UCRÂNIA - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse nesta terça-feira (2) que suas forças não conseguiram superar as da Rússia em armas pesadas nem em quantidade de soldados desde a invasão russa no país.
"Isso é muito sentido em combate, especialmente no Donbass [o leste ucraniano]. É simplesmente um inferno lá. Não consigo descrever", disse em discurso.
A declaração de Zelenski, em certa medida, contrasta com o tom adotado por ele nas primeiras semanas do conflito. Na época, Kiev acreditava que a resistência de seus soldados e o envio de equipamentos militares pelo Ocidente dissipariam as forças russas.
Mais de cinco meses após a invasão, porém, a Ucrânia tem dificuldades em lutar contra os russos no sul e no leste do país. A maior parte do Donbass, por exemplo, está sob domínio do Kremlin ou de separatistas apoiados por Moscou.
UCRÂNIA - Nesta terça-feira (02), as autoridades ucranianas iniciaram a "retirada obrigatória" da população da região de Donetsk, no leste da Ucrânia.
A vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, que é responsável pela reintegração dos territórios ocupados, anunciou o primeiro transporte para crianças, mulheres, idosos e pessoas com mobilidade reduzida, refere o portal oficial Ukrinform.
Segundo comunicado oficial do governo, o primeiro comboio partiu da região leste da Ucrânia numa altura em que se intensificam os combates, e espera-se que chegue na quarta-feira até Kropyvnytskyi.
A vice-primeira-ministra disse ainda que Kiev garante a segurança aos deslocados e a posterior recolocação em zonas seguras como para Lviv e outras cidades do oeste do país, onde estão sendo preparados alojamentos de acolhimento a esses refugiados.
No fim de semana o governo ucraniano anunciou a decisão de proceder à "retirada obrigatória" dos civis de Donetsk.
O chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, através de uma mensagem difundida pelo Telegram, pediu aos habitantes para se retirarem da zona assegurando assistência na deslocação assim como apoio económico.
"Confiem em mim", afirmou Zelensky, admitindo que ainda há "milhares de pessoas" que não querem abandonar o local.
Na semana passada uma nota foi divulgada pelo chefe de administração ucraniana de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, dizendo que em julho morreram na sequência de ataques russos "662 pessoas" e 1711 ficaram feridas.
RÚSSIA - Autoridades russas informaram no domingo (31/07) que um ataque com drone carregado de explosivos feriu cinco pessoas no quartel-general da sua frota no Mar Negro, na Crimeia anexada.
O governador russo de Sebastopol, Mikhail Razvojayev, postou em sua conta do Telegram a seguinte mensagem: "Esta manhã, nacionalistas ucranianos decidiram estragar o Dia da Frota Russa", em referência à data que é comemorada na Rússia neste domingo. "Um objeto não identificado voou para o pátio da sede da frota, segundo dados preliminares, era um drone. Cinco pessoas ficaram feridas, são funcionários da sede da frota, não houve vítimas fatais", completou.
Após a explosão, todas as festividades do Dia da Frota Russa "foram canceladas por razões de segurança", disse Razvojayev, pedindo aos moradores de Sebastopol que não deixem suas casas "se possível".
O ataque é o mais recente revés para a frota do Mar Negro durante a guerra contra a Ucrânia. Em abril, a Ucrânia afundou o principal navio da frota do Mar Negro, o cruzador Moskva. Até hoje não está claro quantos marinheiros foram mortos no ataque.
As autoridades ucranianas, por sua vez, negaram estar por trás do ataque sem precedentes, descrevendo as acusações russas como "provocação deliberada".
O anúncio de um "suposto ataque ucraniano à sede da frota russa em Sebastopol" é "uma provocação deliberada", disse Serguii Bratchuk, porta-voz da administração regional de Odessa (sul da Ucrânia), em um vídeo no Telegram. "A libertação da Crimeia ucraniana ocupada acontecerá de outra maneira muito mais eficiente", acrescentou.
