UCRÂNIA - A história do mundo é praticamente indistinguível da história da guerra. Após um hiato de 75 anos em que as nações desenvolvidas evitaram confrontos, a guerra voltou à Europa, o crisol das duas guerras mundiais. Vai esta guerra humilhar Vladimir Putin e desencorajar outros agressores, forjando uma nova paz? Ou intensificará os atritos entre potências, consolidando uma nova guerra fria que pode escalar para uma guerra quente e finalmente uma nova guerra mundial?
Em favor da primeira opção, o assalto de Putin produziu o inverso de seu intento inicial: o mito do poderio russo desmoronou; as nações ocidentais reagiram com uma solidariedade sem precedentes, galvanizaram a Otan e isolaram como nunca a Rússia; os ucranianos estão mais inclinados a integrar o Ocidente e fortalecer sua democracia, e sua contraofensiva recuperou amplos pedaços de seu território.
Por outro lado, se o desempenho do exército russo foi pior do que o esperado, o de sua economia foi melhor. Suas exportações foram canalizadas para grandes mercados como China, Índia e outros na Ásia, África e América Latina. Já a economia ucraniana agoniza e depende de um Ocidente que dá sinais de dissensos sobre até onde deve manter seu apoio. O tempo está a favor da Rússia.
Como já dissemos nesta página em junho do ano passado: “Idealmente, Ucrânia e Rússia estariam provendo o mundo com energia e alimento abundantes. A Ucrânia seria uma ponte entre a Europa e a Rússia, a qual seria uma ponte entre o Ocidente, a China e o Oriente, em um mundo seguro e economicamente aberto. Mas esse ideal de paz, justiça e prosperidade nunca esteve tão distante”. Hoje, está ainda mais.
Idealmente, o conflito deveria terminar com paz e justiça. Mas essa combinação é impraticável por uma dissonância entre o poder e a legitimidade: as ambições de Putin são ilegítimas, mas ele tem poder para ferir a Ucrânia e ameaçar o mundo. Se a platitude esposada por muitos, como o presidente Lula, de que “quando um não quer, dois não brigam”, é equivocada ante uma invasão criminosa, o fato é que uma guerra só termina quando as duas partes querem. E não há sinal dessa disposição por parte da Rússia – e tampouco da Ucrânia, que, a exemplo do que faria qualquer país soberano, não aceitará passivamente a pilhagem de seu território por um regime delinquente.
Há um limite nos objetivos dos adversários dos russos: assegurar a soberania e a democracia da Ucrânia e restaurar as fronteiras pré-2022 – no máximo as de 1991. Os objetivos de Putin são ilimitados: retomar a Ucrânia e outras partes do império russo. Ele está mobilizando a Rússia para um confronto civilizacional contra o Ocidente que pode durar toda uma geração. Para tanto, busca o apoio da China e conta com o esmorecimento da resolução ocidental – meta que poderia ser atingida com uma eventual eleição de Donald Trump em 2024.
O Ocidente precisa se preparar para essa guerra longa, de imediato fornecendo mais armas para que a Ucrânia ganhe posições na batalha. Com tanques e eventualmente caças, isso é possível. Ainda assim, será preciso se preparar para as retaliações de Putin. Isso implica modernizar arsenais para dissuadi-lo de uma escalada e concertar meios de financiar e armar a Ucrânia para garantir sua resiliência, eventualmente integrando-a à União Europeia e mesmo à Otan. Mais do que isso, terá de vencer a batalha da opinião pública em seus países e no mundo. A resiliência ocidental pode afinal virar a mesa, levando o povo russo a se dar conta de que não pode vencer a guerra e a forçar o Kremlin a uma solução de compromisso.
Os dilemas atuais foram resumidos por Henry Kissinger: “A busca pela paz e a ordem tem dois componentes que são por vezes tratados como contraditórios: a busca de elementos de segurança e a exigência de atos de reconciliação. Se não pudermos conquistar ambos, não atingiremos nenhum”. Manter o equilíbrio desses elementos, balanceando a força e a diplomacia, é crucial neste momento em que o mundo está numa posição equidistante e volátil entre uma nova paz e uma nova guerra mundial.
por Notas & Informações
UCRÂNIA - O diretor dos serviços secretos militares ucranianos afirmou ontem, 22, na edição ucraniana da revista Forbes, que Moscovo já iniciou a esperada "grande ofensiva" no leste da Ucrânia, mas faltam-lhe mísseis e munições para alcançar os seus objetivos estratégicos.
