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SÃO PAULO/SP - O jogo diplomático em torno da grave crise de segurança no Leste Europeu ganhou novos matizes na sexta (28), com os Estados Unidos elevando o alarme acerca do risco de uma invasão russa da Ucrânia e ironizando o tom menos agressivo adotado pelo país de Vladimir Putin.

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, disse que "embora nós não acreditemos que o presidente Putin tinha tomado uma decisão final de usar suas forças contra a Ucrânia, ele claramente tem agora essa capacidade".

Já o chefe do Estado-Maior da Forças Armadas americanas, Mike Milley, disse que a movimentação militar russa em torno da Ucrânia é a maior desde a Guerra Fria, o que parece um exagero dados exercícios anteriores de Moscou. Uma guerra, disse, seria "horrível", sobre o que há pouca dúvida.

Para dar mais dramaticidade, a Casa Branca fez vazar a repórteres um relato de inteligência segundo o qual o Kremlin já despachou até estoques de sangue para tratar de feridos em hospitais de campanha montados em seu território. Não há confirmação disso.

Horas após as declarações, o presidente Joe Biden disse que vai transferir tropas americanas para o Leste Europeu "no curto prazo". O democrata já havia informado, no início da semana, que cerca de 8.500 soldados estavam em prontidão para envio imediato à Europa.

Mais cedo, numa pouco usual entrevista online, na qual usou termos francos para falar da crise, o embaixador americano em Moscou, John Sullivan, afirmou que, "se eu coloco uma arma na mesa e digo que venho em paz, isso é ameaçador, e é isso que nós vemos agora".

Ele se refere ao envio de um contingente de 100 mil a 175 mil soldados russos, além de equipamentos, às fronteiras ucranianas para pressionar o Ocidente a aceitar um pacto de estabilidade no Leste Europeu.

Antes, o chanceler russo, Serguei Lavrov, havia repetido que seu país não pretende invadir a Ucrânia, como dizem Kiev e os membros da Otan, a aliança militar de 30 países liderada pelos EUA, apesar de as opções militares terem sido explicitadas. "No que depender da Rússia, não haverá guerra. Nós não queremos uma guerra. Mas não iremos permitir que [o Ocidente] ignore rudemente e pise nos nossos interesses", completou, ao falar com rádios russas.

Seu tom foi seguido por Aleksandr Lukachenko, ditador da Belarus, que recebeu apoio de Putin para esmagar a oposição contrária a mais uma eleição roubada no país, em 2020.

Tropas russas estão na Belarus em manobras militares que —em conjunto com outras na Crimeia anexada em 2014 e em regiões a leste da Ucrânia— permitem em tese ataques coordenados por três frentes contra o regime de Kiev. "Guerra é uma coisa ruim e terrível. Não haverá vitória numa guerra, todos iremos perder, por isso nós não queremos guerras, já tivemos demais", afirmou Lukachenko em Minsk. Ele comparou a situação com 1941, quando os nazistas invadiram a União Soviética, da qual tanto a Belarus quanto a Ucrânia faziam parte.

"Hoje, a vida é totalmente diferente do que era em 1941. As pessoas eram mais simples, tinham uma vida mais simples e não confortável como a nossa hoje. Deus proíba o início de uma guerra, porque uma das primeiras coisas que teremos de fazer será deixar nossa vida confortável para trás e enfrentar a dureza da guerra. Quem quer isso? Ninguém."

Sullivan, por sua vez, afirmou que os EUA esperam um retorno do Kremlin em relação à resposta formal dada pelo governo de Joe Biden às demandas russas para estabilizar a situação.

Putin quer que a Otan volte a seu formato de 1997, anterior ao início de sua expansão a leste, que aproximou tropas e armas das fronteiras russas. Historicamente, o centro-norte europeu é a avenida pela qual exércitos invadiram a Rússia —suecos no século 18, franceses no 19, alemães duas vezes no 20.

Além disso, há o componente político, já que o Kremlin vê risco de agitação interna se países antes aliados se tornarem democracias ocidentais. Por isso, mantém a firme aliança com a Belarus e, em 2014, interveio para evitar que o golpe contra o governo pró-Moscou em Kiev tornasse o país parte da Otan.