As acusações russas foram feitas horas antes de o presidente russo Vladimir Putin anunciar, em discurso em São Petersburgo, que sua Marinha seria equipada "nos próximos meses" com um novo míssil de cruzeiro hipersônico Zircon, que "não conhece obstáculos".
A frota russa "é capaz de infligir uma resposta devastadora a todos aqueles que decidirem atacar a nossa soberania e liberdade", assegurou Putin, ressaltando que os seus equipamentos militares "estão sujeitos a melhorias contínuas". A entrega dos mísseis Zircon "às Forças Armadas russas começará nos próximos meses", disse ele.
Ataques russos
No sul da Ucrânia, as autoridades de Mykolaiv apontaram neste domingo que a cidade havia sido alvo de intensos bombardeios russos, "os mais fortes" desde o início da guerra, que deixaram pelo menos dois mortos: um magnata do setor agrícola e sua esposa, que morreram após terem a mansão atingida por um míssil russo.
De acordo com o prefeito da cidade, Oleksandre Senkevych, "explosões poderosas" foram ouvidas duas vezes durante esta madrugada.
Outros ataques atingiram as regiões de Kharkiv (leste) e Sumy (nordeste).
Na noite de sábado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu aos moradores da região de Donetsk que deixassem a região para escapar do "terror russo" e dos bombardeios neste território no leste do país, em grande parte sob o controle de Moscou. "Foi tomada uma decisão do governo sobre a evacuação obrigatória da região de Donetsk", disse Zelensky em vídeo. "Quanto mais moradores deixarem a região de Donetsk agora, menos pessoas o exército russo matará", completou.
Pelo menos 200.000 civis ainda vivem nos territórios da região de Donetsk que ainda não estão sob ocupação russa, segundo uma estimativa das autoridades ucranianas.
jps (AFP, Reuters, ots)
UCRÂNIA - Enquanto os militares ucranianos aumentam seus ataques na ofensiva para retomada da região de Kherson, no sul do país, outra força vem trabalhando ao seu lado. É o exército da resistência ucraniana - uma rede de agentes e informantes operando atrás das linhas inimigas.
Nossa viagem para encontrar os combatentes da resistência ucraniana nos leva através de um cenário com as cores da bandeira ucraniana - entre girassóis amarelos e o céu azul - até Mykolaiv, a primeira cidade importante em território controlado pela Ucrânia a oeste de Kherson, que se tornou o quartel-general da facção no front do sul do país.
Passando pelos postos de controle militares, vemos enormes outdoors mostrando um vulto encapuzado, sem rosto, e um aviso: "Kherson: a resistência vê tudo". A imagem foi criada para deixar os ocupantes russos da região nervosos e elevar o ânimo das pessoas que acabaram sob seu controle.
"A resistência não é um grupo - é resistência total", insiste o homem à minha frente. Sua voz parece um pouco abafada pela máscara preta que ele ergue do pescoço para esconder seu rosto enquanto o filmamos, em um quarto que não posso descrever para que não possa ser encontrado.
Vou chamá-lo de Sasha (nome fictício).
'Não conseguia ficar em casa'
Pouco antes da guerra, a Ucrânia reforçou suas Forças Especiais, em parte para formar e gerenciar um movimento de resistência. Foi até publicado um boletim eletrônico com instruções sobre como ser um bom membro da resistência, ensinando a cometer atos subversivos como cortar os pneus dos veículos de ocupação, acrescentar açúcar aos tanques de gasolina ou recusar-se a seguir ordens no trabalho. "Demonstre má vontade", era uma das sugestões.
Mas a equipe de informantes de Sasha tem um papel mais ativo: rastrear os movimentos das tropas russas dentro de Kherson.
"Digamos que ontem tivéssemos visto um novo alvo. Nós enviamos essa informação para os militares e, depois de um dia ou dois, ele não existe mais", afirma ele, enquanto examinamos alguns dos muitos vídeos das regiões vizinhas que ele manda todos os dias.
