UCRÂNIA - Depois do anúncio da reconquista de mais de 20 localidades às forças russas, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, usou a rede social Telegram para fazer uma análise destes ganhos.
Numa declaração curta, Zelensky sublinhou que "a Ucrânia não duvida nem por um momento de si mesma, do seu futuro, da sua vitória" e assumiu acreditar que sairá vitorioso.
Ainda assim, o presidente da Ucrânia é cauteloso e assumiu que o país tem ainda um "longo caminho" pela frente para conseguir libertar o território integralmente. "Mas não há dúvidas de que vai acontecer", garantiu.
Recorde-se que o exército ucraniano anunciou hoje ter reconquistado mais de 20 localidades controladas por Moscovo na região de Kharkiv, onde reclama ter avançado 50 quilómetros nas defesas russas.
RÚSSIA - O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, assegurou nesta quarta-feira (7), que suas tropas reconquistaram localidades no nordeste ocupadas pela Rússia, à qual a ONU atribuiu "acusações confiáveis" de translado forçado de menores durante a guerra.
"Esta semana, temos boas notícias da região de Kharkiv", no nordeste, onde há "localidades nas quais a bandeira ucraniana voltou" a ser hasteada, disse Zelensky em seu discurso vespertino, sem dar maiores detalhes.
Depois de mais de um semestre de resistência à invasão, o exército ucraniano lançou contraofensivas no nordeste e no sul, na região de Kherson que, segundo os especialistas , podem perturbar as rotas de abastecimento das tropas da Rússia.
Ainda assim, o Kremlin mantém o controle sobre uma ampla faixa do território ucraniano, nos arredores de Kharkiv, nas regiões de Donetsk e Lugansk na bacia mineira do Donbass e na costa do Mar de Azov.
Nestas áreas ocupadas, o partido do presidente russo, Vladimir Putin, o Rússia Unida, propôs organizar referendos de anexação em 4 de novembro.
"O mundo russo, atualmente dividido por fronteiras formais, vai recuperar sua integridade", afirmou o secretário do Conselho Geral do partido, Andrei Turchak, em alusão às regiões de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia.
Donetsk e Lugansk são controladas em sua maior parte por separatistas pró-russos desde 2014. Antes de lançar sua ofensiva, em 24 de fevereiro, o governo russo reconheceu sua independência.
- Translado forçado -
Em um encontro do Conselho de Segurança, a vice-secretária-geral da ONU para os direitos humanos disse existirem "acusações confiáveis" sobre o translado forçado de menores da Ucrânia para a Rússia.
"Preocupa-nos que as autoridades russas tenham adotado um procedimento simplificado para conceder a cidadania russa às crianças que não estão sob a custódia de seus pais, e que estas crianças sejam elegíveis para adoção por famílias russas", disse Ilze Brands Kehris.
Ela também ressaltou que a Rússia faz controles de segurança nas regiões que ocupa que violam numerosos direitos e que pessoas próximas do governo ou do exército ucraniano foram torturadas e provavelmente enviadas a centros de detenção.
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, refutou as acusações, às quais considerou "sem fundamento", enquanto disse que os ucranianos deixaram seu país "para se salvar do regime criminoso", em alusão ao governo de Kiev.
- Capacetes azuis em Zaporizhzhia? -
Também permanece aberta a disputa pela usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia, ocupada pelas forças russas e alvo de uma inspeção recente da instância de vigilância atômica da ONU.
A Rússia pediu "esclarecimentos adicionais" nesta quarta-feira após a publicação do relatório da missão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que pediu o estabelecimento de uma "zona de segurança" em Zaporizhzhia para evitar um acidente nuclear.
Contrariando o informe da AIEA, Putin declarou que a Rússia não mobilizou equipamento militar nesta central nuclear, a maior da Europa.
Ocupada no começo de março pelas tropas russas, a usina é, há semanas, alvo de bombardeios, dos quais Moscou e Kiev se acusam mutuamente.
A Ucrânia, por sua vez, apoiou nesta quarta o envio de capacetes azuis da ONU para a central.
"Pode ser um dos meios de criar a zona de segurança na usina nuclear de Zaporizhzhia", declarou Petro Kotin, diretor da Energoatom, operadora nuclear estatal ucraniana.
- Tensão sobre a energia -
Além de milhares de mortos e milhões de deslocados, a guerra provocou uma crise energética mundial e de abastecimento de grãos, dos quais Ucrânia e Rússia são grandes exportadores.
