ITÁLIA - O magnata da mídia e político Silvio Berlusconi, morto nesta segunda-feira (12/06) em Milão, aos 86 anos, deverá ser lembrado pelas piadinhas. Em 2002, quando exercia o cargo de primeiro-ministro da Itália pela segunda vez, fez o sinal de "diabinho" com o dedo indicador e o mindinho atrás da cabeça do então ministro das Relações Exteriores da Espanha, Josep Piqué, durante foto posada com outros líderes europeus. Na Itália, o gesto é conhecido como "corna" (o equivalente a "corno" no Brasil).
Em 2004, Berlusconi usou uma bandana quando deu as boas-vindas ao então premiê britânico Tony Blair para um fim de semana em sua propriedade na Sardenha. Anos depois, em 2008, fingiu estrangular o presidente francês, Nicolas Sarkozy, durante coletiva de imprensa em Paris.
Berlusconi era conhecido como um "grande menino" italiano, fanfarrão e travesso, um moleque como muitos italianos gostavam. Parecia ser um político que não era tão rígido quanto outros, um que sabia ser espontâneao. Mas, na verdade, segundo o jornalista Giuseppe "Beppe" Severgnini, que escreveu um livro sobre o fenômeno que era Berlusconi, a realidade era outra.
Severgnini tem convicção de que as brincadeirinhas de Berlusconi eram calculadas – e passaram do limite por diversas vezes. Ele acredita que muitos italianos – exceto, obviamente, Berlusconi e seus apoiadores – tinham vergonha das tiradas do chefe de governo.
"Berlusconi entende que críticas do exterior e a vergonha alheia de alguns de seus conterrâneos apenas serviam para aumentar sua popularidade entre as classes mais baixas – ou seja, as pessoas que costumavam votar à esquerda e que passaram a votar nele", afirmou Severgnini.
"Material para construir sonhos"
E houve muita, muita gente que votou em Berlusconi. Em 1994, quando concorreu ao cargo de premiê pela primeira vez, obteve 43% dos votos já de saída.
A resposta para a pergunta sobre por que tantos italianos contavam com ele pode ser encontrada no contexto do momento em que a política deixa de ser racional.
Berlusconi não tinha uma plataforma política sólida, como o colunista Ernesto Gallo della Loggia escreveu no jornal Corriere della Sera naquele ano. Berlusconi, o político, irradiava o gosto artificial do plástico, escreveu della Loggia, e as ideias que apresentava eram meras generalizações. Ainda assim, "a política tem a ver com o coração e com a imaginação, com esperança e com o material do qual são feitos sonhos. É isso que falta amargamente ao bloco moderado na Itália".
Pôsteres críticos a Berlusconi em Roma em 2010, onde se vê montagem de fotos de Berlusconi e os dizeres Pôsteres críticos a Berlusconi em Roma em 2010, onde se vê montagem de fotos de Berlusconi e os dizeres
Pôsteres críticos a Berlusconi em Roma em 2010: político foi absolvido de acusação de prostituição de menoresFoto: picture alliance/abaca
Em meados dos anos 1990, os italianos precisavam desesperadamente de sonhos. A desindustrialização tinha empurrado a economia para a beira da recessão. Privatizações foram seguidas de demissões em massa, e o mercado de trabalho tinha sido desregulamentado.
Além de tudo isso, a situação política estava em depressão – do início a meados de 1992, os dois procuradores-gerais do Estado, Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, foram assassinados pela máfia. Havia rumores de que alguns políticos tinham ligações com o crime organizado, e a corrupção era um fenômeno amplamente disseminado. A expressão "Tangentopoli", a cidade da corrupção foi primeiro atribuída a Milão, mas se tornou um símbolo da miséria daqueles tempos.
Grandes expectativas
Eis que surge Berlusconi: chamado de "il Cavaliere", o cavaleiro, o empreendedor prometeu voltar a tornar a Itália uma grande nação por meio do seu partido conservador Força Itália. O empresário bilionário prometeu que repetiria seus sucessos econômicos em nível nacional.
Os eleitores acreditaram – em sua maioria, provavelmente, porque queriam. Esperavam um milagre e perdoaram generosamente algumas origens não explicadas de parte de sua fortuna, além de conflitos de interesse entre suas posições políticas e seus interesses econômicos.