Um desses vídeos é de um homem que passou de carro por uma base militar e filmou veículos russos e outro é uma gravação de circuito fechado de TV enquanto passavam caminhões russos, assinalados com suas gigantes marcas de guerra em "Z".
Sasha descreve seus "agentes" como ucranianos "que não perderam a esperança na vitória e querem a liberação do nosso país".
"É claro que eles têm medo", ele conta. "Mas servir o seu país é mais importante."
Trabalhando ao lado de Sasha, existe uma equipe que pilota drones sobre Kherson para identificar alvos para os militares. Todos são voluntários civis, não soldados, que arrecadam dinheiro nas redes sociais para pagar o alto custo do seu equipamento.
O encarregado das operações cultivava plantas decorativas antes da guerra, mas Serhii conta que ele entrou na luta para liberar o sul da Ucrânia depois de ver os corpos de civis executados na cidade de Bucha durante a ocupação russa na região. "Eu simplesmente não conseguia ficar em casa depois daquilo", ele conta. "Eu não sabia o que mais poderia fazer ou pensar, enquanto essa guerra continua."
Mas a tarefa que ele escolheu é extremamente perigosa. Sua equipe de quatro pessoas é bombardeada pelos russos toda vez que sai às ruas, mas ninguém foi morto.
"Sei que, até certo ponto, é questão de sorte." Serhii dá de ombros e abre um pequeno sorriso. "Mas, pelo menos, se acontecer comigo, saberei que foi por uma causa."
Os membros da resistência estão lutando para evitar que o domínio russo sobre Kherson se torne permanente. A ideia é impedir um referendo que Moscou parece estar planejando na região.
A Rússia já introduziu o rublo e suas próprias redes de telefonia móvel em Kherson e está espalhando sua propaganda, com seus canais de TV estatais, pelos lares ucranianos. Jornalistas locais fugiram ou agora são clandestinos.
O chefe de operações da região, Dmytro Butrii, exilou-se na cidade de Mykolaiv em uma pequena área de retaguarda protegida por sacos de areia. Ele defende que uma votação para integrar a Rússia seria uma farsa, "fake total", e não seria reconhecida por nenhum governo "civilizado".
Mas, atualmente, isso não teria muita importância para Moscou. Para a Rússia, trata-se de uma região estratégica: é a fonte de água da Crimeia, anexada ilegalmente por Moscou em 2014, e a última parte da tão discutida "ponte por terra" - uma faixa de território que liga a Rússia propriamente dita à península ocupada.
Alguns moradores locais mudaram de lado para ajudar os russos. Por isso, a equipe de Sasha está formando um banco de dados desses "colaboradores", com informações internas.
"É para que ninguém possa dizer mais tarde que estava com a resistência", explica ele.
Mas também é para intimidação. Os membros da resistência são incentivados a afixar cartazes ameaçadores nas paredes das casas dos colaboradores, com desenhos que incluem o rosto da pessoa e um caixão, ou um cartaz de "procura-se", oferecendo grandes recompensas pela sua morte. Os ativistas fotografam o resultado e enviam para Sasha.
"Existem muitas pichações", segundo ele. "As pessoas escrevem coisas como 'dane-se o seu referendo' e colam seus cartazes."
Sasha descreve seus últimos relatos de Kherson. "Isso mostra como as pessoas não têm medo. Em uma cidade com patrulhas militares por toda parte, eles conseguem imprimir folhetos e andar com cola, sabendo que podem ser parados a qualquer momento e que as coisas podem terminar muito mal."
Tem havido uma série de tentativas de assassinato de pessoas que passaram a apoiar os russos. Um blogueiro foi baleado, um funcionário do governo instalado pela Rússia foi morto e outros ficaram feridos em carros bombardeados.