Com a proximidade do inverno, as tensões sobre a energia aumenta entre Moscou e a União Europeia, que planeja estabelecer limites aos preços dos combustíveis russos.
"Temos que cortar a renda da Rússia, que Putin usa para financiar sua guerra atroz contra a Ucrânia", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Em um cenário assim, a Rússia suspenderá completamente o fornecimento de hidrocarbonetos à UE, alertou Putin. "Nem gás, nem carvão.... Nada", disse em um fórum econômico em Vladivostok, no extremo leste russo.
O dirigente do Kremlin também negou que esteja usando a energia como arma e assegurou que o corte do fornecimento de gás para a Europa pelo gasoduto Nord Stream se deve à escassez de peças, provocada pelas sanções ocidentais.
No mesmo fórum, Putin denunciou que a maioria dos cereais exportados pela Ucrânia em virtude de um acordo patrocinado pela ONU se dirigia a países europeus e não a países pobres.
"Isso poderia levar a uma catástrofe humanitária sem precedentes", afirmou.
A Ucrânia respondeu que estas acusações são "mentiras" e seu chefe da diplomacia, Dmitro Kuleba, assegurou que dois terços das embarcações vão para a Ásia, África e Oriente Médio.
Segundo dados de um centro de Istambul que monitora o acordo, um terço dos cereais vai para países europeus, 20% para a Turquia e outros 30% a países de renda baixa e média-baixa.
No entanto, parte das exportações enviadas a Europa e Turquia são encaminhadas a outros destinos, mediante acordos comerciais não controlados por este organismo.
LONDRES - O comandante nomeado pela Rússia para uma cidade no sul da Ucrânia ficou gravemente ferido em uma explosão nesta terça-feira, disse uma autoridade local, na mais recente de uma série de aparentes tentativas de assassinato em áreas ocupadas na região ucraniana.
Vladimir Rogov, um funcionário do governo regional de Zaporizhzhia, que é apoiado pela Rússia, disse inicialmente à Reuters e a duas agências de notícias russas que o líder de Berdiansk, Artyom Bardin, havia morrido, e culpou o governo ucraniano.
Mais tarde, Rogov postou uma mensagem online dizendo que Bardin estava lutando por sua vida depois de perder muito sangue e uma perna no ataque.
A Reuters não conseguiu verificar de forma independente qual é a condição de Bardin.
A imprensa russa disse que Bardin estava hospitalizado e em estado grave depois que seu carro explodiu do lado de fora do prédio do governo municipal de Berdiansk, na região de Zaporizhzhia, uma cidade portuária no Mar de Azov com população de cerca de 100 mil pessoas que foi capturada pelas tropas russas em fevereiro.
O vice-diretor da polícia de trânsito da cidade morreu em 26 de agosto depois de ser ferido em uma explosão de bomba, disseram autoridades locais.
Em 30 de agosto, Alexei Kovalev, um ex-parlamentar do partido do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, que mudou de lado e se tornou uma autoridade regional de Kherson com o apoio da Rússia, foi morto a tiros.
Reportagem da Reuters
UCRÂNIA - O bombardeamento constante das forças ucranianas provocou o colapso parcial de parte da ponte Antonovsky na região de Kherson, isolando as tropas russas.
De acordo com relatórios, citados pelos meios locais, as forças ucranianas voltaram a atacar a ponte estratégica na província de Kherson neste domingo, 4 de setembro. A ponte vital para os ocupantes russos desmoronou-se parcialmente após uma série de ataques de artilharia.
Imagens de vídeo publicadas nas redes sociais por Anton Yuriovich Gerashchenko, conselheiro oficial e anterior vice-ministro do Ministério da Administração Interna da Ucrânia, mostraram o momento em que a ponte Antonovsky arde.
Segundo o Euromaidan Press, o colapso parcial desta ponte será um revés para as forças russas. Uma unidade está localizada entre os rios Ingulets e Dnipro, e estes ataques ucranianos estão a torná-los ainda mais isolados.
UCRÂNIA - Uma mulher de 31 anos foi detida pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) sob acusações de ter enviado informações sobre a localização do seu marido e outros militares aos serviços secretos russos.
Num comunicado, esta sexta-feira publicado na plataforma Telegram, o SBU revelou que a mulher, residente no oblast de Dnipropetrovsk, enviou informações sobre a localização dos edifícios e equipamentos militares nas regiões de Donetsk e Zaporíjia.
