BIG ISLAND - Os mistérios de Big Island, a maior ilha do Havaí, começam logo na descida do avião. Da janelinha, avistamos a pista de aterrissagem cercada por rochas vulcânicas gigantes. E já em terra firme, desembarcamos no charmoso aeroporto da cidade de Kona, praticamente construído ao ar livre.
A ilha no Pacífico parece mesmo um mundo à parte. A quase 4 mil quilômetros da Califórnia, o voo de Los Angeles leva cinco horas. Aqui, pouco se escuta "thank you" ou "hello". É "mahalo" e "aloha". Os locais também veneram Pele e isso não tem nada a ver com futebol. Pele é a deusa dos vulcões e está, neste exato momento, em plena atividade.
Uma erupção no cume do Kilauea começou antes do nascer do sol numa quarta-feira de junho, no dia 3, após pequenos terremotos abaixo do vulcão. Um lago de mais de 120 hectares de lava derretida foi formado, e jatos jorravam a centenas de metros de distância.
Mas ninguém saiu às pressas da ilha, muito pelo contrário. Milhares de pessoas foram correndo para ver a erupção no Parque Nacional dos Vulcões, uma das atrações mais populares do Havaí. E, segundo funcionários do parque, não tem problema nenhum.
O parque tem espaços com vistas espetaculares para o fenômeno, mesmo com o lago de lava formado numa área de acesso proibido aos turistas.
"É seguro ver a erupção dos pontos de parada ao longo da trilha Crater Rim", diz Jessica Ferracane, assessora do parque. "Toda a lava está confinada a uma cratera apenas. Só pedimos aos visitantes para ficar fora das áreas fechadas. Gases vulcânicos, penhascos, rachaduras na terra são alguns dos perigos associados aos vulcões."
Aberto 24 horas, o parque sugere visitas depois das 21h e antes das 5h para evitar as multidões e estacionamentos lotados.
Ninguém sabe ao certo quanto tempo irá durar o espetáculo. A última erupção semelhante durou de janeiro a março deste ano. "Mas também tivemos um lago de lava entre 2008 e 2018", disse Ferracane. "Não saber a duração faz parte da maravilha e do mistério de se viver em um dos vulcões mais ativos do planeta."
Mesmo sem erupção à vista, vale muito a pena visitar o parque. Afinal, quem não quer atravessar um lago de lava solidificado no fundo de uma cratera, a Kilauea Iki? A cratera é uma depressão de 120 metros que também faz parte do vulcão Kilauea, o mesmo que cospe lava no momento, mas através de outra cratera, a Halmemaʻumaʻu.
Ferracane diz que "há muito pouco risco" na trilha de Kilauea Iki ("iki" é pequeno em havaiano), já que os vulcões do Havaí são os mais monitorados e estudados do mundo.
Para descer até sua lava solidificada, resultado de uma erupção em 1959, é preciso atravessar uma floresta tropical exuberante, repleta de samambaias e passarinhos, como os nativos de plumagem vermelha iiwi e apapane. Já na base da depressão, onde fica o lago solidificado, flores vermelhas chamadas ohia, endêmicas da ilha, praticamente brilham no cenário árido de rochas pretas vulcânicas.
Esse clima desértico acompanha toda viagem pela Big Island, com estradas cortando campos de rochas vulcânicas e montanhas manchadas por rios de lavas solidificadas. Composta por cinco vulcões, a Big Island se formou justamente com suas erupções ao longo de milhões de anos. E, a cada nova grande erupção, a ilha ganha mais território.
A combinação de altas montanhas com esse solo especial deu origem a um tipo de café que só pode ser cultivado aqui, o café Kona, em pequenas fazendas nas encostas dos vulcões Hualalai e Mauna Loa.
O preço é exorbitante, mas muitas fazendas oferecem tour com degustação ao final. A Mountain Thunder Coffee Plantation, a 15 quilômetros do aeroporto, oferece passeio gratuito para explicar a magia do café Kona. Para comprar o autêntico, preste atenção nas embalagens: se não disser "100% kona coffee", é mistura de outras variedades.
Para curtir as praias de Big Island, não tem como errar. Há praias de areia preta, branca e até verde. Há praias para a família, com diversos serviços, como aluguel de pranchas e banheiro, praias para surfistas e também aquelas mais difíceis de chegar. Em quase todas, dá para fazer um bom snorkel, ver muitos peixinhos e, com sorte, tartarugas.
