UCRÂNIA - Os Estados Unidos estão empenhados em fornecer à Ucrânia "as armas que ela precisa" para se defender contra a Rússia, afirmou no domingo (10/04) o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, enquanto a Ucrânia busca mais ajuda militar do Ocidente.
Sullivan disse que o governo Joe Biden enviará mais armas para a Ucrânia para evitar que a Rússia amplie o controle de áreas do território ucraniano e promova ataques a civis, os quais Washington considera crimes de guerra.
"Vamos fornecer à Ucrânia as armas de que ela precisa para derrotar os russos e impedi-los de tomar mais cidades e vilas onde eles cometem esses crimes", disse Sullivan em uma entrevista à emissora ABC News. Moscou rejeita as acusações de que tenha cometido crimes de guerra na Ucrânia.
Em seguida, à emissora NBC News, Sullivan disse que os Estados Unidos estavam "trabalhando 24 horas por dia para entregar nossas próprias armas (...) e organizar e coordenar a entrega de armas de muitos outros países". "As armas estão chegando todos os dias", disse Sullivan, "inclusive hoje".
Os Estados Unidos afirmam ter enviado 1,7 bilhão de dólares (R$ 8 bilhões) em assistência militar à Ucrânia desde que a Rússia iniciou sua invasão, em 24 de fevereiro, disse a Casa Branca na semana passada.
As entregas de armas incluem mísseis antiaéreos Stinger e mísseis antitanque Javelin, bem como munições e coletes balísticos. Mas os líderes americanos e europeus estão sendo pressionados pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a fornecer armas e equipamentos mais pesados para combater a Rússia na região leste do país, onde se espera que os russos intensifiquem seus ataques.
Zelenski cético sobre promessa americana
Em entrevista à CBS News neste domingo, Zelenski manifestou ceticismo de que os Estados Unidos entregariam as armas que ele considera serem necessárias.
Se a Ucrânia poderá ou não vencer a invasão russa "depende de quão rápido seremos ajudados pelos Estados Unidos. Para ser honesto, se seremos ou não capazes de sobreviver depende disso", disse Zelenski. "Tenho 100% de confiança em nosso povo e em nossas Forças Armadas, mas infelizmente não tenho confiança de que receberemos tudo o que precisamos."
Na sexta-feira, autoridades ucranianas relataram que mais de 50 pessoas foram mortas em um ataque com mísseis em uma estação de trem na cidade de Kramatorsk, na região de Donetsk.
A invasão da Rússia forçou cerca de um quarto da população de 44 milhões a deixar suas casas, transformou cidades em escombros e matou ou feriu milhares de pessoas.
Moscou nega ter como alvo os civis no que chama de "operação especial" para desmilitarizar e "desnazificar" seu país vizinho. A Ucrânia e as nações ocidentais descartam essa alegação e a consideram um pretexto infundado para a guerra.
A Rússia nomeou no sábado um novo general para liderar suas forças na Ucrânia, Aleksandr Dvornikov, que tem experiência militar significativa na Síria. Considerando esse histórico, Sullivan disse esperar que Dvornikov autorize mais brutalidade contra a população civil ucraniana.
A deputada americana Liz Cheney, do Partido Republicano, afirmou à CNN que a administração Biden deveria fornecer à Ucrânia também armas ofensivas, como tanques e aviões, além de sistemas defensivos como mísseis antitanque e antiaéreos. "Acho que precisamos fazer tudo o que Zelenski diz precisar neste momento, dada a batalha inacreditável que eles vêm travando", disse.
Uma pesquisa divulgada neste domingo pela CBS News mostrou amplo apoio entre os americanos para o envio de mais armas para a Ucrânia. De acordo com o levantamento, realizado na semana passada à medida que as notícias dos ataques russos contra civis se multiplicavam, 72% dos entrevistados disseram ser a favor do envio de mais armas, e 78% apoiam sanções econômicas contra a Rússia.
bl (Reuters)
UCRÂNIA - Ao comentar o massacre de civis em Bucha, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, culpou as tropas russas, mas também fez sérias acusações à ex-chanceler federal alemã Angela Merkel. Ele a convidou para visitar Bucha e ver "a que conduziu a política de concessões à Rússia em 14 anos", disse Zelenski.
Há 14 anos, em uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bucareste, Merkel e o então presidente francês Nicolas Sarkozy, em particular, agiram para que a Ucrânia não recebesse um convite para ingressar na aliança militar ocidental. Eles tentavam evitar provocar a Rússia. Hoje, Zelenski chama isso de "erro de cálculo", que, segundo ele, fez com que a Ucrânia esteja passando agora "pela pior conflito da Europa desde a Segunda Guerra Mundial".
