O foco é utilizar a energia solar térmica para processos industriais
SÃO CARLOS/SP - Uma das tecnologias mais conhecidas para aproveitar a energia do sol é a denominada fotovoltaica, que são painéis que convertem a energia do sol em energia elétrica e que facilmente identificamos em campos abertos ou nos telhados de residências. Contudo, existe ainda uma outra forma de utilizar a energia solar, principalmente para aplicação nas indústrias, conhecida como energia heliotérmica, algo que mereceu a especial atenção de dois jovens pesquisadores de São Carlos.
Guilherme Scagnolatto (31), pós-graduado do Curso de Engenharia Mecânica, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP) e Jaqueline Vidotti (31), Engenheira Química pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e especialista em gestão de projetos pela USP, decidiram avançar nas pesquisas relacionadas à energia heliotérmica. O ponto de partida foi a criação de uma startup de eficiência energética, denominada Mondi Energy, que se encontra atualmente incubada no Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto - Supera. A startup surgiu em 2019 como uma spin-off acadêmica do trabalho de mestrado do Guilherme.
Com o apoio do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), em parceria com a EMBRAPII, os dois pesquisadores e empreendedores estão desenvolvendo um concentrador de luz solar para ser utilizado na indústria. “Este nosso projeto prevê captar a energia solar para esquentar água e gerar vapor de forma que possa suprir parte da demanda de calor na produção de vapor para processos industriais, para geração de eletricidade ou até para sistemas de refrigeração, diminuindo o uso de combustíveis e reduzindo as emissões de carbono”, relata Guilherme.
O projeto consiste na fabricação de um coletor parabólico, que capta a radiação solar e a concentra sobre um tubo, por onde escoa água. A intenção dos empreendedores é poder fazer um combinado que permita não só reduzir o consumo de combustíveis nas indústrias, que por si só beneficiará o meio-ambiente, como também reduzir as despesas com o consumo de energia e rentabilizar a produção, por exemplo, nas indústrias alimentícias, químicas, farmacêuticas e usinas de cana. “Este nosso trabalho está tendo total apoio do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) não só em termos de suas infraestruturas laboratoriais e da Oficina Mecânica, como, também, da equipe do Laboratório de Apoio Tecnológico (LAT), com a participação e aconselhamento do Prof. Vanderlei Bagnato”, conclui Guilherme.
Essa é, portanto, mais uma tecnologia que estará à disposição para acelerar a transição energética, valendo-se de fontes renováveis para o fornecimento de energia sustentável. Uma energia limpa!!!
(Rui Sintra - Jornalista - IFSC/USP)
Estudo da UFSCar em parceria com Universidade do Minho associou prevalência de cepa resistente a medicamento à necessidade de ampliação da genotipagem no Brasil
SÃO CARLOS/SP - A elevada taxa de mutação é característica conhecida do vírus HIV-1, e mutações que causam resistência a medicamentos significam ameaça ao sucesso dos tratamentos antirretrovirais. No entanto, a ocorrência dessas mutações vem caindo em todo o mundo, diante de tratamentos mais eficazes e com menos efeitos adversos, o que permite reduzir a replicação viral e, assim, a probabilidade de mutação.
Estudo realizado em parceria entre Brasil e Portugal e publicado recentemente no "International Journal of Molecular Sciences" [https://www.mdpi.com/1422-
A pesquisa, coordenada Nuno Miguel Sampaio Osório, da Universidade do Minho, em Portugal, contou com a participação de Bernardino Geraldo Alves Souto, docente do Departamento de Medicina (DMed) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no âmbito de acordo de cooperação com o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Escola de Medicina da Universidade do Minho. Colaboraram também pesquisadores de outras instituições portuguesas e da Espanha. A equipe analisou 20.226 sequências genéticas de HIV-1 coletadas em pacientes em tratamento antirretroviral, no período entre 2008 e 2017, no Brasil.
Os resultados mostraram que a prevalência da K65R passou de 2,23% em 2008 para 12,11% em 2017, seguindo alteração no protocolo de tratamento adotado no Brasil, que, em determinado momento, substituiu o AZT (Zidovudina) pelo TDF (Tenofovir). A pesquisa também identificou maior carga viral nas pessoas em que a mutação foi detectada, reforçando a observação do aumento da prevalência de resistência ao TDF.
Além das análises genéticas e estatísticas, o grupo usou ferramentas de imunoinformática (baseadas em redes neurais artificiais) para investigar possíveis fatores envolvidos na falha terapêutica e na transmissão de cepas resistentes. Esses estudos sugeriram possível impacto de fatores genéticos na prevalência de K65R, derivados dos perfis HLA - relacionados à resposta imunológica - mais ou menos prevalentes na população brasileira. Isto porque a pesquisa indicou que o perfil HLA-B27 teria maior propensão ao reconhecimento do HIV-1, sendo que este perfil genético tem prevalência relativamente baixa na população brasileira.
"Os estudos associando o perfil HLA a diferentes interações com o vírus HIV ainda estão avançando. O que a nossa pesquisa traz é a hipótese de que, além de fatores tradicionais como diferenças sociodemográficas e nos protocolos adotados e a adesão ao tratamento, o perfil genético étnico da população brasileira também pode estar influenciando o padrão de prevalência da resistência a medicamentos, e que pode ser necessário levar isso em consideração na definição dos protocolos de tratamento", explica o pesquisador da UFSCar.
