SALVADOR/BA - Sergio Moro (Podemos), ex-juiz e pré-candidato à Presidência da República, desembarcou na quinta-feira (6) na Paraíba, onde inicia um périplo pelos estados brasileiros com o objetivo de articular palanques e buscar aliados para a sua campanha neste ano.
Moro terá no seu entorno um grupo de parlamentares que se elegeu para Câmara dos Deputados e Senado em 2018 na onda bolsonarista, mas romperam ou se afastaram o presidente Jair Bolsonaro (PL) ao longo da atual legislatura.
O objetivo da visita é iniciar um diálogo com setores da centro-direita e da direita que apoiaram o presidente em 2018, mas estão arrependidos e buscam uma nova alternativa para a eleição presidencial deste ano.
"Tudo isso faz parte de uma construção que está sendo feita com muito diálogo. Moro é uma pessoa equilibrada, inteligente e que tem um norte do que busca para o Brasil", afirma o deputado federal Julian Lemos (PSL), que foi coordenador da campanha de Bolsonaro no Nordeste em 2018.
Lemos rompeu com Bolsonaro há dois anos e tem uma relação de rusgas com os filhos do presidente. Nesta quarta-feira (5) trocou farpas com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em uma rede social.
À reportagem ele disse que Bolsonaro se revelou "a maior fraude eleitoral" da história política do país: "Ele decidiu negar tudo que falou e demonstrou ser uma pessoa incompetente para governar a nação".
Sergio Moro cumprirá agendas até sábado (8) nas cidades de João Pessoa, Cabedelo e Campina Grande, três cidades onde Bolsonaro saiu vitorioso nas urnas em 2018.
Ele dará entrevistas para redes de rádio e de televisão locais, participará de encontros com políticos da região. Em Campina Grande, cidade nordestina que historicamente impõe derrotas ao PT, ele terá um encontro com 160 empresários, parte deles antigos apoiadores de Bolsonaro.
O primeiro compromisso em João Pessoa foi uma entrevista à rádio "98 FM Correio". O ex-juiz reiterou o discurso de construção de uma alternativa a Lula e Bolsonaro. E classificou como "muito ruim" o governo Bolsonaro, do qual fez parte como ministro da Justiça e Segurança Pública.
"É um governo que não entregou o que prometeu. Prometeu combate a corrupção, o que você tem foi proteção à família [do presidente]. Prometeu crescimento econômico, o que você tem é estagnação. Prometeu que o PT não voltaria. Foi Bolsonaro que ressuscitou Lula e o PT. Se fosse um governo melhor, não haveria discussão sobre Lula e o PT", disse.
Antes, ao desembarcar no aeroporto de João Pessoa, foi hostilizado por manifestantes que o chamaram de "juiz ladrão", "traíra" e gritaram o nome de Bolsonaro.
A expectativa é que o ex-juiz visite outros estados do Nordeste nos próximos meses com o objetivo de ganhar musculatura em uma região onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem grande capilaridade e o presidente Jair Bolsonaro tem alta rejeição.
Apesar das investidas na região, Moro enfrenta dificuldades para firmar palanques competitivos no Nordeste.
Na Bahia, por exemplo, a Podemos faz parte da base aliada do governador Rui Costa (PT) e deve apoiar o senador Jaques Wagner (PT) para o governo do estado.
A União Brasil, partido que surgirá da fusão entre PSL e DEM, negocia nacionalmente uma possível aliança com Moro. Mas na Bahia, o pré-candidato do partido ao Governo da Bahia, ACM Neto, quer distância da disputa nacional e evitará subir no mesmo palanque de um candidato que se opõe frontalmente ao ex-presidente Lula.
A principal aliada de Moro no estado é a deputada federal Dayane Pimentel (PSL), que também fez parte da tropa de choque de Bolsonaro no Nordeste em 2018.
No Ceará, há conversas em curso com o deputado federal Capitão Wagner (Pros), um dos poucos candidatos que teve apoio público do presidente Jair Bolsonaro na campanha municipal de 2020, quando concorreu à Prefeitura de Fortaleza.
Wagner negocia sua migração para a União Brasil, mas enfrenta resistências de setores do DEM cearense que são ligados ao governador Camilo Santana (PT) e ao presidenciável Ciro Gomes (PDT).
Dirigentes do DEM afirmam que uma possível candidatura de Capitão Wagner ao governo não empolga e que a legenda está focada em ampliar a sua bancada de deputados federais no estado.
Outra opção seria lançar a candidatura ao governo do estado do senador Eduardo Girão (Podemos), outro eleito na onda bolsonarista.
Em meio de mandato no Senado, o senador poderia concorrer ao governo sem sobressaltos, mas teria dificuldade de montar um palanque amplo, já que enfrenta resistências até mesmo entre opositores do governador Camilo Santana.
O problema é semelhante no Rio Grande do Norte, onde o principal aliado de Moro é o senador Styvenson Valentim (Podemos), neófito que foi eleito na onda antipolítica de 2018.
Policial militar, ele era coordenador das blitze da Lei Seca e ganhou popularidade com vídeos nas redes sociais. Foi eleito para o Senado derrotando políticos tradicionais como o ex-senador Garibaldi Alves (MDB) e costuma posar para fotos com uma palmatória de madeira onde está escrito "peia na corrupção".
Apesar de ter um eleitorado fiel, o senador tem dificuldade no diálogo até mesmo entre opositores da governadora Fátima Bezerra (PT), que disputará a reeleição.
Aliados de Moro no Nordeste, contudo, minimizam as dificuldades na formação de palanques: "Sergio Moro é um homem de conversa. Eu diria até que ele está mais adiantado do Bolsonaro estava em sua pré-campanha em 2018", afirma o deputado Julian Lemos.
JOÃO PEDRO PITOMBO / FOLHA