelo aos Estados Unidos e aos países europeus para que forneçam "mais armas pesadas".
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, anunciou esta semana durante uma visita à capital ucraniana uma nova ajuda de US$ 1 bilhão (R$ 4,98 bilhões).
O novo pacote inclui US$ 665 milhões (R$ 3,3 bilhões) em assistência militar e civil e servirá para dar um "impulso" à Ucrânia em sua contraofensiva, explicou Blinken em uma coletiva de imprensa.
No total, Washington já forneceu à Ucrânia mais de US$ 40 bilhões (R$ 200 bilhões) em ajuda desde o início da invasão russa.
A contraofensiva ucraniana, iniciada em junho, avança lentamente devido à complexa linha de defesa estabelecida pelo Exército russo nas áreas ocupadas, com trincheiras, campos minados e armadilhas antitanques.
- "O inimigo é forte" -
Os serviços de inteligência militar ucranianos estimaram que há 420 mil soldados russos destacados nas áreas ocupadas no leste e sul da Ucrânia.
"Temos que reconhecer que o inimigo é forte, que tem mais homens e mais armamentos", disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Maliar.
Os ataques ucranianos com drones, sabotagens e incursões breves têm aumentado nos últimos meses na Rússia, até mesmo em territórios russos distantes do front.
De acordo com o chefe da inteligência militar ucraniana, Kirilo Budanov, esses ataques estão direcionados "principalmente às empresas do complexo militar-industrial russo".
"As explosões no país agressor desmoralizam um pouco a sociedade russa, mas isso não tem um efeito massivo. Infelizmente para nós", afirmou Budanov durante a conferência internacional Yalta European Strategy em Kiev.
A Rússia continua a bombardear alvos militares, mas também civis.
O governo da Romênia, um país membro da Otan, informou neste sábado que encontrou "restos de drones semelhantes aos usados pelo Exército russo" perto do vilarejo romeno de Plauru (leste), perto da fronteira com a Ucrânia.
"Nada indica que houve intenção (por parte da Rússia) de atacar a Otan, mas os ataques são desestabilizadores", comentou o secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, na rede social X (antigo Twitter).