Nord Stream 2 aprovado após anexação da Crimeia
O governo Merkel também se recusou a entregar armas à Ucrânia após a anexação russa da Crimeia em 2014. E ainda aprovou o gasoduto Nord Stream 2 pouco tempo depois, contornando a Ucrânia como país de trânsito de gás. "De que outra forma Moscou deveria entender isso, a não ser como uma aceitação tácita de uma mudança violenta de fronteiras?" questiona Henning Hoff, do Conselho Alemão de Relações Exteriores.
O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, também se dirigiu diretamente a Merkel: "Senhora chanceler, você tem estado em silêncio desde o início da guerra. No entanto, é precisamente a política da Alemanha nos últimos 10, 15 anos, que levou à força da Rússia hoje, com base no monopólio da venda de matérias-primas". E, sob o chanceler federal Olaf Scholz, a Alemanha está bloqueando sanções mais decisivas da UE, acusou Morawiecki.
Merkel e Scholz não são os únicos que estão sob fogo no momento. Andrij Melnyk, embaixador da Ucrânia em Berlim, acusou o presidente alemão e ex-ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, no jornal Tagesspiegel de ainda encarar cegamente a relação com a Rússia como "algo fundamental, mesmo sagrado, não importa o que aconteça, nem mesmo a guerra de agressão desempenha um papel importante". Provavelmente nunca antes na história da República Federal da Alemanha um embaixador estrangeiro foi tão duro com um chefe de Estado alemão.
Política externa de Berlim foi "grande autoengano"
As críticas não atingem apenas os indivíduos, mas toda a política externa, de segurança e comercial alemã dos últimos 30 anos. "Houve demasiado diálogo e muito pouca dureza em relação ao Kremlin", afirmou o embaixador Melnyk.
O cientista político Stephan Bierling, da Universidade de Regensburg, confirmou esta avaliação à DW: "Todos os governos alemães desde que Putin assumiu o poder têm sinalizado que relações descomplicadas com Moscou são mais importantes do que o destino da Ucrânia. Isto encorajou o Kremlin a lançar seu ataque".
Bierling já havia classificado a política externa alemã dos últimos anos como um "grande autoengano" na revista política Cicero em 24 de março. Sob a constante proteção militar dos EUA, a Alemanha teria "cedido às ilusões pacifistas" e se concentrado apenas em seus próprios negócios.
Ingenuidade em relação a Pequim
Bierling também vê este padrão na política da China: "Agradar para receber vantagens econômicas, aplicar ideias ingênuas de influência liberalizante de um império a partir do exterior, sacrificar ideais democráticos como os direitos humanos e a liberdade de expressão para não irritar os que estão no poder".
É verdade que vários governos europeus, assim como Washington, criticaram durante anos a política da Alemanha em relação à Rússia − e também à China. Mas isso não foi ouvido em Berlim − até que o exército russo invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.
Steinmeier admite erros
Quando a guerra começou, o chanceler federal Olaf Scholz falou de um "ponto de virada". Será que ele também quis dizer "mudança fundamental na política externa alemã?"
Na última terça-feira, o presidente Steinmeier reconheceu publicamente que errou em relação à Rússia, especialmente sobre a questão do Nord Stream 2, que custou muita credibilidade à Alemanha.
"Nós falhamos em construir uma casa europeia comum", disse Steinmeier. "Eu não acreditava que Vladimir Putin abraçaria a completa ruína econômica, política e moral de seu país por causa de sua loucura imperial", acrescentou. "Nisto, eu, como outros, estava enganado."
Entretanto, quando Putin tomou posse, não havia como saber como ele se comportaria com o tempo, completou Steinmeier.
Henning Hoff discorda: Desde a segunda guerra da Tchechênia, iniciada em 1999, quando Putin era ainda primeiro-ministro, já era possível reconhecer o caráter "criminoso, hipernacionalista" do líder russo, argumenta.
Alexander Dobrindt, chefe do grupo parlamentar do partido conservador CSU, na oposição ao governo Scholz atualmente, é um dos poucos políticos alemães que ainda defende a política tradicional de incentivar mudanças através do comércio. Ele afirma que o objetivo dela era garantir a paz e criar prosperidade comum. No entanto, Putin destruiu isso. "Mas, na época, essas decisões não estavam fundamentalmente erradas", disse Dobrindt.
