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Devin Havey x Vasiliy Lomachenko — Foto: Divulgação/Top Rank Devin Havey x Vasiliy Lomachenko — Foto: Divulgação/Top Rank

Lomachenko revive sonho dos cinturões após ir à guerra da Ucrânia

Escrito por  Maio 20, 2023

LAS VEGAS - O ucraniano Vasiliy Lomachenko tinha o sonho de conquistar os quatro cinturões das principais organizações de boxe e se tornar o campeão absoluto dos pesos-penas. O boxeador, no entanto, precisou abrir mão de seu principal objetivo para lutar na Guerra da Ucrânia.

Pouco mais de um ano depois de largar tudo para defender seu país, Lomachenko terá nova oportunidade de alcançar sua meta neste sábado, diante do invicto Devin Haney, atual detentor dos títulos da WBA, WBO, WBC e IBF. O evento terá transmissão do canal Combate a partir das 21h (horário de Brasília).

A história do sonho dos quatro cinturões começa muitos anos antes. Bicampeão olímpico, com ouro em Pequim-2008 e Londres-2012, Lomachenko migrou para o boxe profissional em 2013. Conquistou cinturões em três categorias diferentes: até 57kg, 59kg e 61kg, sua atual categoria.

Em 2020, colocou seus cinturões da WBA (Associação Mundial de Boxe), WBC (Conselho Mundial de Boxe) e WBO (Organização Mundial de Boxe) em jogo diante de Teófimo López. A expectativa era também conquistar o título da IBF (federação Internacional de Boxe) e alcançar a marca de campeão absoluto, mas o sonho acabou escapando após derrota por decisão unânime.

Lomachenko não desistiu e estava perto de nova disputa de título após vencer Masayoshi Nakatani e Richard Commey em 2021. Empresário do ucraniano, Egis Klimas contou que Loma estava escalado enfrentar George Kambosos Jr, até então dono dos quatro cinturões, no ano passado, na Austrália.

- Liguei para ele e falei: temos a oportunidade de enfrentar o Kambosos e lutar por esses títulos que você tem sonhado. Quando falei, ele disse que não podia pensar na carreira, no boxe. Tudo o que podia ver é que o país estava sendo bombardeado, pessoas sendo mortas. As pessoas do país precisavam dele. Eu disse que poderia ser uma última oportunidade, mas ele disse que era a decisão dele - declarou Klimas na coletiva de imprensa antes do duelo.

Assim, o sonho teve que ser adiado para Lomachenko defender a Ucrânia na guerra contra a Rússia.

- É uma decisão simples para quem ama seu país, sua casa, sua família e seu povo. Você não pensa nos seus cinturões, você nunca vai pensar nisso. Pensei em como meus filhos vão crescer, onde eles vão estar, quem eles vão ser - garantiu.

Após meses na guerra, ele retornou ao boxe com vitória sobre Jamaine Ortiz e agora terá mais uma oportunidade de alcançar seu objetivo diante do invicto Devin Haney, atual detentor dos quatro cinturões das principais organizações de boxe do mundo.

- Agora, é uma luta, quatro cinturões. Está perto, muito perto.

Haney pediu Lomachenko há quatro anos

Não é a primeira vez que Vasiliy Lomachenko entra na mira de Devin Haney. Em 2019, Bill Haney, pai do lutador, entrou em contato com o empresário Egis Klimas para tentar marcar uma luta entre os dois boxeadores.

- Eu disse: "Não vai acontecer, vocês estão apenas começando a carreira. Quando seu filho alcançar algo no esporte, aí poderemos conversar sobre isso." Ele alcançou alguma coisa? Sim, ele se tornou o campeão absoluto. Agora vamos colocá-los para lutar - disse Klimas à "Top Rank".

 

A Guerra na Ucrânia

A invasão da Rússia na Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, mas os países estão relacionados desde muito antes. Professor de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Paulo Velasco destacou que Kiev, hoje capital ucraniana, é um berço histórico russo desde muito antes da União Soviética. Além disso, há localizações na Ucrânia, como a região de Donbass, fortemente ligadas à Rússia.