"A grande ofensiva que eles têm em mente já está em marcha", declarou Kyrylo Budanov, apesar de esta ser, acrescentou, pouco percetível devido às carências em matéria de armamento e de munições das forças russas.
Segundo o responsável máximo dos serviços secretos militares ucranianos, "o objetivo estratégico de Moscovo é chegar antes de 31 de março às fronteiras administrativas das regiões de Lugansk e Donetsk", dois territórios do leste da Ucrânia que a Rússia parcialmente ocupa e nos quais decorrem os combates mais intensos.
Budanov mostrou-se convicto de que o Kremlin não tem condições para cumprir tal objetivo, dado o ritmo acelerado a que está a esgotar munições e mísseis e ao pouco treino dos novos soldados que mobilizou.
Segundo o responsável, nem a produção da indústria armamentista russa nem as importações iranianas têm capacidade para compensar o desperdício de armamento e munições sofrido pela Rússia em batalhas como a que atualmente se trava pelo controlo da cidade de Bakhmut, na região de Donetsk.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de oito milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 364.º dia, 7.199 civis mortos e 11.756 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
LUSA
PARIS - A União Europeia não concorda com o Comitê Olímpico Internacional, que está defendendo a inclusão da Rússia e Belarus nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris em 2024. Os países europeus do bloco fizeram uma resolução contra a iniciativa do COI para as próximas Olimpíadas. A moção foi aprovada com 444 votos a favor, 26 contra e 37 abstenções.
A resolução marca o aniversário de um ano da guerra que estremeceu o mundo inteiro. As invasões russas à Ucrânia começaram no dia 24 de fevereiro de 2022. A UE acredita que a participação da Russia e Belarus nos Jogos vão ser usados por ambos os regimes para fins de propaganda e que contrariaria o isolamento amplo dos dois países. O bloco ainda espera que os 27 países membros pressionem o COI a reverter a decisão. O Comitê afirmou que seria discriminatório excluir a Rússia e Belarus.
- A hipocrisia do presidente do COI e do Comitê é simplesmente patética. Um país que comete uma agressão condenada pela grande maioria da Assembleia Geral da ONU perde o direito de competir nos Jogos Olímpicos. Isso também se aplica a todos os seus atletas - afirmou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba.
Depois da mudança de postura do COI, a Ucrânia está considerando um boicote aos Jogos Olímpicos de Paris. Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, comentou afirmando que seria uma violação da Carta Olímpica. Dmytro Kuleba, respondeu.
- Esta (o boicote) é uma das várias opções. Se atletas russos e belarrussos viessem a Paris em vez de atletas ucranianos, isso seria contra todos os padrões morais, esportivos e políticos. A maioria dos atletas russos que ganharam medalhas nos últimos Jogos Olímpicos representaram clubes esportivos do exército russo - completou Kuleba.
Por Redação do ge
NOVA YORK - As Nações Unidas atualizaram, esta terça-feira, o número de vítimas civis do conflito armado na Ucrânia para 8.006. Mas dados estão aquém da realidade, alerta a ONU.
Segundo as Nações Unidas (ONU), já morreram na Ucrânia, desde a invasão russa que iniciou a 24 de fevereiro de 2022, pelo menos 8.006 civis. Há, também, pelo menos 13.287 civis que ficaram feridos como consequência da ação armada do Kremlin, garante a ONU.
“Estes números, que estamos a publicar hoje [terça-feira], revelam a perda e o sofrimento infligidos às pessoas desde o início do ataque armado da Rússia a 24 de fevereiro do ano passado, sofrimento que vi pessoalmente quando visitei a Ucrânia em dezembro. E os nossos dados são apenas a ponta do iceberg”, disse o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, no comunicado publicado no site oficial deste braço da ONU.
A ONU revela ainda que, numa altura em que se vive uma forte escassez de eletricidade, cerca de 18 milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária e perto de 14 milhões de pessoas foram deslocadas das suas casas.