"Silvio Berlusconi entrou na política para defender suas empresas", disse Marcello Dell'Utri, principal consultor de Berlusconi, no início de sua carreira política em 1994. Mas os eleitores não ligavam – acreditavam que o premiê representava a eles e a seus interesses.
Giuseppe Severgnini escreveu que Berlusconi representava a versão atualizada de como italianos viam a si mesmos: "uma autobiografia cheia de omissões e comodismo".
Tentativa de volta triunfal no contexto europeu
Os eleitores de Berlusconi não se abalaram com os 30 processos judiciais iniciados contra ele – nem por sua arrogância.
"Digo com toda honestidade que acredito que sou, de longe, o melhor presidente que a República da Itália jamais teve em seus 150 anos de história", disse Berlusconi em 2009, durante seu quarto mandato.
Os casos com mulheres muito novas também não incomodavam os eleitores. "Bunga bunga", a expressão irônica que descrevia as orgias das quais ele foi acusado de ser o anfitrião, eram famosas e se tornaram componente sólida da cultura popular italiana.
Em meados de 2013, Berlusconi foi condenado por fraude fiscal e impedido de exercer cargos públicos por seis anos. O banimento foi anulado em 2018 e, um ano depois, o político, aos 82 anos, voltou à cena, concorrendo não como chefe de governo, mas por um assento no Parlamento Europeu. Ele já havia entrado na corrida em quatro eleições europeias anteriores, mas só foi deputado europeu entre 1999 e 2001. Nas outras três eleições, preferiu ceder o mandato a colegas de partido.
Mesmo assim, em 2019, sentiu necessidade de tomar as rédeas do destino da União Europeia em suas próprias mãos e ingressou no Parlamento Europeu como o candidato italiano com o maior número de votos.
Apenas um ano depois, porém, ficou claro que até "il Cavaliere" era vulnerável. No início de setembro de 2019, testou positivo para covid-19, e os médicos anunciaram um tratamento contra pneumonia em seus dois pulmões.
Berlusconi se recuperou e, em meados de 2022, concorreu como principal candidato para seu partido, o Força Itália, nas legislativas italianas.
O partido já tinha formado uma aliança com a legenda pós-fascista Irmãos da Itália (FdI) da atual primeira-ministra Giorgia Meloni, além do partido ultradireitista Liga. Porém, Berlusconi e seu partido não conseguiram repetir seus sucessos anteriores, acumulando apenas 8% dos votos. Como resultado, a legenda não desempenhou papel de destaque nas negociações de coalizão, impedindo Berlusconi de impor a maior parte de suas demandas contra Giorgia Meloni.
Basicamente, a situação resultou numa inversão de papeis: Meloni adquiriu suas primeiras experiências de governo como ministra da Juventude de Berlusconi (2008-2011). Após a eleição de 2022, mostrou ao antigo mentor algo que este provavelmente tinha considerado quase inconcebível durante sua vida: uma mulher moderna colocou o "Cavaliere" em seu devido lugar.
A era do "Cavaliere" agora chegou a um fim definitivo. Nesta segunda-feira, Berlusconi morreu em Milão depois de ter sido internado no fim de semana para tratar de uma leucemia e de problemas respiratórios.
Kersten Knipp / DW.com
ITÁLIA - Na Itália, o macarrão foi parar na mesa da Autoridade Nacional da Concorrência, um órgão que regula os preços das mercadorias – mas não foi para uma refeição. O preço do alimento preferido dos italianos aumentou quase 18% em apenas um ano, duas vezes mais que a inflação, atualmente em 8,3%. Em Roma, o governo convocou representantes do setor para tentar esclarecer o fenômeno.
Associações de consumidores acusam as marcas de serem as responsáveis pelo aumento do preço do macarrão. No entanto, as fabricantes alegam que o fenômeno se deve a uma conjunção de fatores – incluindo a alta dos valores da energia elétrica, perturbações na cadeia de fornecimento e a inflação.
A reunião de crise realizada pelo governo italiano na quinta-feira (11) terminou com uma promessa de que os preços do macarrão irão baixar em breve. As autoridades afirmam que continuarão monitorando os valores para "proteger os consumidores".
Em média, na Itália, o pacote de macarrão custa cerca de € 2 (cerca de R$ 11), um valor relativamente acessível. Em Roma, muitas pessoas dizem ter outros problemas. "Os produtos que mais sofreram aumento foram as frutas e os legumes. Mas o que custa mais caro, obviamente, são as contas de luz, que se tornaram impossíveis", diz uma moradora da capital italiana à RFI.