Ou seja, associada à pressão seletiva exercida pelo uso do Tenofovir, o perfil imunológico prevalente na população brasileira também pode estar favorecendo o desenvolvimento da mutação K65R.
Uma das estratégias adotadas em vários países para monitorar e combater as cepas resistentes é a chamada genotipagem universal, em que todos os pacientes são testados no momento do diagnóstico para identificação de cepas resistentes e, assim, adoção de regimes terapêuticos individualizados, ou seja, escolha dos medicamentos que comporão o coquetel antirretroviral informada pela genotipagem. No Brasil, em geral a genotipagem só é feita após verificação de falha terapêutica por seis meses, exceto para alguns grupos que, a partir de 2013, começaram a ser testados no momento do diagnóstico: gestantes, crianças, pacientes com tuberculose e pessoas infectadas por parceiros em tratamento antirretroviral adequado.
A partir dos resultados encontrados no estudo, os pesquisadores supõem que a mudança nos protocolos antirretrovirais sem garantia de genotipagem pré-tratamento tenha colaborado para o crescimento gradual da prevalência de cepas resistentes ao Tenofovir, bem como para o elevado nível de outras mutações de resistência. Essa prevalência elevada, por sua vez, pode estar por trás da maior proporção de casos de falência terapêutica no Brasil, o que ganha especial relevância em um cenário de crescimento nos números de novas infecções e mortes relacionadas ao HIV no País, na contramão de um declínio global. Em 2019, foram 48 mil novas infecções e 14 mil mortes registradas no Brasil.
Assim, os pesquisadores registram que alguns dos medicamentos frequentemente usados no País podem estar comprometidos pela alta prevalência de cepas resistentes e que a genotipagem universal e obrigatória seria a melhor estratégia a ser adotada, para seleção personalizada de um regime antirretroviral otimizado. As evidências produzidas na pesquisa apontam, inclusive, a necessidade de atenção à eficácia dos protocolos adotados na profilaxia pré e pós-exposição no Brasil, já que o aumento da prevalência de cepas resistentes aos medicamentos integrantes desses protocolos também pode comprometer sua eficácia.
"A genotipagem pré-tratamento, com repetição sistemática, permite a definição de protocolos terapêuticos individualizados e ajustes adequados. Com isso, reduzimos o risco de iniciar o tratamento e só descobrir seis meses depois que o protocolo não é adequado ou só substituir um esquema que falhou depois de vários meses de falha, o que é ruim não apenas para o indivíduo, mas também predispõe ao desenvolvimento de cepas resistentes que podem ser transmitidas e ter um efeito populacional", reitera o pesquisador da UFSCar. "Do ponto de vista da prevenção, a abordagem é coletiva, mas estamos propondo estratégia mais individualizada para o tratamento. E essa estratégia individual, por sua vez, tem impacto coletivo, já que a eficácia do tratamento reduz a transmissão e a circulação de cepas resistentes", complementa.
Estudo internacional, em parceria com a Itália, evidencia desafios do cotidiano na Educação Infantil durante a pandemia de Covid-19
SÃO CARLOS/SP - Junto à crise sanitária, a crise educacional é uma das principais implicações da pandemia de Covid-19, com impactos na atual geração de crianças e grandes desafios para oferta de ensino significativo e com qualidade. Na permanência do atendimento não presencial e de ensino remoto, a problemática se aprofunda no caso das instituições de Educação Infantil, que atendem crianças de 0 a 5 anos.
Justamente para mapear, analisar e compreender a organização da prática educativa na Educação Infantil em contexto não presencial durante a pandemia, o Centro de Pesquisa da Criança e de Formação de Educadores da Infância (Cfei) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) desenvolveu pesquisa em parceria com a Università degli Studi Roma Tre (UniRoma Tre), no âmbito de convênio internacional, coordenado na UFSCar por Aline Sommerhalder, docente no Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas (DTTP) e no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) e uma das diretoras do Cfei.
O estudo investigou o tema junto a cerca de 450 profissionais atuantes nos dois países, sendo 150 no Brasil, entre professoras e outras educadoras de instituições municipais de Educação Infantil, coordenadoras pedagógicas e diretoras. A coleta de dados incluiu a aplicação de questionários online, no período de abril a junho de 2020.
No Brasil, a maior parte do grupo participante foi de profissionais mulheres (92,6%), na faixa etária de 31 a 60 anos (84,2%), atuantes principalmente no setor municipal de ensino (78,4%). Muitas são pedagogas (72%) com pós-graduação (69,6%), sendo, portanto, profissionais com alto nível de formação (especialização, mestrado ou doutorado) e experiência, com 5 a 25 anos de atuação profissional (68,2%).
Os resultados brasileiros evidenciaram, dentre outros pontos, a transferência de responsabilidades às famílias e, de outro lado, a inexistência de condições para exercício adequado das atividades escolares no ambiente doméstico.
Dados já sistematizados no estudo mostram que a maior preocupação das profissionais brasileiras (91%) dizia respeito, no momento inicial da pandemia, à condição emocional das crianças e à expressão de uma mensagem tranquilizadora às famílias. Além disso, grande parte das educadoras (89%) almejava a continuidade do trabalho educativo - antes feito nas escolas - no contexto doméstico, com foco no brincar e nas aprendizagens. As participantes (86%) também consideram que a memória da escola é um elemento de grande relevância nas intenções educacionais no cenário de distanciamento. Ou seja, que as famílias se tornam responsáveis, no trabalho escolar remoto, por manter a memória da escola viva nas crianças, desenvolvendo atividades do cotidiano da Educação Infantil, como contação de histórias, cantigas, uso de brinquedos como massinha de modelar e materiais como papéis, lápis de cor ou giz de cera, bem como experiências de recorte e colagem.