Deu certo até aqui. A Crimeia foi anexada, e o leste do país, o Donbass, virou um protetorado de separatistas russos étnicos. Uma solução para a questão pendente está no plano russo.

Putin ainda pediu que a Ucrânia nunca faça parte da Otan. As demandas foram recusadas pelos EUA e também pela aliança, como seria previsível, mas há pontos em que pode haver avanços: controle de armas nucleares e mecanismos de monitoramento mútuo de exercícios militares.

A partir daí, é possível que haja acordos menos públicos envolvendo a reabertura de negociações sobre o status do Donbass, o que a Ucrânia já iniciou nesta semana em reunião com Rússia, Alemanha e França, que deixe subentendido que a admissão na Otan será inviável.

Na sexta, Putin falou sobre o tema por telefone com o presidente francês, Emmanuel Macron, que busca algum protagonismo no imbróglio —ele tentará a reeleição em abril. Na ligação, o russo reforçou que as respostas dos EUA e da Otan não abordaram as principais preocupações de Moscou e que estudaria com atenção as propostas e depois decidiria sobre novas ações.

O líder do Kremlin também falará com o chinês Xi Jinping na semana que vem, durante a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. Boicotada diplomaticamente pelo Ocidente, a competição terá basicamente Putin como estrela estrangeira nas tribunas. Desde novembro, Xi vem reiterando seu apoio à Rússia na disputa da Ucrânia, exortando os países a cooperarem militar e politicamente.

Na frente europeia, a pressionada Alemanha, vista como ambígua na crise por depender do gás natural russo, negocia a ampliação de seu contingente na base multinacional da Otan que comanda em Rukla, na Lituânia. O país também recebeu nesta sexta quatro caças F-16 adicionais da Força Aérea da Dinamarca —sem Aeronáutica própria, as ex-repúblicas soviéticas do Báltico dependem de proteção dos aliados.

Já o Reino Unido, com o premiê Boris Johnson envolto em uma grave crise doméstica, tenta assumir protagonismo no assunto. O escritório de Boris disse, em comunicado divulgado nesta sexta, que ele viajará à região da Ucrânia, sem, no entanto, especificar qual o destino da viagem e quando ela acontecerá.

Uma porta-voz do premiê disse que ele instará Vladimir Putin a "voltar atrás" em sua suposta intenção de invadir a Ucrânia a fim de "evitar um banho de sangue" durante a próxima conversa por telefone entre os dois líderes, cuja data também não foi divulgada. A chanceler britânica, Liz Truss, deve viajar para a Rússia nas próximas duas semanas para conversar com seu homólogo Sergei Lavrov.

Em mais uma frente de desgaste na relação entre os dois países, os EUA pediram que o Conselho de Segurança da ONU se reúna na próxima segunda (31) para discutir o que chamam de "comportamento ameaçador" da Rússia no entorno ucraniano. A diplomacia russa prontamente sinalizou que trabalha para convocar uma votação que impeça a reunião do colegiado.

O vice-embaixador russo na ONU, Dmitri Polianski, disse que isso seria uma espécie de golpe de relações públicas. "Não me lembro de outra ocasião em que um membro do Conselho de Segurança propôs discutir suas próprias alegações e suposições infundadas como ameaça à ordem internacional", afirmou ele.

Para a Ucrânia, uma das consequências sentidas em meio ao imbróglio está na área econômica. Antevendo o prejuízo, o presidente Volodimir Zelenski disse nesta sexta que uma nova escalada na tensão não pode ser descartada, mas criticou o que descreveu como "pânico" em torno do assunto.

"Não considero a situação agora mais tensa do que antes. Há um sentimento internacional de que há guerra aqui, mas não é o caso."

 

 

IGOR GIELOW / FOLHA

PARIS - Os diálogos entre Rússia e Ucrânia em Paris, em pleno recrudescimento das tensões na fronteira entre os dois países, "não foram simples" e vão continuar em uma nova rodada dentro de duas semanas em Berlim, anunciou na quarta-feira (26) o enviado do Kremlin, Dmitri Kozak.

"Precisamos de uma pausa adicional. Esperamos que este processo tenha resultados em duas semanas", acrescentou Kozak durante coletiva de imprensa após se reunir por oito horas com conselheiros diplomáticos de Ucrânia, França e Alemanha.