Agora, as pessoas proeminentes que mudaram de lado sempre usam coletes à prova de balas. Os homens que conheci afirmam que não têm nada a ver com os ataques, mas também não expressam pesar pelos acontecimentos.
"Não tenho palavras para eles, a não ser 'traidores' e 'escória'", afirma Sasha. "Eles são nossos inimigos."
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, segue afirmando que sua invasão da Ucrânia é uma operação de "libertação". Mas, em Kherson, suas tropas lideram pela força e pelo medo.
Desde que as forças russas ocuparam a região, em março, centenas de pessoas já foram detidas e muitas delas torturadas. Algumas desapareceram, sem que se tivesse notícias delas por semanas. Outras foram encontradas mortas ou seus corpos foram devolvidos em sacos para os parentes pela custódia russa.
Fontes na cidade descrevem soldados patrulhando as ruas e ônibus parados aleatoriamente para checar todos os passageiros. A mais leve indicação de apoio à Ucrânia, como mensagens ou fotos no seu celular, pode levar à prisão.
Cada vez que Oleh sorri em frente ao espelho, os espaços onde antes ficavam seus dentes são uma lembrança dos espancamentos cometidos pelos seus interrogadores russos. Ele conta que também teve sete costelas quebradas - e três delas ainda não estão curadas. Seu nome verdadeiro não é Oleh, mas ele pediu para não revelar sua identidade.
Membro da resistência, ele testemunhou a tortura de outro prisioneiro, Denys Mironov, que morreu sob a custódia russa.
Acusações de 'nazismo'
Oleh conta com detalhes assustadores o que aconteceu depois de 27 de março, quando ele e Denys foram capturados na rua. Ele descreve torturas constantes nas primeiras horas, que envolveram choques elétricos, asfixia e ameaças de morte. Ele tem certeza de que seus interrogadores eram do FSB, o serviço de segurança russo.
Em dado momento, ele ficou tão desesperado que pensou em pôr fim à própria vida, chegando a atacar um guarda para que atirasse nele.
"Eles estavam procurando nazistas e me batiam porque eu era careca. Eles contavam que tinham capturado um nazista maldito", responde ele, quando pergunto quais informações seus captores queriam. "Quando eles tiraram minhas roupas, viram que eu usava uma cueca dos Simpsons. Então disseram que eu era um agente americano e me puniram por isso."
Um mês antes, quando os russos invadiram a Ucrânia, Oleh e Denys haviam entrado para a defesa territorial, um exército de voluntários ucranianos. Mas grande parte dela se desfez com as primeiras explosões e as forças restantes em Kherson foram rapidamente vencidas. Os homens então entraram para a resistência, trabalhando contra os russos no lado de dentro.
"Conseguimos informações sobre onde estavam as bases das forças deles, quando eles se movimentavam e passamos tudo para os militares", explica Oleh. Ele acrescenta que se envolveu em muitas outras atividades que não pode comentar.
Outro membro da resistência que conheci contou ter ajudado as forças ucranianas a escapar em barcos pelo rio Dnipro quando ficavam cercadas e afirma ter roubado armas dos russos. "Contarei o resto quando ganharmos", diz ele, rindo, quando o pressiono para contar mais.
Denys tem 43 anos de idade, é casado e tem um filho. Comerciante de frutas e verduras antes da guerra, ele começou dirigindo uma van com pão pela cidade de Kherson, entregando comida e buscando informações enquanto saía.
Ele e Oleh também recolhiam armas, preparando-se para participar da batalha pela libertação de Kherson assim que a Ucrânia lançasse a contraofensiva que todos esperavam. Mas os dois homens foram detidos e torturados.
Pedi ao FSB russo explicações sobre o que aconteceu com estes e outros homens, sem resposta.
Oleh só viu Denys novamente no meio da primeira noite. Ele respirava com dificuldade e mal conseguia andar. Mesmo assim, ele apanhou dos guardas mais uma vez.