"Para ser sincera, eu não percebi que o preço do macarrão havia aumentado. Tudo ficou mais caro e é preciso se adaptar. Não entendo por que tudo tem que virar uma briga", comenta uma outra italiana à reportagem.
Nas redes sociais, no entanto, a questão virou motivo de piada. "Isso me fez rir. Eu sei que não deveria, mas é algo hilário o preço do macarrão ser a definição de uma crise no governo italiano", disse um usuário do Twitter.
A questão é mais complexa do que pode parecer, diz Fabio Parasecoli, professor de estudos sobre alimentação da Universidade de New York. Segundo ele, a reação do governo italiano mostra "o valor simbólico, emocional e cultural que o macarrão tem para os italianos", afirmou, em entrevista ao jornal The Washington Post.
Grande diferença de preços
A disparidade dos valores também choca os consumidores: a diferença de preços entre a cidade mais cara e a mais em conta chega a 64,8%. Associações suspeitam que produtores estejam recorrendo à especulação para lucrar.
Já os agricultores não podem ser responsabilizados porque o preço do trigo baixou cerca de 30% desde o ano passado. Os distribuidores também afirmam ter diminuído as margens de lucro, em respeito às famílias.
Após a reunião de quinta-feira, o governo exige que as marcas provem que não aproveitaram os efeitos da guerra na Ucrânia na economia italiana para criar uma falsa crise. Qualquer que seja o desfecho do episódio, ele será positivo aos consumidores, garante o ministro italiano das Empresas, Adolfo Urso. Várias companhias já anunciaram que o aumento foi temporário e os preços devem começar a cair nos próximos dias.
O macarrão é um alimento básico na alimentação dos italianos, indispensável para boa parte da população. No país, um adulto consome, em média, 23 quilos de massa por ano.
Com informações de Anne Treca, correspondente da RFI
MILÃO - O governo da Itália disse para a Câmara Municipal de Milão para não mais registrar filhos de pais do mesmo sexo, reacendendo um debate em torno da agenda conservadora da primeira-ministra, Giorgia Meloni.
A Itália legalizou as uniões civis entre pessoas do mesmo sexo em 2016, derrubando a oposição de grupos católicos e conservadores, mas não conseguiu dar a eles direitos de adoção, temendo que isso encorajasse a gravidez de aluguel, que continua ilegal.
Na ausência de uma legislação clara sobre o assunto, alguns tribunais decidiram a favor de permitir que casais do mesmo sexo adotem os filhos uns dos outros, e prefeitos de algumas cidades, incluindo Milão, registraram barrigas de aluguel para casais do mesmo sexo.
O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, disse na segunda-feira que recebeu uma carta do Ministério do Interior dizendo-lhe para parar de registrar os filhos de casais do mesmo sexo.
Citando uma decisão do mais alto tribunal da Itália, a prefeitura de Milão - um braço local do Ministério do Interior - argumentou que os pais poderiam obter reconhecimento legal apenas com a aprovação explícita de um tribunal para a adoção.
Sala disse em um podcast nesta terça-feira que respeitará a ordem, mas continuará lutando politicamente para garantir que os direitos dos pais homossexuais e de seus filhos sejam reconhecidos.
Meloni chegou ao poder como defensora dos valores cristãos tradicionais e denunciando o que ela chama de "ideologia de gênero" e "lobby LGBT".
Por Federico Maccioni / REUTERS
Com reportagem adicional de Emilio Parodi
ROMA – O Parlamento da Itália aprovou como lei na quinta-feira, 23, um decreto do governo que estabelece um código de conduta para navios de instituições beneficentes para migrantes, apesar das críticas da Organização das Nações Unidas (ONU) e de grupos humanitários de que isso colocará vidas em risco.
O novo conjunto de regras faz parte dos esforços da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, para reprimir as embarcações de resgate, que seu governo diz encorajar as pessoas a fazerem a perigosa viagem pelo Mediterrâneo a partir do norte da África.
As instituições beneficentes negam isso, dizendo que os migrantes vão para o mar independentemente de haver barcos de resgate nas proximidades.
Sob a nova lei, os navios devem solicitar acesso a um porto e navegar até ele “sem demora” após um resgate –em vez de permanecer no mar procurando outros barcos de migrantes em perigo– e divulgar informações detalhadas sobre suas atividades de resgate.