"A próxima reunião está prevista para a segunda semana de fevereiro em Berlim", confirmou uma fonte do governo alemão.

Em uma declaração conjunta, o chamado Quarteto da Normandia, criado em 2014 para buscar uma saída para a crise na Ucrânia, reafirmou seu apoio aos acordos de paz de Minsk "como base de trabalho" e comprometeu-se a tentar "mitigar" as divergências.

"Apesar de todas as diferenças de interpretação", os participantes concordaram em que "todas as partes devem manter o cessar-fogo" no leste da Ucrânia "em virtude dos acordos", acrescentou o enviado russo.

Kozak destacou, no entanto, que a situação no leste da Ucrânia, onde separatistas pró-russos autoproclamaram em 2014 duas repúblicas, e a tensão ao longo da fronteira russo-ucraniana são "dois assuntos diferentes".

O encontro em Paris visava a uma desescalada da tensão após uma série de conversas entre Rússia e Estados Unidos. Washington acusa Moscou de preparar um ataque iminente, após ter enviado milhares de soldados para a fronteira com a Ucrânia.

A Presidência francesa avaliou que o resultado da reunião representa "um bom sinal" obtido em "condições difíceis".

A próxima reunião em Berlim também ocorrerá no nível de conselheiros diplomáticos, já que, segundo Kozak, uma cúpula de mandatários "não está na agenda".

"Esperamos que nossos interlocutores compreendam nossos argumentos e que em duas semanas consigamos resultados", acrescentou.

"Nós queremos manter este diálogo", disse, por sua vez, o negociador ucraniano, Andrii Yermak, destacando que a declaração desta quarta-feira "é o primeiro documento significativo" que as duas partes conseguem acordar "desde dezembro de 2019".

Desde os acordos de Minsk de 2015, o front se estabilizou e os combates diminuíram. Mas a solução política para o conflito, que deixou mais de 13.000 mortos, está estagnada.

 

 

AFP

EUA - Cerca de 8.500 soldados dos Estados Unidos estão em alerta máximo para serem mobilizados em meio à crescente tensão na Ucrânia, segundo anunciou o Pentágono.

Enquanto isso, a Rússia nega planejar uma ação militar contra a Ucrânia, apesar de reunir aproximadamente 100.000 soldados nas proximidades deste país.

Está programada para esta segunda-feira, uma videochamada entre o presidente americano, Joe Biden, e aliados europeus para discutir uma estratégia das potências ocidentais diante da agressão russa.

O Pentágono diz que ainda não foi tomada uma decisão definitiva sobre o envio de tropas. Isso só aconteceria se a aliança militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) decidir empregar forças de de reação rápida, "ou se outras situações se desenrolarem" no que diz respeito às tropas russas, segundo explicou o secretário de imprensa do Pentágono, John Kirby. Não há planos de ação na própria Ucrânia, acrescentou.

"Isso está provando a seriedade com que os EUA levam seu compromisso com a Otan", disse Kirby.

Alguns membros da Otan, incluindo Dinamarca, Espanha, Bulgária e Holanda, já estão enviando caças e navios de guerra para a Europa Oriental, como um reforço na defesa na região.

No fim de semana, cerca de 90 toneladas de "ajuda letal" dos EUA, incluindo munição para "defensores da linha de frente", chegaram à Ucrânia.

Além do presidente Biden, a videochamada de segunda-feira incluirá o primeiro-ministro britânico Boris Johnson; o presidente francês Emmanuel Macron; o chanceler alemão Olaf Scholz; o primeiro-ministro italiano Mario Draghi; o presidente polonês Andrzej Duda; e o secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg.

Os líderes da União Europeia Ursula von der Leyen e Charles Michel também irão participar da chamada.

Enquanto isso, Boris Johnson alertou que investigações de serviços de inteligência sugerem que a Rússia está planejando um ataque-relâmpago à capital ucraniana, Kiev.

"A inteligência é muito clara de que existem 60 grupos de batalha russos nas fronteiras da Ucrânia, o plano para um ataque-relâmpago que poderia derrubar Kiev é algo à vista de todos ", disse Johnson.