Merkel: Ucrânia não deve entrar na Otan
Com exceção de uma declaração divulgada imediatamente após a invasão russa na Ucrânia, Angela Merkel tem evitado se manifestar. O que se sabe é que ela não lamenta sua decisão, em 2008, de bloquear a adesão da Ucrânia à Otan. Ela "mantém suas decisões em relação à cúpula de Bucareste em 2008", anunciou uma porta-voz da Merkel.
E esta posição ainda é o consenso dentro da própria Otan: a maioria dos membros da aliança militar está feliz por não ser obrigada a prestar assistência militar à Ucrânia porque não quer ser arrastada para uma guerra direta com a Rússia.
O sucessor de Merkel, Olaf Scholz, também vê as coisas dessa maneira. Entretanto, ele tem incentivado mudanças na área de defesa. Hoje, o governo alemão, chefiado por um social-democrata e um vice-chanceler federal verde, anunciou que querrearmar maciçamente a Bundeswehr (as Forças Armadas da Alemanha) e também está fornecendo armas para a Ucrânia, "numa ruptura com longas tradições", como definiu Scholz na quarta-feira.
UCRÂNIA - A ucraniana Iryna Filkina, de 52 anos, foi uma das vítimas do massacre em Bucha, cidade próxima de Kiev, e teve seu corpo reconhecido a partir da foto de sua mão com as unhas pintadas de vermelho e rosa. A imagem chocante rodou o mundo nesta semana.
Segundo o New York Times, a maquiadora Anastasiia Subacheva foi a responsável por identificar a mulher. Iryna teria pedindo ajuda a ela no início do ano com o objetivo de se tornar uma profissional de beleza.
"Quando a vi, senti fisicamente que meu coração começou a quebrar", disse Anastasiia ao jornal americano.
Iryna morreu após ser atingida por disparos de soldados em um tanque russo enquanto empurrava sua bicicleta de volta para casa. Imagens de um drone flagraram o momento exato em que a ucraniana foi assassinada ao virar uma esquina.
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A filha da aspirante a maquiadora, Olha Shchyruk, fugiu de Bucha após o início da guerra, em 24 de fevereiro. Ela conta que, em 6 de março, soube que sua mãe havia sido baleada quando voltava do trabalho, mas manteve a esperança de que ela estaria viva.
"Entendo que não foi possível, porque ela não entrou em contato por um mês. Mas uma criança sempre estará esperando por sua mãe”, disse Olha.
Na última sexta-feira (1º), data do aniversário de Iryna, a filha recebeu um vídeo da mãe morta no chão junto com a foto da mão com as unhas pintadas, detalhe que para ela não seria necessário para saber de quem era aquele corpo.
"Mesmo que não houvesse a manicure, eu teria reconhecido minha mãe", disse a filha.
O caso de Iryna é uma exceção no confronto no Leste Europeu. Grande parte das centenas de corpos que estavam pelas ruas de Bucha não foi identificada e muitos ainda foram enterrados em valas coletivas. Inicialmente, as autoridades ucranianas contabilizaram pelo menos 410 civis assassinados.
KRAMATORSK - Mais de 30 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas em um ataque de foguete russo a uma estação ferroviária em Kramatorsk, no leste da Ucrânia nesta sexta-feira (8), enquanto civis tentavam evacuar para partes mais seguras do país, informou a empresa ferroviária estatal.
Segundo o órgão, dois foguetes russos atingiram uma estação, que é usada para a evacuação de civis de áreas sob bombardeio pelas forças russas.
"Dois foguetes atingiram a estação ferroviária de Kramatorsk", disse a Ucrania Railways em comunicado.
Mais tarde, acrescentou: "De acordo com dados operacionais, mais de 30 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas no ataque com foguete na estação ferroviária de Kramatorsk".
A Reuters não pôde verificar a informação. A Rússia não comentou imediatamente os relatos do ataque e o número de vítimas. Moscou negou atacar civis desde que invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro.
RÚSSIA - Todos os dias, a Rússia enterra soldados mortos na Ucrânia. A BBC estima que 20% dos mortos contabilizados pelas regiões russas são oficiais. O que os dados dizem sobre o estado do Exército russo lutando na Ucrânia?
A última vez que o Ministério da Defesa russo informou sobre perdas foi em 25 de março - segundo eles, 1.351 militares tinham morrido. Já as Forças Armadas da Ucrânia dão um número muito maior para a estimativa de russos mortos: 18.300 pessoas.
Em 5 de abril, fontes oficiais russas publicaram os nomes de pelo menos 1.083 soldados russos mortos. A maioria dos relatórios sobre as perdas foi publicada pelos chefes das regiões ou distritos.
