UCRÂNIA - A história da guerra na Ucrânia será, no futuro, narrada sob muitas óticas. Os russos dirão que foi pela segurança e autonomia de seu território contra as investidas ocidentais que nutrem resistência ao país. Seus pares europeus irão dizer que Vladimir Putin, presidente da Rússia, carrega consigo marcas do fim da União Soviética que nunca digeriu bem. Na Ucrânia, território devastado, as histórias exaltarão homens fortes que não abriram mão de sua soberania. E se é verdade que a história é escrita pelos vencedores, frase atribuída a George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair), é difícil arriscar dizer neste momento qual narrativa será perpetuada pelos livros. Uma coisa é certa: o fator econômico fará parte da narrativa.
A previsão é que com a expectativa de 2023 ser um ano difícil para e economia global a extensão da guerra seria mais um inibidor potente de crescimento. Na Zona do Euro, que até o meio do ano se mostrava fortemente contra a Rússia, a conversa agora é por uma solução rápida. O presidente da França, Emmanuel Macron, tem assumido a dianteira em um diálogo para, literalmente, conversar com os russos. “A verdade é que houve um erro crasso de previsão da guerra”, afirmou à DINHEIRO Philippe Aghion, PhD na Harvard University e professor de economia e relações exteriores da London School of Economics. “Guiados pelos Estados Unidos, ninguém achou que a Rússia conseguiria passar tanto tempo sob fortes sanções sem precisar ceder um centímetro.”
Para ele, a essa altura, os caminhos são poucos. Ainda que a Ucrânia tenha sido amplamente abastecida pelo armamento ocidental, a verdade é que nenhum país ousou ser mais que fornecedor. “Com esse equipamento vindo dos associados da Otan, o exército ucraniano conseguiu algum avanço e retomada de territórios. Mas não parece ter sido o bastante para a população local, devastada no conflito”, disse Aghion. A Rússia, por sua vez, recebeu, dois meses antes da guerra começar, 40 drones com míssil do Irã.
Na Europa o discurso adotado agora é que, ao conseguir tirar os russos de seu território, a Ucrânia deveria imediatamente negociar a paz. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que virou o símbolo da resistência nesses nove meses de conflito, tem sido claro sobre o plano de não ceder nenhum palmo de terra. “Não pararemos até que o último soldado russo volte para o seu país”, disse ele recentemente à rede estatal de televisão do país. Em nenhum momento foi falado sobre erguer a bandeira branca. A posição tem o apoio velado de países que geograficamente estão perto do conflito, como os bálticos e a Polônia, que também enxergam a continuidade do conflito como positiva. “Eles temem que Putin se volte contra eles caso se sinta vitorioso ao fim da guerra na Ucrânia”, disse Aghion.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, segue a mesma linha. Em entrevista à agência alemã DW em outubro, ele disse que a Ucrânia tem que ganhar a guerra. Ele não explicou o que seria “ganhar”, mas deixou claro que, para isso, os membros da Otan devem dar o apoio necessário e durante o tempo que for preciso. “Não devemos esquecer que, se a Rússia parar de lutar, haverá paz. Se a Ucrânia parar de lutar, ela deixa de existir.”
Mas alguns países, em especial os maiores e com melhor estrutura militar, já comsideram a possibilidade de cessão de terras, já que a asfixia econômica esperada pelas restrições do Ocidente parece não ter abalado Putin. Andrew Allen, PhD e professor de economia da San Diego University, afirma que os chamados “países do conselho swift” (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha, França, Itália, Países Baixos, Suécia, Suíça e Japão) financiaram o lado da Ucrânia, mas perderam a aposta.“Não há, neste momento, como derrotar a Rússia militarmente na Ucrânia.” Para ele, seriam necessários anos para que a Ucrânia fosse totalmente autônoma e isso envolveria ainda mais mortes, com o risco de uma ação nuclear. Apesar de pouco popular no Ocidente, essa discussão surgiu em reuniões de cúpula do G7 e da OCDE. O maior sinal disso é que o volume de armas enviadas para Ucrânia tem diminuído com a Otan admitindo a possibilidade de se esgotarem os recursos se o conflito se estender demais. Zelenski segue dizendo que “não dará nenhum passo para trás”, enquanto Putin garante que a “vitória russa é o caminho para a paz”. Duas narrativas que até poderiam ser verdadeiras, mas só uma será escrita na história.