"Precisamos deixar bem claro para o Kremlin, para a Rússia, que esse seria um passo desastroso."

 

Retirada de funcionários das embaixadas

O governo Biden recomendou a funcionários da embaixada e seus parentes que deixassem a Ucrânia no domingo. Kiev, por sua vez, classificou a decisão como "prematura" e "uma demonstração de cautela excessiva".

O Reino Unido também começou a retirar funcionários de sua embaixada, com cerca de metade deles já programados para sair de Kiev. A decisão veio um dia depois de o departamento de relações exteriores britânico acusar o presidente russo, Vladimir Putin, de planejar colocar um líder pró-Moscou no governo da Ucrânia.

O nome apontado para essa função, segundo o governo britânico, é do ex-deputado ucraniano Yevhen Murayev — que chamou essa alegação de "estúpida" em uma entrevista à agência de notícias Reuters. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia publicou no Twitter que o departamento britânico estava fazendo "circular desinformação".

Quando o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se encontrou na semana passada com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, o russo expressou a esperança de que "as emoções diminuam".

Mas as negociações diplomáticas não conseguiram aliviar as tensões, e a moeda da Rússia — o rublo — perdeu muito valor. Os EUA e seus aliados ameaçaram novas sanções econômicas se os militares russos agirem contra a Ucrânia.

BERLIM - O líder da Alemanha pediu que a Europa e os Estados Unidos avaliem com cuidado eventuais sanções à Rússia por agressões contra a Ucrânia, em uma crise que está colocando o principal fornecedor de gás de Berlim contra seus maiores aliados de segurança.

Entre as possíveis sanções do Ocidente contra o governo do presidente Vladimir Putin, a Alemanha pode paralisar o oleoduto Nord Stream 2 da Rússia, caso o país invada a Ucrânia.

Mas isso arriscaria exacerbar a crise de fornecimento de gás na Europa que fez com que os preços disparassem.

“A prudência manda escolher medidas que teriam o maior efeito em quem violou os princípios concordados conjuntamente”, teria dito o chanceler alemão Olaf Scholz neste domingo, segundo o jornal alemão Sueddeutsche Zeitung.

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, previu nesta quarta-feira que o presidente russo, Vladimir Putin, fará um movimento militar na Ucrânia, mas disse que uma invasão em grande escala desencadearia uma resposta massiva que custaria caro para a Rússia e sua economia.

"Meu palpite é que ele vai avançar", disse Biden em entrevista coletiva. "Ele tem que fazer alguma coisa."

Biden indicou que a resposta dos EUA e do Ocidente poderia ser calibrada dependendo do que a Rússia fizer em meio às preocupações norte-americanas de que um ataque à Ucrânia possa ser lançado em dias ou semanas.

"A Rússia será responsabilizada se invadir --e depende do que fizer. Uma coisa é se for uma pequena incursão e acabarmos tendo que brigar sobre o que fazer e o que não fazer, etc", disse Biden.

"Mas se eles realmente fizerem o que são capazes de fazer... será um desastre para a Rússia se eles invadirem ainda mais a Ucrânia", acrescentou Biden.

Biden e sua equipe prepararam um amplo conjunto de sanções e outras penalidades econômicas a serem impostas à Rússia no caso de uma invasão.

BRUXELAS - A Rússia começou a delinear suas exigências por garantias de Segurança na Europa para os 30 aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na quarta-feira, mas insistiu que não eram ultimatos, após negociações intensas com os Estados Unidos em Genebra que não conseguiram quebrar o impasse.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, recebeu o vice-ministro russo de Relações Exteriores, Alexander Grushko, na sede da aliança para tentar desescalar o ponto mais alto de tensão entre Ocidente e a Rússia desde a Guerra Fria devido ao acúmulo de tropas russas perto da fronteira com a Ucrânia.

Moscou negou as preocupações expressas pelos Estados Unidos de que possa estar planejando invadir seu vizinho, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que os exercícios na fronteira com a Ucrânia na terça-feira não estão ligados às negociações com a Otan.

"Não estamos negociando a partir de uma posição de força; não há, nem pode haver, qualquer lugar para ultimatos aqui", disse ele em Moscou, durante as negociações em Bruxelas.