“A investigação concluiu que a traidora é uma residente de 31 anos da região de Dnipropetrovsk, que começou a trabalhar para o inimigo em maio. Deu esse passo apesar de ser casada com um militar das Forças Armadas e de terem um filho em comum. O marido, na linha da frente, transferia regularmente dinheiro para o sustento da criança”, frisou o SBU.
Segundo os serviços de segurança, a mulher questionava o marido sobre a sua localização, além de outras unidades na linha da frente. Depois, “passava as informações que recebia através de mensageiros dos serviços secretos militares russos, onde eram utilizadas para artilharia e ataques aéreos”.
O conflito entre a Ucrânia e a Rússia começou com o objetivo, segundo Vladimir Putin, de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia. A operação foi condenada pela generalidade da comunidade internacional.
A ONU confirmou que cerca de 5.600 civis morreram e oito mil ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão ser conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
UCRÂNIA - A Ucrânia acusou hoje a Rússia de "manipular" a visita dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) à central nuclear de Zaporíjia, situada no sudeste do território ucraniano e atualmente sob controlo das tropas russas.
Para Kyiv, os especialistas da AIEA, organismo que integra o sistema da ONU, vão ter muitas dificuldades na elaboração de um relatório imparcial sobre a situação na central que está "sob constantes" ataques.
"O Exército russo mente, manipula e altera a realidade na central nuclear ao difundir - apenas - informações à AIEA que lhe são benéficas", denunciou a empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia (Energoatom) através de uma mensagem divulgada na rede social Telegram.
De acordo com a Energoatom, a presença de veículos militares russos na sala das turbinas (onde se encontram os reatores) "foi explicada aos especialistas da AIEA como equipamento das 'forças de defesa química'"
"Os russos não permitiram à missão a entrada no centro crise da central, onde estão presentes militares russos e que a AIEA não devia ver (...) ocultando a presença de invasores russos armados", acrescentou o mesmo texto.
A entidade estatal ucraniana alegou que os russos que ocupam a central nuclear desde o dia 04 de março, poucos dias depois do início da ofensiva militar contra a Ucrânia (a 24 de fevereiro), "bloquearam as comunicações de telemóvel e de Internet" em Energodar, a localidade onde se situa a infraestrutura, para evitarem o envio de "fotografias e vídeos" das instalações e da "cidade dormitório".
A empresa ucraniana referiu ainda que os militares russos limitaram a presença de "pessoal operacional da central" durante a visita dos peritos da AIEA.
A entidade disse também que a "maior parte dos jornalistas" presentes na entrada da central nuclear eram "propagandistas russos" e que os militares impediram a entrada de repórteres ucranianos e estrangeiros que não foram autorizados a passar os postos de controlo.
A Energoatom considera que a missão acabou por ser um "espetáculo planeado" porque estavam presentes residentes de Energodar, povoação ocupada pela Rússia e que "se queixaram de bombardeamentos por parte das Forças Armadas da Ucrânia".
"Os ocupantes mentem, alteram os factos e as provas sobre o bombardeamento da central, assim como as consequências e danos na infraestrutura das instalações. Como era esperado, culpam as Forças Armadas da Ucrânia", acusou a Energoatom.
"Nestas condições, é evidente que vai ser difícil para a AIEA fazer uma avaliação imparcial da situação da central nuclear de Zaporíjia", referiu.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, disse na quinta-feira, após a visita ao local, que "é óbvio que a central e a integridade física das instalações foram violadas várias vezes, de forma casual ou deliberada".
"Não temos elementos para fazer esta avaliação, mas é uma realidade que temos de reconhecer. É algo que não pode continuar a acontecer", pelo que a AIEA, afirmou o representante, está a "tratar de acionar certos mecanismos e estabelecer uma presença permanente" de alguns especialistas da agência das Nações Unidas na central.
O chefe da missão, que visitou "três ou quatro áreas chave que queria inspecionar pessoalmente" - como unidades de energia nuclear, geradores a diesel e salas de controlo - e que afirmou ter falado com trabalhadores e moradores de Energodar, reiterou que a "AIEA está na central e não sai do local".
Os especialistas da AIEA "vão permanecer (no local) até domingo ou segunda-feira" para aprofundarem a inspeção no sentido da elaboração de um relatório, segundo referiu Grossi, que posteriormente irá apresentar o documento à direção da agência da ONU com sede em Viena.
Sem ter especificado um número exato, o diretor-geral da AIEA indicou que um grupo de especialistas vai permanecer na central.