Paula Cristina / ISTOÉ DINHEIRO
RÚSSIA - Mais de 100.000 soldados russos morreram ou foram feridos desde o início da invasão da Ucrânia, afirmou na quarta-feira o comandante do Estado-Maior dos Estados Unidos, Mark Milley, que calcula baixas similares para as forças ucranianas.
"São mais de 100.000 soldados russos mortos e feridos", declarou Milley no Clube Econômico de Nova York. "A mesma coisa provavelmente no lado ucraniano", acrescentou.
Os números anunciados por Milley - que não foram confirmados com fontes independentes - são os mais precisos divulgados até o momento pelo governo Estados Unidos, após mais de oito meses de guerra.
Milley acrescentou que existe uma oportunidade de diálogo para acabar com a guerra. Também disse que vitória militar pode não ser possível nem para a Rússia nem para a Ucrânia.
"Tem que haver um reconhecimento mútuo de que a vitória militar é provavelmente, no verdadeiro sentido da palavra, talvez não alcançável por meios militares e, portanto, você precisa recorrer a outros meios", afirmou o general.
"Há... uma oportunidade aqui, uma janela de oportunidade para negociação", completou o militar.
As declarações de Milley foram feitas depois que a Rússia ordenou a retirada de suas tropas da cidade de Kherson, sul da Ucrânia, um golpe para a campanha militar de Moscou.
Mas autoridades em Kiev reagiram com cautela, afirmando que é improvável que o exército russo abandone a cidade estratégica sem combates.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a retirada é uma evidência de que a Rússia tem "problemas reais" no campo de batalha.
UCRÂNIA - Terminada a transferência da população de Kherson para a margem esquerda do rio Dnipro, Moscou mantém silêncio sobre sua estratégia nesta cidade ocupada no sul da Ucrânia onde as forças de Kiev avançam. Na Rússia, órgãos de propaganda teriam recebido instruções para preparar o público a uma futura derrota no local.
Na segunda-feira (7), o último navio transportando moradores de Kherson fez o trajeto entre a margem direita e a esquerda. "Fechamos o acesso à margem direita e recomendamos que ninguém retorne à cidade", declarou o chefe da administração pró-russa local, Kirill Stremoussov.
A transferência da população durou vários dias desde que foi decretada, em meados de outubro, diante da iminência de um contra-ataque ucraniano para recuperar a cidade. Kiev classifica a operação de "deportação".
Lioudmila et Oleksandr Chevchouk conseguiram fugir de Kherson e chegar ao território sob controle da Ucrânia. Segundo eles, os soldados russos pressionam psicologicamente os moradores para aceitarem a serem levados à Crimeia, região anexada pela Rússia em 2014. "Eles passam armados nas casas, apreendem nossos telefones e vão embora", contou Lioudmila Chevchouk.
Avanço ucraniano em Kherson
Kherson é a principal cidade ucraniana nas mãos da Rússia desde o incio da invasão, no último 24 de fevereiro. Com o apoio do material bélico enviado pelos países ocidentais, as forças de Kiev avançam pelo norte da localidade.
Não por acaso o Kremlin prepara o discurso para uma possível perda de Kherson. Jornalistas russos independentes tiveram acesso a informações que Moscou repassou a responsáveis por divulgar propaganda. Segundo os documentos obtidos, a Rússia pretende explicar à sua população que a Ucrânia avança porque utiliza terroristas na batalha de Kherson.