Aliados da Otan dizem que as negociações, que são a tentativa no mais alto escalão para tentar transformar um potencial conflito militar sobre a Ucrânia em um processo político e diplomático, estão ocorrendo por causa da agressão russa, e não o contrário.

"Vamos ser claros: as ações da Rússia precipitaram essa crise. Estamos comprometidos a utilizar a diplomacia para desescalar a situação", afirmou a embaixadora dos EUA na Otan, Julianne Smith, a jornalistas na noite de terça-feira.

"Queremos ver a Rússia recuando suas forças ", disse ela sobre os 100 mil militares estacionados próximos à Ucrânia.

 

 

Por Robin Emmott / REUTERS

MOSCOU - A Rússia anunciou na terça-feira (11) que não está otimista após uma primeira rodada de negociações com os Estados Unidos sobre a crise na Ucrânia, e disse que não irá permitir que suas exigências por garantias de segurança do Ocidente fiquem empacadas em negociações tortuosas.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que é positivo que as negociações em Genebra estejam sendo realizadas de maneira aberta, substancial e direta, mas que a Rússia está interessada apenas em resultados.

"Não há prazos claros aqui, e ninguém está estabelecendo isso --há apenas a posição russa de que não iremos nos satisfazer com o alongamento sem fim desse processo", afirmou.

A Rússia pressionou o Ocidente a vir para a mesa de negociação ao acumular tropas próximas à fronteira com a Ucrânia enquanto pressiona um conjunto de demandas para impedir que a Ucrânia participe da Otan, e para fazer a aliança regredir de duas décadas de expansão na Europa. 

Os EUA disseram que não irão aceitar as exigências, embora estejam dispostos a negociar em outros aspectos da proposta da Rússia ao discutir o destacamento de mísseis ou limites no tamanho de exercícios militares.

Peskov disse que a situação ficará mais clara após mais duas rodadas de negociações das quais a Rússia deve participar nesta semana: com a Otan em Bruxelas na quarta-feira e na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) em Viena na quinta-feira.

Os negociadores russos e norte-americanos não deram sinais de estreitarem suas diferenças em briefings após a primeira sessão de conversas em Genebra.

 

 

Reportagem de Dmitry Antonov e Gabrielle Tétrault-Farber / REUTERS

WASHINGTON - A vice-secretária de Estado dos Estados Unidos Wendy Sherman disse na segunda-feira (10) que os Estados Unidos foram firmes em recusar propostas que "não tinham chance de avançar" durante negociações com seu equivalente russo em Genebra, e acrescentou que o governo de Washington não irá permitir que ninguém feche a política de portas abertas da Otan.

Autoridades dos Estados Unidos tiveram discussões francas e categóricas com a delegação russa ao longo de quase oito horas, e estão abertas a se reunirem de novo em breve para discutir questões entre EUA e Rússia com mais detalhes, disse Sherman.

A delegação russa, liderada pelo vice-ministro de Relações Exteriores Sergei Ryabkov, delineou suas exigências, apresentadas pela primeira vez no mês passado, incluindo uma limitação sobre a expansão da Otan e o encerramento das atividades da aliança militar nos países da Europa central e oriental que entraram no bloco após 1997, disse Sherman a jornalistas em uma teleconferência após a reunião.

A parte norte-americana foi "firme" em recusar propostas que o Ocidente considera que não têm possibilidade de avançar, disse.

"Não vamos permitir que ninguém feche as portas da Otan, que tem política de portas abertas", disse, insistindo que os Estados Unidos não irão tomar decisões em nome de outros países sem eles.

Quase 100 mil militares russos estão reunidos ao longo da fronteira com a Ucrânia em preparação para o que Washington e Kiev dizem que pode ser uma invasão, oito anos depois de a Rússia ter tomado a península da Crimeia da Ucrânia. A Rússia nega a acusação e diz que está respondendo o que classifica como comportamento agressivo e provocador da Otan e da Ucrânia, que se aproximou do Ocidente e aspira participar da aliança militar.

 

 

 

Reportagem de Simon Lewis, Arshad Mohammed, Doina Chiacu e Daphne Psaledakis / REUTERS

CAZAQUISTÃO - Uma aliança militar liderada por Moscou enviou tropas nesta quinta-feira (06/01) para ajudar a conter a crescente agitação no Cazaquistão, após a polícia do país dizer que dezenas de pessoas morreram tentando invadir prédios do governo.

