CAMPINAS/SP - Onça parda, lobo guará, guaxinim, veado, cachorro do mato. Esses são alguns dos animais que circulam nos arredores do campus da Unicamp em Campinas. Junto à flora da Mata Atlântica, as espécies compõem as belezas nativas do território. No entanto, estão em situação de risco devido ao avanço da urbanização e à derrubada da mata. Para permitir o trânsito seguro dos animais e recuperar as espécies da flora, o Projeto Corredores Ecológicos no Campus da Unicamp e Região foi aprovado pela Comissão de Planejamento Estratégico Institucional da Universidade (Copei).
Os corredores ecológicos irão restabelecer e conectar remanescentes de mata nativa na região da Fazenda Argentina, área de 1,4 milhão de metros quadrados adquirida pela Unicamp em 2014. A conexão entre os fragmentos de mata deverá permitir a troca gênica das espécies de fauna e flora, evitando sua degeneração. O plano também contempla a conexão e recuperação de nascentes de água.
A previsão é que, em cinco anos, sejam criados 217.000m² de corredores ecológicos, 300.000m² de área de plantio, 92 metros de passadores de fauna e 6.500 metros de cercamentos de corredores. O plantio está previsto para ser iniciado na próxima estação chuvosa, a partir de setembro, e seguirá o mapeamento das espécies nativas realizado pela professora do Instituto de Biologia (IB) Dionete Santin.
A proposta de criação dos corredores e recuperação de nascentes integra o Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS), criado para ser um distrito modelo em sustentabilidade. O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, destaca que o projeto está alinhado ao compromisso da Universidade com os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS propõem metas para a eliminação de problemas globais, como pobreza, desigualdades, fome e degradação ambiental, a serem cumpridas até 2030.
O projeto de corredores ecológicos é fundamental para que a ocupação da Fazenda Argentina e, de modo mais abrangente, de toda a área do HIDS, se dê de forma sustentável, refletindo o compromisso da Unicamp com a agenda de 2030 da ONU, pontua Meirelles.
Recuperação da mata nativa e das nascentes
Na área em que está localizada a Fazenda Argentina, há fragmentos da Mata Atlântica, bioma que perdeu 88% da sua vegetação nativa devido à ação humana. O distrito de Barão Geraldo, onde se localiza o campus de Campinas da Unicamp, também é caracterizado por ser uma zona de transição entre os biomas da Mata Atlântica e Cerrado, o que favorece uma grande diversidade de espécies.
Segundo a coordenadora do Serviço de Áreas Verdes da Divisão de Meio Ambiente da Unicamp, Camila Santos, a degradação da vegetação da região se deu em razão da expansão urbana e do uso do solo para agropecuária. As características da degradação dificultam a regeneração da mata de forma natural. Há alguns fatores que impedem que a mata se regenere. Por exemplo, aqui é uma área rural com bastante capim, um solo muito mexido por causa da agropecuária. Por isso é importante fazer os plantios, avalia.
Outro fator decisivo para a regeneração da flora é a presença de animais. Os passadores, além de permitirem a circulação segura, irão promover a disseminação das espécies da mata. O projeto contempla passadores superiores, para fauna arborícola, e inferiores, para fauna terrestre. Os passadores inferiores são implantados quando há uma sobreposição entre um corredor e uma via de trânsito, de forma que os animais consigam fazer a transposição, explica a coordenadora de Sustentabilidade da Unicamp, Thalita Dalbelo.
A conexão e recuperação de nascentes, também contemplada na proposta, será importante para propiciar água aos animais. A Fazenda Argentina abriga parte da bacia do Rio das Pedras e o Ribeirão Anhumas. Ao recompor a mata ao longo dos corpos d’água, evitam-se processos de erosão e assoreamento, garantindo melhoria na qualidade da água.
Corredores ecológicos da Unicamp integram projeto macrorregional
Os corredores dão sequência às ações de preservação ambiental da DMA da Unicamp. Em 2012, observando o elevado número de atropelamentos de animais, o órgão iniciou a instalação de placas de advertência para motoristas e o cercamento parcial das Áreas de Preservação Permanente (APP) localizadas no campus. Em um ano, houve uma diminuição de 70% nos atropelamentos.
Depois disso, teve início a implantação de corredores que interligam manchas de floresta e de APPs. Em 2016, a Prefeitura de Campinas estabeleceu o Plano Municipal do Verde, cujas resoluções foram elaboradas com a participação da Unicamp. Foi uma contribuição nossa ao município de Campinas e agora daremos início a esse plano, afirma Thalita.
O plano prevê linhas de conectividade para Campinas e região metropolitana, dentro das quais se inserem os corredores a serem implementados na Fazenda Argentina. Participamos desse projeto macrorregional de integração dos nossos corredores com os de fora do território da Unicamp para viabilizar a sobrevivência das espécies em toda a região. Dessa forma, teremos uma comunicação segura entre os fragmentos, evitando que os animais venham para as vias e sejam atropelados, explica o coordenador do Centro de Monitoramento Animal (CEMA) da DMA, Paulo de Tarso.
A previsão é que dez anos após o plantio já exista uma mata amadurecida. O monitoramento do crescimento da vegetação e do uso dos corredores pelos animais será constante.
Proposta contribui para a persistência de espécies
Além de conectar os fragmentos de mata e recuperá-los, os corredores contribuem para o fortalecimento genético das espécies da fauna. Quando os animais estão isolados em um mesmo espaço, pode ocorrer perda da adaptabilidade e até extinção. Possibilitar que animais de uma mesma espécie tenham contato com indivíduos de outros grupos permite a troca genética entre eles e a viabilização desses grupos no ambiente regional como um todo, diz Paulo, idealizador do projeto.
Ele destaca que os corredores buscam devolver um equilíbrio mínimo às espécies, o que é relevante não só para elas, mas também para a saúde pública. Sem isso, estamos sujeitos a problemas como a pandemia de Covid-19. Há microorganismos circulando em ambientes selvagens. Quando invadimos e degradamos esses espaços, eles passam a ter acesso a nós, aponta.