Assim, os resultados da investigação anunciam uma demanda às famílias, de modo que as crianças consigam manter o vínculo com as profissionais e a memória de viver a infância no cotidiano da Educação Infantil, além das novas aprendizagens. Das respostas, 93% indicam que os familiares precisam criar e sustentar um espaço lúdico nos espaços domésticos, considerando o brincar como um eixo organizador das práticas de cuidar e de educar.
Na perspectiva das educadoras brasileiras, as demandas para as atividades não presenciais que se voltam às famílias são diversas, e a pesquisa também busca compreender em quais condições as escolas e as profissionais conseguem dar suporte às crianças e às famílias para a manutenção dessas atividades, e se os familiares conseguiram promover as adequações necessárias nos contextos domésticos.
Didattica a Distanza
Na caracterização da realidade dos países estudados, o estudo apontou grandes diferenças, envolvendo especialmente três fatores: densidade demográfica, desigualdade social e características estruturais. Na Itália, o número de filhos por família é menor que no Brasil e, além disso, uma parcela importante das crianças nas escolas públicas de Educação Infantil vem de famílias com melhores condições socioeconômicas, com menores índices de desigualdade social, em relação ao Brasil.
"A Itália teve estrutura e investimento, com ação política no nível nacional, para reagir de forma emergencial ao cenário da pandemia. O País criou uma política educacional específica, inclusive com a implementação de estrutura chamada de 'Didattica a Distanza'", informa Sommerhalder.
Já no Brasil, os dados são discrepantes. As crianças que estudam em escolas públicas na Educação Infantil geralmente não têm boas condições socioeconômicas, e indicadores apontam que, quanto menor a escolarização das famílias, maior a quantidade de filhos. Essas crianças não têm acesso a computadores, tablets ou celulares com conexão à Internet de qualidade razoável.
"Na época da coleta de dados, as ferramentas utilizadas pelas educadoras para se comunicarem com as famílias não se constituem como recursos pedagógicos ou didáticos, são redes sociais como Facebook e WhatsApp, com ações diretas somente uma vez por semana, com duração de 15 a 20 minutos. E muitos materiais foram disponibilizados apenas impressos, segundo os resultados preliminares do estudo, justamente para atender às famílias e crianças sem acesso à Internet. É uma diferença gigantesca de realidades entre os dois países", detecta a pesquisadora.
Assim, a transferência de responsabilidade pelas atividades, em alguma medida, da escola para a família evidenciada na pesquisa é um cenário muito difícil de se concretizar com qualidade no caso brasileiro. "Além de todas as necessidades impostas pela pandemia, como gestões doméstica, de trabalho e do orçamento, precisar aproximar ou tentar reproduzir uma rotina de educação infantil em contextos domésticos com as crianças (muitas vezes, várias) se torna algo inviável ou de muito difícil realização. Além disso, a família não tem o papel de exercício da docência, com formação, condições estruturais e uma rede de suporte para tanto, ao que se soma o fato de que as aprendizagens, na educação infantil, ocorrem na convivência, no brincar coletivo e nas relações afetivas com a professora e com as outras crianças", enfatiza Sommerhalder.
O Cfei e a UniRoma Tre estão realizando outro estudo que investiga a percepção das famílias, atualmente na etapa de análise de dados.
Desafios
Diante desses resultados, Sommerhalder reflete sobre a inadequação de um sistema de ensino a distância (ou atividades remotas ou não presenciais) na Educação Infantil, sinalizando que o problema se acentua diante de um calendário estendido desse tipo de trabalho ou possibilidade de anúncio como solução definitiva, muito especialmente no Brasil. "Além de não ser responsabilidade das famílias fazer o papel da escola e das professoras, as crianças da Educação Infantil precisam estar em convívio presencial com as demais crianças e as profissionais. É no espaço da escola e do coletivo escolar que as práticas educativas e de cuidados acontecem", enfatiza a pesquisadora da UFSCar.
Sommerhalder indica a necessidade de formulação, no Brasil, de políticas públicas que reconheçam a função social da escola. Defende, também, a urgência de pensar na volta do atendimento presencial de forma segura e articulada, entendimento que implica a caracterização de três ações como fundamentais: vacinação de todos os profissionais que atuam no ambiente escolar; ampliação de recursos humanos, com a contratação de mais educadores e, consequentemente, formação de turmas menores para evitar a aglomeração; e investimento em infraestrutura e materiais nas unidades escolares.
"Dentro desse investimento, entram os recursos financeiros para mudanças estruturais, como a valorização de ambientes abertos, ventilação ampla em salas, ampliação dessas salas ou criação de outras, além de compra de materiais básicos, o que inclui kits de higienização, para atendimento ao protocolo de uso de máscara e higiene de mãos. São, portanto, desafios complexos diante das políticas educacionais atuais na realidade brasileira", avalia.
As pesquisas estão sendo realizadas por Sommerhalder em parceria com Fernando Donizete Alves, docente do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana (DEFMH) e do PPGE, ambos da UFSCar, e também diretor do Cfei, com a participação de pesquisadora de pós-doutorado do Cfei e os parceiros da UniRoma Tre.
