Continente pode ser mais suscetível às mudanças climáticas do que se imaginava. Pela primeira vez, cobertura de gelo fica abaixo de 2 milhões de Km². Principal causa é o aquecimento global, afirmam cientistas.
ANTÁRTIDA - O gelo marinho em torno da Antártida diminuiu para a menor extensão já registrada no mês de fevereiro, segundo um estudo divulgado nesta terça-feira (19/04). A conclusão sugere que o continente gelado pode ser mais suscetível às mudanças climáticas do que se imaginava.
No final de fevereiro, a área do oceano coberta por gelo ficou abaixo da barreira de dois milhões de quilômetros quadrados pela primeira vez, desde o início dos registros por satélite em 1978, segundo o estudo publicado no jornal científico Avanços em Ciências Atmosféricas.
Os pesquisadores chineses da Universidade Sun Yat-sen, em Guangzhou, e do Laboratório de Ciências Marinhas, em Zhuhai, concluíram que o fator principal para a perda de gelo foi o aumento das temperaturas, além de modificações nas massas de gelo, que tiveram papel secundário.
O recorde negativo de 1,9 milhões de quilômetros quadrados, registrado em 25 de fevereiro deste ano, ficou 30% abaixo da média do período entre 1981 e 2010.
O maior encolhimento da cobertura de gelo marinho na Antártida registrado até então, ocorrido em 2017, estava pouco acima do patamar de dois milhões de quilômetros quadrados.
Pólos aquecem acima da média global
Nos últimos anos, a cobertura máxima de gelo marinho na Antártida teve média de 18 milhões de quilômetros quadrados. Para avaliar as causas da perda recorde de gelo deste ano, os pesquisadores examinaram a quantidade de gelo perdido e de gelo surgido recentemente, ano após ano, assim como a movimentação diária do gelo marinho.
No Ártico, o recorde negativo de cobertura de gelo marinho foi de 3,4 milhões de quilômetros quadrados em 2012, sendo que o segundo e o terceiro ocorreram em 2020 e 2019, respectivamente. A cobertura máxima de gelo marinho tem média de 15 milhões de quilômetros quadrados.
Os polos norte e sul registraram aquecimento de aproximadamente 3º C – ou seja, três vezes a média global – comparado aos níveis de temperatura do século 19.
A primeira onda de calor registrada na Antártida foi em 2020, com inéditos 9,2º C acima do valor máximo. Em março deste ano, um centro de pesquisas no leste do continente registrou um aumento de temperatura de 30º C acima do normal.
Anormalidades extremas como essas são fatores recentes. Ao contrário da cobertura de gelo marinho no Ártico, que diminuiu em 3% ao ano desde os anos 1970, na Antártida vinha ocorrendo uma expansão de 1% a cada década, levando-se em conta a ocorrência de grandes variações anuais.
Após o declínio incomum registrado em 2017, o fenômeno voltou a ocorrer neste ano, no final do verão no hemisfério sul.
A cobertura de gelo durante o último verão austral – entre junho e setembro – encolheu principalmente no oeste da Antártida, região que demonstrou ser mais vulnerável ao aquecimento global do que o leste do continente, de proporções bem maiores.
"Círculo vicioso"
O derretimento do gelo marinho não gera impactos perceptíveis no aumento do nível do mar, uma vez que o gelo já se encontra nas águas do oceano.
No entanto, a diminuição da cobertura de gelo é uma das principais preocupações relacionadas ao clima, uma vez que ajuda a acelerar o aquecimento global, explica, Qinghua Yang, professora da Universidade Sun Yat-sen e coautora do estudo.
Quando a cobertura de gelo – que reflete a energia solar de volta ao espaço – é substituída pelo mar escuro não congelado, "há menos reflexão de calor e mais absorção", disse Qinghua. "Isso, por sua vez resulta em um maior derretimento de gelo e produz mais absorção de calor, em um círculo vicioso".