"Com a esperança de que possam facultar-me e a todos uma avaliação imparcial, neutral e tecnicamente sólida do que possa estar a acontecer", indicou.
Por sua vez, a Energoatom disse, na quinta-feira, que atualmente permanecem cinco técnicos da AIEA na central.
O chefe da administração provisória pró-russa de Energodar, Alexandr Volga, disse hoje à televisão estatal russa Rossia-24 que "neste momento na central ficaram oito pessoas da AIEA" mais "outras quatro que as acompanham".
Lusa
RÚSSIA - O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, advertiu hoje que qualquer ação contra os "soldados da paz" russos na Transnístria, na Moldova, será considerada um ataque à própria Rússia.
"Todos devem compreender que qualquer ação que ponha em perigo a segurança dos nossos militares será considerada, em conformidade com o Direito internacional, como um ataque à Rússia", disse Lavrov.
Tal como a Ucrânia antes da guerra iniciada por Moscovo em 24 de fevereiro deste ano, a Moldova também possui uma pequena região separatista, a Transnístria, armada e apoiada pela Rússia.
"No que diz respeito aos nossos interesses, as nossas forças de manutenção da paz estão ali estacionadas (...) protegendo o maior depósito de munições da Europa em Kolbasna", disse Lavrov, citado pela agência russa Interfax.
A Transnístria anunciou a sua separação da Moldova após uma curta guerra civil no início dos anos 1990, mas nenhum país reconheceu a independência, incluindo a Rússia.
Moscovo mantém 1.500 soldados no território, que enquadra como uma força de manutenção de paz.
A Transnístria é uma estreita faixa de terra no leste da Moldova que faz fronteira com a Ucrânia.
Tem uma população de cerca de 470.000 habitantes, maioritariamente russa e ucraniana.
Desde o início da guerra na Ucrânia, as autoridades de Kiev receiam que Moscovo possa utilizar a Transnístria para lançar ataques no sudoeste do país.
Em maio, o Estado-Maior das forças armadas ucranianas chegou a alertar que grupos armados e tropas russas na Transnístria estavam preparados para entrar em combate.
O comandante-adjunto do Distrito Militar Central da Rússia, general Rustam Minnekayev, disse, em abril, que o domínio do sul da Ucrânia também ajudaria os separatistas da Transnístria, "onde há também casos de opressão da população de língua russa".
A proteção da população de língua russa no leste da Ucrânia foi uma das justificações de Moscovo para invadir o país vizinho.
As autoridades da Moldova têm insistido que só irão recuperar a gestão da Transnístria através de negociações, rejeitando qualquer solução armada.
LUSA
UCRÂNIA - Em meio a relatos contraditórios naturais em uma guerra que antes de tudo é de propaganda, a contraofensiva anunciada pela Ucrânia para tentar retomar áreas ocupadas pelos russos no sul do país registrou combates mais intensos na terça (30).
Como seria óbvio, Kiev diz estar avançando, e Moscou, que as tentativas ucranianas foram todas rechaçadas. Em comum, apenas a concordância de que há combates em curso na região de Kherson, cuja capital homônima foi a primeira cidade significativa a ser tomada pelos russos, em 3 de março, logo após a invasão de 24 de fevereiro.
Sites ucranianos mostraram vídeos de tiroteios registrados na cidade, que tinha 280 mil pessoas antes da guerra. Não é possível assegurar sua veracidade ainda, mas a administração russa da cidade confirmou ter havido conflitos na região.
Com efeito, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, apenas disse nesta terça que "a operação militar especial segue conforme o plano", o mantra de seu chefe, Vladimir Putin. Ele respondia à ameaça feita pelo homólogo ucraniano do presidente, Volodimir Zelenski, que na noite anterior havia dito que os russos precisariam fugir para sobreviver.
A ofensiva lançada na segunda não tem um desenho ainda definido, o que gera dúvidas acerca da capacidade de Kiev de romper de forma efetiva as linhas russas, que foram reforçadas durante o mês em que a ação foi propagandeada por Zelenski no intuito de obter mais apoio militar do Ocidente.
Nesse período, a Ucrânia introduziu o emprego de sistemas de artilharia com mísseis de precisão Himars norte-americanos. Eles foram usados para atacar depósitos de munição e quartéis russos mais distantes das linhas de frente e também para ajudar a isolar a cidade de Kherson.
Como fica separada do resto do território ocupado pelos russos pelo rio Dnieper, a capital regional está em uma posição vulnerável. Pontes foram atacadas e fechadas, obrigando a construção de pontões e o uso de barcaças para transporte de suprimentos para a cidade pelos russos.