MUNDO - Em novo artigo científico de 22 páginas, publicado no sábado (29), o cientista norueguês Dr. Birger Sørensen e o professor britânico Angus Dalgleish, concluiram que a Covid-19 ‘não tem ancestral natural confiável’ e que está ‘além de qualquer dúvida razoável’ de que o vírus foi criado por meio de ‘manipulação de laboratório’ na China.
O estudo, que deve ser publicado na revista científica Quarterly Review of Biophysics Discovery, está definido para fazer ondas entre a comunidade científica, já que a maioria dos especialistas negou veementemente até recentemente que as origens do COVID-19 não fossem uma infecção natural saltando de animais para humanos.
Enquanto analisavam amostras de COVID-19 no ano passado na tentativa de criar uma vacina, Dalgleish e Sørensen afirmam que descobriram ‘impressões digitais únicas’ no vírus que, segundo eles, só poderiam ter surgido da manipulação em um laboratório. Eles disseram que tentaram publicar suas descobertas, mas foram rejeitadas pelas principais revistas científicas que, na época, decidiram que o vírus passava naturalmente dos morcegos ou outros animais para os humanos.
Mais de um ano depois, importantes acadêmicos, políticos e a mídia finalmente mudaram de ideia e começaram a contemplar a possibilidade de o COVID-19 ter escapado do Instituto de Virologia de Wuhan na China – um laboratório onde experimentos incluíam a manipulação de vírus para aumentar sua infecciosidade a fim de estudar seus efeitos potenciais em humanos.
Esta semana, o presidente Joe Biden ordenou que a comunidade de inteligência reexaminasse como o vírus se originou, incluindo a teoria do acidente de laboratório.
O anúncio ocorreu após a revelação de que um relatório de inteligência anteriormente não divulgado foi feito à Casa Branca, alegando que vários pesquisadores do instituto Wuhan foram hospitalizados com doença em novembro de 2019. O documento foi descoberto esta semana pelo Wall Street Journal.
Autoridades de saúde dos EUA também foram criticadas por supostamente financiar experimentos controversos e arriscados de pesquisadores no laboratório de Wuhan.
No artigo de 22 páginas que será publicado na revista científica Quarterly Review of Biophysics Discovery, os cientistas descrevem sua ‘análise forense’ de meses de duração, olhando para os experimentos feitos no laboratório de Wuhan entre 2002 e 2019.
Vasculhando arquivos de periódicos e bancos de dados, Dalgleish e Sørensen juntaram como os cientistas chineses, alguns trabalhando em conjunto com universidades americanas, supostamente construíram as ferramentas para criar o coronavírus.
Muito do trabalho foi centrado em torno da polêmica pesquisa de ‘ganho de função’ – temporariamente proibida nos Estados Unidos durante o governo Obama.
Ganho de função envolve ajustes de vírus que ocorrem naturalmente para torná-los mais infecciosos, de modo que possam se replicar em células humanas em um laboratório, permitindo que o efeito potencial do vírus em humanos seja estudado e melhor compreendido.
Dalgleish e Sørensen afirmam que os cientistas que trabalham em projetos de ganho de função pegaram uma ‘espinha dorsal’ de coronavírus natural encontrada em morcegos das cavernas chineses e uniram nela um novo ‘pico’, transformando-o no mortal e altamente transmissível SARS-Cov-2.
Um sinal revelador de suposta manipulação que os dois homens destacaram foi uma fileira de quatro aminoácidos que encontraram no pico SARS-Cov-2.
Em uma entrevista, Sørensen disse que todos os aminoácidos têm carga positiva, o que faz com que o vírus se adira firmemente às partes negativamente carregadas das células humanas como um ímã, tornando-se mais infeccioso.
Mas porque, como os ímãs, os aminoácidos carregados positivamente se repelem, é raro encontrar até três em uma linha em organismos que ocorrem naturalmente, enquanto quatro em uma linha é “extremamente improvável”, disse o cientista.
“As leis da física significam que você não pode ter quatro aminoácidos carregados positivamente em uma fileira. A única maneira de conseguir isso é fabricando-o artificialmente ‘, disse Dalgleish.
Seu novo artigo diz que essas características do SARS-Cov-2 são ‘impressões digitais únicas’ que são ‘indicativas de manipulação intencional’ e que ‘a probabilidade de ser o resultado de processos naturais é muito pequena.’
“Seria de se esperar que uma pandemia de vírus natural sofresse mutação gradual e se tornasse mais infecciosa, mas menos patogênica, o que muitos esperavam com a pandemia de COVID-19, mas que não parece ter acontecido”, escreveram os cientistas.
‘A implicação de nossa reconstrução histórica, postulamos agora além de qualquer dúvida razoável, do vírus quimérico propositalmente manipulado SARS-CoV-2 torna imperativo reconsiderar quais tipos de experimentos de ganho de função é moralmente aceitável empreender.
‘Devido ao amplo impacto social, essas decisões não podem ser deixadas apenas para cientistas pesquisadores.’
*Por: PaiPee
Pesquisa da UFSCar foca na orientação sobre o engasgo, acidente comum que pode acometer crianças pequenas
SÃO CARLOS/SP - Prevenir acidentes domésticos é importante em qualquer situação, mas a atenção precisa ser redobrada quando se trata de crianças. De acordo com dados do Ministério da Saúde, os acidentes domésticos estão entre as principais causas de morte de crianças de um a nove anos. Dentre essas intercorrências, o engasgo se destaca por afetar principalmente crianças menores e bebês. Com foco nessa questão, uma pesquisa de mestrado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSCar, está buscando voluntárias para participarem de orientação, por meio da telessimulação, sobre prevenção e manejo do engasgo em bebês menores de um ano.