A neve e o gelo refletem mais de 80% da energia do sol de volta ao espaço, enquanto os oceanos absorvem a mesma porcentagem dessa energia.
AFP
INDONÉSIA - O governo da Indonésia anunciou, no último dia 24 de março, que um novo filhote de rinoceronte-de-sumatra está no mundo! A espécie, que é ameaçada de extinção, tem visto uma redução de sua população nas últimas décadas devido a atividade de caçadores.
O pequeno rinoceronte-de-sumatra nasceu no Santuário de Rinocerontes-de-Sumatra (SRS), no Parque Nacional Way Kambas. A chegada do filhote foi muito celebrada porque sua mãe, Rosa, perdeu oito gestações anteriores.
Estima-se que apenas 80 rinocerontes-de-sumatra existam no planeta Terra. Antigamente, a espécie vivia em todo o sudeste asiático, mas hoje está limitada a apenas dois países.
Hoje, a conservação dos animais é feita majoritariamente em parques nacionais na Indonésia e na Malásia. O pai do pequeno rinoceronte-de-sumatra é Andatu, o primeiro rinoceronte dessa espécie nascido em cativeiro, e Rosa.
Junto do novo bichinho – que ainda não ganhou um nome -, vivem as fêmeas Bina, Ratu e Delilah, e os machos Andalas e Harapan.
“Minha profunda gratidão pelo trabalho da equipe de veterinários e tratadores que acompanharam continuamente o desenvolvimento da gravidez e os cuidados pós-natais da rinoceronte Rosa”, explicou Wiratno, um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente e Florestas (MOEF) da Indonésia.
“A gravidez de Rosa representa uma nova esperança para esta espécie criticamente ameaçada”, ressalta Nina Fascione, diretora-executiva da fundação Indonesian Rhino Foundation (IRF), uma das principais organizações de defesa da espécie no planeta.
Redação Hypeness
EUA - Preservando amostras genéticas de mais de 1.200 espécies e subespécies em técnica de criopreservação, o The Frozen Zoo (ou “Zoológico Congelado”, em tradução livre), nos EUA, é o maior repositório do tipo em todo o mundo, e vem se tornando ponto de partida para a salvação de espécies ameaçada e mesmo reintrodução de espécies já extintas – através da clonagem. Localizado dentro do Instituto de Pesquisa em Conservação do Zoológico de San Diego, na Califórnia, o “Zoológico Congelado” já forneceu material para clonar quatro espécies ameaçadas, a partir das amostras de mais de 10,5 mil animais individuais armazenadas no local em temperaturas próximas de −200 °C.
O The Frozen Zoo, no Zoológico de San Diego, foi o primeiro “Zoológico Congelado” estabelecido no mundo, iniciado em 1972 pelas mãos do médico e geneticista alemão Kurt Benirschke, que trabalhava como pesquisador na Universidade da Califórnia, e decidiu começar a coletar amostras da pele de espécies ameaçadas de extinção. Curiosamente, Benirschke ainda não tinha planos concretos sobre o que viria a fazer com o material que estava preservando: ele simplesmente acreditava que ferramentas futuras poderiam utilizar as amostras para salvar os animais. “Havia um pôster pendurado no Frozen Zoo que dizia, ‘Você deve coletar coisas por razões que ainda não compreende’”, recorda Oliver Ryder, geneticista no Zoológico e um dos colaboradores iniciais do trabalho.
UCRÂNIA - A guerra na Ucrânia já está em seu segundo mês. Ainda sem o fim no horizonte, segue causando cada vez mais mortes e destruição. Entre humanos e também entre animais.
Pois um homem decidiu transformar a própria van em uma espécie de arca de Noé, com o objetivo de salvar 10 cangurus que viviam no zoológico Feldman Ecopark, em Kharkiv. O resgate aconteceu no último dia 24 e foi fundamental para salvar os animais dos bombardeios.