Os benefícios que os sistemas naturais promovem, denominados serviços ecológicos, poderão ser fortalecidos por meio do projeto. Dentre eles, a redução da temperatura e melhoria na qualidade do ar. A implantação dos corredores visa reduzir o impacto da fragmentação, promovendo uma conectividade maior. Talvez nunca mais tenhamos uma mata contínua, mas podemos mitigar o problema. Enquanto existirem, os corredores poderão garantir uma troca mínima de genes entre populações de plantas e animais e permitir que fauna e vegetação caminhem pelos corredores, o que promove a manutenção dos serviços ecológicos, explica o coordenador de patrimônio do HIDS e professor de Zoologia do Instituto de Biologia da Unicamp, Wesley Silva.
Corredores ecológicos integram missão do HIDS
O Projeto Corredores Ecológicos é de responsabilidade da Diretoria Executiva de Planejamento Integrado (DEPI) e conta com a contribuição de diversos órgãos da Unicamp. Além da Divisão de Meio Ambiente da Prefeitura Universitária, há a participação da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) e de unidades de ensino. O envolvimento de múltiplas áreas para a utilização do espaço como um laboratório vivo é incentivado pela Reitoria.
Integrada ao HIDS, a proposta alinha-se à preocupação da Universidade em fortalecer ações direcionadas à sustentabilidade. A coordenadora do componente físico-espacial do HIDS e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, Gabriela Celani, indica que o projeto de ocupação da Fazenda Argentina está sendo elaborado levando em conta a proteção dos corredores ecológicos e das APPs. Redução da densidade de construções nas regiões próximas aos corredores e zonas de amortecimento são medidas que ela cita como possibilidades.
O projeto do HIDS e dos corredores pode servir de modelo para outras universidades. Sabemos que muitos campi estão em zonas periurbanas como a nossa e estão implantando regiões de conhecimento, áreas em que há parques tecnológicos e incubadoras de empresas. Com a aproximação de instituições de pesquisa e desenvolvimento, ocorre um processo de urbanização. Nosso exemplo de como lidar com situações de fragilidade ambiental poderá ser uma referência para outras universidades, afirma.
Este texto foi originalmente publicado por Jornal da Unicamp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND.
TEXTO: LIANA COLL
CAMPO GRANDE/MS - A Embrapa Pantanal (MS) e a Embrapa Gado de Corte (MS), em parceria com a Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO), avaliaram a dinâmica do desenvolvimento da cadeia produtiva de bovinos criados em sistema orgânico no Pantanal Sul-Mato-Grossense. Em apenas três anos, de 2013 a 2016, foi registrado aumento acima de 200% no número de animais e na quantidade de carne proveniente dessa cadeia. O número de produtores e abates cresceu mais de 100% no mesmo período. Crescimento exponencial dos abates mensais com certificação de carne sustentável também foi observado no período de junho de 2020 a maio de 2021.
Segundo os autores do estudo, todas as regiões do Pantanal têm vocação para a produção de carne orgânica. Boas práticas de produção, certificadas, com atendimento a requisitos que vão do tipo de alimento fornecido ao rebanho ao cumprimento de legislação específica (leia nesta matéria), dão direito ao uso de selos de carne orgânica e sustentável.
A pecuária é a principal atividade econômica da região pantaneira e vem sendo desenvolvida de maneira extensiva há mais de 200 anos, com a utilização racional dos recursos naturais, principalmente das forrageiras nativas. "A crescente produção de carne orgânica e sustentável pode ser uma opção capaz de contribuir para que se mantenham as boas condições de conservação ambiental do bioma”, afirma o pesquisador da Embrapa Urbano Abreu, líder das atividades sobre a temática.
A produção na região atende ainda à demanda do mercado consumidor por produtos obtidos por meio de sistemas de produção ambientalmente corretos e socialmente justos. Isso agrega valor ao produto, além de oferecer uma carne de melhor qualidade ao consumidor. Abreu lembra que uma parcela da população mundial se preocupa com a utilização de compostos químicos na produção animal. “Os processos de pecuária orgânica seguem critérios de qualidade que incentivam a conservação ambiental, a saúde humana, os direitos dos trabalhadores e o bem-estar animal”, destaca, afirmando que há muitas oportunidades no mercado de orgânicos. “Em especial, para os certificados premium e gourmet e de vínculo com a origem”, completa, ressaltando que os produtos também ajudam a valorizar o bioma.
Propriedades certificadasAtualmente, de acordo com o Gerente-Executivo da ABPO, Silvio Balduíno, há fazendas certificadas em produção de carne orgânica e sustentável em todas as regiões pantaneiras do Mato Grosso do Sul (MS). As marcas Korin, Wessel, Malunga, Farmi, Taurinos e Bio Carnes já comercializam o produto nos mercados interno e externo. Há seis indústrias frigoríficas credenciadas para fazer o abate desses animais: Boibrás Ind. Com. Carnes e Sub Produtos Ltda (São Gabriel do Oeste), Frima Frigorífico Marinho Ltda (Corumbá), JBS (Campo Grande), Frigo Balbinos (Sidrolândia), Frizelo Frigoríficos Ltda (Terenos) e Naturafrig Alimentos Ltda (Rochedo). |
A produção de carne orgânica no Pantanal iniciou-se com a formação da ABPO, que elaborou um protocolo de produção, no qual foram incorporados os conceitos de qualidade e sustentabilidade nas bases social, ambiental e econômica. Os pesquisadores da Embrapa, juntamente com parceiros da ABPO e WWF, deram início às pesquisas relacionadas à produção de pecuária orgânica no Pantanal em 2004. Ao longo dos anos, foram realizados estudos de casos de implantação e desenvolvimento de sistemas orgânicos no Pantanal, com levantamento de custos e análises dos pontos que apresentavam necessidade de pesquisa analítica dos sistemas de produção. Quem organiza e decide sobre os sistemas são os produtores pantaneiros.
O estudo avaliou a quantidade de carne orgânica produzida, número de produtores, reses e lotes abatidos em Mato Grosso do Sul (2013-2016). A análise mostrou a evolução da cadeia produtiva da carne orgânica: gargalos, oportunidades e demandas, além da taxa de crescimento médio. As avaliações mostraram um crescimento acima de 200% no número de animais e da quantidade de carne dessa cadeia produtiva, e acima de 100% no número de produtores e de abates. Os números avaliados em apenas três anos mostram que o interesse do consumidor por esse tipo de carne diferenciada é crescente.