Segundo as mesmas informações, os ucranianos estão dispostos a "sacrificar dezenas de milhares de vida em troca de armas", enviadas pelos países ocidentais. Por isso, segundo o Kremlin, a retirada da população foi necessária, para impedir o plano de Kiev e poupar cidadãos e militares.
Energia elétrica é restabelecida
Kherson teve sua eletricidade e abastecimento de água restabelecidos nesta terça-feira (8), depois de passar dois dias no escuro devido a bombardeios sobre os quais Kiev e Moscou se acusam mutuamente. Os ataques também teriam atingido a barragem de Kakhova, ocupada pelas forças russas e que alimenta a região da Crimeia.
As informações foram divulgadas por Kirill Stremoussov no Telegram, onde o chefe da administração pró-russa local afirmou que as forças ucranianas realizam "atos de sabotagem e atentados".
Um pouco depois, os serviços de segurança da Rússia (FSB) anunciaram a prisão de nove membros de um grupo ucraniano acusado de planejar "ataques terroristas" contra autoridades da administração da ocupação em Kherson. Em comunicado, o órgão indicou que explosivos, granadas, munições e um carro-bomba foram encontrados no momento da prisão dos integrantes e uma investigação por "ato de terrorismo internacional" foi aberta.
(RFI com AFP)
KIEV - O secretário do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia disse nesta terça-feira que a principal condição para a retomada das negociações com a Rússia é a restauração da integridade territorial ucraniana.
Oleksit Danilov, uma autoridade poderosa do país, disse que a Ucrânia precisa da "garantia" de uma defesa aérea moderna, de aviões, tanques e mísseis de longo alcance.
"Rússia, negociações. A principal condição para o presidente da Ucrânia é a restauração da integridade territorial ucraniana", disse Danilov no Twitter.
"Garantia --defesa aérea moderna, aviões, tanques e mísseis de longo alcance. Estratégia --medidas proativas. Mísseis russos têm de ser destruídos antes do lançamento no ar, na terra e no mar."
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy disse na segunda-feira que estava aberto a negociações com a Rússia, mas somente a negociações "genuínas" que restaurem as fronteiras da Ucrânia, garantam ao país compensação pelos ataques russos e punam os responsáveis por crimes de guerra.
Zelenskiy fez essas declarações depois de uma reportagem do Washington Post afirmar que os EUA queriam que Kiev sinalizasse sua disposição para negociar por causa de preocupações de que parecer muito intransigente poderia afetar o apoio internacional ao país.
Reportagem de Max Hunder / REUTERS
UCRÂNIA - Um bombardeio ucraniano danificou, no domingo (6), a represa de Kakhovka, no sul da Ucrânia, e provocou cortes de água e eletricidade da cidade de Kherson, informaram as autoridades de ocupação russas.
"Às 10h00 (5h00 de Brasília), seis mísseis Himars foram lançados. As unidades de defesa antiaérea derrubaram cinco, um dos quais atingiu a eclusa da barragem de Kakhovka, que foi danificada", declarou um representante dos serviços de emergência da região de Kherson, citado por agências de notícias russas.
Pouco depois, as autoridades de ocupação informaram que o "ataque terrorista organizado pela parte ucraniana danificou três postes de linhas de alta tensão no eixo Berslav-Kakhovka" e que, por essa razão, "não há água nem eletricidade" na cidade de Kherson e em outros distritos da região.
A barragem de Kakhovka, tomada no início da ofensiva russa na Ucrânia, permite abastecer de água a península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Instalada no rio Dnieper em 1956, durante o período soviético, a estrutura é, em parte, construída de concreto e terra. É uma das maiores infraestruturas deste tipo na Ucrânia.
"Tudo está sob controle", declarou o representante da administração instalada pela Rússia em Nova Kakhovka, onde se encontra a represa, 60 km da cidade de Kherson, controlada pelas forças russas.
"Um míssil caiu no local, mas não causou danos críticos", garantiu Ruslan Agayev, citado pela imprensa russa.