Para permitir que os bichos do zoo sobrevivam ao conflito, a equipe do local tomou a decisão de desesperada de soltar alguns animais nas florestas e também permitir a fuga de alguns deles que tiveram os seus abrigos destruídos pelas bombas.
Líderes mundiais falham em fechar acordo internacional que poderia proteger 30% dos mares até 2030 e garantir a preservação da biodiversidade
EUA - Crise climática, exploração petrolífera, pesca predatória, mineração marinha, poluição… São muitas as ameaças contra a biodiversidade dos nossos oceanos. Ainda assim, não existe, hoje, um instrumento internacional que proteja os mares que estão além das fronteiras dos países.
Entre os dias 7 e 18 de março, representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniram em Nova Iorque para discutir a implementação de um mecanismo global de proteção dos oceanos, mas, mais uma vez, as negociações deixaram a desejar.
O encontro, que deveria ter acontecido em 2020 mas foi adiado em razão da pandemia, chega ao fim sem um Tratado Global dos Oceanos robusto, que possibilite a cooperação internacional na preservação dos ecossistemas marinhos.
Há anos, o Greenpeace atua em defesa de um acordo internacional que garanta a proteção de 30% dos oceanos até 2030. A criação dos chamados santuários oceânicos, ou áreas de proteção marinha, é fundamental para ajudar os ecossistemas marinhos a se recuperarem e para que possamos proteger efetivamente milhares de habitats e espécies.
Precisamos avançar efetivamente nas discussões entre os países para transformarmos completamente o sistema fragmentado de governança dos mares como conhecemos hoje, que privilegia a indústria e o lucro em detrimento da biodiversidade. Uma lógica que coloca em risco até mesmo espécies e formas de vida até então desconhecidas pela ciência.
Um Tratado Global dos Oceanos que tenha a meta 30×30 como principal, poderia melhorar a capacidade de resposta dos oceanos globais ao aquecimento global considerando que os mares funcionam como um grande reservatório de captação de carbono. As águas oceânicas são responsáveis por produzir metade do oxigênio do planeta, sendo essenciais para o equilíbrio climático.
A importância da proteção dos oceanos também foi reforçada no último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas), divulgado em 9 de março. O documento afirmou enfaticamente que, apesar de alguns impactos ambientais já serem irreversíveis, a manutenção dos serviços ecossistêmicos depende da conservação efetiva de aproximadamente 30% a 50% das áreas terrestres, de água doce e oceânicas do planeta.
A defesa dos mares também traz enormes benefícios para as comunidades costeiras e locais, cuja segurança alimentar e meios de subsistência estão ameaçados pelo avanço do nível do mar, pela poluição, pelas alterações climáticas e práticas insustentáveis de pesca industrial.
PORTO ALEGRE/RS - Uma pesquisa realizada no Brasil reuniu dados de mais de 20 espécies de polvos usando lixo humano como abrigo, incluindo garrafas de vidro, copos de plástico e latas de alumínio. Essa característica dos polvos não é uma nova descoberta, esses animais vasculham o fundo do oceano para possíveis objetos que servem de abrigo, contudo, o aumento do lixo nos mares fez com que eles se adaptassem para novos materiais.
Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) compilaram um total de 260 imagens e vídeos de 24 espécies de polvos usando lixo como abrigo. O estudo tinha como objetivo analisar a interação entre os polvos e lixo marinho, procurando os possíveis impactos para a espécie.
É estimado que o oceano contenha cerca de 150 milhões de toneladas de plástico. Além disso, especialistas acreditam que todo ano, mais oito milhões de toneladas sejam adicionadas ao número total dos poluentes no lençol freático. Porém, além do plástico, outros materiais também fazem parte da poluição marinha, contribuindo para o desequilíbrio desse ecossistema.