Dizem que o melhor snorkel de todos está na baía de Kealakekua, onde só se chega de barco ou por uma trilha de 40 minutos (a descida é fácil, mas a subida é pesada).
Além da vida marinha excepcional, a baía guarda uma boa história de Big Island. Foi aqui que o famoso explorador britânico James Cook, primeiro europeu a estabelecer contato com as ilhas havaianas, foi assassinado em 1779, em sua terceira viagem pelo Pacífico. Após ter um de seus barcos roubados, Cook tentou em vão sequestrar o rei havaiano para ter a embarcação de volta, mas o erro acabou custando sua vida.
Um monumento a Cook foi levantado na baía, da onde os visitantes saem para entrar na água. Quem for caminhando, é bom chegar bem cedo ou no fim de tarde para evitar o "congestionamento" de barcos que poluem a vista no final das manhãs.
Outra aventura aquática e um clássico de Big Island é "nadar com as raias mantas" num mergulho noturno, com uma das diversas empresas autorizadas (cerca de R$ 700). Conhecidas também como arraias-jamanta, elas podem chegar a mais de quatro metros, embora não possuam ferrão como as temidas arraias.
As mantas se alimentam de plâncton, que é atraído pelas luzes dos barcos que levam os turistas. A viagem até uma das baías das mantas leva uma hora e acontece bem no pôr do sol. Se entrar à noite nas águas do meio do Pacífico não assustar, a experiência pode ficar ainda mais surreal.
As mantas se aproximam lentamente no fundo do mar, como criaturas alienígenas que parecem voar. Ao subir à superfície, a surpresa tira o fôlego dos desavisados: curiosas, elas podem chegar bem perto do visitante de snorkel, raspando levemente na nossa roupa de neoprene. Porém, como as lavas incandescentes do Kilauea, é proibido tocá-las, preservando assim mais um dos mistérios da Big Island.
por FERNANDA EZABELLA / FOLHA de S.PAULO
VENEZUELA - Uma operação militar realizada pelo governo da Venezuela busca expulsar mais de 10.000 garimpeiros ilegais da Amazônia, afirmou o presidente Nicolás Maduro nesta terça-feira (4), reconhecendo que essa atividade tem "destruído" ecossistemas vitais do país.
"Estamos desalojando mais de 10.000 ilegais com a presença física em território da nossa Força Armada Nacional Bolivariana" (FANB), indicou o mandatário durante uma cerimônia de promoção de oficiais em Caracas.
O avanço da mineração ilegal "tem destruído a Amazônia da América do Sul (...) e da Venezuela", enfatizou Maduro, referindo-se aos desdobramentos militares para "libertar" a Amazônia e os parques nacionais da Venezuela.
Durante o fim de semana, "1.281 pessoas" foram desalojadas de forma "voluntária", informou na segunda-feira o general Domingo Hernández Lárez, à frente das operações.
A FANB está executando a "Operação Autana 2023" em Yapacana, o maior parque nacional do país, com 320.000 hectares, onde foi ativado um "canal humanitário" para evacuar garimpeiros e suas famílias.
Na região, localizada no sul da Venezuela, há presença de garimpeiros locais e de outros países, como Colômbia, Brasil e Equador, alguns deles detidos em diferentes operações.
Imagens compartilhadas por autoridades militares mostram os danos, em alguns casos irreversíveis, em áreas florestais e rios, praticamente devastados pela mineração ilegal.
Moradores da Amazônia entrevistados pela AFP semanas atrás denunciaram o avanço da mineração ilegal em seus territórios, assim como a crescente presença de indígenas nas minas, o que marca uma mudança dramática em seus hábitos ancestrais.
Além disso, proliferam doenças como o câncer devido à ingestão de peixes que vivem em rios contaminados pelo mercúrio utilizado na extração de ouro.
A ONG SOS Orinoco denunciou que 2.227 hectares em Yapacana (cerca de 3.200 campos de futebol) foram devastados pela mineração ilegal em 2020, de acordo com um relatório acompanhado por imagens de satélite.
MANAUS/AM - Agentes da Polícia Federal (PF), com servidores do Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade (ICMBio), desarticularam uma estrutura de extração ilegal de cassiterita em uma região de divisa entre os estados de Rondônia e do Amazonas. No local, foi encontrada uma área de devastação de 118 hectares, equivalente ao tamanho de 118 campos de futebol.