O risco de bombardeios contra essa infraestrutura estratégica tem sido levantado desde outubro tanto pela Ucrânia como pela Rússia. Ambos se acusaram de colocar em perigo os milhares de habitantes da região.
Se a barragem explodir, "mais de 80 localidades, incluindo Kherson, se encontrarão na zona de inundação rápida", alertou, em 21 de outubro, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, perante o Conselho da União Europeia.
"Isso pode interromper o abastecimento de água de grande parte do sul da Ucrânia" e afetar o resfriamento dos reatores da usina nuclear de Zaporizhzhia, que extrai água desse lago artificial de 18 milhões de metros cúbicos, advertiu o chefe de Estado.
Diante do risco, a Ucrânia havia solicitado uma missão de observação internacional.
Por sua vez, há vários dias, as autoridades de ocupação russas vêm retirando os civis dos arredores diante de um "possível ataque de mísseis" à represa de Kakhovka, cuja destruição levaria à "inundação do margem esquerda" do rio Dnieper, segundo o governador regional instalado por Moscou em Kherson, Vladimir Saldo.
Kiev denunciou em várias ocasiões essas operações, que chamou de "deportações".
- Oração -
Na frente de batalha, um homem taiwanês de 25 anos que se ofereceu como voluntário contra as forças russas foi morto, tornando-se a primeira vítima de Taiwan desde que a invasão foi iniciada no final de fevereiro, anunciou o Ministério das Relações Exteriores de Taiwan no sábado.
Em seu relatório diário, o Exército ucraniano acusou neste domingo as forças russas de "destruir" instalações de "operações telefônicas ucranianas" na região de Kherson.
Por sua vez, o Ministério da Defesa russo disse que eliminou "um armazém de mísseis e armas de artilharia das forças armadas ucranianas", incluindo "120 foguetes do sistema Himar", na região ocupada de Donetsk, no leste.
E o papa Francisco, em viagem ao Bahrein, rezou neste domingo pela "Ucrânia martirizada", para que a "guerra termine" após mais de oito meses de conflito.
RÚSSIA - "O número de vítimas mortais é de 15", disse uma fonte do ministério de Situações de Emergência russo à agência Interfax.
Anteriormente o governador da região, Serguei Sitnikov, tinha indicado na rede social Telegram que tinham morrido 13 pessoas no incidente.
De acordo com informações preliminares, um dos visitantes do estabelecimento pode ter usado uma pistola de sinalização durante uma disputa, provocando o incêndio.
Como resultado, cinco pessoas morreram de envenenamento e outras 10 foram encontradas debaixo dos escombros da cafetaria cujo telhado desabou devido ao incêndio.
As chamas deflagraram esta madrugada no café "Poligon" e foram extintas esta manhã, acrescentou o responsável, que indicou existirem cinco feridos.
De acordo com os serviços de emergência, o fogo alastrou a uma superfície de 3.500 metros quadrados.
A agência de notícias russa Ria-Novosti, que citou uma fonte policial, avançou que 250 pessoas foram retiradas do edifício onde o incêndio deflagrou.
As autoridades abriram um processo penal para esclarecer plenamente as circunstâncias do incidente.
Entretanto, em comunicado, o Ministério do Interior russo anunciou que prendeu o suspeito de ter provocado o incêndio, sem dar pormenores sobre o seu perfil.
LUSA
RÚSSIA - Líderes militares de alto escalão russos discutiram em meados de outubro como e quando poderiam usar armas nucleares no campo de batalha na Ucrânia, informaram duas autoridades dos Estados Unidos à rede americana CBS News.
O presidente russo, Vladimir Putin, não teria participado das conversas, no entanto.
A Casa Branca afirmou ter ficado "cada vez mais preocupada" nos últimos meses com o potencial uso de armas nucleares.
Mas enfatizou que os EUA não viram nenhum sinal de que a Rússia esteja se preparando para tal uso.