Anteriormente, as embarcações operadas por instituições beneficentes ou organizações não governamentais (ONGs) costumavam passar vários dias no Mediterrâneo central e regularmente concluíam vários resgates antes de seguirem para o norte em direção à Itália.
Os capitães que violarem as novas regras correm o risco de multas de até 50.000 euros, e violações repetidas podem resultar na apreensão de suas embarcações, estipula a lei.
Horas depois da votação parlamentar, o grupo Médicos Sem Fronteiras (MSF) disse que sua embarcação Geo Barents havia sido bloqueada por 20 dias e a organização multada em 10.000 euros.
As sanções foram impostas depois que o MSF foi acusado de reter algumas informações sobre um resgate concluído na semana passada, quando o Geo Barents levou 48 migrantes ao porto adriático de Ancona, disse um porta-voz da instituição beneficente.
“Estamos avaliando quais ações legais podemos tomar para contestar o que aconteceu. Não é aceitável ser punido por ter salvado vidas”, disse o MSF em um tuíte.
Por Angelo Amante / REUTERS
HOLANDA - A seleção brasileira levou a melhor sobre a Itália, uma das favoritas ao título do Mundial de Vôlei Feminino. A partida de abertura da segunda rodada da competição, em Roterdã (Holanda), teve clima de revanche – o Brasil perdeu para as adversárias o título da Liga das Nações em julho. Mas hoje a história foi outra: as brasileiras não só ganharam por 3 sets a 2 ( 25/20, 22/25, 22/25, 25/21 e 17/15), como quebraram a invencibilidade das italianas no Mundial.
A seleção comandada por José Roberto Guimarães volta à quadra às 11h (horário de Brasília) desta quarta (5) contra Porto Rico, no segundo jogo pelo Grupo E. Bicampeã olímpica, a seleção busca o título inédito do Mundial.
É VITÓÓÓRIA!! ???
— Time Brasil (@timebrasil) October 4, 2022
As minhas meninas são gigantes, tá?!
?? 3 x 2 ??
(25/20, 22/25, 22/25, 25/21 e 17/15)
Respeitem a SELEÇÃO BRASILEIRA! ? pic.twitter.com/iZuAY30iVw
“Fiquei muito feliz com o resultado e o comportamento da equipe. Passamos por muitas adversidades durante o jogo e conseguimos ser eficientes nas horas decisivas. A diferença do jogo foi o número de erros. O sistema defensivo hoje funcionou melhor e é muito difícil parar a Egonu. O time teve uma lucidez muito grande na marcação do bloqueio e no sistema defensivo. O nosso saque ainda precisa melhorar. Ganhar da Itália foi muito importante ainda mais depois da nossa derrota para o Japão. O campeonato está aberto e temos que buscar a melhor classificação possível”, disse o treinador Zé Roberto, em depoimento à Confederação Brasileira de Voleibol (CBV).
Quem brilhou à frente da equipe nacional foi a ponteira e capitã Gabi, que anotou 30 pontos, e a central Carol, com 14. Do lado italiano, a oposta Paola Egonu somou 37 pontos.
“O diferencial da nossa equipe é o time. Quando jogamos com essa alegria, dando confiança uma para outra, com atitude é difícil jogar contra a nossa equipe. Sabemos que jogamos no conjunto, as meninas me deram força o tempo todo. Se acreditarmos ponto a ponto podemos jogar de igual para igual contra qualquer um dos times. Estamos focadas na postura e atitude. Foi um resultado muito importante contra uma das equipes favoritas da competição. A caminhada é muito longa e já vamos pensar em Porto Rico", completou a capitã Gabi.
O Brasil disputa a segunda fase do Mundial no Grupo E com outras sete nações. No Grupo F estão mais oito equipes. Nesta etapa do Mundial as nações não repetem os mesmos confrontos da primeira fase, ou seja, o Brasil não terá mais de encarar Japão, China e Argentina. Avançam às quartas de final as quatro seleções primeiras colocadas em cada chave.
06.10 (QUINTA-FEIRA) – Brasil x Porto Rico, às 11h (horário de Brasília)
07.10 (SEXTA-FEIRA) – Brasil x Holanda, às 15h15 (horário de Brasília)
08.10 (SÁBADO) – Brasil x Bélgica, às 12h (horário de Brasília)
ITÁLIA - O domingo (11) foi dourado para a judoca brasileira Beatriz Souza, no Aberto de Riccione (Itália), último torneio antes do Mundial no Uzbequistão no próximo mês. Bia se sagrou campeã na categoria acima dos 78 quilos após vencer por ipppon a final contra a francesa Lea Fontaine.