O delegado da Superintendência da Polícia Federal em Rondônia, Thiago Peixe explicou que o local foi localizado por meio do sistema de monitoramento via satélite, associado às denuncias da população local. “É uma região distante tanto das unidades de policiamento de Rondônia, quanto do Amazonas, uma espécie de zona cinzenta, onde só conseguimos chegar com a ajuda das aeronaves”, diz sobre os dois equipamentos disponibilizado pelo ICMBio.
Segundo o delegado, com a aproximação das aeronaves ao local, os garimpeiros fugiram e se esconderam na mata para evitar o flagrante. O garimpo ilegal atuava em uma área do Parque Nacional Campos Amazônicos e da Terra Indígena Tenharim Marmelos.
A operação, chamada pela PF de Retomada, contou com a participação 20 policiais federais, além de oito servidores do ICMBio, que atuaram na região entre os dias 29 de junho e 2 de julho. No local, foram identificadas a extração ilegal de cassiterita, de onde é extraído estanho.
Segundo Thiago Peixe, esse tipo de garimpo ilegal causa graves prejuízos ambientais. Além do desmatamento, há ainda o risco de contaminação por combustível e substâncias tóxicas usadas na resumidora, equipamento que separa o minério da terra. “Na região há rios de menor volume que alcançam rios maiores e os próprios buracos escavados na mineração representam um risco à contaminação do lençol freático”, explica.
Na estrutura utilizada pelos garimpeiros havia dez áreas de acampamento, onde foram encontradas duas escavadeiras hidráulicas, 11 motores de dragagem, quatro geradores de energia elétrica, oito veículos, entre motocicletas e caminhonetes. Toda a estrutura foi destruída pela polícia, que estima um prejuízo de R$ 8 milhões à organização criminosa.
Por Fabiola Sinimbu – Repórter da Agência Brasil
SÃO CARLOS/SP - A Prefeitura de São Carlos, por meio da Secretaria Municipal de Comunicação e com o apoio de diversas secretarias municipais, lançou oficialmente o site “Ecológica”, voltado à destinação correta dos resíduos sólidos, na manhã desta terça-feira (27/06). O evento inaugural, com apresentação da plataforma e demonstração dos serviços envolvidos, aconteceu no auditório do Paço Municipal e contou com a participação de agentes de áreas como meio ambiente, saneamento, educação, saúde e tecnologia da informação.
A iniciativa para criação do “Ecológica” partiu de uma conversa entre a Prefeitura de São Carlos, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e o Ministério Público Estadual. Com o tempo, novos agentes foram incorporados à causa, contribuindo com ideias e informações capazes de aprimorar a página e proporcionar um serviço ainda mais eficiente para busca e pesquisa pela população.
Por meio da plataforma http://ecologica.saocarlos.sp.gov.br/coleta_seletiva/ o munícipe realiza buscas na aba “o que deseja descartar?” e verifica a relação completa de locais públicos, privados e do terceiro setor que recebem aquele tipo de material e tratam corretamente sua destinação. No site, todos os locais contam com endereço e a possibilidade de visualização em mapa para facilitar o acesso à localização. Além disso, o portal também dispõe de campos como informações sobre logística reversa e publicações de leis e decretos que normatizam o descarte de resíduos sólidos.
O Promotor de Justiça do Meio Ambiente de São Carlos, Dr. Flávio Okamoto, recordou as conversas para formulação do site e a contribuição ambiental que a página acarreta. “Este era um desejo antigo que tínhamos de informar a população quanto ao descarte adequado de resíduos, pois a cidade sofre muito com isso, principalmente na periferia, então a gente pediu para que a Prefeitura, em conjunto com a UFSCar, elaborasse um site para que a população pudesse fazer a busca do descarte adequado de qualquer tipo de resíduo. Com o “Ecológica”, o site já aponta o local. É mais um esforço de educação ambiental e que acreditamos ser o caminho para melhorar a sustentabilidade da nossa cidade”, salienta o promotor.
Debora Costa Blanco, dirigente regional de ensino, destacou a importância do trabalho integrado para os projetos de educação ambiental. “Para desenvolver um site, precisa-se de contribuições e vários setores colaboraram com o “Ecológica”, como a Promotoria, a Prefeitura e os embaixadores ambientais. A educação ambiental é fundamental para que essas políticas tenham sucesso, pois a intenção é que a população, através das informações deste site, consiga aplicar e praticar a educação ambiental”, disse Debora.