O estudo é realizado pela mestranda Beatriz Naddaf Camilo, sob orientação de Aline Okido, docente do Departamento de Enfermagem da UFSCar, e tem por objetivo analisar as contribuições de uma atividade educativa, realizada por meio da telessimulação, para o conhecimento, manejo e autoeficácia de mães de crianças menores de um ano diante de uma situação de engasgo. "A pesquisa é importante pois há necessidade de ampliar o conhecimento relacionado ao engasgo para pessoas leigas, ou seja, que não são estudantes ou profissionais da saúde. Tal tema é pouco discutido e abordá-lo por meio da simulação, enfatizando o processo de aprendizagem diante de uma situação apresentada, torna o processo mais significativo para quem está participando", aponta a pesquisadora.
De acordo com Beatriz Camilo, a literatura mostra que, entre os tipos mais comuns de acidentes na infância, destacam-se os acidentes domésticos, como os engasgos, por exemplo, que são responsáveis por altos índices de hospitalização, invalidez e mortalidade, gerando grande preocupação para a saúde infantil. "Os dados do Ministério da Saúde indicam os acidentes domésticos como uma das principais causas de morte entre crianças de um a nove anos, situação essa que pode ser evitada por meio do conhecimento de ações preventivas e condutas diante de uma intercorrência", acrescenta a pesquisadora. Ela também alerta que bebês menores de um ano são expostos a um risco elevado de engasgo, uma vez que é nesse período que ocorrem a introdução alimentar e a exposição a novos objetos, já que o bebê começa a desenvolver suas atividades motoras, sendo capaz de pegar objetos e levá-los à boca.
Diante disso, Beatriz Camilo reforça a importância de promover a orientação às mães sobre o tema e explica que isso deve ser amplamente discutido durante as consultas de puericultura (com médicos e enfermeiros) e nas mídias, já que é uma situação comum e com alto índice de probabilidade de ocorrência. "Quando o bebê está engasgado, muitas mães se desesperam e não sabem o que fazer. O manejo rápido e eficaz da situação é fundamental para a sobrevida do bebê, evitando sequelas e mortalidade. Para que as mães saibam agir diante da situação e também saibam prevenir situações que possam favorecer o engasgo, a orientação torna-se fundamental", destaca. Ela ainda salienta que a atividade será virtual, por causa da pandemia de Covid-19, ampliando a oportunidade de participação de muitas mães.
Pesquisa
Para desenvolver o estudo, estão sendo convidadas mães de bebês com até um ano de idade. As participantes responderão questionários online, receberão material educativo sobre a temática e assistirão uma telessimulação sobre manejo do engasgo em um bebê. As interessadas em participar do estudo devem responder este questionário online (encurtador.com.br/dyAJ5). Mais informações sobre o estudo podem ser solicitadas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Estudo na área de Educação Especial convida voluntários para responderem questionário
SÃO CARLOS/SP - Os diagnósticos e laudos de crianças com transtorno do espectro autista (TEA) são feitos, prioritariamente, por médicos. A fim de compreender como acontece o procedimento diagnóstico dessas crianças, um estudo na área de Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está convidando médicos para responderem a um questionário online. O estudo busca também verificar se, com as mudanças nos manuais e os avanços na área do autismo, esses processos diagnósticos foram aprimorados.
"O TEA está relacionado ao desenvolvimento neurológico", explica Bruna Bianchi, aluna de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGEEs) da UFSCar e responsável pela pesquisa. "A caracterização desse transtorno é feita pelos sinais e sintomas apresentados pela pessoa, que compreendem dificuldade em se comunicar, dificuldade de interação social e por interesses ou movimentos repetidos realizados pela pessoa", completa.
Em seu trabalho com crianças com autismo no Laboratório de Interação Social (LIS) da UFSCar, a mestranda tem constatado o aumento do número de crianças com TEA, fenômeno que também vem ocorrendo em muitos países. Esse aumento se deve, de acordo com Bianchi, a fatores como maior número de médicos especializados, maior divulgação do transtorno para a sociedade, além da realização de mais pesquisas investigando as causas e características do autismo e das mudanças de definição no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.
Para investigar como os diagnósticos de crianças com TEA são feitos, a mestranda está convidando médicos com especialização em pediatria, neurologia e/ou neuropediatria, que atuam no interior do estado de São Paulo, para responderem a um questionário online. Composto em sua maioria por perguntas de múltipla escolha, o questionário leva cerca de 30 minutos para ser respondido.
Os interessados em participar devem entrar em contato com a pesquisadora Bruna Bianchi pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. ou pelo celular (16) 99254-8384 (com WhatsApp), a partir dos quais serão enviados os links de acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e para o questionário. Mais informações podem ser solicitadas diretamente com a pesquisadora.
O trabalho, intitulado "Diagnóstico de TEA: descrição da prática de médicos do interior paulista", tem orientação da professora Maria Stella Alcantara Gil e coorientação da professora Ana Lúcia Rossito Aiello, ambas do Departamento de Psicologia (DPsi) da UFSCar. O projeto conta com apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSCar (CAAE: 40040920.9.0000.5504).