Alta patente
Dos 1.083 mortos identificados, 217 são oficiais de postos que vão de tenente a general. Eles compõem 20% de todos os militares na lista de mortes confirmadas pelo Exército russo, que a BBC acompanha desde o início da guerra.
Uma proporção semelhante foi observada durante o primeiro relatório do Serviço Russo da BBC sobre as perdas do Exército do país: dos 557 mortos identificados, 109 eram oficiais, ou seja, 19,6%.
Um número tão alto de oficiais nas listas de perdas confirmadas não significa que um em cada cinco russos que morreu no campo de batalha fosse oficial. Tradicionalmente, os corpos de comandantes mortos no Exército russo são enviados para casa como prioridade, e suas mortes são mais propensas a serem anunciadas publicamente, diz Samuel Cranny-Evans, do Royal United Services Institute (RUSI, do Reino Unido.
"Em conflitos passados, os militares russos prestaram mais atenção à evacuação dos corpos de oficiais mortos. E menos atenção foi dada aos oficiais militares de baixa patente após a morte. Mas, ao mesmo tempo, os oficiais realmente constituem a espinha dorsal das Forças Armadas russas", diz o especialista.
Na lista de mortos, a BBC encontrou 10 coronéis (incluindo um capitão do primeiro escalão), 20 tenentes-coronéis, 31 majores e 155 oficiais subalternos (de tenente a capitão).
A Ucrânia afirma que sete generais russos já morreram, mas a Rússia apenas confirmou a morte do major-general Andrei Sukhovetsky.
Nos Exércitos dos países da Otan, sargentos, cabos e outros subalternos são autorizados a executar muitas tarefas no campo de batalha. Já no Exército russo, decisões de nível semelhante só podem ser tomadas por oficiais com a patente de pelo menos tenente.
"Os oficiais russos fornecem liderança tática e treinamento para seus pelotões ou batalhões. Os sargentos do Exército russo, na maioria das vezes, apenas controlam equipamentos ou seguem ordens, ou seja, não lideram ninguém. Isso significa que os oficiais são forçados a assumir mais funções na direção. Portanto, é mais provável que um oficial russo morra em combate do que oficiais de muitos outros exércitos", diz Cranny-Evans.
Paraquedistas sem apoio
Ao analisar a lista de baixas confirmadas na Rússia, outra tendência é perceptível: cerca de 15% de todos os mortos identificados serviam nas Tropas Aerotransportadas.
Especialistas ouvidos pela BBC observam que os paraquedistas russos são amplamente utilizados para resolver tarefas que, em teoria, poderiam ser atribuídas à infantaria convencional. Mas os comandantes militares russos preferem usar as Forças Aerotransportadas, já que essas unidades geralmente estão muito mais bem preparadas, tanto física quanto mentalmente.
A taxa de baixas relativamente alta entre os paraquedistas não é surpreendente, disse Rob Lee, membro sênior do Instituto de Pesquisa de Política Externa dos EUA. "Unidades de Tropas aerotransportadas participaram de operações nos setores mais difíceis da linha frente - em Hostomel, nas batalhas perto de Kiev e em confrontos no sul da Ucrânia", acrescenta.
No primeiro dia da guerra, o Exército russo desembarcou tropas no aeroporto Antonov, na vila de Hostomel - as tropas esperavam que os militares russos, vindos da Bielorrússia, pudessem estabelecer contato com eles e providenciar suprimentos. Isso não foi feito por completo e, em 31 de março, - após um mês de intensos combates - as tropas ucranianas recuperaram o controle do aeroporto.
Cranny-Evans explica que as operações de armas combinadas da Rússia foram relativamente lentas, e as unidades aerotransportadas na linha de frente ficaram sem tropas regulares e apoio aéreo.
Há informações sobre baixas de outras unidades de elite russas. A lista de perdas que pudemos confirmar inclui 15 representantes das forças especiais de inteligência militar controladas pelo GRU, o Departamento Central de Inteligência, (incluindo cinco oficiais) e 10 representantes das forças especiais da Guarda Nacional.
Entre os mortos estão pelo menos três proprietários de "boinas vermelhas" (Ruslan Galyamov e Oleg Kirillov do Tartaristão, e Vyacheslav Aktyashev da região de Perm) - esta é a elite das forças especiais da Rússia. A seleção para o direito de usar boina vermelha é considerada uma das provas militares mais difíceis do mundo.