Por outro lado, o peso médio individual das carcaças diminuiu 0,6%, provavelmente refletindo o direcionamento da ABPO em trabalhar com fêmeas mais jovens com melhor acabamento. Esse aspecto é de fundamental importância para a análise da eficiência econômica desses sistemas de produção. Pois a redução da idade do animal ao abate pode levar ao aumento da produtividade por unidade de área pelo uso mais eficiente do espaço das fazendas, com menor tempo e custo de produção. Isso mostra que a adoção de novas tecnologias será necessária para o desenvolvimento das cadeias da carne orgânica e sustentável visando ao aumento da produtividade e redução de perdas. As informações geradas possibilitam direcionar o crescimento dessa cadeia de forma mais eficiente com o objetivo de gerar lucro.
Vários criadores pantaneiros vêm se associando, com o objetivo de se beneficiar desse sistema natural de criação e procurando alternativas tecnológicas para aumentar a produtividade animal. Após o marco legal da Carne Sustentável do Pantanal de MS, ocorrido em novembro de 2018, e, apesar da pandemia, o mercado se organizou. E no período de junho de 2020 a maio de 2021 foi observado um crescimento exponencial (Figura 1) dos abates mensais com certificação de carne sustentável.
Políticas públicas para a cadeia produtivaEm 2018, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul aprovou legislação que oficializa o incentivo fiscal para produção de carne orgânica, com a criação do Subprograma “Carne Sustentável e Orgânica do Pantanal”, no âmbito do Programa de Avanços na Pecuária de Mato Grosso do Sul (Proape), por meio da Resolução conjunta Sefaz/Semagro nº 074, de 22 de novembro de 2018 (Mato Grosso do Sul, 2018). A certificação de Carne Sustentável da ABPO segue o protocolo registrado junto ao CNA. O Subprograma foi criado junto com a ABPO e tem por objetivo fomentar a competitividade e incentivar a pecuária bovina de baixo impacto ambiental no Pantanal. Essa política estimula a produção baseada no modelo tradicional, com baixo nível de intervenção nos recursos naturais existentes na região para linha de produtos característicos e diferenciados, com maior agregação de valor e devidamente certificados, por empresas independentes de terceira parte acreditadas pelo Inmetro. Em paralelo, as normas do programa da carne orgânica segue o protocolo nacional de propriedades que se enquadram na lei federal do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica. O IBD Certificação é que faz a certificação dos dois programas. Segundo Silvio Balduíno, os pecuaristas da região que se dedicarem à produção de uma proteína orgânica ou sustentável poderão optar por duas premiações, para receber o plus pela certificação - para o sistema orgânico (devem seguir a legislação de produção orgânica determinada pelo Lei Federal n° 10831), isenção de 67% do ICMS. E para o sistema sustentável (adoção do protocolo da ABPO), com isenção de 50% do ICMS. Cátia Urbanetz, Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pantanal, ressalta que o trabalho da empresa desenvolvido sobre o tema tem favorecido o desenvolvimento da cadeia produtiva na região. “A geração de informações técnicas e análises realizadas pela Embrapa Pantanal em parceria com a ABPO embasaram políticas estaduais de isenção fiscal de 67% do imposto devido em operações com bovinos orgânicos certificados. Isso gerou impacto econômico para os produtores rurais, reafirmando o papel relevante da instituição junto a eles e ao governo do estado do Mato Grosso do Sul”, afirmou Cátia. |
Raquel Brunelli d´Avila / Embrapa Pantanal
PANAMÁ - Localizado ao norte do Panamá, o Vale do Anton possui uma atração natural que parece saídas das mais fantásticas páginas da literatura, mas que floresce em plena vida real: algumas árvores no local são quadradas. Sim, ao invés do esperado formato circular, os troncos dessas árvores possuem um desenho quadrado ou retangular que há muitos anos espantam a comunidade científica e atrai os turistas para conhecer a região, posicionada sobre as cinzas de um antigo e gigante vulcão inativo – que, não por acaso, ganhou o apelido de “Vale das árvores quadradas”, se tornando uma verdadeira atração popular.
Muita gente encontra explicação para o formato especial das árvores no fato do “Vale das Árvores Quadradas” se localizar dentro do segundo maior vulcão adormecido do mundo, mas a verdade é que a comunidade científica ainda não encontrou a razão por trás do peculiar desenho dos troncos na região. A maior parte dos “arboles cuadrados” são do tipo Quararibea asterolepis, uma espécie nativa da América Central e da América do Sul, e até mesmo os anéis, representando a “idade” de cada árvore, possuem o o desenho quadrado no interior dos troncos.
Cientistas ligados à Universidade da Flórida, nos EUA, vêm tentando desvendar o motivo do raro desenho encontrado nas árvores da região do Vale do Anton, e chegaram a pegar algumas mudas para plantá-las em outro local, a fim de descobrir se elas manteriam sua característica peculiar e cresceriam no formato. A conclusão comprovou que os troncos quadrados estão ligados ao ambiente da região do Panamá, já que as árvores cresceram em formato arredondado quando replantadas em outro local.
Há quem não enxergue nada de especial nas árvores, e nem sequer as perceba como realmente quadradas, tratando a lenda do “Vale das Árvores Quadradas” como algo natural ou simplesmente projetado para atrair turistas à região. Seja como for, o fato é que não é todo dia que encontramos uma porção de árvores quadradas na natureza, especialmente crescendo exclusivamente dentro de um dos maiores vulcões adormecidos do mundo – trata-se, portanto, de uma aventura especial, que vale a visita e o mistério.
Vitor Paiva / HYPENESS
BELO HORIZONTE/MG - Estudos da Embrapa Milho e Sorgo no Cerrado Mineiro comprovaram que a fixação de carbono pelas árvores em diferentes modelos de sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é capaz de neutralizar a emissão de metano por bovinos. A pesquisa, realizada em áreas de pastagens degradadas com níveis diferenciados de investimento tecnológico, oferece aos produtores da região a possibilidade de agregar ganho ambiental à produção, além de ingressar no sistema de certificação Carne Carbono Neutro (CCN), entre outros benefícios.
As atividades foram desenvolvidas na Unidade de Referência Tecnológica (URT) da Fazenda Lagoa dos Currais, no município de Curvelo, MG. Segundo pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, o estado de Minas Gerais possui grande potencial para exploração florestal, com condições de solo e clima propícias ao cultivo de espécies florestais, grãos, pecuária de leite e de corte.