A declaração coincide com avaliações anteriores da inteligência ocidental de que Moscou não está movendo suas armas nucleares.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acusou o Ocidente de "deliberadamente dar uma dimensão maior ao tema", embora o momento das discussões do alto escalão militar russo, em meados de outubro, seja significativo.
No fim de setembro, Putin havia intensificado sua retórica nuclear e antiocidental, e chegou a falar sobre usar todos os meios à disposição para proteger a Rússia e as terras ucranianas ocupadas que ele havia anexado.
"Não é um blefe", ele acrescentou, acusando o Ocidente de fazer chantagem nuclear e se gabando das armas russas que eram mais modernas do que qualquer uma no arsenal da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Em resposta à notícia veiculada na imprensa americana de que a Rússia havia discutido o uso de armas nucleares, o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, declarou: "Ficamos cada vez mais preocupados com a possibilidade, à medida que passam os meses".
Conforme a sorte da Rússia no campo de batalha diminuiu, suas ameaças nucleares parecem ter aumentado.
Moscou acusou a Ucrânia de preparar uma "bomba suja", que contém material radioativo, embora a Ucrânia e o Ocidente digam que a Rússia está apenas tentando criar um pretexto para culpar Kiev se tal dispositivo for usado.
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, fez questão de entrar em contato com seus colegas nos EUA, Turquia e França para falar sobre o suposto complô ucraniano.
No entanto, quando o Ministério da Defesa da Rússia apresentou fotos para ilustrar suas descobertas, o governo da Eslovênia rapidamente identificou que as imagens haviam sido retiradas de sua Agência de Gerenciamento de Resíduos Radioativos e mostravam detectores de fumaça que datam de 2010.
Nas últimas semanas, a doutrina nuclear da Rússia tem sido alvo de uma análise minuciosa em relação às circunstâncias em que poderiam usar armas nucleares, em particular uma arma "tática" que poderia ser lançada no campo de batalha na Ucrânia.
Uma arma nuclear tática é para uso em combate, diferentemente das armas "estratégicas" maiores que são projetadas para causar destruição em massa.
Quando a Rússia realizou exercícios nucleares de rotina na semana passada, o cenário usado foi que o país estava retaliando ao ataque nuclear de um inimigo com uma arma estratégica de maior escala. Putin foi categórico que a doutrina nuclear da Rússia só permitia o uso defensivo de armas nucleares.
Mas na terça-feira, o vice-chefe do conselho de segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, destacou outro elemento da doutrina da Rússia — o uso nuclear no caso de uma ameaça existencial ao Estado. Ele ressaltou que os objetivos da guerra na Ucrânia eram recuperar todos os territórios que anteriormente pertenciam a eles, e isso por si só era uma ameaça existencial.
Medvedev pode não necessariamente ter influência sobre o presidente, mas seus comentários refletem a crença de Putin de que anexar formalmente grandes áreas do sul e do leste da Ucrânia fez delas território russo, mesmo que não sejam reconhecidas como parte da Rússia pela comunidade internacional.
Em comunicado divulgado na quarta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia reiterou que Moscou tinha o direito de usar armas nucleares em resposta a "uma agressão com o uso de armas convencionais quando a própria existência do Estado está em perigo".
O secretário de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, afirmou que haveria "graves consequências" se a Rússia usasse uma arma nuclear tática no campo de batalha na Ucrânia. E disse aos parlamentares que não especularia sobre quais armas poderiam ser.
Perguntado na semana passada pela BBC se negava categoricamente que a Rússia usaria armas nucleares na Ucrânia, o chefe do Serviço de Inteligência Estrangeiro do país (SVR), Sergei Naryshkin, disse estar muito preocupado com a retórica ocidental e acusou a liderança da Ucrânia de tentar adquirir armas nucleares.
- Este texto foi publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/internacional-63484868
RÚSSIA - A Rússia lançou, na manhã de segunda-feira (31), um ataque maciço a instalações energéticas em várias regiões da Ucrânia, privando de água 80% dos habitantes da capital, Kiev, e deixando "centenas de localidades" sem eletricidade em diversas províncias do país.