Na própria pesquisa, a maioria dos objetos utilizados pelos polvos eram feitos de vidro (41,6%), enquanto o plástico representava 24,7% deles. Embora a presença do plástico no mar seja maior do que o vidro, especialistas acreditam que os animais preferem o vidro por diversos motivos. O plástico, por exemplo, por ser muito leve fica preso nas ondas enquanto o vidro afunda para o fundo do oceano. O material, especialmente garrafas de vidro, também oferecem mais proteção contra possíveis predadores
Além disso, os pesquisadores sugerem que a textura do vidro pode ser mais parecida com a das conchas.
Entre todas as imagens reunidas, a recorrência mais comum desse acontecimento foi em países asiáticos no período entre 2018 e 2021.
A poluição não é o único problema encontrado na pesquisa. Muitos dos materiais usados pelos polvos, incluindo o plástico, podem expor os animais a substâncias tóxicas fatais. Em uma imagem da pesquisa, uma espécie de polvo foi vista carregando uma pilha um material composto por diversos metais pesados como mercúrio, chumbo e cádmio e que pode contaminar tanto os animais quanto a água.
LIVERPOOL - Uma nova pesquisa realizada na Universidade Liverpool analisou os impactos das mudanças climáticas nas comunidades de formigas. De acordo com os resultados do estudo, a natureza social desses insetos pode ser um dispositivo de proteção contra os efeitos nocivos derivados das mudanças climáticas, diferentemente de espécies solitárias.
Espécies de formigas que habitam o subsolo podem mover-se para temperaturas mais baixas, sendo assim mais protegidas. Porém, outros tipos do inseto também se beneficiam do aumento das temperaturas, prosperando em ambientes mais quentes.
As formigas são os insetos mais dominantes no mundo todo, estando presente em todos os continentes, exceto na Antártica. É estimado que existam entre um a dez quatrilhões de formigas no mundo, com cerca de 12 mil espécies diferentes. A sua abundância, talvez, seja por conta de características específicas dos insetos, como sua sociabilidade.
Organizadas, as formigas vivem em sociedade e trabalham juntas para o bem maior da ninhada. Em seu ciclo de vida, formigas operárias trabalham para cuidar e sustentar outras formigas reprodutoras. Além disso, essas espécies são extremamente adaptáveis
Mesmo em sua abundância, essas 12 mil espécies de formigas são essenciais para o meio ambiente. Esses insetos são necessários para o equilíbrio de diversos ecossistemas qualquer mudança ou desaparecimento de alguma espécie poderia ter resultados catastróficos.
Portanto, a sua capacidade de adaptação e sobrevivência durante as mudanças climáticas são características impressionantes e, também, importantes para o meio ambiente em geral.
EQUADOR - Foi nas Ihas Galápagos, diante das mais de 15 espécies de tartarugas gigantes que viviam no arquipélago vulcânico, que Charles Darwin em 1835 começou seus estudos sobre a evolução das espécies. Passados quase 200 anos, hoje apenas 10 espécies do animal sobrevivem na ilha, a maioria ameaçada de extinção. Uma boa notícia, porém, cruzou os mares pelas mãos de pesquisadores da Galapagos Conservancy: uma tartaruga gigante de uma espécie que era dada extinta e não era vista há 110 anos foi encontrada.
A última vez que a Tartaruga Gigante de Fernandina havia sido vista foi em uma expedição em 1906. A própria existência do animal era questionada por cientistas, até que recentemente uma fêmea adulta da espécie foi vista em uma região remota da Ilha de Fernandina – uma das ilhas que formam o arquipélago.
“Isso nos encoraja a fortalecer nossos planos de busca para encontrar outras tartarugas, o que nos permitirá iniciar um programa de criação em cativeiro para recuperar esta espécie”, disse Danny Rueda, diretor do Parque Nacional de Galápagos.
Diferentemente da maioria das espécies de tartaruga gigante que quedam ameaçadas pela caça e a ação humana, o maior inimigo da Tartaruga de Fernandina é o seu próprio habitat extremo, pelo fluxo frequente de lava vulcânica. A tartaruga foi levada para um centro de reprodução na ilha vizinha de Santa Cruz, onde estudos genéticos serão conduzidos.