“A pesquisa em ILPF nessa região pode validar a recomendação de sistemas que apresentam, além de produtividade e rentabilidade, a capacidade de neutralização das emissões de metano pelos bovinos manejados nessa integração, garantindo um ganho ambiental para o produtor e para a sociedade”, diz o pesquisador Miguel Marques Gontijo Neto.
“Além disso, o tempo e o manejo de um sistema ILPF podem possibilitar ao produtor ingressar em sistemas de certificação, atribuindo valor agregado ao seu produto. A certificação Carne Carbono Neutro (CCN), por exemplo, atesta que os bovinos que deram origem à carne tiveram suas emissões de metano neutralizadas durante o processo de produção pela fixação de carbono no fuste (tronco) das árvores presentes no sistema silvipastoril”, acrescenta Gontijo.
A pesquisadora Monica Matoso Campanha relata que a adoção de tecnologias sustentáveis fortalece a agropecuária brasileira, tornando-a mais competitiva nos mercados internos e externos.
Renques de eucalipto
Na URT os sistemas ILPF foram implantados onde anteriormente havia pastagem em elevado grau de degradação. Uma área de 44 hectares foi dividida em quatro piquetes de 11 hectares e em cada piquete foi trabalhado o sistema ILPF, com diferente nível de investimento tecnológico, para reforma de pastos degradados. Segundo Campanha, o nível de investimento (NI) mínimo foi equivalente ao padrão regional, no qual se aplicam somente calcário, gesso, fosfato e nitrogênio em doses moderadas na renovação de pastagens. “Os demais níveis seguiram uma utilização crescente de doses desses insumos, além de potássio e micronutrientes, até alcançar condições que viabilizassem maior intensificação do sistema, com a introdução de sorgo forrageiro BRS 658 como componente agrícola no primeiro ano (safra 2017/2018)”, explica a pesquisadora. Os sulcos para implantação dos renques de eucalipto foram realizados em 2017 e as mudas plantadas em janeiro de 2018, no espaçamento de 20m x 4 m entre linhas e plantas, respectivamente, formando um estande inicial de 125 árvores por hectare. Foi avaliado o crescimento e estimado o volume das árvores, anualmente, por três anos. Os sistemas de ILPF foram planejados quanto à previsão de colheita da madeira considerando um ciclo florestal de 12 anos.
Componente animal
A partir do segundo ano foi introduzido o componente animal nos sistemas. Anualmente, em dezembro, entram nos sistemas lotes de novilhas Guzerá, com peso médio inicial em torno de 250 kg, e idade entre sete e nove meses. “A carga animal é ajustada nos piquetes em função da disponibilidade de forragem no decorrer do ano”, diz Gontijo.
Com base no número e no peso médio dos animais no decorrer de cada período de pastejo foram calculadas as cargas animal (CA), em Unidade Animal por hectare (UA/ha), para cada um dos quatro sistemas (quatro diferentes níveis de investimento tecnológico). Assim, os sistemas ILPF mais intensificados comportaram maior carga animal.
As estimativas de produção animal e emissão de metano foram avaliadas em dois ciclos de pastejo, de dezembro de 2018 a outubro de 2019, em um primeiro lote de novilhas e em um segundo lote de animais, de dezembro de 2019 a maio de 2020. A projeção da produção de madeira no momento da colheita foi feita por meio de softwares específicos para esta finalidade.
Balanço de GEEs nos sistemas ILPF
Segundo Campanha, os dados mostram que as árvores de eucalipto, na densidade utilizada nos sistemas ILPF (125 árvores ha-1), capturaram carbono suficiente para neutralizar a emissão de carbono do componente animal e ainda proporcionar uma sobra, que poderia ser utilizada para neutralizar outras emissões oriundas do sistema, como aquelas derivadas do uso de fertilizantes nitrogenados, excretas dos bovinos, como um potencial aumento do número de unidades animais “neutralizáveis”, ou até mesmo outras emissões da fazenda como um todo.Há a expectativa de maior produção florestal aos 12 anos nos sistemas ILPF com maior nível de investimento, que proporcionaram maiores capacidades de correção e adubação do solo, considerando a mesma densidade de árvores. “A melhoria do potencial produtivo se dá nos diferentes componentes do sistema: pastagem, grãos e eucalipto”, diz a pesquisadora.Campanha acrescenta que a produção do eucalipto impacta o sequestro de carbono da atmosfera, aumentando a neutralização da emissão de metano dos bovinos. “Entretanto, considerando as premissas do protocolo CCN, a densidade de árvores utilizada nos sistemas ILPF pode ser recomendada apenas para sistemas menos intensivos de manejo das pastagens. Para sistemas mais intensificados, uma das alternativas seria aumentar a densidade de árvores por hectare”, explica.
Prestação de serviços ambientais em sistemas de produção agropecuária
Os pesquisadores concluíram que nos sistemas ILPF estudados na região do Cerrado Mineiro, as estimativas de produtividade das árvores com 12 anos de idade mostram que 125 árvores de eucalipto por hectare, em fileiras simples no espaçamento 20 x 4 m, tem potencial de sequestrar carbono no tronco das árvores suficiente para permitir uma média de neutralização do metano produzido por 3,6 UA por hectare por ano, animais em pastejo.
A utilização de sistemas silvipastoris no Cerrado, com renques de eucalipto em pastagens, pode ser recomendada visando à neutralização das emissões de metano por bovinos em pastejo, além de outros benefícios ambientais, como contribuição para o conforto animal proporcionado pela sombra, a diversificação da produção de carne, de grãos e de madeira e o aumento de renda na atividade rural.
“Nesse sentido, a intensificação de sistemas pecuários com componente florestal, em ILPF, aumenta a produção e as perspectivas de incentivos por serviços ambientais e produtos certificados, como a Carne Carbono Neutro”, ressalta Campanha.
Mais informações sobre o trabalho encontram-se disponíveis na Circular Técnica 275 “Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta como estratégia para neutralização da emissão de metano entérico de bovinos na região do Cerrado de Minas Gerais”, e na publicação sobre os sistemas ILPF implantados na URT Lagoa dos Currais.