O presidente do SAAE, engenheiro Mariel Olmo, relatou que a gestão de resíduos sólidos de São Carlos passou para a autarquia que hoje preside, saindo da Secretaria de Serviços Públicos, pasta que ele coordenou por aproximadamente 6 anos. “O planejamento é o principal foco para reduzir a produção de resíduos e destinar adequadamente o que realmente for gerado. Dentre as etapas está a identificação, a classificação, o acondicionamento, tratamento adequado, transporte e destino final dos resíduos. Tenho certeza que o site vai nos ajudar a conscientizar os munícipes do destino certo de cada resíduo. Vai ajudar na prática a população com informações atualizadas e corretas”, finalizou Olmo.
Nino Mengatti, secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ressalta as melhorias possíveis de serem executadas com a nova página. “A defesa do meio ambiente é a defesa da vida e da humanidade. São Carlos sai mais uma vez na frente com a criação deste site, porque muitas vezes as pessoas querem fazer o descarte regular de várias coisas que estão em suas casas e estabelecimentos e não sabem a forma correta, então esta é uma parceria importante e a demonstração de preocupação que o prefeito Airton Garcia tem com o desenvolvimento da cidade, com a criação de empregos e com a qualidade de vida. Hoje, tivemos um avanço indispensável para que São Carlos recicle e melhore a gestão de seus resíduos sólidos”, comenta o secretário.
ESPANHA - Destino de muitos brasileiros nas férias de julho, a Espanha está imersa em uma onda de calor. Na segunda-feira, 26, por exemplo, os termômetros ultrapassaram os 44ºC na região da Andaluzia, no sul do país. A Agência Meteorológica Estatal chegou a decretar alerta em várias regiões.
Na semana passada, teve início o verão no hemisfério norte. Outros países europeus e também da América do Norte, como Estados Unidos e Canadá, podem ser atingidos por fortes ondas de calor e registrar recordes de temperatura máxima nos próximos meses, como aconteceu no ano passado.
No último dia 19, a Organização das Nações Unidas (ONU) e o serviço de mudança climática europeu Copernicus publicaram relatório mostrando que a Europa apresenta um ritmo de aquecimento duas vezes mais rápido do que a média mundial desde a década de 1980, e que a temperatura no continente foi 2,3ºC superior em 2022 na comparação com a era pré-industrial (1850-1900).
“Tivemos duas ondas de calor na Índia e no México. Não é improvável termos alguma onda de calor na Europa também”, diz o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
De acordo Seluchi e outros especialistas ouvidos pelo Estadão, o retorno de um verão intenso na Europa pode ocorrer em razão de dois fatores principais: as mudanças climáticas provocadas pelo aumento do efeito estufa - e que podem tornar os eventos extremos, como ondas de calor, mais frequentes -, e a elevação das temperaturas ocasionadas pelo El Niño, fenômeno que se caracteriza pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico e o desencadeamento de alterações climáticas em todo o mundo. Em anos de El Niño, as temperaturas tendem a ser acima da média.
Professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Artaxo, que também é membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), destaca que a Europa já apresenta um aumento da temperatura entre 2,2ºC e 2,4ºC, enquanto a média mundial gira em torno de 1,2ºC. “Isso faz com que a frequência de eventos climáticos extremos naquela região, em particular, como ondas de calor, seja mais intensa por conta da questão do aumento das temperaturas e do aquecimento global.”
Em 2021, o ano mais recente com uma série completa de dados, a concentração dos três principais gases do efeito estufa (carbono, metano e óxido de nitrogênio) atingiu níveis recordes e continuou aumentando em 2022, apontou o relatório da ONU e do Copernicus.
Os efeitos já estão se manifestando. Tradicionalmente frios, os países escandinavos Dinamarca, Suécia e Finlândia começam a sofrer com as altas temperaturas e com uma seca incomum, que interfere negativamente na agricultura. Em Helsinque, na capital finlandesa, os termômetros bateram 30ºC antes mesmo do início do verão. E, segundo dados do Copernicus, 89,5% do território dinamarquês já se encontrava em situação de seca no final de maio.