O Exército detalhou no Telegram que foram lançados mais de 50 mísseis contra infraestruturas críticas do país e que 44 deles foram derrubados, dois dias depois de Moscou acusar Kiev de ter atacado com drones sua frota no Mar Negro.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, disse em seu discurso diário que tinha se reunido com o chanceler alemão, Olaf Scholz, a quem agradeceu as armas de defesa antiaérea que foram entregues. "Precisamos construir um escudo antiaéreo sobre a Ucrânia", tuitou Zelensky.
Após o encontro com o líder ucraniano, Scholz condenou os ataques russos contra a infraestrutura civil na Ucrânia. Também rechaçou as acusações da Rússia sobre a possibilidade de Kiev estar fabricando uma "bomba suja".
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou nesta segunda-feira que havia iniciado inspeções na Ucrânia como parte das "verificações independentes" diante das alegações russas.
O diretor da agência nuclear da ONU, o argentino Rafael Grossi, apresentará esta semana suas "conclusões iniciais [...] sobre os dois lugares" inspecionados, segundo um comunicado da AIEA.
- 'Ataque maciço' -
Em Kiev, foram ouvidas ao menos cinco explosões, segundo jornalistas da AFP.
"80% dos usuários não têm água", disse no Telegram o prefeito da cidade, Vitali Klitschko, e 350.000 lares estão sem eletricidade.
Por sua vez, o primeiro-ministro Denys Shmyhal disse que houve cortes de eletricidade em "centenas" de localidades de dez províncias ucranianas.
Segundo o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, 12 países já se comprometeram a doar geradores e outros equipamentos para mitigar a falta de energia.
- 'A Rússia está lutando contra os civis' -
Mais de 100 pessoas faziam fila na manhã de hoje em um parque de Kiev para encher de água galões e garrafas, diante dos cortes de fornecimento provocados pelos bombardeios russos
Ataques similares atingiram infraestruturas em toda Ucrânia, incluindo em Lviv (oeste), Zaporizhzhia (sul) e Kharkiv (nordeste).
"Em vez de lutar no terreno militar, a Rússia está lutando contra os civis", criticou Kuleba.
Os bombardeios acontecem depois de a Rússia anunciar, no fim de semana, a suspensão de sua participação no acordo para exportar cereais ucranianos, que aliviou a crise alimentar mundial.
Na segunda-feira, o Kremlin advertiu que seria "perigoso" e "difícil" manter o acordo sem sua participação, já que não pode garantir a segurança de navegação para os navios de carga.
O exército russo exigiu "compromissos" da Ucrânia de não utilizar o corredor marítimo destinado à exportação de cereais com fins militares. Segundo Moscou, Kiev disparou contra sua frota na Crimeia a partir dessa área.
"Não se pode garantir a segurança nessa área até que a Ucrânia se comprometa a não usar esta via com fins militares", disse o Ministério da Defesa da Rússia no Telegram.
Para o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, essa solicitação "se assemelha a um castigo coletivo ou a uma extorsão coletiva".
O presidente russo, Vladimir Putin, insistiu em que "a Ucrânia deve garantir que não haverá ameaças para a segurança das embarcações civis".
- Acordo sobre grãos -
A saída da Rússia no sábado do acordo que permitia o envio dos grãos bloqueados em portos ucranianos desde o início da invasão russa caiu como um balde de água fria.
O acordo, assinado em julho entre Rússia e Ucrânia com mediação de Turquia e ONU, era essencial para preservar a segurança alimentar, especialmente de países pobres dependentes dos cereais ucranianos.
Apesar da decisão da Rússia de abandonar o pacto, dois navios carregados com grãos e outros produtos agrícolas zarparam dos portos ucranianos hoje, segundo um site de tráfego marítimo.
Doze embarcações aguardavam em portos ucranianos para sair hoje, enquanto outras quatro estariam se dirigindo para os mesmos, disse o Centro de Coordenação Conjunta (CCC), responsável por supervisionar em Istambul os navios destinados para a exportação dos cereais.