- Vemos ali de fato ucranianos que são russos étnicos, em boa parte têm como língua principal o russo e têm origens russas, são cidadãos que acabam tendo um vínculo histórico, cultural, linguístico, afetivo com a Rússia. E aí eles formaram grupos separatistas, que ganharam muito fôlego em 2014, depois da anexação da Crimeia. Essa guerra não começou ano passado, a guerra ali na região vem de 2014 para cá, com esses separatistas lutando contra as tropas ucranianas, querendo conquistar independência - disse ao Combate.com.

Há algumas versões para tentar justificar a ação russa. A Rússia afirma que visa proteção ao seu território por conta da possível adesão ucraniana à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O presidente Vladimir Putin também diz que a invasão tenta "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, que viveria, segundo ele, um genocídio contra cidadãos de origem étnica russa em regiões separatistas. Já a Ucrânia encara a invasão como uma tentativa russa de retomar a zona de influência da antiga União Soviética.

- A questão de desnazificar a Ucrânia, que é a alegação do Putin, não faz muito sentido com (Volodymyr) Zelensky (presidente ucraniano), porque ele próprio é de origem judia. Enfim, não é isso, mas há grupos ali que estão lutando ao lado do Zelensky que são, sim, neonazistas. Um dos mais famosos é o batalhão de Azov, que é uma espécie de milícia, um grupo paramilitar que inclusive tem lutado ao lado das tropas regulares da Ucrânia, incorporado, inclusive à guarda ucraniana. São mercenários de matriz neonazista - disse Velasco.

Vale destacar que a região é um ponto de interesse comercial. O estopim da invasão, inclusive, foi quando a Rússia decidiu reconhecer algumas regiões separatistas como repúblicas independentes: Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk. Donbass, região onde ficam as duas últimas, é uma grande fonte de carvão e é uma área industrializada, com destaque para a metalurgia.

O número de mortos no confronto é impreciso. A Organização das Nações Unidas divulgou cerca de 8 mil mortes com identidades confirmadas, mas fontes militares nos EUA e em países europeus estimam mais de 300 mil. Apesar da exaustão tanto da tropas russas quanto da resistência ucraniana, que conseguiu se manter firme com apoio financeiro e de armas do ocidente, não há indícios de um acordo de paz.

- São dois lados que não parecem dispostos a ceder, para desespero da população ucraniana, que está sofrendo com esse conflito. A Rússia não está disposta a recuar e retirar as tropas do território ucraniano, muito menos devolver a Crimeia. Vale lembrar que a Rússia, inclusive, anexou outras quatro províncias ucranianas. Zelensky também não está disposto a ceder nada, não quer abrir mão da soberania do país ou de nenhum dos territórios, nem mesmo da Crimeia, que foi anexada há quase dez anos. É difícil imaginar um acordo de paz, no máximo um cessar fogo, um armistício - finalizou Velasco.

 

Boxe: Haney x Lomachenko

20 de maio de 2023, às 21h (de Brasília), em Las Vegas (EUA)

CARD DO EVENTO:

  • Peso-leve: Devin Haney x Vasiliy Lomachenko (12 rounds)
  • Peso-galo júnior: Junto Nakatani x Andrew Moloney (12 rounds)
  • Peso-pena júnior: Oscar Valdez x Adam Lopez (10 rounds)
  • Peso-leve: Raymond Muratalla x Jeremia Nakathila (10 rounds)
  • Peso-médio: Nico Ali Walsh x Danny Rosenberger (8 rounds)
  • Peso-pena júnior: Floyd Diaz x Luis Fernando Saavedra (8 rounds)
  • Peso-leve: Abdullah Mason x Desmond Lyons (6 rounds)
  • Peso-médio: Amari Jones x Pachino Hill (6 rounds)
  • Peso-leve: Emiliano Vargas x Rafael Jasso (4 rounds)

 

 

Por Jamille Bullé / GE

Redação

 Jornalista/Radialista

Website.: https://www.radiosanca.com.br/equipe/ivan-lucas
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