Federação portuguesa refaz a trilha rumo ao grito do Ipiranga
SÃO JOSÉ DO BARREIRO/SP - Um dos contornos mais curiosos no caminho de Dom Pedro I até o grito do Ipiranga está em São José do Barreiro, na Fazenda Pau d’Alho. E a propriedade histórica está na rota da expedição que a Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil deu início e tem parada programada na cidade do Vale Histórico em 4 de setembro.
A expedição do bicentenário da Independência no Brasil tem a comitiva formada por oito integrantes da Federação, liderada por Vittorio Lanari, coordenador do projeto, onde se encontrarão com estudantes da rede municipal de ensino. “O objetivo da expedição, além de reconhecer o território brasileiro, busca integrar o conhecimento lusitano e brasileiro, destacando os portugueses que tiveram papel de relevo na História do Brasil. É importante essa integração na medida em que a maioria desses portugueses que foram importantes para nossa história, à exceção, de D. Pedro I, são completamente desconhecidos da historiografia”, afirma Vittorio.
Para a secretária de Turismo de São José do Barreiro, Ana Paula Almeida, a Fazenda Pau d’Alho é um dos espaços mais representativos da história do Brasil na transição do Brasil colonial e da passagem do ciclo do ouro para o café. “Este local é preservado e recebe todos os anos estudantes, historiadores e pesquisadores. Além do turismo pedagógico, tem ainda uma participação importante em um momento de evolução na experiência de viagens e pesquisas científicas no âmbito do afroturismo”, analisa.
A passagem de Dom Pedro
Foi a algumas léguas do histórico local do grito da independência que Dom Pedro fez uma parada para repor as energias em São José do Barreiro, na viagem que teve início em 14 de agosto de 1822. Antes da declaração de independência, a recém-construída Fazenda Pau D’Alho, localizada no município do Vale do Paraíba, seria um recorte da história da comitiva que seguiu até as margens do Ipiranga do 7 de setembro.
Localizada no km 262 da SP-068 (Rodovia dos Tropeiros), preservada e aberta à visitação, a Fazenda Pau D’Alho, construída na transição do século 18 para 19 por João Ferreira, é hoje um dos raros edifícios que mantêm viva esta passagem histórica de Dom Pedro pela região.
A história não-oficial, mas muito presente no imaginário popular, afirma que Dom Pedro disparou com seu cavalo e tomou a frente para bater à porta da fazenda, onde foi recebido como um soldado comum e almoçou no chão da cozinha. Ainda teria recebido um aviso desavisado do pessoal da fazenda: “Apresse-se, Dom Pedro está para chegar”.
Apesar de não existirem registros de como foi a passagem de Dom Pedro pela Pau D’Alho, o que o príncipe encontrou naquela visita era uma fortificação imponente, de arquitetura militar, e a plantação de café já formada no entorno.
“Nesta época é muito difícil pensar em acesso a alimento, mas a chegada de um príncipe requer investimentos. Era um grande momento que exigia uma grande logística, apesar de se tratar de um homem de modos simples e de fácil relacionamento como pessoa. O fato é que famílias vão tentar fazer o melhor para receber o príncipe”, afirma Diego Amaro, historiador e escritor do Vale do Paraíba.
Mais do que ser um cenário da história da Independência e trecho que compunha a Trilha Real, São José do Barreiro foi um marco para a história do novo período, que marca o encerramento do ciclo do ouro e início do cultivo do café.
Neste contexto, a Fazenda Pau D’Alho foi além de uma produtora que teve o seu protagonismo no cultivo da fruta à época, sendo um ponto de referência para o abastecimento de viajantes, entre eles, comitivas reais. Além do café, a região era muito forte no cultivo de açúcar, tabaco e da economia de subsistência.