"Eles bateram nele na virilha e no rosto. Depois, dois homens com cassetetes tiraram suas calças e começaram a bater perto dos rins", conta Oleh, relembrando como a fita que segurava um saco sobre sua cabeça havia ficado solta o suficiente para que ele pudesse ver.
"Claramente, seus pulmões haviam sido perfurados e ele estava muito machucado", ele conta. "Mas, se ele tivesse recebido ajuda a tempo, sua morte poderia ter sido evitada. É horrível."
Em 18 de abril, os homens foram transferidos para uma unidade na Crimeia e, no dia seguinte, Denys foi finalmente levado para um hospital militar, onde Oleh tinha certeza de que ele se recuperaria.
A família de Denys Mironov soube da sua morte apenas um mês depois, quando ele foi devolvido para a Ucrânia como parte de uma troca de corpos.
Muitas pessoas saíram de Kherson em busca de segurança assim que os russos tomaram o controle. O governo ucraniano recentemente incentivou outras pessoas a evacuar a cidade, alertando que uma operação militar para retomar a região era iminente. Mas sair de Kherson não é fácil.
As autoridades russas limitam o número de veículos que atravessam a linha de combate e apenas uma rota para as áreas controladas pela Ucrânia está aberta, que é a estrada que leva ao norte, até a cidade de Zaporizhzhia.
Diversos postos de controle dos militares no caminho tornam a viagem impossível para os homens ucranianos com idade para o combate. Até as mulheres e as crianças enfrentam semanas de espera por lugares nos ônibus gratuitos de evacuação ou pagam tarifas exorbitantes pelas vagas em carros particulares.
Mas centenas de pessoas ainda fogem todos os dias. Elas pulam dos ônibus ou saem de carros superlotados pouco antes do pôr-do-sol em um estacionamento de supermercado em Zaporizhzhia, que também serve de área de recepção para as pessoas forçadas a exilar-se no seu próprio país.
Os adultos parecem exaustos e os sorrisos das crianças são tímidos, como se não tivessem certeza se já estão em segurança. Um jato de fumaça sai do capô de um carro azul da marca russa Lada, como se estivesse prestes a explodir.
Depois das verificações de segurança, voluntários oferecem roupas e comida. Alguns se reúnem com lágrimas aos parentes que estavam à sua espera.
Não podemos viajar para Kherson agora que ela está ocupada, mas o estado de espírito das pessoas traz grandes revelações sobre a vida naquela cidade.
Mesmo em solo controlado pelos ucranianos, as pessoas têm cuidado com o que falam. "Os russos vão ver isso?", perguntam alguns dos recém-chegados antes que eu filme ou mesmo grave suas declarações. Outros balançam a cabeça quando me aproximo e se afastam do meu microfone.
"Lá está difícil, os russos estão em toda parte", conta Alexandra, balançando sua filha Nastya nos joelhos, no banco de trás de um carro.
Dentro da tenda de atendimento, uma mulher idosa está em pé com duas sacolas, com olhar perdido e isolado. Tentando controlar as lágrimas, Svitlana conta que fugiu de Kherson porque seus nervos estão em frangalhos, mas seu marido recusou-se a vir com ela. "Ele disse que está esperando o Exército ucraniano chegar e nos libertar", ela conta.
A noite começa a cair e mais veículos chegam. Um homem admite que sua família está fugindo de algo além dos mísseis. "Nós sabemos que há pessoas desaparecendo, é verdade", ele conta, sem dar seu nome. "Em Kherson, você não pode sair à noite."
O perigo dos bombardeios aumentou nos últimos dias nos dois lados da linha de combate no sul da Ucrânia.
Em Mykolaiv, os dias normalmente começam com explosões às 4 da manhã. No lado sul, os locais de lançamento russos estão tão próximos que a sirene de advertência só é desligada depois que o primeiro míssil atinge a terra.