Vista por muito tempo como uma das mais estáveis ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central, o Cazaquistão é palco de sua maior crise em décadas, após dias de protestos contra o aumento dos preços dos combustíveis que se transformaram em agitação generalizada.

Sob pressão crescente, o presidente Kassym-Jomart Tokayev apelou durante a noite para a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), aliança liderada pela Rússia e que inclui cinco outras ex-repúblicas soviéticas, para combater o que chamou de "grupos terroristas" que "receberam treinamento extensivo no exterior".

Em poucas horas, a aliança disse que as primeiras tropas haviam sido enviadas, incluindo paraquedistas russos e unidades militares de outros membros da OTSC. Não foi informado o número de soldados envolvidos.

O atual presidente da aliança, o primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan, anunciou anteriormente que concordaria com o pedido, dizendo que o Cazaquistão estava enfrentando "interferência externa".

 

"Dezenas de agressores eliminados"

No pior episódio de violência relatado até agora, a polícia disse que dezenas de pessoas foram mortas em confrontos entre manifestantes e forças de segurança em prédios do governo na maior cidade do país, Almaty.

"Na última madrugada, forças extremistas tentaram assaltar prédios administrativos, o departamento de polícia da cidade de Almaty, assim como comissariados da polícia local. Dezenas de agressores foram eliminados", disse o porta-voz da polícia Saltanat Azirbek, citado pelas agências de notícias Interfax-Cazaquistão, Tass e Ria Novosti.

A TV estatal afirmou que 13 membros das forças de segurança foram mortos e que os corpos de dois deles foram encontrados decapitados.

Tokayev disse em um discurso televisionado nesta quinta-feira que "terroristas" estavam invadindo edifícios, prédios de infraestrutura e combatendo as forças de segurança.

Vídeos nas redes sociais nesta quinta-feira mostraram lojas saqueadas e prédios queimados em Almaty, tiros de armas automáticas nas ruas e moradores gritando de medo.

 

Mais de mil feridos

As autoridades disseram que mais de mil pessoas ficaram feridas até o momento nos distúrbios, com quase 400 hospitalizadas e 62 em tratamento intensivo.

Protestos se espalharam pelo país de 19 milhões de habitantes nesta semana, em meio à crescente indignação com o aumento na virada do ano nos preços do gás liquefeito de petróleo (GLP), que é amplamente usado para abastecer carros no oeste do país.

Milhares foram às ruas em Almaty e na província ocidental de Mangystau, reclamando que o aumento do preço é injusto, dadas as vastas reservas do Cazaquistão, exportador de petróleo e gás.

Manifestantes teriam invadido vários prédios do governo na quarta-feira, incluindo o gabinete do prefeito de Almaty e a residência presidencial.

 

Comunicações cortadas

O quadro completo do caos é difícil de ser confirmado de forma independente, devido principalmente a interrupções generalizadas nas redes de comunicações, incluindo de telefones celulares e de internet, por horas.

Os protestos são a maior ameaça até agora ao regime estabelecido pelo presidente fundador do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, que deixou o cargo em 2019e escolheu Tokayev como seu sucessor.

Tokayev tentou evitar mais agitação anunciando a renúncia do governo chefiado pelo primeiro-ministro Askar Mamin na manhã de quarta-feira, mas os protestos continuaram.

Tokayev também anunciou que estava substituindo seu antecessor, Nazarbayev, como chefe do poderoso conselho de segurança, uma medida que surpreendeu, dada a grande influência que ainda possui o ex-presidente e sua família.

Com a escalada dos protestos, o governo disse na noite de quarta-feira que o estado de emergência declarado nas áreas afetadas seria estendido para todo o país e ficaria em vigor até 19 de janeiro. A medida inclui toque de recolher durante a noite, restringe os movimentos e proíbe as reuniões em massa.

Grande parte da revolta parece se dirigir a Nazarbayev, que tem 81 anos e governou o Cazaquistão a partir de 1989 antes de entregar o poder a Tokayev.