Cerca de 90,3 por cento das baixas civis foram causadas por armas explosivas com efeitos de ampla área, indicaram as Nações Unidas, incluindo projéteis de artilharia, mísseis de cruzeiro e balísticos e ataques aéreos.
A Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022, numa missão por "desnazificar" o país, argumentou o presidente russo, Vladimir Putin.
por José Miguel Pires / NOTÍCIAS AO MINUTO
RÚSSIA - O presidente russo, Vladimir Putin, acusou na terça-feira (21) os países ocidentais de usar o conflito na Ucrânia para “acabar” com a Rússia e os responsabilizou pela escalada, em seu discurso anual à nação.
“As elites do Ocidente não escondem seu objetivo: infligir uma derrota estratégica à Rússia, ou seja, acabar conosco de uma vez por todas”, disse ele, em discurso três dias antes do primeiro aniversário da ofensiva russa na Ucrânia.
“A responsabilidade por alimentar o conflito ucraniano, por sua escalada, pelo número de vítimas (…) recai inteiramente sobre as elites ocidentais”, disse Putin, reiterando que o Ocidente apoia forças “neonazistas” na Ucrânia para consolidar um Estado anti-russo.
Um alto funcionário dos EUA chamou as acusações de Putin de “absurdas”.
“Ninguém está atacando a Rússia. É absurdo pensar que a Rússia está sob qualquer tipo de ameaça militar da Ucrânia ou de qualquer outro país”, disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.
Em seu discurso, o presidente russo afirmou ainda que continua determinado, um ano após o início da ofensiva na Ucrânia, a continuar.
“Vamos resolver passo a passo, cuidadosa e sistematicamente, os objetivos diante de nós”, disse Putin.
Diante da elite política do país e dos militares que lutaram na Ucrânia, ele também agradeceu “a todo o povo russo por sua coragem e determinação”.
Referindo-se às sanções internacionais que afetam a Rússia, Putin avaliou que os ocidentais “não alcançaram nada e não alcançarão nada”, já que a economia russa resistiu melhor do que os especialistas previam.
“Garantimos a estabilidade da situação econômica, protegemos os cidadãos”, disse Putin, avaliando que o Ocidente não conseguiu “desestabilizar” a sociedade russa.
RÚSSIA - A Rússia acusou de crimes de guerra 680 funcionários da segurança ucraniana, comandantes das Forças Armadas e dirigentes do ministério da Defesa, disse o presidente do Comité de Investigação da Rússia, numa entrevista publicada hoje pela imprensa russa.
"Atualmente, 680 pessoas estão a ser processadas. Foram também determinadas medidas para acusar 403 pessoas (...)", declarou Alexander Bastrikin numa entrevista divulgada hoje pela agência de notícias oficial TASS.
De acordo com Bastrikin, entre os acusados de usar meios e métodos de guerra proibidos estão 118 pessoas que são comandantes e líderes das Forças Armadas da Ucrânia e do Ministério da Defesa da Ucrânia.
O presidente do Comité de Investigação da Rússia - subordinado diretamente ao Kremlin - sublinhou que para 136 pessoas foi decretada a detenção à revelia.
Segundo Bastrikin, as ações das forças de segurança ucranianas estão a ser criminalizadas com base no artigo do Código Penal da Federação Russa sobre o uso de armas com propriedades altamente lesivas contra a população civil, incluindo aquelas com ogivas de fragmentação.
Este artigo prevê igualmente a responsabilidade "por maus-tratos à população civil".
O Comité de Investigação da Rússia abriu também mais de 150 processos criminais por informações que "desacreditam" as Forças Armadas russas desde o início da guerra na Ucrânia, há quase um ano, e acusou 136 pessoas no âmbito de este tipo de crime.
"Foram iniciadas 152 acusações criminais, das quais foram processadas 136 pessoas (...)", disse Bastrikin à TASS, acrescentando que "16 sentenças já foram proferidas".
por Lusa
CHINA - A China negou nesta segunda-feira (20) que esteja estudando fornecer armas à Rússia para apoiar a sua ofensiva na Ucrânia, como alegou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, no fim de semana. O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, está em Moscou para negociações sobre um possível plano de paz na Ucrânia, segundo jornal russo.