Mudanças climáticas também estão interferindo na frequência e intensidade do El Niño
Marcelo Seluchi, do Cemaden, diz que, por causa do aumento das emissões de gases poluentes e o consequente aumento do efeito estufa, a temperatura do planeta já aumentou 1,1º C. “Parece pouco, mas é muito”, diz o meteorologista. “O aumento de um grau não significa que (a temperatura) aumente de forma uniforme, mas sim a variabilidade, ou seja, aumentam o frio extremo e o quente extremo.”
Seluchi diz ainda que pode haver uma relação do aquecimento do planeta e também da frequência do fenômeno do El Niño, responsável por uma série de mudanças climáticas no mundo, como alterações em regimes de chuvas, que elevam as temperaturas da Terra de forma geral. Segundo o especialista, o aquecimento do planeta, além de causar mais eventos extremos e em intervalos curtos de tempo, está diminuindo as distâncias da ocorrência de El Niños.
“O que se tem observado é que uma forma do planeta devolver esse calor para a atmosfera é a partir da água dos oceanos, como o Pacífico, que se aquece com El Niño”, explica. “E a frequência dos fenômenos do El Niño tem também aumentado nas últimas décadas. Não apenas em número, mas também na sua intensidade.”
Por isso, diz ainda o Coordenador do Cemaden, por 2023 ser um ano de El Niño, “diversas ondas” de calor, como as presenciadas na Índia e no México, são esperadas ao redor do mundo, inclusive na Europa. “Porém, não é possível prever e saber quando, onde e em qual intensidade elas vão acontecer”, afirma.
O El Niño deverá se formar por completo nos próximos meses e aparecer, de forma mais evidente, entre os meses de setembro e outubro, segundo o climatologista Carlos Nobre, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), e especialista em estudos sobre o aquecimento global. Estatísticas indicam que há 80% de chances de a intensidade do fenômeno ser de moderada a alta e 56% de ser alta.
“Nos anos de 2015 e 2016, tivemos o El Niño mais forte em 120 anos. A temperatura do planeta chegou a subir 1,28ºC. Em 2022, foi é um ano La Niña (quando as temperaturas na Terra tendem a ser mais frias) e o mundo estava 1,15ºC grau mais quente. Isso já é um indicativo de que, neste ano, devemos ter um El Niño de moderado a forte”, explicou Nobre.
Calor extremo na Europa também foi sentido em 2022
Em 2022, países como Inglaterra, Itália, França, Alemanha, Holanda e Polônia registraram máximas extremamente altas. Portugal, Espanha e Grécia, por exemplo, sofreram com diversos incêndios florestais.
O Corpo do Bombeiros de Londres, que em julho do ano passado teve a maior temperatura registrada de sua história (40,2ºC), viveu um dia comparável ao da Segunda Guerra Mundial em termos de número de chamados e ocorrências. Ainda no Reino Unido, trens tiveram que ser suspensos porque o calor foi tão elevado que danificou os trilhos do sistema ferroviário.
Também em 2022, a França sofreu a pior seca já registrada no país desde 1976 entre janeiro e setembro, enquanto o Reino Unido teve o período mais seco entre janeiro e agosto do ano passado.
De acordo com uma base de dados da Organização Meteorológica Mundial, os fenômenos meteorológicos, hidrológicos e climáticos que atingiram a Europa em 2022 afetaram diretamente 156 mil pessoas e causaram 16.365 mortes, quase todas por conta das ondas de calor. A Espanha registrou mais de 4.600 mortes vinculadas ao calor extremo entre junho e agosto do ano passado.
Ondas de calor na Índia e México não estão relacionadas com El Niño, diz climatologista
Entre os dias 17 e 18 deste mês, a Índia registrou 96 mortes em decorrência das ondas de calor de até 44ºC que atingiram o país asiático. O México, por sua vez, somou oito óbitos causados pelas altas temperaturas.
De acordo com o climatologista Carlos Nobre, o calor intenso que vitimou mais de cem pessoas nos dois países “não está relacionado com o El Niño” porque o fenômeno ainda não está formado por completo. Ele diz que as altas temperaturas estão sendo provocadas por sistemas meteorológicos estacionários de alta pressão que pararam sobre os dois países, bloqueando a chegada de frentes frias.