A UE e a ONU pediram "contenção" de todos os lados, enquanto Washington pediu às autoridades que permitissem que os manifestantes "se expressassem pacificamente".

O governo do Cazaquistão tolera pouca oposição real e repetidamente foi acusado de silenciar vozes independentes.

 

 

REUTERS / AFP

dw.com

SÃO PAULO/SP - O país mais conhecido no Ocidente como sendo a terra de Borat, o repórter ficcional criado pelo humorista britânico Sacha Baron Cohen, vive uma convulsão violenta e inédita que ameaça a estabilidade da Ásia Central e abre uma nova frente de crise para o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Na quarta (5), manifestantes atacaram prédios públicos e protestaram nas principais cidades do Cazaquistão, incluindo a maior delas, Almati, e a capital, Nursultan (antiga Astana). A residência oficial do presidente do país, Kassim-Jomar Tokaiev, foi invadida e, depois, desocupada. Relatos falam em ao menos oito mortos e centenas de feridos no país.

O país está em estado de emergência, e Tokaiev foi à TV anunciar que pediu assistência militar à Organização do Tratado de Segurança Coletiva, liderada pela Rússia. O movimento abre uma segunda frente de problema para Putin, às vésperas da negociação acerca da crise na Ucrânia, mas também a oportunidade de ampliar seu poder nas antigas periferias soviéticas se solucionar a questão rapidamente.

O governo cazaque caiu, e o premiê renunciou com seu gabinete. Tokaiev anunciou em um pronunciamento anterior que pretende "agir da forma mais dura possível" e mandou cortar a internet e a telefonia celular no país, jogando a nação num limbo virtual.

A queixa nas ruas é contra o preço dos combustíveis, mas a onda de protestos saiu de controle o famoso "não são só R$ 0,20" dos atos de julho de 2013 no Brasil. Não há notícia ainda sobre quem são suas lideranças, o que aumenta especulações conspiratórias ao gosto do cliente: seria uma ação estrangeira contra Putin ou russa para fortalecê-lo?

O governo confirmou que manifestantes, a quem obviamente já chama de terroristas, tomaram o aeroporto de Almati e cinco aviões que lá estavam estacionados, inclusive de companhias estrangeiras não identificadas. A cidade reportou ao menos 200 presos e 190 feridos.

Os atos começaram no domingo (2), na região de Mangistau, onde o GLP (gás liquefeito de petróleo) é o principal combustível de veículos. Na terça (4), eles se alastraram para a maior cidade, Almati, e por todas as áreas do país batendo em Nursultan.

O estopim foi a decisão do governo de liberar os preços do GLP no começo do ano, pegando no contrapé os motoristas que haviam convertido seus carros para rodar com o combustível devido a seu baixo custo em relação à gasolina e ao diesel.

Agora, Tokaiev disse que reverterá a medida, embora pareça tarde. Aí que o problema transborda as fronteiras do país, que com um território equivalente a um terço do brasileiro domina a Ásia Central.

A primeira mesa em que o abacaxi é depositado é a de Putin. O presidente russo, às voltas com a grave crise na qual posicionou tropas para pressionar a Otan a aceitar um acordo que impeça a adesão da Ucrânia ao clube militar ocidental, vê o aliado em apuros.

Não faltam aliados do russo a apontar uma trama do Ocidente para abrir um diversionismo no momento em que está em posição de força na Europa. Paranoia à parte, na prática é isso que Putin enfrentará, mas, se repetir o que fez recentemente, pode até auferir ganhos.

Em 2020, ele foi ao socorro do governo aliado de outra nação ex-soviética da região, o remoto Quirguistão, que enfrentou protestos. Fez o mesmo em relação à mais importante Belarus, na prática subordinando a ditadura de Aleksandr Lukachenko a seu comando político, e mediou um frágil acordo de paz que encerrou a guerra entre Armênia e Azerbaijão.

Por fim, enfrentou um governo pró-Ocidente na Moldova, onde tem interesses e tropas em um território autônomo vizinho, a Transnístria.

Olhando no mapa, todos esses são pontos de transição entre fronteiras russas e os adversários, que antes eram parte do controle de Moscou, seja sob os czares, seja sob o Partido Comunista. Isso explica a obsessão de Putin em manter a estabilidade e a influência nesses locais, perdidos com a desintegração soviética de 1991.