Ainda assim, uma tomada física da cidade demandaria o tipo de combate de atrito que os russos têm preferido na guerra, com grande destruição, e diferentemente de outros locais ocupados há muitos ucranianos morando ainda em Kherson.
Enquanto não se sabe o real rumo da ofensiva, alguns detalhes começam a emergir de sua preparação. Segundo o jornal americano The Washington Post, Kiev construiu diversos modelos de madeira dos lançadores Himars para enganar os russos e fazê-los desperdiçar mísseis e artilharia.
É uma tática tão antiga quanto as guerras, e nesse caso teria sido usada para atrair drones de Moscou que orientam o disparo de mísseis e obuses. Isso explicaria o alto número de sistemas Himars que os russos dizem ter destruído (6 dos 16 entregues até aqui) e o contínuo uso do armamento.
Novamente, pode ser só propaganda, como ocorre de lado a lado. Segundo o governador da região de Mikolaiv, que fica anexa a Kherson e foi o ponto em que as tropas russas pararam no seu caminho ao porto de Odessa, "combates pesados continuam". "A liberação virá logo", disse Vitali Kim a uma TV local.
Já em Kherson, o adjunto da administração russa local foi assassinado a tiros no domingo (28). Ele se chamava Alexander Kovalev e era um deputado ucraniano que mudou de lado com a invasão. O chefe dele, o também colaborador Kirill Stremusov, foi flagrado por internautas gravando um pronunciamento em vídeo de Voronej, no sul da Rússia, o que sugere que ele pode ter fugido.
Alguns vilarejos foram tomados, afirmou a mídia ucraniana, enquanto o Ministério da Defesa russo postou um vídeo de uma vila completamente obliterada, dizendo que ela havia sido "libertada". Enquanto isso, combates seguem em regiões de Donetsk, província do leste cuja parte ainda sob controle de Kiev está sob ataque desde que Moscou conquistou a vizinha Lugansk.
IGOR GIELOW / FOLHA de S. PAULO
UCRÂNIA - Combates violentos entre as forças ucranianas e o exército russo eram registrados em quase toda a região ocupada de Kherson, sul da Ucrânia, onde as tropas de Kiev iniciaram uma contraofensiva, informou nesta terça-feira (30) a presidência ucraniana.
"Durante todo o dia (segunda-feira) e toda a noite foram registradas explosões potentes na região de Kherson. Combates intensos acontecem em quase todo o território da região", afirmou a presidência em um comunicado divulgado na manhã de terça-feira.
"As Forças Armadas ucranianas iniciaram ações ofensivas em várias direções", acrescenta a nota, que cita a destruição de alguns "depósitos de munições e de todas as grandes pontes" que permitiam aos veículos atravessar o rio Dniepr.
As autoridades ucranianas anunciaram na segunda-feira o início de uma contraofensiva nesta região do sul do país, ocupada pela Rússia desde o início do conflito em fevereiro, para retomar o controle da cidade de Kherson, que tinha 2 80.000 habitantes antes da guerra.
A região, essencial para a agricultura ucraniana, também é estratégica porque faz fronteira com a península da Crimeia, anexada pela Rússia em março de 2014 e usada como base para a invasão.
A Rússia, no entanto, afirmou na segunda-feira que frustrou as ofensivas ucranianas nas regiões de Kherson e Mykolaiv.
Não foi possível verificar as afirmações russas e ucranianas com fontes independentes.
UCRÂNIA - Sob grande ceticismo de observadores militares, o governo da Ucrânia afirmou ter iniciado nesta segunda (29) sua primeira contraofensiva para tentar retomar áreas no sul do país ocupadas desde março pela Rússia.
Os detalhes ainda são escassos. "Nós começamos ações ofensivas em várias direções, incluindo na região de Kherson", afirmou a porta-voz do Comando Militar do Sul do país, Natalia Humeniuk, numa entrevista coletiva.
O site público Suspilne mostrou imagens do que seria o bombardeio na região de Mikolaiv, o ponto em que as forças russas pararam seu avanço rumo a Odessa, o principal porto do país que está sob bloqueio parcial, com exceção da saída de alguns navios com grãos.
Kiev passou as últimas cinco semanas ensaiando o ataque por terra, após uma série bem-sucedidas de bombardeios com artilharia de precisão americana de alvos logísticos russos, como depósitos de munição distantes da linha de frente. Pontes sobre o rio Dnieper, que separa a capital homônima do resto de Kherson, também foram atingidas.