A lista de vítimas confirmadas por nós também inclui pessoas de profissões inesperadas. Em 28 de março, jornalistas de Bryansk noticiaram a morte de um sargento sênior da banda militar, Alexander Karpeev. Especifica-se que Karpeev tocava trompete. Quais tarefas ele realizou na Ucrânia não são mencionadas nos relatórios.
Longo caminho para casa
Na maioria dos casos conhecidos publicamente, os corpos dos mortos são entregues em casa duas a três semanas após sua morte. Por exemplo, um alferes das forças especiais da Guarda Nacional chamado Ruslan Galyamov, segundo dados publicados, morreu em 11 de março e foi enterrado em 26 de março.
Em alguns casos, o corpo pode levar mais de um mês para ser enviado. Mikhail Bakanov, de 20 anos, segundo dados oficiais, foi morto no segundo dia da guerra - 25 de fevereiro. Eles conseguiram entregar seu corpo em casa apenas no final de março.
Esses prazos de entrega dos corpos dos mortos são geralmente típicos dos grandes conflitos modernos, de acordo com o Instituto Real Britânico de Estudos de Defesa e Segurança.
"Em uma situação como na Ucrânia, os vivos sempre terão precedência sobre os mortos. E os esforços estarão sempre focados em preservar e prover para aqueles que estão vivos. Enviar os corpos daqueles que não podem mais ser ajudados para sua terra natal não é prioridade. A situação é agravada pela linha de frente em constante mudança. Nesta fase do conflito, é difícil para ambos os lados proteger seus flancos das incursões inimigas", observa Cranny-Evans.
Autoridades ucranianas e testemunhas oculares afirmaram repetidamente que, ao recuar, o Exército russo deixa os corpos de soldados mortos para trás. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que Kiev quer transferir os corpos dos mortos para a Rússia, mas a Rússia "a princípio recusou, depois ofereceu algum tipo de bolsa".
Na segunda quinzena de março, o chefe da administração regional de Nikolaev, Vitaly Kim, exortou os moradores locais a relatar a localização de corpos de militares russos nos territórios libertados pela Ucrânia.
"Nem sempre eles levam seus [soldados], e na primavera e no verão será um problema nosso. Por favor, diga-nos onde estão, […] se possível, recolha-os em bolsas. Por isso, temos que recolhê-los e colocá-los em geladeiras, enviá-los de volta para que sejam identificados por DNA, porque esses soldados também têm mães."
Pelo menos três militares russos foram identificados apenas após um exame de DNA. Alexander Vavilin, de 21 anos, da cidade de Nizhny Novgorod, morreu em 27 de fevereiro, mas seus parentes foram informados de sua morte apenas em 1º de abril. Durante todo esse tempo uma investigação estava em andamento e, segundo a mídia local, eles estavam esperando, entre outras coisas, pelos resultados de um teste de DNA.
Alexander Yemtsov, um nativo de Transbaikalia de 27 anos, também foi identificado apenas graças a um exame - Yemtsov morreu em um veículo blindado queimado.
Trabalhos do Exército
A região na Rússia onde a maioria das mortes foi relatada é o Daguestão - 93 soldados foram enterrados lá. As escolas recebem seus nomes e até as ruas são batizadas com seus nomes.
Altos números de mortos também foram relatados na Buriácia (52 pessoas), na região de Volgogrado (48), na região de Orenburg (41) e na Ossétia do Norte (39).
Isso não significa que representantes de determinadas regiões tenham sido especialmente enviados para participar da invasão da Ucrânia, como sugeriram alguns especialistas e jornalistas.
"A parte principal dos soldados contratados no Exército russo são pessoas da periferia, não é o sul, nem o norte do Cáucaso, mas toda a periferia - cidades médias e pequenas, vilas e aldeias", explica a especialista na área de sociologia e desenvolvimento econômico das regiões russas, professora Natalya Zubarevich.
Ela observa que pessoas de regiões mais pobres também costumam se juntar ao Exército. A Buriácia é considerada uma dessas áreas.
Uma das pessoas mortas desta região é Mikhail Garmaev, de Ulan-Ude. Depois de sair da escola, ele entrou no ensino técnico de construção, mas não terminou seus estudos e foi servir no Exército.
Depois de servir, Mikhail voltou para Ulan-Ude e conseguiu um emprego em uma empresa de instalação de alarmes. Mas alguns anos depois, ele voltou ao Exército e assinou um contrato. Em 6 de março, perto de Kiev, Mikhail foi pego em uma emboscada e baleado duas vezes. Em 21 de março, ele foi enterrado em Ulan-Ude.