É OUROOOOOOOOOO! ??
— Time Brasil (@timebrasil) September 11, 2022
É de Beatriz Souza (+78kg), no Aberto Europeu de Riccione??
A judoca derrotou na final Lea Fontaine ??, com direito a ipponzaço.
Vaaaaaaai, Biaaaaaaa! ???? pic.twitter.com/rwBtNmolS5
Para se credenciar à final, Bia Souza ganhou por ippon a polonesa Kinga Wolszczak, na estreia, e depois a cazaque Kamila Berlikash, na semifinal.
Atual número 3 do mundo, a paulista de Peruíbe já coleciona outras três medalhas nesta temporada: foi campeã Pan-Americana individual e por equipes e prata no Grand Slam de Tel Aviv.
Outro brasileiro que subiu ao pódio em Riccione foi Eric Takabatake que levou a medalha de bronze no sábado (10), na categoria até 66 kg.
O Mundial de Tashkent, no Uzbequistão, ocorrerá de 6 a 13 de outubro. Na edição do ano passado, em Budapeste (Hungria) o Brasil conquistou dois bronzes individuais com Beatriz Souza e Maria Suelen Altheman.
ITÁLIA - O governo da ilha da Sardenha, na Itália, aprovou um programa de transferência de renda às pessoas que decidirem se mudar para a região. Quem aceitar pode ganhar até EUR 15 mil (R$ 75,7 mil).
A charmosa ilha é a segunda maior do Mediterrâneo, e suas praias de água azul-turquesa somadas à culinária italiana atraem milhares de turistas no verão europeu -grande parte deles, aliás, vinha da Rússia, alvo de sanções do Ocidente desde a invasão da Ucrânia. A ilha também abriga mansões de alguns poderosos; entre eles, o ex-primeiro-ministro do país Silvio Berlusconi.
Quando o céu se fecha e o calor vai embora, porém, a região se esvazia e fica quase isolada. A Sardenha tem cerca de 1,6 milhão de habitantes, apesar de sua área de mais de 24 mil quilômetros quadrados (o equivalente a quase três vezes a região metropolitana de São Paulo.
A ilha é uma das áreas com mais pessoas centenárias no mundo, segundo o livro dos recordes. Os jovens da região, por outro lado, buscam emprego em outras áreas italianas ou no exterior, o que contribui para a diminuição e para o envelhecimento da população local. Para reverter esse cenário, o governo reservou EUR 45 milhões (R$ 227 milhões) para subsidiar a chegada de novos moradores. A informação é da emissora Euronews.
Mas quando a esmola é demais, o santo desconfia (e pode desconfiar). Para ser um dos beneficiados no programa, o candidato deverá se mudar para um dos municípios da Sardenha com população inferior a 3.000 pessoas. A quantia recebida não, necessariamente, de EUR 15 mil deverá ser usada para comprar ou reformar uma casa, e a subvenção não pode exceder metade do gasto total.
Além disso, o beneficiário precisará morar na nova propriedade em tempo integral e deve se registrar como residente permanente em até 18 meses após a chegada à região -portanto, esqueça a ideia de aderir ao programa no verão e sair logo no inverno.
O presidente da Sardenha, Christian Solinas, pretende que o programa incentive estrangeiros a se mudarem para a ilha e estimule aqueles moradores locais a continuarem na região.
"Graças a essas contribuições, a Sardenha se torna um terreno fértil para aqueles que se mudam para lá ou decidem construir uma família", disse. "Não pode haver crescimento sem uma real valorização do interior e das zonas mais desfavorecidas. Então, criamos as condições para que os jovens decidam ficar e desenvolvam a economia dos territórios mais frágeis."
Padrões semelhantes são frequentes em várias outras cidades da Itália. Nos últimos anos, proprietários e governos de cidades pequenas do país começaram a anunciar casas por apenas 1 euro -as propriedades, na maioria das vezes, foram herdadas de idosos que morreram sem ter família por perto.
A população da Itália está envelhecendo. No ano passado, 24% da população do país tinha mais de 65 anos, segundo o Banco Mundial. A média de idade hoje na nação europeia é de 46 anos em 2050, projeta-se que será 51.