ARGENTINA - A aprovação do governo do presidente da Argentina, Alberto Fernández, caiu de 67% em abriu de 2020 para 26% na pesquisa divulgada na 4ª feira (26) pela Universidade de San Andrés. A desaprovação é de 72%.
Eis a íntegra da pesquisa, em espanhol (1 MB).
Foram realizadas 1.004 entrevistas de 13 a 20 de maio de 2021 com argentinos acima dos 18 anos de idade. A margem de erro é de 3.15 pontos percentuais e o índice de confiança é de 95%.
Este é o pior desempenho de Fernández desde o início de seu mandato, em dezembro de 2019. O pesquisa mostra que o atual presidente da Argentina superou os piores índices registrados por seu antecessor, Maurício Macri.
Eis a evolução do índice de aprovação (em azul) e desaprovação (em vermelho) do governo argentino ao longo dos anos:
© Reprodução/Universidade de San Andrés
Para 78% dos entrevistados, o país está pior agora do que há um ano. Mais da metade, 58%, acreditam que a situação não vai melhorar no próximo ano.
Os entrevistados estão em sua maioria descontentes com a forma como o governo vem lidando com a pandemia: 60% estão em desacordo com as medidas tomadas.
A argentina vive uma nova onda de contaminação pelo Sars-CoV-2, coronavírus responsável pela covid-19. Fernández anunciou, em 20 de maio, novas medidas de restrições. O confinamento imposto aos argentinos dura até 30 de maio, mas pode ser prorrogado se a situação não estiver controlada.
O país de quase 45 milhões de habitantes acumula, segundo o medidor Worldometer, 3.622.135 casos de covid-19 e 75.588 mortes pela doença até na 4ª feira (26.mai).
Dos entrevistados, 46% citaram a inflação como o principal problema da Argentina. Em 17 de maio, o governo suspendeu a exportação de carnes por 30 dias como forma de segurar a alta de preços do produto no país. Como resposta, produtores anunciaram uma greve.
Pobreza, desemprego, insegurança e corrupção foram outros problemas citados na pesquisa.
*Por: PODER360
SÃO PAULO/SP - Cerca de 41,6 % da população da cidade de São Paulo já possui anticorpos contra o SARS-CoV-2, o que equivale a 3,5 milhões de pessoas já infectadas. A estimativa chega a 48,4% entre os que declaram raça/cor de pele parda e preta e a 51,3% entre pessoas com idade entre 35 e 44 anos, o que significa que estão mais expostos ao vírus.
Não foi detectada diferença de soroprevalência entre vacinados e não vacinados - no período do levantamento, 16,3% já haviam sido imunizados.
Os dados se referem à sexta fase do projeto SoroEpi MSP, formado por cientistas e médicos com o apoio do Grupo Fleury, IPEC, Instituto Semeia e Todos pela Saúde. A pesquisa foi realizada entre os dias 22 de abril e 1º de maio, 58 semanas após o primeiro caso registrado na cidade.
Foram analisadas 1.187 amostras de sangue para identificar o percentual daqueles que foram expostos ao vírus e produziram anticorpos específicos para o SARS-CoV-2.
A soroprevalência aumentou de 29,9% para 41,6%, um acréscimo de 11,7 pontos percentuais de janeiro para abril. "Isso se deve principalmente à chegada da segunda onda ao município. No estrato mais rico, passou de 22,8% para 35,9% e no mais pobre de 36,4% para 47,0%", aponta o relatório.
Pela primeira vez foi detectada uma diferença significante na soroprevalência entre domicílios com 1 e 2 pessoas e com 5 ou mais (34,3% versus 48,2%). "Isso sugere que a transmissão intradomiciliar aumentou", conclui.
*Por: R7
Turismo, serviços e comércio não essencial perderam o equivalente ao PIB da Sérvia; para FecomercioSP, eles não vão reverter prejuízos em 2021
SÃO PAULO/SP - Cerca de R$ 225,7 bilhões foi o volume de perdas totais contabilizado em 2020 pelo turismo, pelos serviços, pelo segmento de veículos e pelo varejo não essencial no Brasil – as áreas mais impactadas pela pandemia entre os setores e segmentos. Para se ter uma ideia da perda, esse montante é maior do que tudo o que países como a Sérvia (R$ 222 bilhões) e a Tunísia (R$ 214 bilhões) produzem em um intervalo de um ano. Os dados fazem parte de um levantamento produzido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O estudo mostra ainda que muitos deles não devem se recuperar neste ano: a expectativa é que o varejo essencial experimente uma retração de 1%, e que o turismo, mesmo com a retomada das suas atividades, ainda acabe 2021 no vermelho: -5% de receitas (Tabela 1) depois de uma variação expressiva para baixo em 2020, que beirou os 40%.
De fato, o turismo brasileiro perdeu R$ 52,1 bilhões em faturamento em 2020 em comparação ao ano anterior, considerando a correção da inflação acumulada no período. O resultado foi um dos piores da história do setor, representando uma queda de 38,1% em comparação com o que o setor faturou em 2019.
Mas quem mais perdeu no ano passado foram os serviços que, pelos dados, faturaram praticamente R$ 100 bilhões a menos em relação a 2019 – uma retração de 11,7%. Eles foram os mais afetados por diferentes medidas de restrição de circulação adotadas como forma de conter a disseminação do covid-19 e que, para esses agentes, significaram passar longos períodos com as portas fechadas.