Vitor Paiva / HYPENESS
PORTO VELHO/ RO - A substituição de floresta por pastagens e lavouras está afetando diretamente os peixes da Amazônia. Em estudo publicado na revista Neotropical Ichthyology, pesquisadores do Brasil, da Colômbia e dos Estados Unidos mostraram que um processo semelhante ao ocorrido ao longo de décadas em áreas com longa história de desmatamento, como o Estado de São Paulo, se repete agora em Rondônia, no chamado Arco do Desmatamento, onde a derrubada da mata é recente.
Peixes sensíveis a alterações no ambiente estão sendo paulatinamente substituídos por poucas espécies mais resistentes aos impactos. Além da perda de biodiversidade, o fenômeno acarreta uma perda de funções ecológicas exercidas pelos peixes que desaparecem.
“Existe uma hipótese dentro da ecologia de que os vertebrados terrestres suportariam até 60% de perda de hábitat antes de entrar em processo de declínio populacional e, em seguida, de extinção local. Estudando peixes de riachos, verificamos que parte das espécies suporta apenas 10% de perda de hábitat e suas populações começam a declinar em menos de dez anos após o início do desmatamento. Outras, porém, são beneficiadas com perdas de mais de 70% do hábitat”, conta Gabriel Brejão, primeiro autor do estudo, que foi conduzido durante um estágio de pós-doutorado no Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Ibilce-Unesp), em São José do Rio Preto.
Os resultados são baseados em dados coletados em 75 riachos com diferentes graus de preservação na bacia do rio Machado, um dos tributários do Madeira. Para avaliar o histórico de desmatamento das áreas, os pesquisadores consultaram imagens de satélite da região feitas entre 1984 e 2011.
“A partir dos dados históricos, separamos as áreas em bacias que nunca passaram por mudança, as que sofreram desmatamento há muito tempo e as de degradação recente. Observamos que, onde o desmatamento é recente, a taxa de substituição de espécies (mais sensíveis por mais resistentes) era mais alta do que nas áreas florestadas e nas de desflorestamento antigo”, explica.
Parte das coletas e análises do trabalho foi realizada pelo pesquisador ainda durante o doutorado, na mesma instituição, com bolsa da Fapesp.
O trabalho é um dos resultados do projeto “Peixes de riachos de terra firme da Bacia do Rio Machado, RO”, financiado pela Fapesp e coordenado por Lilian Casatti, professora do Ibilce-Unesp.
A investigação também foi apoiada por meio de projeto coordenado por Silvio Ferraz, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coautor do artigo.
Oeste paulista e oeste amazônico
Casatti conta que seu grupo sempre trabalhou com peixes de riachos no Estado de São Paulo, que tem um histórico de mais de 200 anos de uso intenso do solo e de substituição da floresta por lavouras e criações de gado.
“Queria saber como seriam os riachos em um lugar não tão alterado, pelo menos não há tanto tempo. Mas quando chegamos a alguns pontos de Rondônia parecia que não tínhamos saído do oeste paulista, tamanho era o assoreamento, o desmatamento das margens, o capim invadindo o meio aquático”, lembra Casatti, que coordenou o estudo.
Os riachos são especialmente sensíveis ao desmatamento. Usados como local de reprodução e berçário de espécies que podem depois migrar para os rios, esses corpos d’água também aportam diferentes nutrientes da floresta para os rios. No que tange às comunidades de peixes que vivem neles, uma floresta degradada traz vários impactos.
Além do assoreamento, que é a deposição de partículas de solo no fundo dos riachos, diminuindo sua profundidade, a diminuição ou retirada da cobertura florestal permite ainda a entrada de mais radiação solar, que aumenta o crescimento de plantas aquáticas indesejáveis para algumas espécies e eleva a temperatura da água.