Nesse contexto de incerteza, os preços dos grãos subiram na manhã desta segunda.
Após uma reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente Zelensky garantiu que seu país está decidido a "continuar sendo um garantidor da segurança alimentar mundial" e a seguir com as exportações de grãos, em mensagem no Twitter.
RÚSSIA - O Ministério da Defesa da Rússia disse no domingo (30) que recuperou e analisou os destroços de drones que teriam sido usados para atacar navios de sua frota no mar Negro, e afirma que parte deles eram equipados com módulos de navegação canadenses.
A Rússia acusou o Reino Unido de fazer um ataque contra a base da Frota do Mar Negro na madrugada deste sábado (29). Além disso, afirma que forças britânicas organizaram as explosões que destruíram ramais do sistema de gasodutos Nord Stream, sob o mar Báltico, há um mês.
O Ministério da Defesa em Londres negou as acusações, classificando as alegações de "falsas em uma escala épica".
Autoridades russas afirmam que a frota do Mar Negro perto de Sebastopol foi atacada com 16 drones no início do sábado e que alguns deles eram equipados com módulos de navegação de fabricação canadense.
"De acordo com os resultados das informações recuperadas da memória do receptor de navegação, foi estabelecido que o lançamento dos drones aconteceu a partir da costa perto da cidade de Odessa", disse o ministério.
O órgão também afirma que os drones se moveram ao longo da zona de segurança no mar Negro que funciona como um corredor para escoar grãos antes de mudar de rumo para a base naval em Sebastopol, na região da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
Ainda segundo o ministério, um dos drones teria sido lançado de dentro da zona de segurança do próprio corredor de grãos, de "um navio civil fretado por Kiev ou por seus aliados ocidentais".
A Rússia afirma que repeliu o ataque, mas que os navios em questão estavam envolvidos na operação do corredor de grãos que usa o mar Negro como corredor para escoar produtos.
Alegando ser alvo de terrorismo, Moscou disse neste sábado (29) que irá suspender o acordo de exportação de grãos e fertilizantes ucranianos, vitais para a sobrevivência econômica de Kiev. A sua frota assegurava a passagem dos navios civis, antes bloqueados em seus portos, segundo acordo mediado pela Turquia e pela ONU em julho.
A ação permitiu que mais de 9.5 milhões de toneladas de grãos e outros alimentos fossem exportados da Ucrânia desde então. Sem esse estoque, especialistas alertam que o preço de alimentos pode voltar a subir no mundo e provocar fome.
Segundo informações do The New York Times, a Turquia fez contato com autoridades russas neste domingo para tratar da retomada do acordo.
Países e organizações internacionais continuaram a condenar a interrupção do acordo e alertar que seu fim tem como consequência o agravamento do quadro de fome mundial.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, adiou uma viagem para o encontro da Liga Árabe para se concentrar na questão, segundo informou o porta-voz Stephane Dujarric neste domingo. "O secretário segue comprometido em realizar contatos visando o fim da suspensão russa na sua participação do acordo."
A Otan também se manifestou pedindo que a Rússia reconsidere sua decisão e que renove urgentemente o acordo, "permitindo que a comida chegue àqueles que necessitam", disse Oana Lungescu, porta-voz da entidade.
No sábado, o gabinete do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, reagiu acusando a Rússia de "chantagem" e de ter "inventado ataques terroristas" em seu próprio território. A União Europeia pediu a volta do arranjo, que iria expirar em 19 de novembro.
Os Estados Unidos também reagiram, afirmando que a interrupção do acordo seria o equivalente a "transformar os alimentos em armas".
RÚSSIA - As exportações marítimas de grãos ucranianos ficou paralisadas neste domingo (30) depois que a Rússia suspendeu sua participação em um acordo que permitia essas entregas vitais para a segurança alimentar mundial, após denunciar um ataque com drones à sua frota na Crimeia.