Cenários semelhantes - de alguém que estudou, serviu, tentou conseguir um emprego civil, mas depois voltou para o Exército - são encontrados nas biografias de muitos outros russos que morreram na guerra na Ucrânia.
"O Exército é um empregador importante em áreas onde é quase impossível ganhar dinheiro. O recrutamento no Exército dá a você um salário estável e segurança", enfatiza Zubarevich.
As regiões da Rússia ainda têm políticas diferentes em relação à publicação de informações sobre os mortos.
Em oito regiões, não houve relatos de mortes de oficiais. Mas em três deles - a região de Tomsk, a República de Adygea e a Chukotka - a BBC conseguiu confirmar relatos sobre funerais de soldados russos que foram mortos na Ucrânia.
Até o fim de março, as autoridades da região de Kemerovo não tinham relatado oficialmente as mortes na Ucrânia. No curso da primeira investigação sobre perdas nas forças armadas russas, a BBC conseguiu estabelecer os nomes de sete moradores de Kuzbass que morreram nesta guerra. Poucas horas após esta publicação, as autoridades da região de Kemerovo, que anteriormente mantinham silêncio, anunciaram detalhes sobre 13 militares mortos, sem nomeá-los. Desde então, os dados não foram atualizados oficialmente. No momento, a BBC conseguiu identificar pelo menos 18 pessoas da região de Kemerovo que morreram na Ucrânia.
"Na região de Kemerovo, o governador se baseou na retórica vitoriosa de forma mais enfática, com menos atenção ao tema do custo da guerra", observa o cientista político Mikhail Vinogradov.
"Admito que no Daguestão o envolvimento emocional é maior, inclusive para reconhecer o papel das pessoas da república na operação. Isso é feito em parte em uma competição à revelia com pessoas da Chechênia que estão em primeiro plano publicamente. Em outras regiões, os dados podem ser percebidos de forma mais traumática", acrescenta o cientista político.
Vinogradov acredita que Moscou deliberadamente delegou aos chefes de regiões o dever de relatar perdas na guerra, o que na Rússia é chamado de "operação especial".
"Acho que há um desejo de não traumatizar os cidadãos desnecessariamente com os números agregados de perdas - portanto, eles são dados raramente e às vezes vagamente", diz o especialista.
"Por outro lado, o fluxo de perdas é relativamente grande e você não quer escondê-lo completamente. E, por isso, poucas pessoas têm interesse em encontrar números comuns. Talvez os governadores não tivessem um comando claro sobre como cobri-lo, e há relativamente muita autonomia."
Em algumas regiões da Rússia, houve casos em que a mídia noticiou a morte de militares russos, mas depois excluiu o relatório.
"Não é proibido coletar informações sobre os militares mortos, mas, pelo que sei, todos os meios de comunicação da região foram informados de que isso não irá ao ar ou será publicado por enquanto. E eles não dizem quando será possível publicar. Pessoalmente, suponho que nunca", disse um jornalista siberiano à BBC sob condição de anonimato.
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Os caixões com soldados russos que morreram na Ucrânia chegam não apenas às regiões da Rússia, mas também aos países da ex-União Soviética.
Em 25 de março, o funeral de Egemberdi Dorboev foi realizado na região de Issyk-Kul, no Quirguistão. O prefeito de Norilsk disse que Dorboev chegou recentemente ao território de Krasnoyarsk e morava lá com sua mãe. O jovem tinha cidadania russa e, no outono de 2021, foi convocado para o Exército. Ele morreu com 19 anos.
Rustam Zarifulin, de 26 anos, que assinou contrato com o Exército russo e morreu na Ucrânia, também foi enterrado no Quirguistão.
Os corpos de dois soldados russos (Saidakbar Saidov e Ramazon Murtazoev), que morreram na Ucrânia, foram enterrados no Tajiquistão. E na capital da Ossétia do Sul, que se separou da Geórgia, o sargento russo Andrei Bakaev, que participou da guerra, foi enterrado.
"Antes, pessoas de alguns países pós-soviéticos aspiravam a ingressar no Exército russo, porque era uma forma de obter a cidadania russa sob um esquema simplificado. Agora não há tais preferências", diz a ativista de direitos humanos Svetlana Gannushkina.