Menos frutos, folhas e insetos que servem de alimento para os peixes se fazem presentes, além de galhos e troncos que servem de abrigo e até mesmo modulam a acidez da água, outro fator que pode determinar a presença ou ausência de certas espécies e das funções ecológicas que desempenham.
“Ao perder espécies de cascudos que raspam troncos que caem na água, por exemplo, pode-se perder processamento de matéria orgânica. A perda de peixes insetívoros pode aumentar a quantidade de insetos que transmitem doenças. Peixes carnívoros, como traíras e dourados, exercem uma pressão em espécies mais basais que podem se reproduzir descontroladamente sem os predadores. A qualidade do hábitat tem papel muito importante para manter não apenas uma diversidade de espécies, mas de funções ecológicas”, explica Casatti.
“Nossos resultados indicam que nas áreas de desmatamento mais recente há um conjunto de espécies grande o suficiente para reverter a perda de funções. O que não quer dizer que necessariamente vá se repetir em Rondônia o que aconteceu em São Paulo. Talvez seja um sinal de que em processos iniciais de desmatamento exista um ‘tampão’ de diversidade que está retendo a perda de funções. Não sabemos até quando”, conclui Brejão.
O artigo Taxonomic and functional turnover of Amazonian stream fish assemblages is determined by deforestation history and environmental variables at multiple scales pode ser lido no link.
André Julião / ESTADÃO
RIO DE JANEIRO/RJ - Parece mais uma sequência da animação Rio, do brasileiro Carlos Saldanha, que ganhou as telas ao retratar as aves brasileiras sendo vítimas do ataque de pequenos miquinhos liderados por uma cacatua. Mas, pela primeira vez, cientistas podem ter encontrado indícios de que isso está se tornando realidade. As aves da Mata Atlântica estão sob ameaça e os responsáveis são os pequenos macaquinhos originários da Caatinga e do Cerrado. Artigo publicado este mês na revista Biological Invasions demonstrou o impacto negativo dos saguis invasores na vocalização dos pássaros, o que pode afetar a reprodução das espécies e está tornando as florestas silenciosas. O trabalho é de pesquisadores da UFRJ, da Universidade Estadual Paulista em Rio Claro (Unesp-Rio Claro) e da Universidade Autónoma de Madrid, na Espanha.
Com modernos métodos de monitoramento, os cientistas se valeram de gravação automatizada para capturar sons do cotidiano de aves na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. Colocamos os gravadores programados no alto das árvores, de onde capturamos o som da floresta, em uma técnica que ainda é pouco usada no mundo e, principalmente, no Brasil. Mas é uma ferramenta que otimiza o esforço de campo e nos possibilita responder muitas perguntas sobre a biodiversidade de uma paisagem acústica, afirmou a pesquisadora Marina Zaluar, do Programa de Ecologia do Instituto de Biologia (IB/UFRJ), que liderou o estudo.
Segundo a pesquisa, a presença de saguis está associada a uma menor complexidade acústica da avifauna da Mata Atlântica. Observamos que as aves vocalizam menos nas áreas com mais saguis. No entanto, não sabemos se isso é o resultado direto da predação ou se elas estão vocalizando menos pelo medo causado pela presença desses macacos invasores. Os muitos avistamentos de saguis atacando ninhos de aves são preocupantes, mas, como esses primatas são predominantemente vegetarianos e não havia estudos detalhados sobre o assunto, começamos a saber agora o quanto podem afetar as aves, afirma Marina.
De acordo com a professora do IB/UFRJ Mariana Vale, coautora do estudo, mesmo que as aves estejam apenas vocalizando menos, esse é um impacto negativo importante. As aves dependem da vocalização para atividades vitais, como o canto dos machos para atrair as fêmeas o que afeta a reprodução, pondera.
Além da descoberta, o trabalho dos pesquisadores evidenciou o potencial de gravadores automatizados para avaliar os impactos de espécies invasoras sobre a biodiversidade de uma região.
Por Sidney Rodrigues Coutinho em Conexão UFRJ
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