ITÁLIA - As declarações do ex-presidente russo Dmitri Medvedev, que instou os europeus a "punirem" seus "governos estúpidos" nas urnas, geraram polêmica na Itália, em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas de 25 de setembro, que devem decidir o novo primeiro-ministro.
Sob a liderança do atual primeiro-ministro Mario Draghi, a Itália apoiou a Ucrânia desde o início da invasão russa, fornecendo armas e ajuda humanitária. Uma posição que pode mudar se a coalizão de direita e extrema direita, mais pró-Rússia e grande favorita em todas as pesquisas, chegar ao poder.
A maioria dos comentaristas e da classe política interpretou a mensagem de Dmitri Medvedev como um chamado para eleger esta coalizão, formada por Silvio Berlusconi, Giorgia Meloni e Matteo Salvini.
"Interferência russa" foi a manchete do diário de esquerda La Repubblica desta sexta-feira (19), enquanto o influente Corriere della Sera destacou em sua primeira página que "a Rússia sacode as eleições italianas".
"Gostaríamos que os cidadãos europeus não apenas expressassem seu descontentamento com as ações de seus governos, mas que fossem um pouco mais consistentes. Por exemplo, responsabilizá-los e puni-los nas urnas por sua óbvia estupidez", escreveu Medvedev no Telegram, seu canal habitual de comunicação.
"Ajam agora, vizinhos europeus! Não fiquem calados! Exijam responsabilidade!", escreveu ele.
"Se o preço da democracia europeia é o frio nos apartamentos e as geladeiras vazias, esse tipo de 'democracia' é uma loucura", acrescentou o ex-líder russo, referindo-se às consequências das sanções contra a Rússia pela guerra na Ucrânia, como as crises energética e alimentar.
"Interferência é preocupante"
O ministro das Relações Exteriores da Itália, Luigi Di Maio, reagiu imediatamente: "A interferência russa nas eleições italianas é preocupante".
Para o líder do Partido Democrata (PD, à esquerda), Enrico Letta, Moscou está tentando "mudar a política externa italiana, que desde o início tem sido muito clara para apoiar a União Europeia e a Otan", declarou ele. "A votação de 25 de setembro também se expressará sobre isso", acrescentou.
Diversos líderes de centro-esquerda pediram à coalizão de direita que condenasse as palavras de Medvedev e abandonasse a ambiguidade.
O líder de extrema direita Matteo Salvini, que tentou fazer uma viagem a Moscou sem sucesso no início da invasão russa e mantém boas relações com o partido Rússia Unida, de Vladimir Putin, defendeu-se nesta sexta-feira em declarações à imprensa milanesa. "Não vou à Rússia há anos... A Rússia não tem a menor influência nas eleições italianas", afirmou.
Medvedev, que foi presidente de 2008 a 2012, foi primeiro-ministro de 2012 a 2020 e atualmente é vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.
(Com AFP)
ROMA - A líder do partido Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, gravou uma mensagem de vídeo em três idiomas, nesta quarta-feira, para tranquilizar os parceiros da Itália que um governo de direita liderado por ela não ameaçará a estabilidade financeira e manterá as alianças tradicionais de Roma.
O bloco conservador da Itália, que também inclui a Liga, de Matteo Salvini, e o Força Itália, de Silvio Berlusconi, está bem posicionado para ganhar a maioria absoluta nas eleições marcadas para 25 de setembro, segundo uma pesquisa divulgada na terça-feira.
Meloni lidera as pesquisas e está a caminho de se tornar primeira-ministra. No entanto, alguns analistas duvidam de sua adequação para o papel, pois seu partido remonta a um movimento pós-fascista.
Meloni descartou como "absurdas" as alegações de que ela liderará um governo autoritário, dizendo que tais visões são "inspiradas pelo poderoso circuito de mídia da esquerda". Ela não deu mais detalhes.
"A direita italiana entregou o fascismo à história há décadas, condenando inequivocamente a supressão da democracia e as ignominiosas leis antijudaicas", disse ela em uma mensagem de vídeo enviada à mídia estrangeira em inglês, francês e espanhol.
"Nós nos opomos ferozmente a qualquer deriva antidemocrática com palavras de firmeza que nem sempre encontramos na esquerda italiana e europeia", acrescentou.