“O objetivo desta visita é fortalecer o papel de Pequim na resolução da questão ucraniana", escreve Kommersant em sua edição de hoje. De acordo com a publicação, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, já teria desembarcado em Moscou, nesta segunda-feira (20), para negociações de um futuro plano de paz na Ucrânia.
Uma fonte diplomática, no entanto, disse que Wang Yi ainda não havia chegado à capital russa, mas que ele era esperado em breve.
Na conferência anual de segurança de Munique, no fim de semana, Wang Yi reiterou o apelo ao diálogo e convidou os países europeus a "pensar com calma" em como acabar com a guerra na Ucrânia. Sem citar nomes, ele denunciou "certas forças que, aparentemente, não querem que as negociações sejam bem-sucedidas ou que a guerra termine rapidamente".
China acusa EUA de espalhar informações falsas
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Wang Wenbin, disse que a China "não admite que os EUA critiquem as relações entre Pequim e Moscou, muito menos que exerçam pressão e coerção", acusando Washington de "espalhar informações falsas".
“Pedimos aos Estados Unidos que reflitam seriamente sobre suas próprias ações e façam mais para acalmar a situação, promover a paz e o diálogo, parar de culpar os outros e espalhar informações falsas”, disse o porta-voz chinês, nesta segunda-feira. .
"A posição da China no caso da Ucrânia pode ser resumida em uma frase, que é encorajar a paz e promover o diálogo", insistiu. "São os Estados Unidos e não a China que constantemente enviam armas para o campo de batalha", acrescentou.
No domingo, depois de se encontrar com o seu colega chinês, Wang Yi, em Munique, à margem da Conferência de Segurança, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, alertou que a China estava considerando fornecer armas à Rússia. "Conversamos sobre a guerra liderada pela Rússia e as preocupações que temos de que a China esteja planejando fornecer apoio letal à Rússia", disse Blinken à emissora americana CBS. Questionado sobre o que isso implicaria concretamente, o chefe da diplomacia americana respondeu: "Principalmente armas".
Blinken alertou sobre "implicações e consequências" para a China se for descoberto que o país está fornecendo "apoio material" à Rússia para a guerra na Ucrânia ou ajudando Moscou a escapar das sanções ocidentais, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price.
Nesta segunda-feira, o chefe da diplomacia europeia Joseph Borrell advertiu que o fornecimento de armas da China à Russia é um limite para o bloco que não deve ser ultrapassado.
Presente em Munique no sábado, a vice-presidente americana, Kamala Harris, também questionou a neutralidade demonstrada pela China. Os Estados Unidos estão "preocupados com o fato de Pequim ter aprofundado suas relações com Moscou desde o início da guerra", sublinhou ela. "Qualquer movimento da China para fornecer apoio letal à Rússia apenas recompensaria a agressão, continuaria a matança e minaria ainda mais uma ordem baseada em regras", alertou a vice-presidente.
(Com informações da AFP)
por RFI
UCRÂNIA - O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse nesta sexta-feira que é "óbvio" que a Ucrânia não será a última parada da invasão do presidente russo, Vladimir Putin, e que é vital que o Ocidente não atrase as entregas de armas para ajudar a repelir as forças russas.
O líder ucraniano afirmou à Conferência de Segurança de Munique por videoconferência que, enquanto o Ocidente negociava o fornecimento de tanques para Kiev, o Kremlin pensava em maneiras de "estrangular" a ex-república soviética da Moldávia, que fica a oeste da Ucrânia.
"É óbvio que a Ucrânia não será sua última parada. Ele continuará seu movimento por todo caminho... incluindo todos os outros Estados que em algum momento fizeram parte do bloco soviético", disse Zelenskiy.
Ele instou o Ocidente a manter entregas rápidas de armas.
"Atrasar sempre foi e ainda é um erro", declarou Zelenskiy.
Ele fez seus comentários iniciais em inglês ao discursar na conferência de segurança, uma reunião anual de políticos, autoridades militares e diplomatas, dias antes de a Ucrânia marcar o primeiro aniversário da invasão em grande escala da Rússia em 2022.