O bloqueio da Rússia às exportações de grãos torna "impossível" que os navios de carga zarpem neste domingo, afirmou o governo ucraniano.
O acordo para desbloquear as entregas de grãos assinado por Rússia e Ucrânia com a mediação da Turquia e da ONU é fundamental para aliviar a crise alimentar mundial causada pelo conflito.
Um navio carregado com "grãos deveria deixar um porto ucraniano hoje", disse o ministro da Infraestrutura, Oleksander Kubrakov, no Twitter neste domingo. "Esses alimentos eram destinados aos etíopes, que estão à beira da fome. Mas devido ao bloqueio da Rússia ao 'corredor de grãos', a exportação é impossível", disse o ministro ucraniano.
Decisão indignante
A Rússia alegou que alguns dos drones usados para atacar sua frota no sábado tinham "módulos de navegação de fabricação canadense" e que os drones usaram uma "zona segura" do corredor de grãos. Também apontou que um dos dispositivos poderia ter sido lançado a partir de um navio civil.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou a decisão russa de "indignante" e seu secretário de Estado Antony Blinken afirmou que Moscou "está tentando transformar os alimentos em armas novamente".
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou estar "profundamente preocupado com a situação", disse sua porta-voz Stephane Dujarric.
Por sua vez, a União Europeia instou a Rússia a "reverter sua decisão".
O centro que coordena a logística do acordo afirmou em nota que não há tráfego previsto para este domingo. "Não foi alcançado um acordo no Centro de Coordenação Conjunta para a movimentação de embarcações de entrada e saída para 30 de outubro", disse.
Enquanto isso, o ministério da Defesa turco indicou que as inspeções em Istambul de navios com grãos ucranianos continuarão "hoje e amanhã".
Jogos da fome
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, estimou que a Rússia bloqueia "dois milhões de toneladas de grãos em 176 navios".
Também exigiu que Moscou acabe com "seus jogos da fome" e disse que as explosões estavam a mais de "220 quilômetros do corredor de grãos".
A Ucrânia e a ONU informaram anteriormente que o acordo ainda estava em vigor.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky chamou a decisão da Rússia de "uma intenção absolutamente transparente de retornar à ameaça de uma fome em larga escala na África e na Ásia".
Drones
A cidade de Sebastopol, na península ucraniana da Crimeia, que foi anexada pela Rússia, foi alvo de vários ataques nos últimos meses e é o centro de comando da frota russa no Mar Negro e um centro de coordenação das operações na Ucrânia.
A Rússia afirmou que "destruiu" nove drones aéreos e sete marítimos que atacaram o porto no início do sábado e acusou especialistas britânicos de ajudar na operação.
O Exército russo também acusou o Reino Unido de envolvimento nas explosões de setembro que causaram vazamentos dos gasodutos Nord Stream 1 e 2 no Mar Báltico, construídos para transportar gás russo para a Europa.
O Reino Unido rejeitou as acusações, dizendo que o Ministério da Defesa russo recorre a "divulgar alegações falsas de dimensão épica".
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, afirmou no sábado que Moscou levaria esta questão, assim como os ataques de drones, ao Conselho de Segurança da ONU.
Ataque maciço
A autoridade pró-russa de Sebastopol, o governador Mikhail Razvojayev, afirmou que o ataque foi o "mais maciço" contra a península até agora no conflito.
Os ataques contra a Crimeia se multiplicaram nas últimas semanas, paralelamente ao avanço de uma contraofensiva ucraniana em direção à cidade de Kherson, próxima à península que serve de base de retaguarda para a operação militar russa.
A Ucrânia informou no sábado que na frente sul do país suas tropas "estão resistindo em suas posições e atacando o inimigo para criar condições para ações mais ofensivas".
As autoridades russas de ocupação de Kherson prometeram transformar a cidade em uma fortaleza, preparando-se para um ataque inevitável.
(Com informações da AFP)
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