Meloni destacou o compromisso de seu partido com o Ocidente e sua condenação à invasão russa da Ucrânia, uma questão espinhosa para o bloco conservador devido aos laços historicamente estreitos de Salvini e Berlusconi com o presidente russo, Vladimir Putin.
Meloni, que frequentemente ataca "burocratas" de Bruxelas e cujo partido foi rotulado de eurocético por muitos analistas, negou quaisquer planos de sair da União Europeia e prometeu não comprometer o roteiro de Roma para obter bilhões em fundos pós-pandemia do bloco.
Meloni, que foi a principal oposição ao governo de "unidade nacional" de Mario Draghi, disse que o plano de recuperação elaborado por Draghi pode ser melhorado e que suas falhas se devem à sua coalizão rachada.
"É por isso que a Itália precisa de um governo unido e de mente clara que não apenas evite desperdiçar um euro desse dinheiro, mas também promova investimentos e crescimento em nosso país", disse Meloni.
Por Angelo Amante / REUTERS
ITÁLIA - A direita do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi e a extrema-direita Liga, de Matteo Salvini, exigiram na quarta-feira (20) a saída do antissistema Movimento 5 Estrelas em troca do apoio a um novo governo na Itália liderado por Mario Draghi.
"Os partidos de centro-direita são a favor de um 'novo acordo' de governo e vão contribuir para a solução dos problemas do país, mas somente com um novo Executivo, profundamente renovado, liderado por Mario Draghi e sem a participação do Movimento 5 Estrelas", anunciaram os partidos em uma nota oficial.
A crise no governo começou na semana passada por membros antissistema que consideraram que vários pontos de um decreto-chave proposto por Draghi são contrários a seus princípios.
O desfecho ainda é incerto e são várias as soluções possíveis, entre elas, eleições antecipadas em setembro ou outubro.
O primeiro-ministro italiano Mario Draghi assegurou nesta quarta-feira ao Senado que a única saída para a atual crise política pela qual a Itália está passando é chegar a um novo "acordo" entre as partes em disputa.
"O único caminho a seguir, se quisermos ficar juntos, é reconstruir um pacto (de governo) com coragem, abnegação e credibilidade", propôs Draghi depois de perder o apoio de um partido de coalizão nacional que presidiu na semana passada.
Durante seu discurso, que terminará com uma moção de confiança, Draghi alertou que "a Itália não precisa mostrar confiança aparente, que desaparece quando se trata de tomar medidas difíceis".
O ex-presidente do Banco Central Europeu questionou diretamente os partidos de sua ampla coalizão que inclui da direita à esquerda: "Vocês, partidos e parlamentares, estão prontos para reconstruir esse pacto? Estão prontos para confirmar esse esforço que nos primeiros meses e depois ficou mais fraco?" ele perguntou.
"A resposta a essa pergunta não deve ser dada a mim, mas a todos os italianos", disse ele. "A Itália é forte quando está unida", acrescentou.
Os desafios internos (recuperação econômica, inflação, emprego) e externos (independência energética, guerra na Ucrânia) que a Itália e a União Europeia enfrentam "exigem um governo verdadeiramente forte e unido e um Parlamento que o acompanhe com convicção", sublinhou.
Draghi também enviou uma mensagem aos antissistema, que na semana passada retiraram o apoio a um decreto-lei fundamental, referindo-se à introdução de um salário mínimo, que a direita questiona e é uma das questões que suscita fortes disputas.
"É importante para reduzir pobreza, mas pode melhorar", frisou, uma frase interpretada como uma abertura.
No entanto, reconheceu que as disputas internas e o "desejo de se distinguir" de alguns partidos, aludindo ao antissistema do Movimento 5 Estrelas, minaram a confiança no seu governo.
"Um primeiro-ministro que não foi eleito deve ter o maior apoio possível. A unidade nacional é a garantia", afirmou.
Uma eventual queda do governo de unidade poderia desencadear uma onda de revolta social diante da inflação galopante, ameaçar o gigantesco plano de recuperação financiado pela União Europeia e alimentar o nervosismo dos mercados.
Segundo as pesquisas, a maioria dos italianos quer que Draghi permaneça no cargo, uma das razões pelas quais ele recuou e não confirmou sua renúncia.
O primeiro-ministro deve comparecer perante a Câmara dos Deputados na quinta-feira, de acordo com o método decidido pela república parlamentar.
Após a abertura do debate, em que cada partido ilustrará sua posição, um voto de confiança definirá com qual maioria conta para continuar governando ou não.
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