“As altas pressões podem permanecer por três semanas no México e um pouco menos na Índia”, diz Nobre. “Essas ondas de calor só permanecerão nessas regiões enquanto os sistemas de alta pressão continuarem. Depois que ele desaparecer, os sistemas de baixa pressão, que são associados com frentes frias, podem atingir esses países - ainda que no verão isso aconteça com menos frequência”, acrescenta.
por Caio Possati / ESTADÃO
Programa da Eletronuclear e Uerj garante bem-estar e sobrevivência dos animais
ANGRA DOS REIS/RJ - Emoção e alívio. Os sentimentos descrevem o momento em que duas tartarugas são devolvidas ao oceano pelo Programa Tartaruga Viva, na quinta-feira (22). Loirinha e Paçoca, como são conhecidas, foram resgatadas e reabilitadas pela iniciativa, promovida pela Eletronuclear e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) desde 2018. O evento reforça a importância da preservação das espécies e contribui para a manutenção do equilíbrio marinho.
A primeira a ser localizada foi Loirinha. A tartaruga, que passou cerca de três meses sob os cuidados de profissionais do projeto, foi resgatada boiando e não conseguia se alimentar sozinha, após grande ingestão de lixo. O material foi completamente eliminado, depois de longo tratamento, e agora ela está saudável. Paçoca também pôde voltar ao mar recuperada, permanecendo menos de um mês com a equipe para tratamento de uma infecção que provavelmente causou a baixa mobilidade.
Durante o processo de recuperação, as tartarugas receberam os cuidados para que pudessem retornar ao habitat natural. Medicações, vitaminas, alimentação adequada por sonda, por introdução direta e indireta, e uma série de exames foram necessários para identificar e tratar os problemas de saúde dos animais.
“De 2021 a 2030 existe uma agenda global em prol da conservação e o uso sustentável dos oceanos. O Tartaruga Viva é alinhado totalmente a esse objetivo. Para isso, contamos com o comprometimento da equipe e o apoio da Eletronuclear, que abraçou a causa e demonstra uma preocupação genuína com a biodiversidade local”, conta o coordenador do programa e diretor da faculdade de oceanografia da Uerj, Marcos Bastos.
Todo o tratamento foi realizado pela equipe de especialistas da Uerj, formada por veterinários, biólogos e técnicos em biologia, além de estagiários, que trabalharam para garantir o bem-estar e sobrevivência dos animais. Para finalizar a missão, entretanto, foi preciso aguardar as condições ideais do mar, além de outras precauções e protocolos de segurança para soltura das tartarugas.
“Para nós é uma felicidade enorme realizar essa soltura. Loirinha e Paçoca chegaram muito debilitadas. Graças a nossa equipe, que trabalhou incansavelmente, as tartarugas estão bem. Se pensarmos que a cada mil tartarugas, apenas uma chega a fase de reprodução para manter a espécie ocorrendo, entendemos a importância da recuperação das duas”, celebra a co-coordenadora do programa, Mônica Dias.
Loirinha e Paçoca foram encontradas na região da Piraquara de Fora, em Angra dos Reis, por colaboradores da Eletronuclear que acionaram o programa. Pertencentes à espécie Caretta caretta e com cerca de 15 a 20 anos de idade, as tartarugas, agora recuperadas, chamam atenção para a responsabilidade de todos em proteger e cuidar do meio ambiente.
“As tartarugas marinhas não sabem distinguir o lixo da comida, então se alimentam de tudo que estiver boiando. Infelizmente, nossos mares estão cheios de plásticos. Assim como a Loirinha, cerca de 80% das tartarugas chegam no programa mortas ou defecando lixo”, explica a bióloga do programa, Naiara Tessaro.
Além da poluição dos oceanos, a interação com resíduos de pesca e o atropelamento por embarcações também colocam em risco a proteção dos animais. Por isso, é possível encontrar tartarugas mortas ou vivas, boiando e encalhadas na praia. Nessas situações, é preciso acionar ajuda especializada, como o programa Tartaruga Viva, que conta com o apoio da população através do telefone 0800-204-4041.
O projeto realiza o monitoramento dessas populações marinhas na área de influência das usinas nucleares de Angra dos Reis, na Baía de Ilha Grande. Além do resgate e atendimento veterinário das tartarugas, as atividades da iniciativa também incluem educação ambiental na região, coleta de dados, monitoramento da saúde dos animais, registro da ocorrência de encalhes e determinação da causa da morte de algumas espécies.