Outrora um setor pujante da economia brasileira, as vendas de veículos também caíram, deixando um prejuízo de R$ 41,2 bilhões (queda de 11,5% na comparação com 2019). Esse dado, por sua vez, pode ser explicado pelo fato de, na pandemia, as famílias estarem evitando aumentar os gastos. Tudo isso em meio a um contexto de crescimento do desemprego e do custo de vida e da queda na renda.
Entra na conta ainda o varejo não essencial, como lojas de roupas, por exemplo, que fechou 2020 com um rombo de R$ 32 bilhões em comparação ao ano anterior, representando a perda de um décimo do seu tamanho (-10,3%).
Varejo cresce por causa de demandas essenciais
Apesar das retrações expressivas, o varejo como um todo registrou um aumento de 4,8% (R$ 83 bilhões a mais em vendas) – puxado pelas atividades consideradas essenciais, como supermercados, farmácias, lojas de materiais de construção e postos de combustíveis, que tiveram ganhos de R$ 115,7 bilhões em 2020 – um salto de 8,2% na comparação com 2019. Já o varejo não essencial, como se esperava, faturou 10,3% a menos.
No entendimento da FecomercioSP, o desempenho se explica pela injeção do auxílio emergencial no orçamento das famílias, de R$ 190 bilhões, cuja boa parte foi direcionada para este tipo de consumo.
Dado o cenário atual, a Entidade entende que que esses setores não se recuperem tão rápido: na verdade, a tendência que as concessionárias de veículos, o varejo não essencial e os serviços não revertam essas perdas neste ano, mesmo com um possível crescimento daqui em diante. O problema é que, como muitas dessas empresas são pequenas, há uma forte possibilidade de que elas não sobrevivam a mais um ano com a mesma turbulência econômica.
Retomada lenta em 2021
O estudo da FecomercioSP mostra, por outro lado, que a melhora do cenário vai ajudar na retomada tímida de setores importantes da economia brasileira, como os serviços, com projeção de crescerem 2%, e das lojas de veículos, com alta de 5% no faturamento. Não significa, no entanto, que vão recuperar as perdas do ano passado, quando caíram 11,7% e 11,5%, respectivamente.
Mesma situação do varejo essencial que, depois de cair 10,3% em 2020, vai faturar 2% a mais em 2021: um sinal pequeno de retomada que, na verdade, não será suficiente para recompor o que foi perdido no ano passado.
Como atravessar a crise?
Em todo o País, o contingente de pessoas trabalhando diminuiu em 1 milhão ao longo de 2020 – de 8,7 milhões de pessoas para 7,7 milhões –, resultado do fechamento de cerca de 200 mil empresas durante o ano passado, segundo estudo da FecomercioSP.
Resultado direto das perdas contabilizadas no levantamento, ela exige que algumas medidas sejam tomadas pelo Poder Público. A Federação tem atuado junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em torno de linhas de crédito com taxas, carências e parcelamentos condizentes com a situação delicada que micros e pequenas empresas vivem no contexto atual. Um modelo que pode ser seguido, inclusive, é o do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Em 2020, o dinheiro disponibilizado pelo governo federal por meio de programas como esse – além das taxas, carências, tipos de parcelamento e prazos oferecidos às micros e às pequenas empresas – foi fundamental para evitar uma crise ainda maior entre as empresas de menor porte. Não à toa, a FecomercioSP tem pleiteado, em paralelo, que o programa se torne permanente, e não apenas uma medida pontual no contexto da pandemia.
Outro pedido é que o governo crie um auxílio emergencial correspondente a quatro parcelas, cada uma equivalente a 10% do faturamento mensal médio verificado no ano passado. Além disso, a Entidade ainda segue solicitando que os tributos das três instâncias estatais, vencidos em abril até junho deste ano, sejam consolidados com carência estabelecida de seis meses e possibilidade de parcelamento em até 60 vezes.
São posturas como essas que vão dar fôlego para as empresas atravessarem o período crítico atual e terem condições de protagonizar a retomada que o País precisa.
Sobre a FecomercioSP
Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo. Em conjunto com o governo, mobiliza-se pela desburocratização e pela modernização, desenvolve soluções, elabora pesquisas e disponibiliza conteúdo prático sobre as questões que impactam a vida do empreendedor. Representa 1,8 milhão de empresários, que respondem por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e geram em torno de 10 milhões de empregos.
Núcleo de Estudos de Gênero e Diversidade Sexual lança livro sobre atividades que se configuram como espaço para discussões acadêmicas e lutas políticas
SÃO CARLOS/SP - "Eu não posso respirar." A frase dita por Eric Garner, em 2014, e George Floyd, em 2020, enquanto eram estrangulados até a morte por policiais brancos nos Estados Unidos, tornou-se o brado de protestos contra a brutalidade policial e o racismo no mundo todo. A violência, o preconceito e a discriminação, no entanto, impedem outros corpos, além dos negros, de respirar - literal e simbolicamente, como evidenciam as pesquisas realizadas há mais de 10 anos no Núcleo de Estudos de Gênero e Diversidade Sexual (NEGDS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), situado no Campus Sorocaba da Instituição.
No marco do Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, celebrado anualmente em 17 de maio, Viviane Melo de Mendonça, docente do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE-So) da UFSCar e coordenadora do NEGDS, conta que, atualmente, o Núcleo desenvolve projeto de pesquisa que objetiva compreender justamente como a respiração pode se constituir como um tema de estudo para as Ciências Humanas e Sociais e, particularmente, para os estudos da condição humana, foco e do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Condição Humana (PPGECH), que Mendonça também coordena.