Ela acrescenta que, para alguns migrantes, as Forças Armadas podem continuar sendo um empregador atraente: "Com o Tajiquistão, por exemplo, a Rússia tem um acordo sobre dupla cidadania. E as pessoas que serviram como recrutas no Exército do Tajiquistão também são consideradas oficialmente como tendo servido na Rússia. Isso significa que, se desejarem, podem ir imediatamente ao serviço contratado. Essas pessoas não nos contataram. Mas, pelo que posso imaginar, para aqueles que não tiveram um destino diferente e de alguma forma não conseguiram prosperar, por exemplo, com educação, o serviço militar pode parecer atraente. E há uma propaganda apropriada."
UCRÂNIA - Vladyslav Starodubtsev afirma ter decidido ficar na Ucrânia em vez de deixar seu país após a invasão russa para mostrar que socialistas como ele podem ser úteis em tempos de guerra.
"Trabalhamos em ajuda humanitária, com refugiados no oeste da Ucrânia, comprando e entregando medicamentos, equipamentos militares ou armas", disse Starodubtsev em entrevista à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Seu partido, Sotsyalnyi Rukh (Movimento Social), é uma organização socialista democrática ucraniana que se define como oposta ao capitalismo e à intolerância.
E nos últimos dias, ele também tentou convencer grupos de esquerda no Ocidente - do Podemos da Espanha aos trotskistas venezuelanos - a apoiar o envio de armas para a Ucrânia contra as forças de Moscou.
Desde que o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia em fevereiro, alguns partidos, líderes e governos de esquerda evitaram condená-lo tão claramente quanto outros e, em vez disso, apontaram para a responsabilidade dos EUA e da Otan pela crise.
"Nem mesmo os socialistas russos cometem o mesmo erro que os socialistas ocidentais" e "(os socialistas russos) se opõem à invasão", afirma Starodubtsev.
A seguir, veja os principais trechos da conversa por telefone que o socialista ucraniano, de apenas 19 anos e membro do conselho do seu partido, teve com a BBC Mundo:
BBC News Mundo - Como está a situação aí?
Vladyslav Starodubtsev - Está mais ou menos estável. Nos primeiros dias houve pânico, mas também um esforço de organização e de ajuda mútua. As pessoas viajaram quilômetros para se juntar ao Exército. Agora se estabilizou e tudo voltou ao normal. As pessoas se acostumaram a sirenes aéreas e bombardeios e tentam levar uma vida normal, como antes da guerra.
BBC News Mundo - Qual é sua opinião sobre a invasão russa na Ucrânia?
Starodubtsev - A invasão russa é absolutamente injustificada e horrível. Alguns tentam dizer que a Rússia está se defendendo contra a Otan. Mas isso não tem relação com a realidade.
Na realidade, trata-se de uma guerra do nacionalismo radical russo que acredita ter o direito de decidir o que os ucranianos devem ser, como devem viver. É uma guerra do imperialismo russo.
BBC News Mundo - Seu partido tem se oposto ao governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Como você avalia a forma como ele respondeu à invasão russa na Ucrânia?
Starodubtsev - Há duas dimensões para essa resposta. Em primeiro lugar, a resposta militar e tudo relacionado à ela, como sua maneira de fazer campanha na mídia, seu apelo aos europeus e assim por diante. Nesse sentido, Zelensky fez um ótimo trabalho. Ele motivou a todos, mostrou liderança na guerra. Ele tomou decisões militares corretas. Ele fez um ótimo trabalho reunindo todos nessa luta.
Mas há uma segunda dimensão em sua resposta: a dimensão social, defendendo a estabilidade do povo ucraniano. Aqui a resposta é muito pior.
Em tempos de guerra, o governo tenta promover sua reforma anti-trabalhista, reformar o código trabalhista para permitir 60 horas de trabalho semanais e que os trabalhadores possam ser demitidos sem justificativa. Eles também estão promovendo cortes de bem-estar e uma reforma da dívida que coloca todas as necessidades da guerra sobre os pobres, ao mesmo tempo em que defendem empresas e corporações. Nesse sentido, Zelensky foi horrível.
BBC News Mundo - A ideologia desempenhou algum papel em como você e outros na Ucrânia reagiram à invasão russa?
Starodubtsev - Nós, como socialistas, nos opomos ao imperialismo russo desde o início.
Mas a ideologia, infelizmente, desempenhou um papel na esquerda ocidental para defender as políticas de Putin e o imperialismo contra a Ucrânia.
UCRÂNIA - Várias divisões da Guarda Nacional da Ucrânia chegaram na terça-feira (5) à antiga usina nuclear de Chernobyl, após a retirada russa de 31 de março, anunciou a estatal Chernobyl NPP.
A "principal tarefa" dos guardas é "garantir a segurança e a defesa das instalações nucleares, assim como a proteção física do material nuclear", comentou a companhia em comunicado divulgado em redes sociais.