“Esse programa é mais uma frente de trabalho da Eletronuclear para atender às necessidades socioambientais de Angra dos Reis e cidades vizinhas à Central Nuclear. Em parceria com a Uerj, temos a oportunidade de colaborar na preservação da vida marinha local e incentivar a educação ambiental na Costa Verde Fluminense, e quem sabe, em todo o Rio de Janeiro”, pontua Eduardo Grand Court, presidente da Eletronuclear.
Ao todo, entre 2018 e 2023, o projeto realizou a captura de 121 tartarugas marinhas para fazer a amostragem populacional e averiguar o estado de saúde dos animais. Além disso, foram recebidos 192 acionamentos para auxiliar animais encalhados. Destes, 160 já estavam mortos, com destaque para infecções ligadas a ingestão de lixo, afogamento, traumatismo causado por atropelamento e interação por pesca entre as principais causas. Com a soltura da Loirinha e da Paçoca, sobe para 13 o número de tartarugas reabilitadas e soltas pela iniciativa no período mencionado.
BROTAS/SP - A Secretaria de Meio Ambiente promove mais um evento "Meio Ambiente no Seu Bairro", com a participação dos condutores de rafting de Brotas. Jogos Ambientais, plantio de árvores são atrações.
Também haverá mutirão de castração de gatos, já cadastrados no banco de dados da Secretaria.
A ação acontece na Praça da Juventude, altos do Campos Prado, Jardim Santa Maria, dia 01/07, a partir das 9h.
ISLÂNDIA - O governo da Islândia suspendeu a caça às baleias, na terça-feira (20), até o final de agosto, em nome do bem-estar animal, abrindo o caminho para o fim dessa polêmica tradição agora praticada em apenas três países.
Além da Islândia, Noruega e Japão são os únicos que permitem a prática.
Os grupos de defesa dos animais e do meio ambiente aplaudiram a decisão. Para a Humane Society International, trata-se de "uma guinada na conservação compassiva das baleias".
"Tomei a decisão de suspender a caça às baleias" até 31 de agosto, disse a ministra da Alimentação, Svandis Svavarsdottir, depois do relatório de uma comissão governamental estabelecer que a caça de cetáceos não cumpre as leis de bem-estar animal da Islândia.
Esse relatório elaborado pelas autoridades veterinárias destaca que a matança dos cetáceos leva tempo demais. Nos últimos vídeos divulgados por essas autoridades, vê-se a espantosa agonia de cinco horas de uma baleia caçada no ano passado.
"Se o governo e aqueles que têm permissão (de caça) não podem garantir os requisitos de bem-estar, esta atividade não tem futuro", acrescentou a ministra, dando a entender que a prática está chegando a seu fim.
"Não há nenhuma maneira 'humana' de matar uma baleia no mar e, por isso, exigimos da ministra que a proíba permanentemente", declarou o diretor da Humane Society International, Ruud Tombrock, em um comunicado.
Para Robert Read, diretor da Sea Shepherd UK, a decisão também representa um "duro golpe" para os países que ainda defendem a prática.
"Se a caça de baleias não pode ser praticada 'humanamente' aqui [...], não pode ser praticada 'humanamente' em lugar algum", afirmou.
A licença de pesca da última empresa de caça de baleias no país, a Hvalur, expira em 2023. A companhia já havia anunciado que esta temporada seria a última, porque a atividade perdeu rentabilidade.
As cotas anuais permitem a caça de 209 baleias-comuns — o segundo maior mamífero marinho depois da baleia-azul — e 217 baleias-anãs. Nos últimos anos, porém, as capturas foram muito mais baixas, devido à diminuição na demanda de carne de baleia.
A temporada de caça às baleias na Islândia vai de meados de junho a meados de setembro, mas é pouco provável que seja retomada após 31 de agosto.
A oposição a essa prática é, agora, maioria entre a população islandesa. Do total de entrevistados, 51% se opõem, contra 42% há quatro anos, conforme pesquisa feita pelo Instituto Maskina. A sondagem foi divulgada no início de junho.
SALVADOR/BA - Comunidades da floresta, periferias rurais e regiões do interior do Brasil estão cada vez mais conectadas nas redes nacionais e internacionais do crime organizado. A ponto de não fazer mais sentido diferenciar violência urbana da rural.

A conclusão é do estudo “Além da floresta: crimes socioambientais nas periferias”, divulgado nesta segunda-feira (19) pela Rede de Observatórios da Segurança. O projeto reúne pesquisadores do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania.