O Kremlin se manifestou, dizendo que espera uma resolução rápida da crise por Tokaiev. O autocrata é um aliado recente e visto como marionete do ditador Nursultan Nazarbaiev, que comandou o Cazaquistão por quase 30 anos.

Em 2019, desgastado por protestos de rua, o ditador passou o cargo para o protegido, mas manteve um posto de "pai da nação" e chefe do influente Conselho de Segurança. Com 81 anos, ainda não falou na crise e foi substituído por Tokaiev no conselho nesta quarta, o que sugere perda de poderes.

Sua sucessão foi vista inclusive como um modelo para Putin quando o russo decidiu mudar a Constituição em 2020, mas ele preferiu deixar em aberto a possibilidade de concorrer a mandatos que podem durar até 2036.

A relação de Putin com a nação centro-asiática de 19 milhões de habitantes, contudo, não é de todo rósea. Em 2014, o presidente sugeriu que o país existia por um "presente do povo russo". Moscou tem no país sua principal base de lançamento de foguetes espaciais, em Baikonur.

E há a questão chinesa. O gigante a leste é a maior potência econômica regional, e fez movimentos de expansão rumo ao Cazaquistão que desagradaram ao Kremlin, integrando o país ao seu projeto de integração de infraestrutura Iniciativa Cinturão e Rota.

De seu lado, Nursultan aproveitou essa disputa para tentar manter uma posição de relativa independência, equilibrando-se entre ambas as potências e ainda cortejando os Estados Unidos, rivais de ambas.

Empresas americanas são líderes entre estrangeiros na exploração do subsolo rico em petróleo e gás do país, responsáveis por 30% da extração em 2019 —ante 17% de firmas chinesas e só 3%, de russas. Desde 2003, para desgosto do Kremlin, o país faz exercícios militares anuais não só com Moscou, mas com a Otan.

Apesar disso, o fluxo de comércio com os americanos ainda é incomparável, dez vezes menor do que os cerca de US$ 19 bilhões registrados entre os cazaques e a Rússia e os US$ 21 bilhões com a China.

Sob a ótica chinesa, a instabilidade é indesejada por outro motivo. O Cazaquistão faz fronteira a leste com a região de maioria muçulmana de Xinjiang, onde os chineses são acusados de genocídio pelos EUA.

Aqui, o jogo diplomático fica evidente. O governo cazaque não aceita as acusações ocidentais, mas também não assina cartas de apoio à China como faz a Rússia. Com efeito, Nursultan é crítica das sanções americanas e europeias contra Putin pela anexação da Crimeia em 2014, mas não reconhece o território como russo.

"Tokaiev é a encarnação desse curso de ação: ele é um sinólogo que estudou no prestigioso MGIMO [o Instituto Rio Branco da Rússia] e forjou sua carreira diplomática na ONU", escreveu o analista uzbeque Temur Umarov, analista do Centro Carnegie de Moscou.

Como em todas as crises no antigo espaço soviético, haverá fatores de influência externa sendo ponderados por Moscou. Mas também a realidade: a inflação está em 9%, a maior em cinco anos, e os juros subiram recentemente a 9,75%. E a internet aumentou o drible à imprensa estatal, elevando a comunicação entre jovens ativistas.

Para o resto do mundo, a instabilidade poderá ter algum efeito na já complexa composição dos preços de petróleo (o país tem a 15ª reserva do planeta) e do gás (12ª reserva), mas a implicação principal agora é geopolítica.

Com a atabalhoada retirada americana do Afeganistão, no ano passado, a Ásia Central vive incerteza com o influxo eventual de radicais islâmicos pela região.

Mesmo antes do pedido de Tokaiev, nem Putin, nem Xi, ora em franca aproximação para enfrentar o Ocidente, deixariam a situação explodir em Nursultan. Em 2021, eles já operaram em torno da crise afegã que viu a volta do Talibã ao poder.

Até por ser um antigo quintal de Moscou, caberá agora ao russo resolver o problema e tentar tirar o máximo de proveito da situação. Dificilmente a neutralidade presumida por Nursultan sobreviverá à crise.

 

 

IGOR GIELOW / FOLHA

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