Em uma manhã, abrigada no porão do hotel, contei pelo menos 20 explosões na cidade, algumas tão próximas que sacudiram o edifício. Quando o toque de recolher terminou, encontramos uma escola próxima em ruínas, com o balanço do parquinho coberto na grossa poeira cinza do ginásio esportivo destruído.
Os ataques ucranianos também aumentaram em número e impacto, depois que bombas mais poderosas fornecidas pelo ocidente chegaram à região e estão fazendo a diferença.
Moradores da cidade de Kherson registraram diversos ataques a depósitos de munição da Rússia. Pontes sobre o rio Dnipro, incluindo a importante ponte Antonivskiy, também foram atingidas diversas vezes, interrompendo as linhas de fornecimento da Rússia.
A operação de retomada de Kherson pode estar próxima.
Sasha acredita que muitas das pessoas que permaneceram na cidade estão prontas para ficar e lutar. Aquelas com quem falei afirmam que o apoio ao domínio russo é mínimo e que as buscas, detenções e espancamentos nos últimos meses reduziram ainda mais esse apoio.
"Quando o exército começar a invadir, as pessoas estarão prontas e irão ajudar", afirma Sasha.
Depois da sua experiência brutal sob custódia russa, Oleh já está de volta ao front no sul da Ucrânia para lutar pela sua cidade, ao lado da resistência ucraniana.
"Eles podem conquistar a terra, mas não podem conquistar as pessoas", segundo ele. "Os russos nunca estarão seguros em Kherson, pois as pessoas não os querem ali. Elas não gostam deles. Elas não vão aceitá-los."
Fotos de Sarah Rainsford
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62345144
UCRÂNIA - A queda rápida da central nuclear de Chernobyl na tarde de 24 de fevereiro não foi ao acaso, acreditam as autoridades. Em menos de duas horas, e sem combate, os 169 membros da Guarda Nacional Ucraniana depuseram as suas armas. A Rússia tinha tomado Chernobyl, um repositório de toneladas de material nuclear e um posto de reabastecimento chave na aproximação a Kyiv.
Uma investigação da Reuters descobriu que o sucesso da Rússia em Chernobyl não foi um acidente, mas sim parte de uma operação de longa data do Kremlin para se infiltrar no Estado ucraniano com agentes secretos.
Cinco pessoas com conhecimento dos preparativos do Kremlin disseram que os conselheiros de Putin acreditavam que, ajudados por estes agentes, a Rússia precisaria apenas de uma pequena força militar e alguns dias para forçar a administração do presidente ucraniano Zelensky a desistir, fugir ou capitular.
Através de entrevistas com dezenas de funcionários na Rússia e na Ucrânia e de uma revisão dos documentos e declarações dos tribunais ucranianos aos investigadores, relacionadas com uma investigação sobre a conduta das pessoas que trabalharam em Chernobyl, a Reuters estabeleceu que esta infiltração atingiu um nível muito mais profundo do que aquele que foi publicamente reconhecido. Os funcionários entrevistados incluem pessoas dentro da Rússia que foram informadas sobre o planeamento da invasão de Moscovo e investigadores ucranianos encarregados de localizar espiões.
"Para além do inimigo externo, temos infelizmente um inimigo interno, e este inimigo não é menos perigoso", disse o secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, Oleksiy Danilov, numa entrevista.
Na altura da invasão, disse Danilov, a Rússia tinha agentes nos setores da defesa, segurança e justiça ucranianos. Recusou-se a dar nomes, mas disse que tais traidores precisavam de ser "neutralizados" a todo o custo.
O Gabinete Estatal de Investigação da Ucrânia está a levar a cabo uma investigação sobre se a Guarda Nacional agiu ilegalmente ao entregar as suas armas a um inimigo, disse um funcionário à Reuters. O Departamento de Estado de Investigação não fez comentários. A Guarda Nacional defendeu as ações da sua unidade na central, apontando para os riscos de conflito num local nuclear.