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) são alternativas de intensificação do uso da terra como importante estratégia de aumento da produção agropecuária de forma sustentável. Os sistemas ILPF foram também reconhecidos como tecnologia de baixa emissão de carbono, estabelecida pelo Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC). Esse plano foi criado pelo governo brasileiro para o setor agropecuário, para cumprir os compromissos assumidos em conferências internacionais de redução da emissão de GEE.De acordo com os pesquisadores, diferentes regiões do País têm adotado os sistemas ILPF e desfrutado de diversos benefícios, entre eles o sequestro de carbono pelo componente florestal, reduzindo a emissão de CO2 para atmosfera, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas. A neutralização de carbono ocorre quando a fixação desse gás na biomassa das plantas (sequestro de carbono) é maior do que o carbono emitido pelos animais no sistema.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
O projeto também busca atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), voltados à segurança alimentar, ao desenvolvimento econômico e social com meios de produção agropecuária sustentável, ao enfrentamento das mudanças climáticas e à mitigação de processos que levam à degradação dos ambientes rurais.
Assim, o presente trabalho pretende contribuir para o atendimento dos ODS: 2 – “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”; ODS 12 – “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”; e ODS 13 – “Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos”, de acordo com os Indicadores propostos em 2021.
Sandra Brito / Embrapa Milho e Sorgo
SÃO PAULO/SP - O papagaio é uma ave da família psittacidae, em conjunto com araras, periquitos, tuins, maracanãs, apuins, cacatuas, jandaias e caturritas. Essa família tem como características o bico curvo, estreito e afiado, que facilita a alimentação da ave. A sua alimentação é baseada em frutos e sementes. Entretanto, é comum encontrar papagaios se alimentando de terra, que contém nutrientes essenciais para a sua saúde.
As suas patas são formadas por quatro garras que contribuem para manter o animal firme nos galhos das árvores. Ele tem um comprimento que varia de 30 a 40 centímetros e costuma viver em bandos. Além disso, é a única ave que reproduz a voz humana.
A relação entre os papagaios é monogâmica. Isso significa que, ao atingirem a fase adulta, encontram seu par e permanecem com ele até o fim da vida. A reprodução desses animais ocorre em uma época específica do ano, entre os meses de agosto a fevereiro.
Eles se alojam em um local escolhido pelo casal, geralmente buracos das árvores. Nele, será construído o ninho para receber os ovos e, posteriormente, os filhotes. O tempo de desenvolvimento do papagaio dentro do ovo varia entre 25 e 30 dias. Ele nasce sem penas e com os olhos fechados.
Por isso, os papagaios recém-nascidos são animais frágeis, que dependem dos cuidados dos pais para sobreviver. Após esse período, que dura cerca de 2 meses, os filhotes estão prontos para buscar alimentos sozinhos.
De acordo com um estudo, o papagaio é um animal que vive por longos períodos. Essa expectativa de vida está relacionada com o tamanho do cérebro do animal. Quanto maior a capacidade cognitiva da espécie, melhor o seu desempenho em fugir de ameaças.
Ele está presente em várias partes do mundo, sobretudo no hemisfério Sul, e é encontrado com abundância no Brasil. Em 1500, os colonizadores europeus apelidaram o país de Terra dos Papagaios, devido à presença desses psitacídeos.
Existem 13 espécies de papagaios brasileiros distribuídos ao longo dos biomas. Algumas espécies habitam em mais de um bioma, como é o caso do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), o mais comum dos papagaios do gênero Amazona. O gênero Amazona abrange praticamente todos os papagaios presentes no Brasil.
Na Amazônia, bioma com maior número de espécies do Brasil, existem cerca de sete espécies de papagaio. Em segundo lugar está a Mata Atlântica, que abriga seis espécies. No Pantanal e no Cerrado habitam três espécies, na Caatinga, duas. E, por fim, no Pampa, vive apenas uma espécie de papagaio.
O Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios (PAN Papagaios) foi inaugurado em 2010. Ele é constituído por um conjunto de ações que atuam na conservação de espécies ameaçadas.
Além das espécies ameaçadas, estão incluídas espécies que são foco do tráfico de animais, o papagaio-verdadeiro e o papagaio-moleiro. Atualmente são seis espécies consideradas ameaçadas de extinção no Brasil. Confira os papagaios que fazem parte do PAN Papagaios:
O papagaio mais comum é o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Ele tem um comprimento de 36 centímetros e vive aproximadamente 60 anos, podendo alcançar os 80 anos. Durante a sua vida, o papagaio tem entre 3 e 4 anos de tempo reprodutivo, gerando de um a seis ovos em cada ciclo.
No Brasil, ele está presente no centro-oeste, sul, sudeste e nordeste. Os biomas brasileiros que contam com a sua presença são a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal. Entretanto, também é encontrado em países vizinhos, como o Paraguai, a Argentina e a Bolívia.
Esse papagaio é o mais capturado na natureza, devido a sua facilidade em reproduzir a voz humana. A captura é focada em seus filhotes e ovos, para serem destinados ao tráfico ilegal. De acordo com o ICMBio, essa espécie é considerada quase ameaçada à extinção.
O papagaio-moleiro mede 40 centímetros de comprimento, vive mais de 40 anos e atinge a maturidade sexual entre os 3 e 4 anos. Ele é capaz de gerar de dois a quatro ovos por reprodução. Esse papagaio está presente na Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
O bioma predominante da espécie é a Amazônia, mas também é encontrado na Mata Atlântica, onde ocorre a maior parte da sua captura para o tráfico de animais. O papagaio-moleiro é uma das espécies mais ameaçadas pelo tráfico. A condição da espécie é considerada pouco preocupante, entretanto o grau de vulnerabilidade varia de acordo com o estado.
Na Bahia e no Rio de Janeiro, o papagaio é considerado vulnerável. Em São Paulo, é considerado ameaçado de extinção, enquanto no Espírito Santo e em Minas Gerais é considerado criticamente ameaçado e criticamente em perigo, respectivamente.
O papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) mede cerca de 36 centímetros, com um tempo de vida superior a 40 anos e maturidade sexual atingida entre 3 e 4anos. Cada processo reprodutivo gera de dois a quatro ovos.