Isso irritou o Kremlin, que acusou o envolvimento dos EUA de direto no conflito, o que Washington nega por temer uma Terceira Guerra Mundial. A situação da cidade Kherson ficou mais vulnerável, mas mesmo autoridades militares ucranianas afirmaram sob reserva não dispor de forças para tomá-la.
Isso levou a um impasse, pois o presidente Volodimir Zelenski e seus aliados crescentemente pressionaram por resultados de sua área militar. O temor deles é óbvio: a demora fez com que os russos reforçassem suas posições no sul, apesar dos ataques, e o inverno está chegando.
A temporada promete ser de crise acentuada, já que a disputa reduziu a quantidade de gás russo para países europeus, que impõem sanções a Moscou. Com isso, casas podem ficar sem aquecimento não só na Ucrânia, mas em toda a Europa, reduzindo o apoio de governos a Kiev.
Isso já foi admitido pelo governo alemão, cuja economia dependia muito do gás vindo da Rússia e de esquemas de fornecimento arquitetados ao longo de duas décadas entre Berlim e a gestão Vladmir Putin.
O problema para Zelenski é que o tempo está do lado de Putin, que apesar de ter a economia atingida pelas punições, tem sobrevivido politicamente a elas e tem maiores reservas. Um sinal da estratégia de prolongamento do conflito foi o anúncio de que as Forças Armadas russas terão cerca de 10% a mais de soldados a partir de 2023.
Mesmo o grande exercício militar anual russo, que ocorre de forma escalonada a cada edição por 4 dos 5 comandos do país, foi reduzido. O Vostok (Leste) começa na quinta (1º) com cerca de 50 mil homens, ante 300 mil de sua edição anterior, de 2018. A edição de 2021, ocorrida no oeste com a Belarus, teve 200 mil soldados.
O Vostok assim chama mais a atenção pela constante presença de aliados, notadamente a China, agora no contexto de uma Guerra Fria 2.0 tornada quente na Europa por Putin.
Essas restrições refletem as dificuldades russas até aqui, mas também a posição de força de Putin. Na primeira etapa da guerra, o ataque por várias frentes há seis meses, o Kremlin fracassou em tomar Kiev de supetão, mas penetrou bastante o sul ucraniano.
Na segunda, iniciada em abril, focou suas forças no Donbass, o leste do país cuja autonomia de áreas russófonas foi uma das justificativas centrais para a invasão -que buscava estabelecer um controle de Putin sobre todo o país, com ou sem ocupação, num desafio ao que é percebido como ameaça da Otan, aliança militar ocidental que se expandiu a leste após o fim da União Soviética em 1991.
O russo ali teve mais sucesso, de forma bastante lenta e sangrenta. Conquistou a província de Lugansk e avançou no restante que ainda não controla da de Donetsk, mas num atrito tão intenso que o último ganho territorial importante ocorreu em junho. Mas consolidou um corredor terrestre entre o Donbass e a Crimeia, anexada sem luta em 2014, desenhando um novo mapa.
No fim de julho, uma nova etapa do conflito se desenhou com ataques renovados de Moscou e a ação ucraniana com armas ocidentais, que prenunciava uma contraofensiva que agora diz estar em curso. Houve também ataques pontuais em áreas da Crimeia, de efeito mais psicológico. Há dúvidas acerca da capacidade de Kiev de, por exemplo, tomar e reocupar Kherson, mas os dias dirão a realidade.
Para Putin, a curva de aprendizado com os erros táticos até aqui se mostrou ambígua. Seu poder político segue inabalável, ao contrário do que previam comentaristas ocidentais, e a opção por uma guerra de atrito ao estilo do segundo conflito mundial só choca quem não conhece a mentalidade militar russa.
Mas a sucessão de problemas e a resistência ucraniana, alimentada com armas da Otan, têm desmoralizado a modernização propagandeada de suas Forças Armadas. Concorre também o isolamento internacional e, agora, a crise na usina nuclear de Zaporíjia.
Ocupada pelos russos, a região é palco de combates, com ambos os lados acusando o outro de perigosos bombardeios que podem gerar um desastre nuclear. Uma comissão da Agência Internacional de Energia Atômica deverá enfim ir até lá nesta semana para avaliar os riscos. Um eventual cessar-fogo na região poderá servir de base para uma retomada de negociações entre Kiev e Moscou, apesar de isso ser remoto hoje.
IGOR GIELOW / FOLHA de S. PAULO
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