Documentos e testemunhos revelam o papel desempenhado pelo chefe da segurança de Chernobyl, Valentin Viter, que está detido e a ser investigado por se ter ausentado do seu posto. Viter é também suspeito de traição, uma alegação que o seu advogado diz ser infundada. Numa declaração aos investigadores, Viter disse que, no dia da invasão, falou por telefone com o comandante da unidade da Guarda Nacional e aconselhou o comandante a não pôr em perigo a sua unidade, dizendo-lhe: "Poupe o seu povo".
Uma fonte com conhecimento direto dos planos de invasão do Kremlin disse ainda à Reuters que agentes russos foram destacados para Chernobyl no ano passado para subornar oficiais e preparar o terreno para uma tomada de posse sem sangue. A Reuters, contudo, não pôde verificar independentemente os detalhes desta afirmação. No entanto, o Gabinete de Investigação do Estado da Ucrânia afirmou que está a investigar um antigo alto funcionário dos serviços secretos, Andriy Naumov, por suspeita de traição por ter passado os segredos de segurança de Chernobyl a um Estado estrangeiro. Um advogado de Naumov recusou-se a comentar.
A nível nacional, Moscovo estava a contar com a ativação de agentes adormecidos dentro do aparelho de segurança ucraniano. Fontes confirmaram que os serviços secretos ocidentais informaram que o Kremlin estava a alinhar Oleg Tsaryov, um hoteleiro, para liderar um governo fantoche em Kyiv. Um antigo procurador-geral ucraniano revelou também à Reuters em junho que o político ucraniano Viktor Medvedchuk, um amigo de Putin, tinha um telefone codificado emitido pela Rússia para que pudesse comunicar com o Kremlin.
Medvedchuk encontra-se numa prisão ucraniana à espera de julgamento por acusações de traição que antecedem a invasão russa.
Marta Amorim / NOTÍCIAS AO MINUTO
UCRÂNIA - As forças russas estão passando por um “enorme redirecionamento” de tropas para três regiões no sul da Ucrânia, no que parece ser uma mudança de tática de Moscou, afirmou um assessor sênior do presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, na quarta-feira (27).
As forças russas tomaram a segunda maior usina elétrica da Ucrânia, disse o assessor presidencial Oleksiy Arestovych em uma entrevista publicada no YouTube. Forças apoiadas pela Rússia haviam anunciado anteriormente a captura da usina de Vuhlehirsk, da era soviética e alimentada por carvão, no leste da Ucrânia.
“Eles conseguiram uma pequena vantagem tática, eles tomaram Vuhlehirsk”, disse Arestovych.
LONDRES - A Rússia planeja realizar exercícios militares estratégicos a partir do próximo mês no leste do país, a milhares de quilômetros da guerra que trava na Ucrânia, disse o Ministério da Defesa russo.
Os exercícios de Vostok ocorrerão entre 30 de agosto e 5 de setembro e incluirão contingentes militares de outros países, disse o ministério, sem nomeá-los.
Os exercícios enviarão a mensagem de que a Rússia, apesar da custosa guerra de cinco meses na Ucrânia, continua focada na defesa de seu território e capaz de manter os "negócios como sempre" em termos militares.
RÚSSIA - A Rússia deixará de participar da Estação Espacial Internacional (ISS) "depois de 2024", anunciou nesta terça-feira (26) o novo chefe da Agência Espacial Russa (Roscosmos), Yuri Borissov.
"Sem dúvida cumpriremos todas as nossas obrigações com nossos parceiros" na Estação Espacial Internacional (ISS), afirmou Yuri Borissov em uma reunião televisionada com a presença do presidente russo, Vladimir Putin, "mas a decisão de deixar esta estação depois de 2024 já foi tomada", declarou.
"Creio que até lá começaremos a criar a estação orbital russa", que será "a principal prioridade" do programa espacial nacional a partir de agora, acrescentou Borissov.