Nessa perspectiva, ganha destaque o processo de dominação de territórios no norte e nordeste por facções criminosas do sudeste. O que inclui tanto as áreas de fronteiras, quanto as cidades pequenas, os centros urbanos, os quilombos e as aldeias indígenas. Nos últimos anos, houve crescimento e diversificação de atividades ilegais. Além das microcriminalidades, como roubos de motos e celulares, há conflitos armados entre grupos rivais, tráfico de drogas e exploração ilegal de insumos florestais.
A pesquisa reúne dados obtidos via Lei de Acesso à Informação com as secretarias de segurança pública de sete estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Ela mapeia tanto os crimes cometidos contra populações tradicionais, como quilombolas e indígenas, quanto os crimes ambientais (grilagem de terras, exploração ilegal de madeira e garimpo em áreas não autorizadas).
Apesar da variedade e da complexidade desses problemas nos estados, os pesquisadores indicam que as autoridades insistem em um modo único de ação: o modelo de segurança pública baseado na guerra às drogas. O que acaba produzindo o mesmo cenário de racismo e encarceramento da juventude negra.
“É necessário fugir do modelo bélico do combate às drogas e às ilegalidades. E, principalmente, estabelecer contenções ao tipo de desenvolvimento que destrói a vida na floresta. Mostra-se importante fortalecer os órgãos de prevenção da destruição e incluir no centro do diálogo organizações indígenas, rurais e ribeirinhas, além dos movimentos de periferia urbanos que lutam por direitos sociais”, defende Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios da Segurança.
A pesquisa aponta o Pará como uma região emblemática das novas configurações do crime no país. As redes do narcotráfico - lideradas por facções do Rio de Janeiro e São Paulo - chegaram em diferentes municípios do interior. Altamira, Marabá, Parauapebas, Jacareacanga, Floresta do Araguaia e Senador José Porfírio são exemplos citados como rotas importantes de drogas, mas também de exploração de madeira, contrabando de manganês e cassiterita, grilagem de terras e avanço do garimpo ilegal. As atividades estão intimamente conectadas por meio da ação dessas organizações criminosas e do uso dos mesmos portos e vias de escoamento.
No caminho, comunidades tradicionais do estado sofrem com a violência gerada por essas atividades ilegais. Os dados obtidos com a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará mostram aumento a cada ano dos crimes contra povos indígenas e quilombolas entre 2017 e 2022. No total, foram 474 vítimas de crimes contra a vida, violações sexuais e patrimoniais.
No Ceará, pesquisadores criticam a forma como o governo estadual produz os dados. Só foram disponibilizadas informações genéricas sobre crimes ambientais, que totalizaram 6.995 ocorrências entre 2017 e 2022. Mas não foi possível analisar os tipos criminais, os grupos atingidos ou perfil das vítimas.
No Maranhão, os principais problemas verificados foram as violações aos biomas nativos da região e exploração dos territórios de comunidades tradicionais para fins lucrativos. Entre 2020 a 2022, o estado teve aumento de 28,93% nos registros de crimes ambientais, com 2.568 ocorrências. E os principais tipos são relacionados à exploração ilegal de madeira e à devastação de floresta nativa.
Em Pernambuco, crimes socioambientais cresceram nos últimos dois anos. Foram de 800 casos por ano para uma média de mais de mil. As principais ocorrências referem-se a incêndios florestais e maus tratos contra animais. Dados sobre quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais não foram enviados pela Secretaria de Defesa Social.
No Rio de Janeiro, há destaque para a exploração das milícias e redes do tráfico de animais silvestres. Dados do Instituto de Segurança Pública mostram 21.476 casos de crimes ambientais 2017 e 2022. A capital do estado do Rio teve o maior número de casos (4.783), com aumento de 52,23% entre 2017 e 2022. Os números são sete vezes maiores do que a segunda colocada, a cidade de Maricá, com 684 registros. O terceiro lugar ficou com Duque de Caxias (613 casos).
Em São Paulo, há destaque para a expansão da degradação de territórios verdes ligados ao tráfico de animais e construções imobiliárias, além do caso peculiar de guerra política contra as pichações como principais crimes socioambientais. Entre 2017 e 2022, foram 34.772 ocorrências. Os crimes cometidos especificamente contra animais, florestas e pichações concentraram mais da metade dos registros (56,70%).
Por Rafael de Carvalho Cardoso - Repórter da Agência Brasil
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