Apesar de seus alertas, Zelenskiy disse que não achava que a Rússia pudesse vencer.
Ele comparou a Ucrânia a Davi e a Rússia a Golias no conto bíblico em que o oprimido Davi vence. Ele afirmou que Davi derrotou Golias pela ação, e não pela conversa, e que Golias "não tem chances".
"Precisamos da velocidade, velocidade de nossos acordos, velocidade de entrega... velocidade de decisões para limitar o potencial russo", disse ele.
Reportagem de Max Hunder / REUTERS
UCRÂNIA - Colocado em evidência pela crise dos óvnis entre Estados Unidos e China, o uso militar de balões tem se intensificado na Guerra da Ucrânia. Só na quarta (15), seis artefatos espiões usados pelos russos foram abatidos no céu de Kiev.
Não há nenhuma correlação entre o episódio e a derrubada de balões pelos EUA em seu território e no Canadá, que disparou uma crise diplomática com Pequim dona de pelo menos um dos flutuantes, que disse ser apenas de uso meteorológico e fora de sua rota.
No caso ucraniano, a função dos balões era bem específica. "Esse objetos carregam refletores de radar e algum equipamento de inteligência. O propósito [dos artefatos] era possivelmente detectar e exaurir nossas defesas antiaéreas", afirmou no Telegram a Administração Militar da Cidade de Kiev.
Refletores de radar são instrumentos muito simples, criados em 1945 nos EUA e usados extensivamente na Guerra Fria. São objetos desenhados para devolver uma onda de radar para a fonte de emissão, reforçando seu sinal e posição assim, os russos podem detectar onde estão os radares de baterias antiaéreas ucranianas para futuro bombardeio.
Além disso, por consistirem em uma ameaça baratíssima, são ideais para fazer os ucranianos desperdiçarem munição antiaérea tão necessária nesta fase aguda da guerra, que completa um ano no próximo dia 24.
O episódio se soma ao avistamento de balões na Moldova e na Romênia, de origem desconhecida mas que os governos locais assumiram como russos, nesta semana. No caso moldavo, o espaço aéreo do pequeno país chegou a ser fechado.
Apesar do burburinho devido à crise EUA/China, não há nada de novo sobre uso de balões em conflitos e espionagem. Nos anos 1960, os soviéticos passaram a enviar sistemas antiaéreos para Cuba, ilha que adotou o comunismo e alinhamento com Moscou após a revolução liderada por Fidel Castro ser atacada pelos EUA com embargo e uma invasão frustrada.
A CIA (Agência Central de Inteligência) criou as chamadas operações Paládio, na qual submarinos soltavam balões com refletores justamente para ajudar seus sensores a localizar o sinal de radar das baterias antiaéreas soviéticas.
Os refletores também são usados para confundir radares e sensores inimigos. Na guerra atual, os russos criaram uma solução engenhosa para evitar o bombardeamento de pontes estratégicas usadas para envio de reforços, como mostrou o site The War Zone.
Quando a principal ponte da região de Kherson ficou sob fogo de artilharia guiada americana usada por Kiev, a Rússia instalou boias com refletores no rio Dnieper para criar uma ponte fantasma para os radares, dificultando a mira dos ucranianos.
Acabou não sendo suficiente para evitar que os russos deixassem a margem oeste do rio, e a capital homônima da região, mas demonstra que a ideia simples segue tendo validade no campo de batalha.
por IGOR GIELOW / FOLHA de S.PAULO
UCRÂNIA - Rússia voltou hoje,16, a bombardear a Ucrânia, com o lançamento de 36 mísseis, dos quais 16 foram destruídos pela defesa antiaérea, disseram as autoridades ucranianas.
O chefe do gabinete presidencial da Ucrânia disse que os alvos tinham sido atingidos no norte, oeste e sul do país.
Uma mulher de 79 anos morreu e pelo menos sete outras pessoas ficaram feridas quando os mísseis atingiram a cidade de Pavlohrad, informou o governador local, Serhiy Lysak.
A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
por Lusa
Este site utiliza cookies para proporcionar aos usuários uma melhor experiência de navegação.
Ao aceitar e continuar com a navegação, consideraremos que você concorda com esta utilização nos termos de nossa Política de Privacidade.