Essa é uma espécie típica do litoral, no bioma Mata Atlântica. Ele é encontrado do norte de Santa Catarina até o sul de São Paulo. A principal árvore escolhida para construir seus ninhos é o Guanandi, uma árvore alta presente na região. Além de abrigo para os seus filhotes, essa árvore fornece frutos para a sua alimentação. Essa espécie é considerada quase ameaçada de extinção pelo ICMBio.
O papagaio-de-peito-roxo mede cerca de 35 centímetros de comprimento e vive por mais de 40 anos. Durante a sua vida, ele atinge a maturidade sexual por volta dos seus 4 anos, produzindo de dois a quatro ovos por reprodução. A espécie é classificada como vulnerável e é mais encontrada em Unidades de Conservação.
Esse papagaio (Amazona cinacea) era abundante no território brasileiro, além do Paraguai e da Argentina. Ele estava presente nos estados da Bahia, Espírito Santo e de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul. Atualmente, corre risco de extinção nos três países. No Brasil, a ave é encontrada em maior quantidade no estado de Minas Gerais.
O papagaio-chauá tem um tempo de vida de mais de 40 anos e mede cerca de 35 centímetros. A idade em que a espécie passa a se reproduzir varia entre 3 e 4 anos, gerando de 2 a 5 ovos por reprodução. Ele habita em florestas úmidas presentes no litoral do Brasil, em uma altura que varia do nível do mar até 800 metros.
Ele está presente do estado de Alagoas até o Rio de Janeiro, mas também é encontrado em Minas Gerais. Esse papagaio é endêmico da Mata Atlântica e é classificado como vulnerável. Com o avanço do desmatamento ambiental, provocado pelo setor agropecuário e a urbanização, a sua existência é comprometida.
O papagaio-charão vive por mais de 40 anos, tem 32 centímetros de comprimento e atinge a maturidade sexual entre 3 e 4 anos. Cada ciclo reprodutivo da espécie é capaz de gerar entre 2 e 4 ovos.
Ele é encontrado em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O papagaio se alimenta de pinhões de pinheiro-bravo e araucária. Para encontrar alimento, costuma percorrer um longo percurso em grupos. Esse papagaio é uma ave migratória, que percorre diferentes municípios durante os meses de abril e julho.
O papagaio-charão não é muito encontrado em Unidades de Conservação, a sua presença se dá, principalmente, em propriedades privadas com a presença de araucárias. De acordo com o ICMBio, essa espécie é considerada vulnerável.
AMAZÔNIA - Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e Unidades de Conservação são as áreas que mais contribuíram com a preservação e regeneração da Amazônia Legal nos últimos anos, aponta artigo publicado na revista científica Biological Conservation em março.
Enquanto nos Territórios Quilombolas e nas Unidades de Conservação as taxas de perda de vegetação nativa foram cerca de 6 vezes menores que em áreas não protegidas da Amazônia, nas Terras Indígenas tais taxas chegaram a ser 17 vezes menores. O período analisado compreendeu os anos entre 2005 e 2012.
No caso das Unidades de Conservação, a pesquisadora responsável pelo estudo, Helena Alves Pinto, do departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atribui as taxas de preservação da biodiversidade ao uso restrito dessas terras.
“As Unidades de Conservação têm uma série de restrições quanto às atividades. Em algumas unidades, por exemplo, são permitidas somente atividades de cunho educacional ou de pesquisa. Em outras, é permitido o extrativismo sustentável, mas não a agropecuária, por essa estar ligada ao desmatamento”, afirma Pinto.
O estudo analisou as taxas de preservação florestal de todas as Unidades de Conservação da Amazônia, tanto as de uso sustentável, como Florestas Nacionais e Reservas Extrativistas, como as de proteção integral, onde se enquadram, por exemplo, áreas com sítios naturais e Reservas Biológicas.
Em relação às Terras Indígenas e Territórios Quilombolas, a pesquisadora destaca a importância da restrição de circulação de pessoas nas terras demarcadas.
“Estudos anteriores mostraram que, a partir do momento que um território indígena ou quilombola foi demarcado, começou a diminuir o desmatamento nessas terras. A principal explicação é porque a demarcação diminuiu o número de pessoas circulando dentro das áreas, restringindo a entrada somente a indígenas ou quilombolas”, diz a pesquisadora.
“Nosso estudo confirma que a demarcação ajuda a combater a entrada de invasores em Terras Indígenas e Quilombolas, e que esses povos preservam a biodiversidade”, explica Pinto.
Restauração dos ecossistemas
Mais que decisivos para a preservação, o estudo também mostra que territórios indígenas e quilombolas demarcados contribuíram de duas a três vezes mais para a regeneração da vegetação nativa entre 2012 e 2017.
“Fala-se muito em diminuir o desmatamento, mas só isso não basta mais para recuperarmos as funções da Floresta Amazônica. É fundamental começarmos a recuperar as áreas desmatadas, recuperar a vegetação nativa, recuperar o ecossistema como um todo”, afirma a pesquisadora da UFRJ.
Pinto dá como exemplo de ação regenerativa uma prática adotada por alguns povos conhecida como sistema de corte e queima.
“Esses indígenas cortam uma área pequena, de mais ou menos um hectare de floresta, queimam e plantam. Depois de um tempo, eles colhem e deixam a área, para que ela se regenere de forma natural”, descreve.
Um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), publicado em 2021 na revista Nature, alertou que, pela primeira vez, a Amazônia passou a emitir mais carbono do que consegue absorver, deixando de retirar da atmosfera 0,19 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
O desmatamento tem comprometido a função da Amazônia de capturar e estocar carbono da atmosfera, principal vilão do aquecimento global. Prova disso, segundo os pesquisadores do Inpe, a área mais comprometida está no sudeste da floresta, na região do Arco do Desmatamento.
Em março, um novo estudo publicado na revista Nature Climate Change alertou que a Amazônia está se aproximando rapidamente do seu ponto de não-retorno — estágio em que a devastação transformará a floresta tropical em savana.
Invasões e desmatamento
O estudo liderado por Pinto analisou somente as Terras Indígenas já homologadas pela Funai e não separou os dados por unidade. “Olhamos para o mosaico de terras protegidas e já homologadas e comparamos com a sua área de controle”, diz.
Assim, o estudo não analisa quais são as Terras Indígenas homologadas mais preservadas da Amazônia.