"O futuro dos vôos espaciais tripulados russos deve ser baseado acima de tudo em um programa científico sistêmico e equilibrado, de modo que cada vôo enriqueça nosso conhecimento do espaço", revelou ele.
Yuri Borissov foi nomeado chefe da Roscosmos, a estação espacial russa, em meados de julho, substituindo Dmitry Rogozin, que era conhecido por seu estilo abrasivo e seu nacionalismo considerado ultrajante.
Até esta nomeação, Borissov, de 65 anos, estava à frente da pasta de vice-primeiro ministro encarregado do complexo militar-industrial russo, que também inclui o setor espacial. "Isto é uma grande honra para mim, mas também engaja obrigações adicionais", disse Borissov a Putin.
"O setor espacial está em uma situação difícil, e acho que minha principal tarefa [é] não diminuir as expectativas, mas aumentá-las, fornecendo antes de tudo os serviços espaciais necessários para a economia russa", enfatizou ele, citando a navegação, a comunicação e a transmissão de dados.
FRONT DE IZIUM - A apenas um quilômetro das posições russas que defendem a cidade capturada de Izium, no leste, combatentes ucranianos e estrangeiros se escondem em um porão úmido. Artilharia cai sobre eles quase todas as noites, soltando o gesso e enchendo o ar de poeira.
Na ponta dos esforços para impedir o avanço do Exército russo no leste da Ucrânia está o batalhão Sich dos Cárpatos, uma unidade de ucranianos e estrangeiros que respondeu ao pedido de ajuda de Kiev para enfrentar o invasor.
"Agora é mais uma guerra de artilharia. É uma guerra mais dura, uma guerra mais assustadora, onde apenas pessoas fortes em seu espírito podem lutar", disse Dzvin, comandante de campo do batalhão que pediu para ser identificado por seu nome de guerra por razões de segurança, devido ao seu papel de liderança.
Os combatentes dizem que estão unidos por um compromisso feroz com a Ucrânia, que agora está sendo submetida a um teste punitivo.
"Cada um de nossos guerreiros entende que em algum momento eles ficarão cara a cara com um tanque", disse Dzvin.
A unidade recentemente capturou um quase intacto. Mas também precisa lidar com drones russos --que os combatentes chamam de "nuvens negras"-- que ajudam a direcionar fogo de artilharia mortal para suas posições.
"Está ficando muito mais difícil aqui. Quanto mais tempo dura, é definitivamente cansativo", disse Conor, um voluntário britânico e ex-médico do Exército servindo na linha de frente.
"Eles bombardearam 1h, 2h e 4h da manhã de ontem, então isso obviamente está quebrando nossa rotina de sono. Mas você precisa se manter positivo."
RÚSSIA - O chefe da diplomacia russa procurou tranquilizar o Egito no domingo (24) sobre o futuro das exportações de grãos após a recente assinatura do acordo entre Ucrânia e Rússia.
"Confirmamos o compromisso dos exportadores russos de produtos de grãos de respeitar todas as suas obrigações", disse Serguei Lavrov durante uma entrevista coletiva após negociações com seu homólogo egípcio Sameh Shoukri.
"O presidente Vladimir Putin destacou isso durante a recente conversa telefônica com o presidente egípcio (Abdel Fatah) al Sissi", acrescentou Lavrov, que viajará na próxima semana para Uganda, Etiópia e Congo.
O acordo, assinado na sexta-feira em Istambul (Turquia) sob os auspícios da ONU, prevê a criação no Mar Negro de "corredores seguros" para a circulação de navios mercantes, que Ucrânia e Rússia prometeram não atacar.
Deve permitir a exportação de 20 a 25 milhões de toneladas de grãos bloqueados na Ucrânia, bem como facilitar as exportações agrícolas russas, o que afasta o risco de uma crise alimentar mundial, especialmente na África.
A Rússia obteve garantias de que as sanções ocidentais não serão aplicadas, direta ou indiretamente, às suas exportações de produtos agrícolas e fertilizantes.
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