Após a retirada russa das instalações na semana passada, ainda está pendente uma inspeção da infraestrutura por parte das Forças Armadas ucranianas. Outra tarefa a ser realizada é a medição das radiações na usina e nas instalações onde as forças russas se alojaram, já que "ignoraram completamente as regras de segurança" durante a estada.
A estatal acrescenta que é preciso dar um descanso aos trabalhadores encarregados da manutenção da usina, entre eles 46 voluntários que assumiram as funções em 20 de março, durante o controle russo.
Também continuam em Chernobyl 13 funcionários que já acumulam mais de mil horas de trabalho e que estavam na usina quando as instalações foram capturadas, em 24 de fevereiro.
EUA - O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou na segunda-feira (4) que a Rússia está "reposicionando suas forças para concentrar suas operações ofensivas no leste e em partes do sul da Ucrânia".
"A Rússia tentou subjugar toda a Ucrânia e falhou. Agora tentará subjugar partes do país", disse Sullivan, estimando que essa nova fase da ofensiva militar "pode durar meses ou mais".
A Rússia indicou há alguns dias que concentrará seus esforços no leste da Ucrânia e redobrou seus esforços nessa região do território, assim como no sul.
Nessa região se encontram cidades portuárias fundamentais para a criação de uma conexão terrestre entre a península da Crimeia — anexada em 2014 pela Rússia — e as regiões separatistas pró-Rússia de Donetsk e Lugansk.
Sullivan declarou que os Estados Unidos e seus aliados vão anunciar "nesta semana" novas sanções econômicas contra a Rússia. Segundo o funcionário americano, estudam-se possíveis medidas "relacionadas à energia", um tema muito delicado para os europeus, muito dependentes do gás russo.
Nesta segunda-feira, o governo dos Estados Unidos anunciou ter aprovado a venda de oito aviões de combate F-16 para a Bulgária, para "reforçar a segurança" de um dos membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no contexto da guerra na Ucrânia.
RÚSSIA - Dois helicópteros ucranianos lançaram um bombardeio contra um depósito de gasolina em território russo na cidade de Belgorod nesta sexta-feira (1º), disse o governador local.
"Houve um incêndio no depósito de petróleo devido a um bombardeio lançado por dois helicópteros militares ucranianos, que entraram em território russo voando a baixa altitude", informou Vyacheslav Gladkov no canal Telegram.
Belgorod está localizada a cerca de 80 quilômetros ao norte de Kharkov, uma grande cidade ucraniana sob ataque das forças russas desde o início da ofensiva do Kremlin.
Em outra mensagem, o governador indicou que os bombeiros estavam trabalhando para apagar o fogo e que dois funcionários do armazém ficaram feridos. O Ministério de Situações de Emergência da Rússia afirmou por seu lado que 170 socorristas estavam trabalhando no local.
A gigante de energia Rosneft, proprietária do depósito, disse a agências russas que evacuou seu pessoal do local.
Na quarta-feira (30), explosões foram relatadas em um depósito de munição na região de Belgorod, sem que as autoridades russas explicassem claramente o motivo do incidente.
Por AFP | Do R7
SÃO PAULO/SP - O Corinthians finalizou na última quinta-feira (31) a contratação por empréstimo do meio-campista Maycon, que pertence ao Shakhtar Donetsk (Ucrânia). Ele é um dos jogadores brasileiros de futebol que deixaram o país europeu após o início da ofensiva militar da Rússia.
Bem-vindo de volta, Maycon! pic.twitter.com/uEdQzXJhb5
— Corinthians (@Corinthians) March 31, 2022
Maycon, que é cria da base do Timão, chega ao clube paulista com vínculo até o dia 31 de dezembro de 2022.
Pelo Corinthians, o meio-campista somou 107 jogos e marcou oito gols. Já pelo clube ucraniano, Maycon atuou em 98 partidas e balançou as redes outras oito vezes.
Quem também apresentou um reforço por empréstimo nesta quinta foi o Flamengo. A equipe da Gávea fechou com lateral-esquerdo Ayrton Lucas, que pertence ao Spartak Moscou (Rússia). O jogador de 24 anos foi formado nas categorias de base do Fluminense.
O lateral-esquerdo Ayrton Lucas é o mais novo reforço do Mengão. Seja bem-vindo! Muito sucesso com o Manto Sagrado! #AyrtonLucasÉDoMengão #VamosFlamengo pic.twitter.com/KzdZxXDJGE
— Flamengo (@Flamengo) March 31, 2022
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