Por outro lado, dados do Prodes/Inpe mostram que as Terras Indígenas mais desmatadas entre 2011 e 2021 foram as localizadas no Pará, estado que mais vem desmatando a Amazônia desde meados da década passada. São as TIs Cachoeira Seca, com 304 mil km2 desmatados em dez anos; Apyterewa, com 266 mil km2; e Ituna/Itatá, com 220 mil km2.
Vale ressaltar que o desmatamento explodiu nas três Terras Indígenas em 2019 e 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro, anos em que as taxas de desmatamento ilegal bateram recorde em toda a Amazônia.
Um levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) sobre perda de vegetação na bacia do Rio Xingu publicado em 2021 mostra que essas três Terras Indígenas sofrem pressão de mineração ilegal, roubo de madeira e de grilagem. No interior da TI Apyterewa já existe uma vila de invasores, que pediram na Justiça recentemente a reversão da homologação da Terra Indígena para que a área pudesse ser explorada.
Quanto às Unidades de Conservação, a mais desmatada da Amazônia nos últimos dez anos também está no Pará. Trata-se da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, próxima à TI Apyterewa, que registrou 2.902 mil km2 de desmatamento entre 2011 e 2021, segundo dados do Inpe.
Ambos as reservas estão sobrepostas ao município de São Félix do Xingu, que tem o maior rebanho de bovinos do Brasil, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A Amazônia já perdeu 20% de toda a sua vegetação nativa. Sabemos que as Terras Indígenas e as Unidades de Conservação mais afetadas são as próximas ao Arco do Desmatamento, uma área com expansão muito grande da agropecuária, o principal vetor do desmatamento na Amazônia”, diz Pinto.
Ameaças no Congresso
O Brasil tem 722 Terras Indígenas. Dessas, apenas 487 foram homologadas. Somente na Amazônia, são mais de 300 territórios aguardando o processo de demarcação, de acordo com dados do ISA. A entidade não inclui as Terras Indígenas de povos isolados.
A demarcação de Terras Indígenas é um direito dos povos originários do Brasil e deveria ter sido concluída pela Funai em 1993, de acordo com a Constituição Federal de 1988.
Um levantamento do MapBiomas publicado no ano passado já havia mostrado que as Terras Indígenas são os territórios mais preservados da Amazônia, apesar do avanço de invasores. O estudo analisou tanto as terras já homologadas (que finalizaram o processo de demarcação) como as que ainda aguardam o processo, e mostrou que, no período entre 1985 e 2020, apenas 1,6% da perda de vegetação nativa no Brasil ocorreu em Terras Indígenas.
Apesar de os dados mostrarem a importância da demarcação e da restrição de uso desses territórios aos indígenas, dois projetos de lei em votação no Congresso Nacional pretendem abrir Terras Indígenas para grandes projetos de infraestrutura e mineração (PL nº191/2020) e frear o processo de demarcação das mais de 400 Terras Indígenas que ainda aguardam para serem demarcadas (PL nº490/2007).
Nenhuma Terra Indígena foi demarcada em todo o Brasil desde 2019, durante todo o governo Bolsonaro. Esta é a primeira vez, desde a redemocratização do país (1985), que um governo não demarca nenhum território indígena no país.
por Lais Modelli / Mongabay Brasil
Elemento importante para o desenvolvimento das plantas, potássio é um dos minerais mais abundantes na Terra
SÃO PAULO/SP - O potássio é o 7º elemento mais abundante na crosta terrestre. Ele é importante para o desenvolvimento das plantas, pois ajuda a manter o equilíbrio ambiental e eleva a produtividade agrícola. No corpo humano, o potássio atua regulando a pressão arterial e evitando doenças como a osteoporose.
Importância ambiental
O potássio é o 7º elemento mais abundante no planeta Terra e o 19º no Universo. Ele está presente em minerais silicáticos, como o feldspato. Esses minerais são encontrados na composição de rochas e no solo.
A partir da erosão das formações rochosas, o potássio é depositado no solo, contribuindo para a manutenção do ecossistema. Esse elemento é importante para o desenvolvimento das espécies vegetais, contribuindo para a manutenção da flora em ecossistemas.
Onde encontrar o potássio?
O potássio está presente em corpos d’água, como lagos e mares. Esses ambientes são chamados de salmouras naturais, e são caracterizados por suas águas densas e elevado grau de evaporação.
Outro ambiente que tem grandes quantidades de potássio é o depósito de evaporitos, que são sedimentos formados por sais. Além disso, o potássio está presente em rochas que têm em sua composição os silicatos, como o feldspato, o feldspatoide, a argila e a mica. Essas rochas podem ser ígneas, metamórficas ou sedimentares.
Existem reservas de potássio por todo o mundo. O Canadá é o país que detém a maior quantidade de reservas, com 62,6% do total no mundo. Em seguida, está a Rússia, com 12,5%. As reservas de potássio do Brasil estão em 7%, e localizam-se principalmente no Sergipe e no Amazonas. Essas reservas têm cerca de 13,03 milhões de toneladas ao todo, com uma porcentagem de potássio de aproximadamente 24%.
Agricultura
Além da sua importância para o meio ambiente, o potássio tem um papel fundamental no cultivo agrícola. A aplicação de potássio em solos agrícolas contribui para a ativação de mais de 60 enzimas presentes na planta, que favorecem processos como a fotossíntese.
O potássio promove o equilíbrio da quantidade de água presente no organismo das plantas. Outro papel importante é o aumento da absorção de nitrogênio. De acordo com um estudo, o potássio aumenta a produtividade agrícola, gerando mais produtos em menos tempo.
As rochas compostas por feldspatos e feldspatoides alcalinos são as principais exploradas para a produção de fertilizantes. Entretanto, elas podem ser aplicadas diretamente na plantação, o que leva à uma liberação mais lenta do potássio no solo.
Os principais feldspatos utilizados para essa finalidade são o microclínio e o ortoclásio, enquanto que os feldspatoides que se destacam são a leucita e a mica. Apesar disso, os feldspatoides são menos abundantes no meio ambiente, o que faz com que os feldspatos sejam mais utilizados.