"Em nossas análises, detectamos que a respiração - ou a falta dela, o sufocamento, a ideia do 'eu não posso respirar' - é afetada por vivências e se relaciona com questões sociais, raciais e políticas. Que corpo é esse que não pode respirar?", situa Mendonça, para abordar a abrangência da temática. "Há o movimento que ficou mais famoso mundialmente, o 'Black Lives Matter' ('Vidas Negras Importam'), que traz a ideia de que o fato de pessoas negras não poderem respirar é algo físico, que provoca morte física. Porém, ao entrarmos nas questões da homofobia, de transfobia e bifobia, essa mesma ideia está presente, no dia a dia, há muito tempo", analisa.
O projeto, intitulado "Quais corpos podem respirar? Estudos de gênero, diferenças e sexualidades", é uma pesquisa teórica, respaldada principalmente nas teorias feministas identificadas com as perspectivas decolonial e (neo)materialistas. A primeira, decolonial, traz o conceito de emancipação de povos subalternizados pelo reconhecimento de suas culturas, política e ideologia próprias. Já as perspectivas (neo)materialistas trazem o olhar para a questão do corpo situado em determinado espaço no mundo, e como a localização desse corpo traz afetos e efeitos físicos.
A pesquisadora explica que trabalha com a perspectiva de que não há separação entre corpo, mente, natureza e cultura; o corpo é situado e interage produzindo efeitos ou afetações materiais. "Em uma metáfora, convivemos atualmente com um sufocamento que envolve os âmbitos social, econômico e político, mas que também faz um paralelo com o corpo físico. Para esse estudo, trazemos a indissociabilidade de categorias como gênero, raça/etnia, classe, idade, sexualidade e regionalidade - ou seja, elementos que constituem a condição humana e que fazem toda a diferença ao definir, na atual sociedade, quais corpos podem ou não respirar."
As pesquisas realizadas pelo grupo constatam que alguns corpos não podem viver na sociedade simplesmente por serem quem são, pelo modo como são: pelo jeito de andar, falar, pela roupa que vestem, por seus desejos sexuais ou por quem amam. "Vidas são interrompidas por romperem com uma heteronormatividade, que impõe que a pessoa tem de ser heterossexual, cis (adequada ao gênero designado ao nascer), baseada numa suposta natureza. Essa heteronormatividade mata corpos, impede que eles respirem ou vivam, sufocando-os e provocando sofrimento psíquico e físico", afirma a pesquisadora.
Esta e outras pesquisas realizadas no NEGDS desde 2011 objetivam produzir e divulgar conhecimentos nas áreas de gênero, estudos feministas e das sexualidades a partir da premissa de que esses estudos se constituem como prática acadêmica política, transformadora e necessariamente interdisciplinar.
Mendonça afirma que o conhecimento é ferramenta essencial para lutar por direitos e combater atitudes e sentimentos discriminatórios e preconceituosos. "Autoras como Gloria Anzaldúa e Bell Hooks nos trazem inspiração a esses estudos. Hooks diz: 'cheguei à teoria porque estava machucada'. Essa frase guia a perspectiva na qual trabalhamos no NEGDS, de estudar conceitos para entender as nossas dores, conhecer as das outras pessoas, nos situarmos no mundo e termos a consciência de que aprofundar esse conhecimento é um ato político e de resistência", defende a docente.
As pesquisas, no entanto, não são subjetivistas. "Elas existem para transcendermos e para pensarmos na possibilidade de usar o conhecimento como transformador do mundo em um lugar mais digno e livre, onde não só a comunidade LGBTQIA+, mas também as mulheres e as pessoas negras possam, portanto, respirar."
A atuação do NEGDS, além do ensino e da pesquisa, é forte na extensão universitária, por meio de parcerias na comunidade da cidade de Sorocaba, com a realização de debates e reflexões que surgem com base nas demandas da própria comunidade. "Não dá para restringir o conhecimento ao ambiente universitário. A proposta é circulá-lo, também, em espaços abertos pela cidade", conta, relatando que os eventos têm a participação não só de pesquisadores e estudantes, mas também de militantes e demais pessoas interessadas na temática.
É o caso do Nós Diversos (https://www.facebook.com/
"Ele passou a ser um ponto de encontro, principalmente de jovens LGBTQIA+, trazendo a eles um lugar de fala e de expressão, no qual podem ouvir, se encontrar e encontrar resistência diante do momento conservador que estamos vivendo", reforça Mendonça. Na pandemia, as discussões seguem acontecendo virtualmente.
E-book
Com o intuito de celebrar seus 10 anos de existência, o NEGDS lançou, no dia 14 de maio, no X Congresso Internacional de Diversidade Sexual, Étnico-racial e de Gênero (http://congressoabeh.com.br), o e-book "Estudos de gênero, diferenças e sexualidades", pela Editora Navegando, que traz um compilado das pesquisas, ensaios e memórias do grupo desde 2011.
Organizada por Mendonça e por Kelen Leite, também docente do DCHE-So, a obra se divide em duas partes - "Memórias, afetos e pesquisas realizadas" e "Ensaios, reflexões, afetos e utopias..." - e trata da potência das diferenças, dos afetos e das memórias nos discursos de gênero e sexualidades.
A publicação pode ser baixada gratuitamente em https://www.editoranavegando.
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