O potássio é um dos principais elementos aplicados nas plantações para a fertilização. Ele pertence ao grupo de fertilizantes NPK, nitrogênio, fósforo e potássio, os elementos de maior importância para o desenvolvimento vegetal. A proporção adequada para a fertilização NPK é 15% de potássio, 61% de nitrogênio e 24% de fósforo.
Importação de potássio para o Brasil
O Brasil é o segundo maior importador de potássio do mundo, com um consumo de aproximadamente 16% do potássio no mundo. Em conjunto com a China, os Estados Unidos e a Índia, consome cerca de 60% do potássio destinado à fertilizantes.
Isso porque os solos brasileiros têm poucas quantidades desse mineral. Além disso, a exploração do potássio brasileiro pode colocar em risco a conservação de áreas ambientais, que são protegidas de acordo com a legislação.
Os principais países exportadores de potássio são Canadá, Estados Unidos, Rússia e Bielorrússia. Dados de 2013 indicam que as importações de potássio no território brasileiro foram realizadas principalmente pelo Canadá (31,6%), seguido da Alemanha (16,5%), Rússia (15,6%), Bielorrússia (14,9%) e Israel (9,4%).
Impactos ambientais
O uso de potássio no solo para o cultivo agrícola pode elevar a quantidade de potássio presente em corpos hídricos por conta do processo de lixiviação. A lixiviação ocorre quando a água da irrigação ou da chuva carrega os nutrientes presentes no solo até os lençóis freáticos ou cursos d’água. Dessa forma, o potássio contamina a água e prejudica ecossistemas aquáticos.
Além disso, a mineração de potássio resulta no desmatamento da flora nativa, afetando a biodiversidade dos ecossistemas e o equilíbrio ecológico.
Saúde
No corpo humano, o potássio auxilia os tecidos celulares e o metabolismo. De acordo com um estudo, uma alimentação rica em potássio pode ajudar a controlar a pressão arterial, evitando o surgimento de doenças cardiovasculares. O estudo indica que a ingestão adequada de potássio é de 3510 mg por dia.
Além disso, o nível adequado de potássio no organismo pode impedir o surgimento de doenças como a osteoporose, além de equilibrar o pH na corrente sanguínea.
Confira a lista de alimentos ricos em potássio para incluir na sua alimentação:
Luiza Caballero / ECYCLE
INDONÉSIA - O governo da Indonésia anunciou, no último dia 24 de março, que um novo filhote de rinoceronte-de-sumatra está no mundo! A espécie, que é ameaçada de extinção, tem visto uma redução de sua população nas últimas décadas devido a atividade de caçadores.
O pequeno rinoceronte-de-sumatra nasceu no Santuário de Rinocerontes-de-Sumatra (SRS), no Parque Nacional Way Kambas. A chegada do filhote foi muito celebrada porque sua mãe, Rosa, perdeu oito gestações anteriores.
Estima-se que apenas 80 rinocerontes-de-sumatra existam no planeta Terra. Antigamente, a espécie vivia em todo o sudeste asiático, mas hoje está limitada a apenas dois países.
Hoje, a conservação dos animais é feita majoritariamente em parques nacionais na Indonésia e na Malásia. O pai do pequeno rinoceronte-de-sumatra é Andatu, o primeiro rinoceronte dessa espécie nascido em cativeiro, e Rosa.
Junto do novo bichinho – que ainda não ganhou um nome -, vivem as fêmeas Bina, Ratu e Delilah, e os machos Andalas e Harapan.
“Minha profunda gratidão pelo trabalho da equipe de veterinários e tratadores que acompanharam continuamente o desenvolvimento da gravidez e os cuidados pós-natais da rinoceronte Rosa”, explicou Wiratno, um porta-voz do Ministério do Meio Ambiente e Florestas (MOEF) da Indonésia.
“A gravidez de Rosa representa uma nova esperança para esta espécie criticamente ameaçada”, ressalta Nina Fascione, diretora-executiva da fundação Indonesian Rhino Foundation (IRF), uma das principais organizações de defesa da espécie no planeta.
Redação Hypeness
RIO DE JANEIRO/RJ - Uma onça-parda foi registrada em uma área florestal em Maricá, na região dos Lagos, no Rio de Janeiro. O grande felino, que não aparecia na região há mais de 100 anos e era considerado localmente extinto, foi observado em câmeras de monitoramento do Refúgio de Vida Silvestre de Maricá (Revimar), uma unidade de conservação fluminense.
Onça-parda foi flagrada em região de Mata Atlântica; animal estava desaparecido do local há mais de 100 anos; registro foi feito por pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Ameaçada de extinção
Além da onça-parda (também conhecida como suçuarana), também foi registrado um gato maracajá, outro felino de grande porte comum da Mata Atlântica. Ambos os animais são raros na região e são considerados ameaçados de extinção por biólogos.
“A presença destes predadores de topo de cadeia em nossas áreas protegidas é um bioindicador da qualidade das nossas florestas. Nosso município possui mais de 50% de seu território inserido em Unidades de Conservação e esse acostamento através do trabalho de monitoramento realizado pela Prefeitura de Maricá vem coroar nossas ações”, afirmou o secretário de Cidade Sustentável, Helter Ferreira, em nota da comunicação da cidade.
A Revimar ocupa cerca de 25% do território de Maricá, que possui outros diversos ambientes de conservação do meio-ambiente. Por conta da boa preservação do local e graças ao monitoramento de vídeo das florestas, é possível ver que o espaço tem comportado a biodiversidade da Mata Atlântica.
“A onça parda e o gato maracajá estão ameaçados de extinção. A presença deles é para se comemorar, mas também para aumentarmos a vigilância e proteção. Estamos monitorando a fauna do Revimar 24 horas por dia. A equipe conta com profissionais da UERJ, da prefeitura das polícias”, explica Izar Aximoff, do Núcleo de Fotografia Cientifica Ambiental da UERJ.
“Esses animais não representam perigo para sociedade. Existe um pequeno risco para animais que são criados soltos no entorno do Revimar, como galinhas, porcos e bezerros por exemplo. Vamos iniciar campanha orientando esses proprietários a realizarem medidas que diminuam o risco de ataque como, por exemplo, a colocação de cercas elétricas e recolher os animais no período noturno. Na verdade, existem muitas presas para esses felinos dentro do Revimar e quem corre mais perigo são eles mesmos devido a caça”, completou o pesquisador.
Redação Hypeness
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